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A francisco, el hombre quer ser a tendência, não seguir a tendência

Antes do show da banda no Lollapalooza nesse sábado (24), trocamos uma ideia com Sebástian Ugarte, que nos contou seu plano de fazer o Brasil "se conhecer como latino".

Na época do estouro de Despacito, comentei no Twitter que estava surpresa que o Daddy Yankee tinha conseguido emplacar outro hit quase 15 anos depois do lançamento de "Gasolina". Fui corrigida minutos depois da minha santa ignorância por uma amiga: Daddy Yankee, na verdade, é um dos artistas porto-riquenhos mais populares na América Latina e tem inúmeras faixas com mais de 100 milhões de visualizações no YouTube. Fiquei passada. Como eu poderia ter tanto desconhecimento sobre o som que estoura tão perto do Brasil?

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A francisco, el hombre chegou em 2013 nesse mercado de música americanizado com a missão de fazer com que o Brasil "se reconheça como um país latino". Os irmãos mexicanos Sebástian e Matéo-Piraces Ugarte acreditam que ainda não tiveram êxito por completo nessa tarefa, mas não dá pra negar que o sucesso do grupo escalou muito rapidamente desde seu primeiro lançamento, o EP Nudez (2013). Foi o álbum de estreia em 2016, porém, que proporcionou à banda seu primeiro hit "Triste, Louca ou Má", que virou até trilha de novela da Globo.

Agora, enquanto enfrenta o drama de gravar o segundo disco, que será lançado ainda esse ano pela Natura Musical, a banda toca em grandes festivais dentro e fora do Brasil: depois de voltar de um show no Vive Latino, no México, o grupo toca no Lollapalooza Brasil 2018 nesse sábado (24). Trocamos uma ideia com o Sebástian pra saber dos próximos planos da banda.

NOISEY: Como foi tocar no Vive Latino? Quão diferente é tocar num festival gringo de tocar num festival no Brasil?
Sebástian Ugarte: Em primeiro lugar, gringo é quem é gringo. Vive Latino é mexicano cabrones! Os gringos ficam acima da fronteira do México – sei que no Brasil é comum chamar estrangeiros no geral de gringo, mas para um mexicano ser chamado de gringo é bizarro (risos). Sobre o festival, pensa em 100 mil pessoas vibrando vendo suas bandas favoritas, num grau de entrega como há muito não víamos. Um festival extremamente bem organizado, curadoria foda, recepção foda. Sinceramente um sonho. Tinha até open bar e tattoo de graça no camarim (eu mesmo tatuei um taco al pastor mostrando o dedo do meio hahaha). Nosso show foi num horário complicado, ao mesmo tempo do show do Morrissey, mas tudo bem, até que algumas pessoas foram lá ver ele, então não nos sentimos mal (risos). E aprendemos muito com os shows do Panteón Rococó, Gorillaz e Residente, carai, que shows absurdos.

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O consumo de música no Brasil parece ser muito mais conectado ao dos Estados Unidos que ao da América Latina. O que vocês acham disso?
Eu acho paia. Tá na hora de mudarmos isso. Posso aqui fazer uma dissertação sobre como isso é resultado de 50 anos de imperialismo cultural e sobre como temos que nos reconhecermos como povo latino e parte de algo maior – talvez seja tema de uma entrevista por si só. O bom é que muitos produtores e artistas de talento inegável no Brasil e no resto da América Latina estão se conectando, tanto no mainstream como no independente/underground. Por exemplo, nas feiras internacionais de música, como a SIM São Paulo, IMERSUR (Chile), FIMPRO (Mexico), Circulart (Colombia), AMPM (Cuba), muita gente que está disposta a trabalhar para mudar isso. Fico feliz de ver outras bandas quebrando essas fronteiras e percebendo o quanto temos a ganhar com a conexão de nossos irmãos e irmãs latinoamericanos. Podemos ver isso a nível de crescimento cultural como mercadológico – a América Latina é um terreno super fértil que quer ver flores nascer, então cabe a nós encararmos o desafio de superar a qualidade de produção norteamericana e europeia e sermos a tendência, não seguirmos a tendência.

