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Música

Tudo O Que Você Queria Saber Sobre o Corrosion of Conformity e Nunca Rolou Perguntar pro Mike Dean

Conversamos com a lenda viva do metal/crossover/stoner sobre o retorno da formação original da banda, além de como ele aceitou o convite pra tocar no Vista Chino mesmo com o Josh Homme cagando em tudo

O Corrosion of Conformity é uma das poucas bandas que voltaram com a sua formação original e provavelmente ficaram menos famosas depois disso. Desde 2010, ano que marcou o retorno do lineup em trio já sem Pepper Keenan à frente dos vocais, a banda de Raleigh, na Carolina do Norte, luta para se reafirmar sem esquecer suas raízes e tudo que já passou. Prestes a lançar o segundo disco desde essa volta, o nono da carreira da banda, chamado simplesmente de IX, o baixista, vocalista e lenda viva do metal/crossover/stoner Mike Dean concordou em falar sobre tudo isso e mais um pouco. O que inclui as mais de três décadas de história da banda, além de como ele aceitou o convite do Brant Bjork para tocar no Vista Chino (ex-Kyuss Lives!) mesmo com o Josh Homme tentando estragar tudo. E só para lembrar, o novo disco IX acabou de chegar nesta terça (24).

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Noisey: Com cerca de 30 anos de carreira, o COC lança agora o seu nono álbum de estúdio, chamado IX (2014). Como é chegar tão longe? Você costuma pensar nisso?
Mike Dean: Bom, eu não paro e penso nisso com muita frequência. É mais sobre continuar caminhando e fazer música e tudo mais. Mas é ótimo. A gente meio que perde a noção do tempo que passou. É incrível que a gente faça isso há tanto tempo, é um pouco assustador quando você faz as contas. Quanto ao novo disco, desde que encontremos algo que nos inspire…e também ao nosso público, acho que podemos fazer isso por mais trinta anos. Desde que a gente ainda queira, que ainda exista aquela “fome”. Com certeza não parece que já faz tanto tempo que temos a banda. Mas estamos animados de ter um disco novo para as pessoas ouvirem e poder fazer alguns shows. Espero que possamos tocar de novo no Brasil e conhecer outras cidades além de São Paulo, que foi o único lugar que estivemos por aí.

Aliás, como foi tocar aqui no Brasil no ano passado?
Bom, a casa de shows em que tocamos era legal, mas o show foi meio caro. Quero dizer, se você fizer as contas nós ficamos meio desapontados por ser um pouco caro, mas acho que talvez tenha que ser para pagar pela viagem e tudo mais. Gostaria de tocar aí em um festival ou algo parecido; talvez um show com mais bandas, com bandas mais conhecidas. O show que nós fizemos aí foi ótimo e o público estava bem animado, mas senti que em toda essa nossa turnê pela América do Sul os preços pareciam um pouco altos. E eu sei que esse dinheiro não veio para o nosso bolso (risos). O custo do negócio talvez, você sabe. Queremos tocar aí em um festival, com bandas diferentes, poder ver algumas bandas brasileiras.

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E o que você achou de São Paulo? Teve tempo de circular um pouco pela cidade?
É uma cidade bonita. E apenas poder viajar para tão longe é legal, ver todas as coisas pequenas e simples que alguém que mora aí, por exemplo, pode não ligar tanto. A vegetação, as pessoas, tudo, sabe? Mas parece um daqueles lugares em que há muita riqueza e muita pobreza, mas sem muita coisa no meio. Você pode dizer isso só de ver todos os seguranças privados perto do hotel, por exemplo. Esse parece ser um grande negócio, proteger aqueles que têm dinheiro. Eu não sei, não sei nada sobre isso (risos). Isso foi de ir apenas uma vez para a cidade. Pode parecer algo simples e para turista, mas um parque que fica no meio de uma região super movimentada da cidade (provavelmente o Parque do Ibirapuera, próximo do local do show do COC na cidade). E toda a vegetação do parque, para mim pelo menos, pareceu como uma floresta tropical, bem no meio de uma cidade gigante, o que é algo louco. Mas é realmente um lugar lindo.

Você falou sobre tocar em um festival no Brasil, vocês fizeram isso no ano passado no Chile, certo?
Ah é, o Metal Fest do Chile, sim. O Down também tocou, pudemos fazer uma jam com o Pepper (Keenan, ex-vocal e guitarra do COC). E era aniversário do Kirk Windstein (Crowbar e ex-Down), ele ficou um pouco bêbado demais (risos). Esse foi um bom lineup, cara. Esse pessoal do Chile sabe fazer um festival, com certeza.

