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Opinião

Tem que acabar a troca de presentes no Natal

Esqueceu de comprar o presente de alguém? Aqui vai uma boa justificativa pra não se preocupar com isso.
MS
Traduzido por Marina Schnoor
fora presentes de natal
Imagem por Peter Slattery/Foto por Getty Images/Niedring/Drentwett.

Entramos oficialmente na temporada das festas de final de ano: aquela época estranha em que as pessoas ainda estão trabalhando, mas ninguém espera fazer muita coisa mesmo. É um período mágico em que você participa de festinhas da frima e pode comer o que quiser sem ninguém te julgar. Todo mundo tem que ser legal, ou pelo menos sente aquela pressão pra parecer simpático e de bom humor.

OK. Mas quando o Natal é em menos de uma semana, essa também é uma época em que as pessoas que celebram a data tendem a entrar em pânico. Eu pelo menos entro. Ter que vasculhar meu cérebro atrás de dicas soltas de sete meses atrás sobre alguém querer uma panela de arroz elétrica ou um par de brincos, aí rodar a cidade inteira atrás desses objetos, é um ritual que eu faria quase qualquer coisa pra evitar.

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Infelizmente, vivemos em sociedade – então não dá pra passar essa. Se você não comprar presentes e só receber, isso seria considerado (com todo direito) egoísta e injusto. Mas minha angústia com as festas de fim de ano não é exatamente única, mesmo entre as pessoas de quem sou próxima: tenho certeza que agora tem um monte de gente sentindo uma ansiedade similar com a perspectiva de lembrar e aí comprar algo que mencionei que gostaria de ter em algum ponto do passado.

E é por isso que vou fazer uma proposta (que não é nova, mas ainda um pouco alienígena) que certamente vai encontrar resistência apesar de ser para o bem maior: devíamos parar de dar presentes de Natal.

Minha posição nesse assunto vem em parte da minha criação: minha família não curte muito dar presentes, o que significa que eu não sabia como o fim do ano podia ser estressante até ser adulta e ter que começar a comprar objetos aleatórios para amigos, colegas de trabalho e companheiros. É por isso que sei que seria fácil acabar com esse sistema amaldiçoado – deveríamos simplesmente parar e se comportar como meus pais e eu nos comportamos por vinte anos. E antes que isso pareça uma desculpa velada para reclamar da minha infância, vou apontar que economistas de verdade já deram razões legítimas para pisar no freio dos presentes: Joel Waldfogel, professor da Wharton que também é o autor de um livro chamado Scroogenomics, chegou até a chamar a temporada de festas de “uma orgia de destruição de riquezas”.

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No livro, ele argumenta que quando você compra alguma coisa pra você mesmo, você valoriza isso mais do que valorizaria se alguém te desse esse objeto. Ele basicamente está descrevendo a diferença entre comprar um livro ou videogame que você vai gostar e possivelmente manter até a idade adulta, e sua vó te dar aqueles quadros de peixe falante ou um suéter que vai acabar na caixa da campanha do agasalho muito em breve. Em vez de instilar todo mundo com uma necessidade irreal de comprar alguma coisa – qualquer coisa – pras pessoas, deveríamos acabar com essa obrigação de vez.

Acrescento humildemente ao argumento dele o fato que esses presentes perdem seu valor emocional quando comprados sob coação. Se vejo algo numa loja e penso em um amigo, vou comprar o produto porque me importo com a pessoa, não porque tenho que comprar. Esse também é um bom momento para mencionar que presentes podem ser um tiro pela culatra. Uma vez, um colega de trabalho me deu um par de meias masculinas (grandes demais) de Amigo Secreto. Legal, mas nunca consegui deixar de pensar quão pouca energia ele colocou para deixar uma impressão em mim.

Novamente, não sou a única pessoa a argumentar isso – além de Waldfogel, vários colunistas ou o que alguns tradicionalistas chamariam de "mão-de-vaca" defendem essa ideia há anos. Isso porque não é preciso um economista para sacar o problema aqui. “Esse é um [emoji de presente] que você não vai querer trocar” alguém do site de esportes de fantasia DraftKing me escreveu num e-mail promocional enquanto eu escrevia este texto. A ideia que presentes provocam principalmente ansiedade – não só para quem dá, mas também para quem recebe, que está sob a pressão de fingir que gostou de alguma coisa que provavelmente não agradou – é tão conhecida que até o pessoal das relações-públicas (ou, sei lá, o bot deles) se sente confortável em apontar o fato. Então por que nós não fazemos o mesmo?

Alguém pode argumentar que eu devia simplesmente fazer uma doação para a caridade em nome da pessoa se não quero participar da troca de presentes. Isso não resolve o problema. Se alguém te compra um Xbox, por exemplo, e você diz que deu o mesmo valor do console para outra pessoa – ou grupo de caridade – em nome dela, a pessoa provavelmente vai ficar irritada. Quando se trata de trocar cartões de presente, a ansiedade vem com a escolha do valor. Se você compra um cartão ou doação para alguém e o valor é bem maior do que o que a pessoa te deu, você provavelmente vai ficar puto. O melhor cenário seria trocar uma peça de uma forma alternativa de dinheiro (mas menos útil que dinheiro mesmo) por um valor igual. E novamente: Por que ter tanto trabalho?

Quando comentei minha opinião sobre presentes de Natal no escritório, outro colega me perguntou se eu diferenciava adultos de crianças quando se trata de troca de presentes, e a resposta é, acho que sim? Mas acho que quando uma criança tem idade suficiente para saber que Papai Noel não existe, ela tem que esquecer essa noção de que pode esperar brinquedos ou presentes grátis pelo resto da vida. O Natal tem um preço, e ganhar um punhado de presentes que talvez sejam úteis não vale toda a farofagem que vem no processo.

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