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Música

The-Drum Está Construindo uma Cena Pop Experimental Surpreendente em Chicago, Queiram Eles ou Não

Todas as evidências apontam para a existência de uma cena experimental pop eletrônica em Chicago ligada ao The-Drum. Mas os dois não veem o mesmo.

- The-Drum, fotos por Scott Kaplan

Uma cena pode ser formada mesmo se seus líderes não acham que ela realmente existe? Fico me questionando sobre isso em meio a uma entrevista com a dupla de produtores The-Drum em um café elegante, no bairro de Wicker Park, em Chicago. Como uma pessoa de fora, todas as evidências apontam para a existência de uma cena experimental pop eletrônica em Chicago ligada ao The-Drum. Mas os dois não veem o mesmo. A situação, a cidade, seus desafios como músicos – é muito mais complicado do que pode parecer do lado de fora.

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"É como se, sim, há uma cena, sim, existem muitas pessoas que são DJs aqui e que estão no estúdio e estão fazendo músicas uns com os outros o tempo todo, mas não é da forma como o mundo pensa que é", diz Jeremiah Meece. "É tão pequeno, tão segmentado. É apenas filtrado, pequenas coisas minúsculas."

Desde que chegaram na então híbrida cena de música eletrônica online que florescia, em 2010, os dois, Jeremiah Meece e Brandon Higgenbotham, também conhecidos como Jeremias Chrome e Brandon Boom, adicionaram seu toque a uma variedade de lançamentos, do sombrio som do imaginativo rapper Le1f até o estranho e adorável pop/R&B de Dre Green. Isso sem contar seu trabalho próprio como artistas solo, como uma dupla, e como membros do coletivo de R&B JODY. A cada novo lançamento existe uma força gravitacional que leva ao mesmo ponto: The-Drum.

Os frutos de seu trabalho vieram embalados em uma nova compilação, Lo Motion Singles Vol. 1, o primeiro lançamento de sua nova gravadora, a Lo Motion. Cada faixa na compilação foi criada por um artista da Lo Motion ou artistas próximos. Na página do Bandcamp da compilação, tags como "ambient", "eletrônica", "neo-soul" e "psicodelia" são usadas ​​para descrever sua música. Este agrupamento de sons pode parecer incoerente em um primeiro momento, mas uma escutada rápida em cada faixa mostra uma mentalidade uniformemente eclética.

Embora nenhuma canção seja semelhante às demais, elas estão unidas em sua abordagem aberta que esmaga gêneros e estilos. Uma maravilha instrumental do Ando, cheia de curvas exuberantes e samples únicos, se encaixa de forma inteligente com “Guarded”, de Dre Green, uma canção mais lenta, mas ainda familiar, de sussurros cantados e manipulações vocais. Muitas das faixas são produzidas pelo The-Drum, mas algumas – como "Used to Be", do KIT, produzido por Hawaiian Gardens – foram produzidas por outros artistas do selo ou associados. Cada projeto, apesar da mente por trás dele, se encaixa dentro da estética única da gravadora, enquanto oferece uma oportunidade de mostrar os talentos individuais e sua visão artística.

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O que se passa pelo The-Drum individualmente e em músicas em grupo, assim como nas faixas ligadas com sua gravadora e na "cena" nascente, é um nível agudo de estranheza e consciência. Jeremiah e Brandon apreciam a música em um nível fundamental, fora dos significados sociais amarrados a ela. Este profundo amor pela música de todos os tipos se traduz em suas canções. James King, que está na compilação Lo Motion e que se apresenta tanto como The GTW e como membro do JODY, atribui esse gosto mente-aberta como uma das razões pelas quais estava animado a trabalhar com o duo. "Eu podia ouvir todas as influências no que eles estavam tocando", diz. "Música eletrônica meio funk a sons de house a Al B Sure ao velho funk do Reino Unido. É praticamente caótico. Seu gosto musical é caótico, como o meu. Foi isso que me fez realmente me conectar com eles."

Quando a dupla estourou pela primeira vez, sua música foi postada em um canal no YouTube que mostrava projetos de música eletrônica experimental. "Nós percebemos que havia um monte de pessoas que tinham uma paleta de sons semelhante ao nosso, mas depois, quando você volta e nos ouve, somos, tipo, muito mais estranhos", diz Jeremiah. "Nós não estávamos tentando fazer isso".

O tipo de música que The-Drum encontrou nestes tipos de lugares, que eles descrevem como "R&B drogado", ofereceu um desafio. "Depois de ouvir essas coisas, fomos propositadamente um pouco mais estranhos", disse Brandon. Eles são propensos a classificar sua estética sempre em evolução como a de uma trilha sonora ( de "film noir sci-fi erótico", como eles descrevem). "Não é uma loucura. Não se trata de tendências. É apenas tudo o que eles gostam de uma vez só", comenta James.

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Nascida no início deste ano, a Lo Motion é uma gravadora nova, de Chicago, mas com ambições nacionais. Lançamentos serão feitos em grande parte dos casos digitalmente, para facilitar a vontade de lançar músicas de maneira rápida.