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Agora sobre o disco novo, o IX. Você pensa que vocês estão mais confortáveis para tocar como um trio agora? Porque achei que isso transparece no som do álbum.
Sim, definitivamente! Mais confortáveis. Apesar de termos tocado por pouco tempo como um trio há 25 anos mais ou menos na época do Animosity (1985) e um pouco depois, voltar a tocar dessa maneira foi quase como se fôssemos uma nova banda em alguns aspectos. Porque passamos tantas outras coisas, fizemos muitas músicas, experimentamos muitas coisas na vida. Então ao voltar a ser um trio após tocar com o Pepper e tudo mais, pareceu que éramos uma nova banda. Precisamos achar qual a nossa identidade nesse momento. E o jeito de fazer isso é sair por aí e tocar 200, 300 shows, que foi o que fizemos. Queríamos que o IX refletisse mais quem nós somos como uma banda ao vivo, que o disco traduzisse melhor o que é a experiência de um show nosso. E fazê-lo soar dessa maneira. Acho que conseguimos isso. E é acho que é por isso que você perguntou isso, porque realmente parece que estamos mais confortáveis.

Sim, exatamente. Me pareceu mais “natural”, vamos dizer.
É, isso foi realmente intencional porque tivemos uma situação bem confortável no estúdio. É um lugar em Raleigh (na Carolina do Norte, cidade natal do Corrosion Of Conformity) que dividimos com outra banda. Não é muito caro para usar, por isso podemos ir lá e experimentar algo se quisermos, por exemplo. Quero dizer, você pode jogar isso contra o lance de ser orgânico e tudo, e usar esse tempo para deixar tudo perfeito e sugar sua vida. Ou você pode usar esse tempo, esse luxo, para testar, experimentar, que é meio o que fizemos. Nós queríamos gravar as músicas como se elas estivessem nascendo, capturar algo incrível pela primeira vez. Sem se preocupar em ser perfeito, mas sim com a energia da performance do que com a perfeição dela. Não sei se todo mundo gosta disso, talvez algumas pessoas pensem que não soa “refinado” ou que fica parecendo um som muito “ao vivo” ou algo do tipo, mas é apenas o que estávamos buscando, uma performance orgânica.

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E quem teve a ideia para usar esse nome no disco? Vocês já tinham lançado um álbum autointitulado na volta.
Bom, é o nosso nono disco de estúdio e o número nove romano tem um visual legal para a gente, graficamente e tudo mais. Testamos usar o nome de uma ou outra música para ser o título, mas nenhuma representava tão bem o grupo de faixas. Sabe, já fizemos o lance do disco autointitulado (risos). Então vamos usar o lance do número, do volume agora. E a outra coisa é que nós estávamos, como sempre, ouvindo muito Black Sabbath. E o 9 parece um pouco com 4 e há uma referência ao Volume 4 (1972), como você pode ver com a nossa foto tocando, toda alterada, na capa. Então também é uma pequena homenagem ao meu disco favorito do Sabbath, em vários aspectos.

O disco teve produção do John Cluster, que trabalha com o COC desde os anos 1990. Ele é “o cara” para conseguir o som ideal da banda?
Bem, eu gosto de como ele sempre traz coisas boas para a banda. Quando eu não estava no COC, na época do Blind (1991), eu tinha saído e não estava esperando realmente muita coisa deles. Quem sabe? Mas o lugar para onde eles estavam indo quando eu saí…não sabia o que ia acontecer, apenas não estava esperando nada. E aí eu ouvi esse disco chamado Blind, que me deixou de queixo caído. Fiquei impressionado com a musicalidade do disco, como era um álbum incrível. E fiquei buscando por uma explicação para isso e quando olhei no disco, vi que tinha sido produzido por John Cluster e pensei que isso pudesse ter algo a ver. Aí quando voltei para a banda e fizemos Deliverance (1994), aprendi como era o trabalho dele. Penso que a filosofia e a abordagem dele evoluíram ao longo dos anos, junto com a gente. Então agora o que ele realmente faz é um tipo de controle de qualidade, trazendo uma “educação musical” para o nosso processo, que é um pouco orgânico. Ele pode pedir para a gente mudar algo de lugar, por exemplo, fazendo com que tudo na música fique mais coerente, mas sem ficar muito polido ou coisa do tipo. Com o tempo, o John passou a fazer menos sugestões. Mas quando ele abre a boca é geralmente para dizer algo importante. Então é valioso ter alguém com essa perspectiva no processo. E é por isso que ele continua conseguindo o trabalho.

