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Música

Tentando Não Morrer num Acidente Flamejante: O Diário de Turnê de Buzz Osbourne do The Melvins

King Buzzo está em uma turnê solo acústica chamada "This Machine Kills Artists" e como essa ideia toda pareceu deixá-lo meio tenso, perguntamos se ele poderia nos mandar uns relatos da estrada.

Da última vez que conversamos com Buzz Osborne, do Melvins, perguntamos o que ele achava da Miley Cyrus e do Mumford & Sons (spoiler: não muita coisa). Agora, King Buzzo está na estrada, em uma turnê solo acústica chamada "This Machine Kills Artists". Já que para começo de conversa a ideia toda pareceu deixá-lo meio tenso, perguntamos se ele poderia nos mandar uns relatos da estrada. Aqui está o primeiro envio, no momento em que ele leva o rock acústico às massas da Costa Oeste dos EUA…

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Pé na estrada com um violão debaixo do braço? Grande ideia, mané…

Aqui, a pergunta a ser feita é: por que raios fazer um disco acústico ou uma turnê mundial? Essa é uma boa pergunta. O tempo dirá, e veremos se isso tudo não vai implodir, virando uma fossa hedionda de babaquice total.

O primeiro show da turnê é na adorável San Diego, no Casbah! O Casbah fica na pista de pouso do aeroporto de San Diego, o que quer dizer que, quando você está do lado de fora, conversando com algum dos muitos bêbados amantes da diversão de San Diego, a cada 90 segundos seus tímpanos são rachados ao meio pelos jumbos voando baixo para pousar. É meio empolgante, e não consigo deixar de imaginar um horrível e flamejante acidente de avião acontecendo bem na minha frente, enquanto fico lá parado dizendo "caralho!". Se isso acontecesse, você acha que eles cancelariam o show?

Depois do show, no qual deu tudo certo, ainda bem, nós metemos na bagagem o pouco equipamento que tenho e voltamos de carro para Los Angeles. Eu estava empolgadão para dirigir, mas acabou que durei só uns dez minutos atrás do volante, antes que tivesse a sabedoria de encostar o carro e deixar o Dave ficar com a direção, porque estava sendo impossível manter a porra dos olhos abertos. Meter a van numa vala funda da interestadual depois de fazer um só show não seria bom. Caí no sono imediatamente, mas fiquei acordando assustado toda hora, a viagem inteira, imaginando nós todos morrendo num flamejante acidente de carro. De onde foi que eu tirei essa ideia?

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Foi tudo perfeito com meu show em LA, e graças ao criador. Fiz o primeiro show acústico da minha vida em fevereiro último, em Los Angeles, então estava curioso para ver quanta gente estaria interessada na minha volta. Toquei no The Eco. O The Eco é um espaço legal, com uma equipe de funcionários super gente boa, que sempre facilita pra caralho as coisas. O The Eco, para surpresa de ninguém, fica também no Echo Park, que hoje em dia parece ser uma central dos hipsters. Por mim, sem problema, e é uma melhora gigantesca em relação ao que costumava ser. Quando me mudei pra Los Angeles, há 21 anos, o Echo Park era um pesadelo do caralho, infestado de traficantes de droga, prostitutas e do pessoal das gangues levando os pit bulls para fazer exercício.

Meu show seguinte foi em Orange County, e infelizmente tive que expulsar um bêbado que estava no gargarejo, e insistia em ficar me encostando toda vez que eu me aproximava do lado do palco em que ele estava. Chegou uma hora que parei de tocar e falei para ele: "sem encostar" – ao que ele respondeu: "vai se foder." Perfeito.

Odeio esse tipo de merda, então tirei o violão do pescoço, para o caso dele decidir me atacar no palco, porque sem chance de eu querer lutar com um bêbado escroto estando com um violão inutilmente pendurado no pescoço. Pro caralho com isso. Então disse que não ia tocar nem mais uma nota até que ele saísse. E ele saiu, protestando, mas ao menos sem violência. Uma pena mesmo, porque tenho certeza que ele era um fã, mas a birita o tinha transformado num lunático fora de controle. Tenho certeza que, no dia seguinte, aquilo tudo foi culpa minha também.

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Na manhã seguinte, pegamos o carro e fomos para o norte, ouvindo direto e reto o disco Blue Valentine do Tom Waits, e rachando o bico, contando piadas que terminavam, todas elas, com algum de nós dizendo "não" ou "quê". Era uma sexta-feira 13 e noite de lua cheia, então sabe lá deus o que isso quer dizer, ou que tipo de insanidade uivante nos esperava em Fresno.

Ninguém está nem aí pra Fresno e, esquisitamente, acabou que deu tudo certo lá. Me senti muito bem no palco, e toquei todas as músicas com perfeição. Saí de lá com bom humor, uma raridade, e não me preocupei nem um pouco com a insanidade do mundo, ou com o fato de que eu não tinha absolutamente resposta nenhuma para nada. Nenhuma revelação definitiva, nenhum evangelho, nenhum segredo, e nenhum desejo de ser outra pessoa ou estar em outro lugar.

Só deixei o ar-condicionado do carro ventar na minha cara até que eu não aguentasse mais o frio.

Acordei bem cedo na manhã seguinte e vi o sol nascer pela janela suja do quarto de hotel, em silêncio total, imaginando que eu estava no set de filmagens de Laurence da Arábia – só que, em vez de num deserto flamejante, eu estava lá congelando no meio do quarto. A temperatura chegara ao nível polar, tendo eu deixado o ar-condicionado no máximo a noite inteira.

Chegamos cedo em Sacramento e comemos num restaurante tailandês vazio, no centro da cidade. Somos só nós três – Dave, Brian e eu, então coisas tipo escolher um restaurante são super fáceis. Gosto de viajar com esses caras, então não estou antevendo problema nenhum no futuro. Numa turnê, esse é um sentimento estranho para mim. Normalmente, você pode contar com algum tipo de babaquice humana infernal consumindo grandes porções do tempo, então é estranho que isso não aconteça. Mas também estamos no começo ainda.

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Depois do show em Sacramento, eu estava conversando com alguns fãs que perguntaram onde eu ia tocar agora, e respondi que em São Francisco, no Great American Music Hall. Um deles disse: "Ih, caralho. Você vai acabar sendo espancado por um bando de sapatas ensandecidas bem no meio da rua, na porta do clube."

Uma vez mais: seria perfeito.

Tradução: Marcio Stockler.

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