Uma playlist em memória do "Senhor Roland"

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Música

Uma playlist em memória do "Senhor Roland"

Ikutaro Kakehashi, criador da famosa marca de sintetizadores, faleceu no início de Abril, aos 87 anos. Seleccionámos 18 temas em sua homenagem. E, sim, vais querer muito dançar!

Há alguns anos, quando alguém pensava em ser músico, os lugares de vocalista e de guitarrista eram, quase sempre, os mais desejados. Talvez por representarem posições de maior relevo em bandas clássicas (assim de repente, lembramo-nos dos Beatles e Rolling Stones), estes lugares eram, invariavelmente, preferíveis aos de baterista, baixista e teclista.

Ikutaro Kakehashi, inventor dos sintetizadores Roland, mudou o cenário ao criar um vasto número de teclados electrónicos que mexeram - e de que maneira - na forma como vemos a música. Por este motivo, escolhemos 18 faixas para uma playlist em tributo ao japonês, falecido no início de Abril.

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Uma lista em que as mulheres estão muito bem representadas (e não é por nenhuma admiração particular pela Associação Capazes), há romantismo e sensualidade a rodos, muito pezinho de dança, uma ou outra dúvida existencial e diversos "monstros sagrados". Depeche Mode, Pink Floyd e Jean Michel Jarre não foram convocados, mas mereciam. By the way, não é obrigatório o uso da marca Roland - para isso, se calhar, vais querer espreitar aqui.


Vê também: "Um pezinho de dança em Tóquio"


DONNA SUMMER – "I Feel Love" (1977)

Juntar a voz sensual de Donna à mestria do compositor Giorgio Moroder, só podia dar uma mistura explosiva. Mistura que marcou o disco sound e tudo o que girou à sua volta. Bela maneira de começar este tributo.

BLONDIE – "Heart of Glass" (1978)

Quem concorda com a letra de Gabriel O Pensador sobre loiras, deve seguir imediatamente para a próxima canção. Nesta actuação ao vivo, antes do segundo minuto, Debbie Harry (com um outfit estranho e generoso) faz uma curta declaração política sobre o abuso do poder nuclear. Curioso. Ela era uma autêntica sex bomb.

EURYTHMICS – "Love is a Stranger" (1982)

O filme que deu o Óscar de "Melhor Argumento Original" a Sofia Coppola, mereceu o título "O Amor é Um Lugar Estranho", na tradução em português. Duas décadas antes, Annie Lennox e Dave Stewart viviam intensamente (fora e dentro do estúdio) essa estranheza juntos.

MARVIN GAYE – "Sexual Healing" (1982)

Incontornável êxito da música soul devia estar num manual para utilizadores, intitulado, "Como fazer as pazes de forma tórrida, depois de uma discussão sobre o último episódio de 'Big Little Lies'". A violência doméstica deve piar fininho.

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HERÓIS DO MAR – "Só Gosto de Ti" (1984)

Os Heróis do Mar podiam ser acusados de encarnar muita coisa, mas uma era evidente: a sua pop era refinada e não saía da cabeça. Até hoje.

THE CURE – "In Between Days" (1985)

Disseram-nos que os rapazes não choram, puseram todos a amar à Sexta-Feira e fizeram multidões venerar o álbum "Disintegration". Sejas rapaz ou rapariga, tenhas ou não make up, ou um cabelo esgroviado, toca a mexer o corpo com este tema.

NEW ORDER – "Bizarre Love Triangle" (1986)

O poliamor soa a relação sentimental entre abelhas e a desculpa certeira para evitar coisas sérias a dois. Tendo este grupo aparecido após o fim dos Joy Division, "BLT" podia ser uma música dedicada a uma das frases que a personagem de Ian Curtis disse à esposa no filme Control. A propósito da questão se ele amava outra mulher, respondeu: "O que é que isso tem a ver connosco?". Bela saída…

HAPPY MONDAYS – "Kinky Afro" (1990)

Será esta a banda mais nárcotica e cool de Inglaterra? Há 27 anos, talvez fosse. Nessa época, os irmãos Ryder faziam malhas do caraças e meteram os brancos a dançar o seu viciante groove. Em palco, podia faltar tudo menos o amigo Bez a gingar o esqueleto, movido por aditivos que tornavam a espuma dos dias bem mais colorida.

PET SHOP BOYS – "Jealousy" (1990)

Nós sabemos que a escolha podia ter recaído num mundano subúrbio, num qualquer pecado, ou no jogo do dominó. Compreendemos que preferias uma dessas e não precisas de andar à porrada (como se vê no final deste clip), como se fosses um atleta do Canelas. Porém, das menos rodadas do vasto espólio dos dois autores de West End Girls, esta é das melhores.

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BJORK – "Big Time Sensuality" (1993)

O grunge andava na mó de cima, os Blur acreditavam que a vida moderna era lixo e a Europa dos U2 era electronicamente Zoo. Assim do nada (bem, já dava que falar com os Sugarcubes), uma islandesa ironizava sobre o comportamento humano. Posteriormente, espalhou charme pelas ruas de Nova Iorque.

PULP – "Common People" (1995)

Devia ser o hino para os "bifes" continuarem na UE (ao vivo, em Reading, 2011).

DAFT PUNK – "Revolution 909" (1996)

Qualquer revolução devia ser feita à base de tomates, rusgas e nódoas. Mais do que a descrição do teledisco, depois da estreia destes franceses, ainda estamos para saber se houve algum longa-duração na música de dança tão consistente e apetitoso. É fazer os trabalhos de casa para descobrir.

AIR – "Le Soleil Est Pres de Moi" (1997)

A maresia, o sol, la musique. Um final de tarde, um vinhinho tinto, com a temperatura certa e uma bela companhia com vocoder. A banda sonora perfeita numa praia perto de si.

SUEDE – "She's in Fashion" (1999)

Está longe de ser "a" canção da formação britânica, apesar de ser bonitinha e radiofónica. Escolhemo-la porque nesta live presentation é bem visível o produto do Sr. Kakehashi. Arigato.

KRAFTWERK vs WHITNEY HOUSTON – "I Wanna Dance With Numbers" (2001)

Ah pois é! Pensaste que ao falarmos de teclados iríamos deixar de fora os alemães robotizados e a menina que teve o Kevin Costner como guarda-costas? Assinado por Richard X, no projecto Girls on Top, deve ser consumido antes de três vodkas Grey Goose com gin (n.r.: epá, esta playlist está um pouco alcoólica!), para evitar que fiques desnorteado com este delicioso mashup.

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LADYTRON – "Seventeen" (2002)

Elas quando têm 15, querem aparentar ter 20. Quando têm 35, querem a energia dos 19. Quando têm 50, querem…nem sabemos bem o quê. É complicado. Os Ladytron defendem peremptoriamente, "they only want you when you're seventeen, when you're twenty one, you're no fun". Maybe.

MGMT – "Siberian Breaks" (2010)

Abril 2017. Trump e Putin fazem birra entre eles e disputam o território (e a guerra) da Síria como se estivessem a jogar Monopólio; em Portugal, a venda do Novo Banco cheira tão mal como frequentar o WC de um festival às duas da manhã - daqueles que não são constantemente limpos; na Suécia, (mais) um incidente com um veículo a derrubar pessoas em pleno passeio. Como emigrar para a Sibéria não é opção, o melhor é fazer uma pausa e tripar durante 12 minutos. "Oh Marianne, pass me the joint"…

BEACH HOUSE – "Take Care" (2010)

A viagem em honra aos sintetizadores termina com o afável duo de Baltimore. Fica bem.