"Podemos ter um meio para nós e nossos colaboradores lançarmos as coisas que fazemos de forma oficial", disse Jeremiah. Esta estrutura é fundamental, "especialmente quando você está tentando fazer produções de ponta". Apesar de sua aversão ao rótulo "cena", o The-Drum está unindo artistas e criadores na cidade, criando uma frente unida.

"Estamos todos juntos e é tudo tão aberto", diz James. Seus próximos projetos incluem o álbum Chigeria (Chicago + Nigéria), assim como uma turnê do JODY e um novo EP. "Pode ser que, por seu trabalho ser tão aberto, que eu me sinto confortável com eles. Estou animado. Eles estão definitivamente liderando isso."

Os integrantes do The-Drum dizem fazer música em tempo integral. Eles não precisam sucumbir às pressões de um trabalho normal devido ao custo relativamente baixo para se viver em Chicago em comparação com as cidades costeiras. E por causa dessa facilidade, a capacidade de experimentar de forma criativa e dedicar-se a sua visão é fomentada pelo fato de que eles estão fazendo música 24 horas por dia. Embora Jeremiah destaque que essa seja uma "forma muito desprendida de vida", o The-Drum sobrevive em grande parte de seus lançamentos próprios, remixes mensais para outros artistas e apresentações ao vivo como DJs pela cidade. Até o momento, o sistema tem funcionado para a dupla, os liberando para criar durante o dia e convidar outras pessoas para trabalhar com eles em seu estúdio caseiro.

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Seu set-up é minimalista, na melhor das hipóteses.

"É um computador e monitores. É isso. E um microfone ótico", diz Brandon. "Nós não temos um verdadeiro set-up com, tipo, uma mesa, e botões, e todos os tipos de cabines vocais. Não, nós temos uma meia enrolada em um microfone".

"E todas essas colaborações que te falamos", Jeremias interrompe.

"Meia em um microfone. Meia em um microfone. É assim que fazemos isso", diz Brandon.

O seu grupo de colaboradores, cuja maioria está na compilação, e pessoas as quais Brandon se refere como sua "equipe", regularmente fazem aparições em seu estúdio para colaborações e gravações.

E os dois preferem assim. Nos termos do próprio ato de fazer música, essa personificação, esse ethos colaborativo faz o seu trabalho não ser tanto trabalho. Apesar de sua ascensão coincidir com um movimento musical particular on-line e continuar a florescer na internet, eles precisam de um método mais realista de trabalho.

"Eu simplesmente odeio fazer isso pela Internet. É realmente desagradável fazer as coisas assim", diz Jeremias. "Se a pessoa não está lá sentada lá para ficar, tipo, 'Ah, eu gosto disso. Ou, ah eu não gosto disso'. Isso não faz sentido".

Para mim, a ideia de uma cena (ou, neste caso, uma equipe), parece mais presente do que nunca. Ambiente, ideais, basicamente um lugar para "fazer" parecer como uma parte crucial para o seu processo. Cenas se desenvolvem em torno de figuras centrais e espaços. O pressuposto da liberdade da Internet é que ela quebrou com as limitações de cenas locais, tornando mais fácil para os artistas de todo o mundo colaborarem uns com os outros. E, enquanto isso pode ser o caso de alguns artistas, para outros, como The-Drum e JODY, o oposto é verdadeiro. A sua preferência pelo trabalho ao vivo está levando a uma cena mais palpável e física no momento em que elas estão, supostamente, morrendo.

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"Estamos apenas fazendo música e o que acontece, acontece. É uma coisa muito divertida desabrochando e acontecendo com o rótulo Lo-Motion", diz King. "Todos nós temos coisas diferentes acontecendo, mas acontece tudo junto. Está cruzado e interligado. É monstruoso."

Este fenômeno físico não é diferente de outras cenas de Chicago, especialmente as maiores e mais estabelecidas, como a cena de drill do South Side. Talvez a presença palpável das cenas, a realização literal da música em um só lugar durante um determinado período de tempo vai possibilitar uma melhor chance de sobreviver e prosperar fora da cidade ou até mesmo fora das atenções em constante evolução da Internet. Como uma bandeira no solo, eles estão ficando raízes.

Chicago é mais como um mini-país do que uma cidade. Musicalmente falando, diferentes gêneros musicais e cenas foram fomentadas na cidade, muitas vezes formadas umas atrás das outra, mas indo em direções diferentes. Subgêneros distintos como footwork e drill e house e moody e R & B estão todos prosperando, sem a necessidade de sustentação uns dos outros. Talvez mais do que qualquer outra cidade norte-americana, Chicago está cheia de bairros discretos, o que significa que pequenos mundos podem surgir e existir. Isto também significa que as pessoas não precisam interagir umas com as outras se não quiserem. O The-Drum e seus colaboradores conseguiram agir contra esse padrão histórico.