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E você acha que é importante ter esse relacionamento tranquilo com o produtor? O Neurosis tem algo parecido com o Steve Albini. Pensa que é melhor ter um produtor mais fixo do que trabalhar sempre com uma pessoa diferente em cada disco?
Acho que depende do que você está procurando. Se você olhar para alguns dos melhores discos de todos os tempos, o relacionamento entre o produtor e o artista não era confortável (risos). Gosto muito do Superunknown (1994), do Soundgarden, mas se você perguntar a qualquer um dos caras da banda como era a relação deles com o Michael Beinhorn para fazer o disco, eles não vão dizer que foi uma época ótima (risos). Só que o resultado foi bom. Mas se você puder ter esse resultado e uma relação confortável com o produtor, então acho que poderia trabalhar melhor. Então assim quem sabe esse clima bom possa se traduzir na música que você está fazendo. Falando nisso, o Steve Albini seria alguém interessante para a gente trabalhar, eu admiro ele. Acho que o estilo dele é de não ter muitas opiniões sobre o material, mas apenas focar em conseguir captar esse som da melhor maneira possível, a mais verdadeira. Gosto muito do que ele fez com o High on Fire (no disco Blessed Black Wings, de 2005), as baterias soam muito bem, mas verdadeiras. Acho que trabalharíamos bem com outros produtores. Mas o lance do Cluster é que ele tem boas ideias para toques finais menores do material, especialmente nos solos guitarra, harmonias e coisas do tipo. Pontos em que apenas uma pequena sugestão pode fazer uma grande diferença. E esse não é um ponto forte do Albini, ele é mais focado na gravação. O Cluster olhar mais para o quadro todo, mas também tem um ótimo conhecimento técnico. E gosto de receber essas opiniões.

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Na última entrevista você me disse que pensava que o disco autointitulado, lançado em 2012, era o melhor da carreira do COC. Pensa que o IX tomou esse lugar agora?
Sim, penso que é o nosso melhor disco no momento. De modo geral, diria que o disco autointitulado (de 2012) também poderia ser o nosso melhor trabalho. E acho que o Animosity (1985), o Deliverance (1994), o Blind (1991) e o In the Arms of God (2005) e esses dois últimos estão lá em cima, em minha opinião, com potencial para ser o melhor disco do COC.

O show de vocês aqui em SP teve algumas músicas da época do Pepper no setlist. Você sente algum tipo de pressão dos fãs para tocar esse ou aquele som ao vivo?
Bom, as pessoas sempre querem ouvir as coisas que elas conhecem. Nós apenas fazemos o que a gente quer e o que parece certo. Não tocamos muito material dessa época porque o Pepper não está mais com a gente para cantar. Quero dizer, é divertido eu poder cantar um pouco esses sons, mas na maior parte não tocamos essas músicas. Tivemos sorte algumas vezes em que fizemos shows com o Down e o Pepper subiu no palco com a gente para tocar e cantar algumas músicas. Mas em respeito aos fãs nós não queremos ser uma daquelas bandas que tentam… Sabe, o cara que canta essa música não está aqui, não vamos tentar nos passar por esse cara. Temos uma longa carreira e muitos discos, podemos ficar sem tocar essas músicas.

E você pensa que atualmente a banda é mais respeitada pelo que fez em toda a carreira, desde o Animosity, e não apenas na “fase stoner” com o Pepper?
Acho que sim. Pelo menos agora as pessoas estão começando a ver que estamos fazendo esse lance de ser um trio de verdade. Estamos com dois discos, incluindo o IX, e um EP, já tocamos centenas e centenas de shows assim. Por isso, elas estão começando a considerar essa formação em trio como algo relevante em vez de apenas ficarem putas e dizerem: “Ah, o Pepper não está lá”. O que é engraçado, porque quando aquelas pessoas finalmente aceitarem nós podemos fazer outro disco com o Pepper. Ele mostrou interesse nisso e acho que é mais um lance de alinhar as agendas de todo mundo. Então podemos realmente fazer isso. Pode ser que não dê certo, mas estamos trabalhando nisso.

