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Surfistas estão engolindo água com fezes e espalhando superbactérias

As pessoas esfregaram suas próprias bundas para o estudo.

Se liga nessa: bactérias resistentes a antibióticos transformam infecções curáveis em doenças potencialmente fatais. Até aí, ok, nada tão novo, né? Exceto por um detalhe: um estudo britânico recente apontou um elemento contribuinte até então improvável para a transmissão dessas superbactérias: os surfistas.

Os pesquisadores coletaram, cof, esfregaços retais de 143 surfistas e 130 não surfistas na Inglaterra e no País de Gales a fim de identificar os microrganismos em seus cólons. (O estudo foi apropriadamente batizado de Beach Bum Survey.) Enquanto somente quatro não surfistas (3%) carregavam consigo uma linhagem da Escherichia coli resistente a antibióticos em seus intestinos, 13 surfistas (9%) carregavam a mesma bactéria resistente.

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“São números pequenos, mas as diferenças entre surfistas e não surfistas é importante”, afirma Anne Leonard, autora do estudo e pesquisadora fellow na Universidade de Exeter. “Três vezes mais surfistas colonizados [com a bactéria] do que não surfistas, e essa diferença é estatisticamente significativa e, sim, trata-se de um problema.”

Os cientistas estão buscando bactérias particularmente perigosas e que não sejam apenas resistentes a diferentes tipos de antibióticos, mas que possam transmitir essa característica a bactérias próximas graças aos chamados genes móveis. Esses microrganismos produzem uma enzima chamada beta-lactamase de espectro estendido, que quebra os compostos dos antibióticos. Mesmo os segmentos de DNA que produzem essas enzimas em bactérias resistentes podem ser transferidos para bactérias comuns, da mesma forma como você compartilha sua senha da Netflix com seus amigos. Os surfistas foram quatro vezes mais propensos a abrigar a E. coli resistente com genes móveis do que os não surfistas.

Bactérias resistentes a antibióticos surgem quando medicamentos antibióticos são administrados de modo inadequado às pessoas ou ao rebanho, permitindo que as linhagens de bactérias raras se multipliquem. Os supermicrorganismos podem ser transmitidos da mesma forma que as infecções, por meio de pessoa a pessoa ou do contato com superfícies infectadas. Contudo, a bactéria resistente a antibióticos em águas costeiras são mais propensas a chegar ao mar pegando uma carona nos tratos digestivos das fezes. Então, os dejetos de pastagens de rebanhos, ou o esterco de fazendas, levados pela água da chuva, ou mesmo os dejetos humanos de locais sem tratamento para as hidrovias são drenados para os oceanos.

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Esses surfistas azarados, por causa do tempo que passam na água e as inevitáveis quedas da prancha, engolem mais água do mar do que o banhista comum – cerca de 30 ml de água do mar por dia passado no mar pegando ondas, de acordo com um estudo de 2008 da Universidade Estadual do Oregon. Estudos separados descobriram que nadadores consomem aproximadamente 15 ml de água do mar, enquanto mergulhadores recreacionais ingerem cerca de 10 ml. Os surfistas do estudo também passaram mais tempo na praia, com cerca de 75% fazendo mais de 20 viagens à praia nos meses anteriores, em comparação com os 3% não surfistas.

Assim que a E. coli resistente é ingerida, ela pode se fixar no cólon do hospedeiro. E este pode nem se sentir mal. “Pode ser porque a E. coli no intestino seja de uma variedade inofensiva”, Leonard afirma. “Outra explicação pode ser que os surfistas que participaram do estudo tendem a ser muito jovens, com menos de 45 anos, e seus sistemas imunológicos são mais fortes e capazes de lutar contra as infecções de um modo eficaz.” Um estudo australiano descobriu que, na maioria dos casos, o corpo se livra de uma infecção por E. coli em questão de meses. Antes disso, entretanto, as bactérias ainda são capaz de se espalhar para outras partes do corpo, causar infecções (do trato urinário e meningite são riscos em particular) ou transmitir sua resistência antibiótica para outras bactérias.

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Seja você um surfista ou não, seu risco individual de pegar uma bactéria resistente a antibióticos em um mar contaminado por coliformes fecais pode ser baixo. Contudo, com base na quantidade de pessoas que vão à praia, e a quantidade de água contaminada ao longo da costa do Reino Unido, o estudo estima que pode haver 2,5 milhões de incidentes todos os anos, em que uma pessoa foi ao mar e saiu de lá carregando pelo menos uma bactéria resistente – isso só na Inglaterra e no País de Gales. “Em regiões com climas tropicais e águas mais quentes, talvez os surfistas estejam mais expostos, e com mais frequência, por períodos de tempo maiores do que os surfistas do Reino Unido participantes de nosso estudo”, Leonard afirmou.

O risco real é que os banhistas infectados acabarão espalhando essas superbactérias por aí, mesmo se eles não ficarem doentes. “Índices altos de transporte de bactérias resistentes na comunidade torna as pessoas vulneráveis e em risco de adquirir infecções resistentes através da transmissão entre pessoas”, afirmou Leonard.

Apesar do perigo, você não precisa guardar sua prancha de surfe pra sempre. Afinal, as pessoas que curtem sol e areia não são culpadas, mas sim o uso indiscriminado de antibióticos. Leonard sugere verificar relatórios de qualidade da água de sua praia antes de entrar no mar. A maior parte do monitoramento da poluição da água é feita por agências locais ou estaduais, mesmo que com pouca padronização entre elas, e você pode, por exemplo, consultar esta lista, mantida pela Agência de Proteção ao Meio Ambiente (EPA) para descobrir o site e o telefone da organização responsável pela sua praia favorita dos EUA.

Se a agência local tiver fechado uma praia, ou publicado avisos relacionados à poluição por E. coli (principalmente após chuvas fortes, que tendem a carregar mais dejetos para o mar), talvez seja melhor planejar uma atividade fora da água.

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