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"Eles têm a perspectiva de alguém de fora", diz King. Muitos moradores de Chicago são nascidos e criados aqui, apegados às comunidades e culturas nas quais foram criados desde pequenos. O background do The-Drum varia como os lugares por onde passaram. Ambos mudaram muito quando eram crianças, diz Brandon. Ele nasceu em Seattle e foi para a escola em Arkansas. Jeremy caiu de paraquedas no Texas para o Ensino Médio. Mais tarde, eles se estabeleceram em Chicago, onde sua natureza nômade surgiu como uma vantagem. A curiosidade e o interesse em uma variedade de diferentes estilos, gêneros e cenas (seja na música ou cultura em geral) solidificou o seu som distinto. "Eles estão aqui há tanto tempo, sendo de Chicago, eles são receptivos a praticamente qualquer coisa acontecendo."

A compilação Lo Motion Singles chama a atenção para a vastidão e espírito criativo na cidade e, ao mesmo tempo, sua identidade atual e sua música como maior do que o seu legado e a soma de suas partes. Outras cidades tendem a ter cenas mais chamativas e mais rápidas, mas a bolha de Chicago permeia por muito mais tempo, antes e depois de ganhar qualquer tipo de atenção. É uma cidade fora de tendências ou modismos.

Mesmo que sua jornada os leve a trabalhar fora de Chicago (uma possibilidade muito real se pensar nas limitações óbvias de exposição na cidade) eles podem recriar a magia que eles já construíram. Mas Chicago é também muito distante dos grupos de comunidade criativa que existem nas costas e no exterior, o que significa que qualquer um que escolher criar aqui tem que trabalhar muito mais. A luta é mais real.

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"Esse é o negócio de estar aqui. Há apenas uma quantidade finita de pessoas que vão e ouvem música aqui", diz Jeremiah. "E sim, ela cresce e há um influxo de como, durante o tempo de escola, com novos alunos, mas é realmente uma quantidade finita, fixa de pessoas. E com essas mesmas pessoas, você pode ter a melhor festa de Chicago, mas, muitas vezes, não haverá ninguém lá. Todo mundo é tipo, Oh, eu fui lá várias vezes, eu não curto mais".

Brandon concorda, acrescentando, "em Chicago, naquilo que fazemos, existe só um tanto de coisas que você pode fazer para continuar. Até que fizermos uma música de sucesso ou algo doido. Tipo, se vivêssemos em Nova York, poderíamos estar trabalhando como DJs todas as noites. Enquanto isso, em Chicago, só há um tanto de noites que podemos fazer ou tantas vezes que podemos tocar como DJ".

A música também tem que ser mais real, mais precisa. Geralmente, deve ser muito melhor do que todo o resto. Em um mundo super tecnológico, um artista de Chicago não pode simplesmente criar; deve também prosperar. Neste momento, os dois são bem conhecidos entre aqueles que acompanham as cenas eletrônicas experimentais mais amplas dentro da cidade e do país, mas o seu próximo teste será traduzir esse som para um público maior. Com a ajuda de muitos dos artistas agora associados com a Lo Motion, e seus inúmeros projetos paralelos, isso se torna uma possibilidade maior. Eles estão jogando em menos frentes e criando um corpo de trabalho que pode promover as suas ideias e visão. Um single ou EP não vai e não pode ser suficiente, não enquanto eles tentam criar algo em Chicago.

"Como se nossos negócios se baseassem apenas em torno da música", diz Brandon. "Nós não gostamos de nos vestir incrivelmente bem. Não temos recursos visuais interessantes. Nós gastamos todo o nosso tempo fazendo com que a música seja boa".

Eles falam bastante sobre as vantagens de Los Angeles ou de Nova York. Lá, eles dizem, poderiam trabalhar como DJ cinco noites por semana. Lá, eles dizem, eles poderiam dar festas e eventos que os sustentariam durante anos. Mas isso não leva em consideração os desafios das duas cidades também.

"A única vantagem é que não há um monte de pessoas em Chicago fazendo o que fazemos", diz Brandon. "Enquanto se estivéssemos em Nova York ou Los Angeles, seria, tipo, 'Olha, outra banda LA que é influenciada por R&B. Ou uma outra banda do Brooklyn' … Então, em Chicago, as pessoas pensam que mandamos aqui". Ele ri: "Quando, na verdade, não mandamos em nada".

Cada cena é uma incubadora de si mesma. Isto é o que vivemos e respiramos neste lado da cidade, neste bairro da cidade, nesta rua da cidade. Essas cenas crescem dentro de si mesmas e artistas muitas vezes não estão familiarizados com o trabalho uns dos outros. Mas o The-Drum encontrou seus iguais – um inspirado grupo eclético e criativo que atravessa fronteiras em Chicago. E, para aqueles que estão prestando atenção na cena de música eletrônica emergente e experimental, eles encontraram sua "voz" – que mistura gêneros, chama a atenção e causa estranhamento.

Britt Julious é uma jornalista que mora em Chicago e acredita que as pessoas devem dançar mais. Ela está no Twitter -- @britticisms

Tradução: Sarah Germano