Agora você também está tocando baixo no Vista Chino (ex-Kyuss Lives) no lugar do Nick Oliveri. Como isso aconteceu? Já conhecia os caras? Era fã da banda?
Sim. Eu sou fã do Kyuss desde a primeira vez que escutei o Wretch (1991). Assim que saiu, já dava pra ver que era uma ótima banda: o vocalista é incrível, todo o lance da afinação mais baixa, músicas muito hipnóticas. E isso só aumentou com o Blues for the Red Sun (1992), que me impressionou e é um disco tão clássico. Sou fã do Kyuss desde o primeiro dia. E o Brant Bjork era fã de hardcore quando estava crescendo na Califórnia, curtia muito COC. Conheci o Brant quando ele saiu do Kyuss e estava tocando no Fu Manchu. Fizemos até alguns shows juntos na época, com o COC, Fu Manchu, Monster Magnet, coisas desse tipo. E o Nick Oliveri não podia viajar para fazer alguns shows que eles tinham na Austrália. Sei lá, um dia eu estava brincando com o meu cachorro, o telefone tocou e era o Brant Bjork. Ele me perguntou se eu poderia aprender algumas músicas e ir para a Austrália com eles em duas semanas. Aí eu disse: “Cara, vou precisar te ligar de volta”. Então eu pensei por 10 segundos e liguei para ele. Fiz uns 60 shows com eles, gravei uma música no disco da banda, e foi realmente ótimo. Especialmente poder fazer jams com o Bruno e o Brant, mas também poder tocar na banda com o John foi algo incrível. Acho que agora eles estão fazendo seus projetos solo, o disco do John Garcia sai neste mês, e o álbum do Brant deve ser lançado em outubro. Então acho que daqui um ano, um ano e meio devemos ter um novo disco do Vista Chino. Se eles me chamarem para tocar no álbum, largaria tudo e iria fazer isso. Seria ótimo.

E alguma chance de uma tour ou alguns shows do COC e do Vista Chino juntos?
Eu tentei fazer isso acontecer, mas houve um pouco de resistência. Não sei, acho que as pessoas ficaram com medo que virasse o “Mike Dean Show” (risos). Algo do tipo “quanto tempo podemos aguentar ver o Mike Dean tocar?” (risos). Tentei fazer isso para ninguém ficar bravo comigo, mas acabou não dando certo.

E você recebeu algum tipo de crítica do Scott Reeder ou algum ex-membro do Kyuss por ter entrado para o Vista Chino?
Não, não. Acho que tudo está ficando mais calmo agora. O Reeder é o tipo de cara que respeita tudo. A situação deles era meio complicada. No fim do Kyuss, todo mundo tinha uma imagem. A definição legal do Kyuss estava com o Josh (Homme), Scott (Reeder), Alfredo (Hernandéz) e John (Garcia). E acho que isso ficou complicado com as pessoas que tinham estado antes no Kyuss e queriam voltar com a banda. Eles tinham problemas entre eles e eu expressei minha opinião sobre o assunto, o que acabou deixando algumas pessoas bravas comigo. Acho que chegar nesse nível, de uma ação judicial, não era algo justificado e foi como uma mão pesada demais. Isso tudo já ficou para trás. O Josh Homme tentou impedi-los de fazer isso, o que ele não conseguiu. Ele conseguiu afetá-los legalmente e financeiramente, mesmo ele tendo todo o dinheiro do mundo. Mas o que é certo é que ele não conseguiu impedir eles de formar o Vista Chino e continuar fazendo música, o que é um final feliz. Às vezes as pessoas com muito dinheiro e poder não tem mais realmente uma perspectiva sobre outros artistas tentando existir. O que você vai fazer, cara? Quero dizer, penso que o Josh Homme é um músico realmente talentoso. Gostava muito do Queens of the Stone Age até pouco tempo atrás. É um cara criativo, mas que esqueceu de onde veio.

Ok, cara. Essa é a última pergunta. Do que você tem mais orgulho na sua carreira?
Acho que apenas o fato de…Quer dizer, orgulho é algo que você não quer ir muito fundo. Mas talvez eu tenha um pouco de orgulho de a gente (COC) ter conseguido criar a nossa própria identidade e ser uma banda que é difícil de ser categorizada. Gostamos de “quebrar” os gêneros e fazer com que seja apenas música, o que é verdadeiro. E mostrar que todas as divisões musicais e “caixas” em que as pessoas querem colocar os artistas são artificiais e que tudo é música. É daí que viemos e acho que fizemos um bom trabalho em nos manter fiéis a isso.