Vocês já estão preparando o disco novo, certo? Em que sentidos ele é diferente de (ou similar a) SOLTASBRUXA?
Estamos preparando algo. Ainda não sei o que é. Sinto que vem algo forte, algo inexplicavelmente forte. No SOLTASBRUXA a gente se reinventou, passamos de ser os hippies que passam chapéu no parque (nada contra, sou muito orgulhoso do caminho que trilhamos) e viramos uma banda que toca em festivais internacionais e tem um bom público – talvez seja melhor dizer que temos muitos amigos queridos do que apenas ‘público’. Esse disco novo vai ser mais conectado às nossas raízes – o punk rock. Mas não vai ser uma reprodução de um punk rock do passado, vai ser à nossa maneira. Botar o dedo na cara de quem tem que botar e incendiar os shows com toda a energia que temos. Sei lá, tô brisando, temos umas 15 demos que estão ABSURDAMENTE fodas, então estamos todos muito empolgados. Acho que vamos fazer nosso disco mais intenso até agora.

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Como vocês se sentem ao tocarem num festival grande como o Lolla? Como decidiram quais seriam as participações especiais do show?
Nos sentimos felizes, claro porra, é o Lolla! Quem diria que um bando de desajeitados que tocavam na praça estariam tocando num festival como esse? As participações especiais vem de quem temos amizades e amor cultivado – Maikão, percussionista incrível que toca na Zaíra, de Piracicaba, Keila, ex-Gangue do Eletro, que subiu no palco conosco no Circo Voador no RJ e fez todo mundo tremer, Liniker, irmã de estrada desde o começo, não tenho palavras para descrever o amor que sinto por ela, e Maria Gadú, que recentemente tocou "Triste, Louca ou Má" num show especial e que está sendo um amor conosco. Quando tem amor e admiração recíproca, não tem como dar errado.

Vocês parecem estar bem no limite entre o me io alternativo e o mainstream. Como a banda se mantêm interessante para ambos os públicos?
Me é um elogio saber que fazendo música honesta e sincera conseguimos estar no limite entre esses dois mundos musicais que tanto aprecio. Nós somos nós mesmos, desde sempre e para sempre. Não temos medo de falar o que temos na cabeça, somos muito influenciados pela cena independente, dela nascemos, é isso que nos conecta ao meio alternativo – é nosso berço, inegavelmente. Desde 2008 recebo bandas de todos os cantos em casa, para uma noite, uma semana ou um mês (risos). Se estamos chegando ao mainstream é porque temos apoio de muita gente, e isso me orgulha, porque conquistamos esse espaço à nossa maneira.

A Francisco teve uma ascensão relativamente rápida. Quando vocês começaram, achavam que a banda atingiria um público tão grande em tão pouco tempo de carreira
Véi, a gente começou tocando na praça, viajando a América Latina enfiados num carro véio sem ar condicionado, tocando em hostel a troca de hospedagem e em restaurante a troca de comida, vendendo discos para pagar gasolina. Sempre foi um sonho viver a música e da música, porém era algo distante, algo que diziam que não seria possível porque fazíamos um som nosso e não necessariamente o que a galera queria ouvir. Mas a real é que nos disciplinamos, estudamos, e estamos trabalhando com tudo para alcançar esse sonho. Ninguém vai fazer acontecer por nós a não ser nós mesmos, então, como diz minha mãe, “hay que ponerse un chile en el culo” e trabalhar! E quanto você está disposto a fazer para alcançar o teu sonho? Se tem que trabalhar mais que médico, bora. Se tem que dormir no chão, bora. Se tem que sair de toda e qualquer zona de conforto, bora. Assim fizemos, e assim faria tudo de novo. Porque se tem algo que aprendi nesse processo é que a felicidade está em nos desafiarmos e vencer nossas limitações, em mostrarmos pro mundo que a gente consegue.

Estamos na estrada sem parar faz 5 anos. E sem parar mesmo, 650 shows mais ou menos em 5 anos é coisa pra porra, especialmente se contarmos que no primeiro ano fizemos apenas 5 ou 6 shows. Então não me parece uma ascensão rápida – em turnê o tempo é diferente – a semana dura um ano e o ano dura uma hora, rugas aparecem do dia pra noite. Parece ontem que tocamos pela primeira vez. Lembro bem dos amigos que apoiaram e também da galera que zuou a gente, que apostava em contra àquilo que acreditamos. Mas o ser humano é assim, competitivo né? Então sempre respondemos com amor, com carinho, convidando para virem fazer parte dessa vida louca que é francisco, el hombre e tudo que se aprende quando se abre as portas ao mundo. Agora nos resta continuar trabalhando para alcançar nossos sonhos e provar que sim, podemos viver à nossa maneira. Que ninguém nos coloca limites a não ser nós mesmos. Vamos desafiar todos os limites que a vida nos coloque. Como diz o poeta: “Não para, não para, não para não, até o chão."

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