A vereadora Marielle Franco pautava quem cercava sua realidade: mulheres, população negra, jovens, LGBTs e periféricos. Sua morte reverberou pelo Brasil e atingiu pequenas esferas internacionais, alertando os assombros que permeiam os defensores dos direitos humanos no país.Cada vez mais cedo, os jovens estão exercendo e encarando a política, tornando-se conscientes de suas convicções e visão de mundo. Nesse aspecto, falamos com militantes de São Paulo para conhecer suas histórias em relação à Marielle e qual a herança que todo o caso reflete em suas lutas.
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Simone Nascimento, 25 anos
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Essa é a maior lição que a gente tira. Nós precisamos seguir na luta porque os ideais da Marielle são nossos também, na construção de um mundo possível, um mundo onde não exista discriminações raciais, que não exista machismo, LGBTfobia, um mundo possível onde a gente não tenha segregação social e racial. Que o nosso lugar de existir não seja a precarização, a mais precária saúde. Um estado como o Rio de Janeiro, que está em desmonte.A Marielle lutava em desmonte, lutava pelos direitos humanos e teve muita força de disputar a institucionalidade e ter mais de 46 mil votos, a quinta vereadora mais votada do Rio.A maior mensagem que fica é que nós precisamos não deixar de falar sobre a Marielle, entender o que significa. Teve um ato no Rio com uma faixa muito importante. "O legado é: intervenção militar, não em nosso nome." A Marielle era contra a intervenção, era contra a violência no estado do Rio de Janeiro, e contra a violação dos direitos humanos e o extermínio e genocídio da população negra. O maior recado que a gente deu foi a convocação de atos em todo o Brasil, não só pedindo a justiça para saber quem foi o mandante que executou o Anderson e a Marielle, mas sobretudo, de entender que o principal culpado é o Estado, porque ele é o maior mantenedor da injustiça e da violência que está acontecendo no Rio de Janeiro e em outros lugares do país."
Marcelo Rocha, 20 anos
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Quando recebi a notícia da morte da Marielle, estava em Salvador, no Fórum Social Mundial, e foi muito difícil. Vimos que uma vereadora foi morta e [pensamos] nossa, quem deve ser? Quando recebemos a notícia que era a Marielle, foi bem pesado.Ela impulsionava e falava que era muito difícil. Amanhã pode ser eu, hoje mesmo pode ser eu, falando enquanto militância de rua, mesmo estando um pouco longe dos cargos institucionais. Mas quando você está nesses espaços, e até fora deles, recebe ameaça, faz denúncia, você não sabe se volta, e [isso acontece] toda noite. Eu vou para a capital, participo de alguma coisa, pego duas horas de trem para voltar para casa e não sei o que vai acontecer, fico inerte, principalmente porque vi isso acontecer muito com amigos em São Paulo. A galera estava em ocupações em escola e era agredida pela Polícia Militar, ou alguém que tomou um enquadro e apanhou bastante porque o policial sabia que estava na ocupação. Esse estado de intervenção nunca acabou para nós. Estamos construindo política para além disso, pelo racismo, pela questão de gênero também.Quando ocupamos esses espaços, percebemos que muita gente está acomodada e há uma diferença: a maioria das pessoas que vem de família mais ricas, de outras situações, também vão sofrer repressão do Estado, mas é muito diferente quando é um negro, uma mulher, um LGBT. O Estado já se utiliza das condições de minoria, falando em questões sociais e não quantitativa, ele multiplica essa ação da cena sem julgamento. Vários defensores dos direitos humanos do Rio de Janeiro estão denunciando a todos, mas quando eles executam, executam uma mulher negra, a mulher periférica, favelada, a quinta mais votada do Rio.
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Quando olhamos para nós mesmos, é muito difícil falar que posso disputar um cargo legislativo porque amanhã posso estar morto. Eu vou pro ato, vou para a militância hoje, mas amanhã posso estar morto. O legado que a Marielle deixa é o legado de entrega, de martírio, de entregar o próprio corpo pelos outros. Porque a gente sabe que vai morrer qualquer hora e que o Estado está com o alvo para nossas caras.O que a gente pode fazer é não parar de lutar, estar entregue ao outro. O Estado quer nos abater e não vamos morrer calados, não vamos deixar que nossas ideias morram, não vamos morrer sem que a gente possa falar, denunciar, propor e criar uma outra sociedade. Esse é o maior legado da Marielle. Morrer e deixar uma história, não morrer silenciada, mas morrer e expandir a sua voz."