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Música

O Veruca Salt tem Muito Assunto para Pôr em Dia

Depois de um dez polegadas com singles antigos, a banda está cogitando lançar um novo álbum e já tem uma bela turnê agendada. Aqui eles falaram sobre os velhos tempos, maternidade e os discos antigos do Green Day.

Em 1998 a música era um planeta diferente. Não existia nada para se baixar ilegalmente, nada para se ouvir em streaming, nem nada que ficasse sugerindo de quais outras bandas você poderia gostar se ouviu Everclear ou Eve 6. A memória reverente do rock vindo de Seattle no início dos anos 90, para o qual a geração X pagava tanto pau, acabou esmagada como os sonhos do Milli Vanilli, e o movimento pós-grunge, com bandas como Fuel e Godsmack, estava em plena atividade. E foi em 1998, quando a música estava num momento de estagnação nada envolvente, que o Veruca Salt - cujo rock alternativo foi um componente seminal da cena grunge do início dos anos 90 (e cujo hit "Seether" foi diretamente responsável por inspirar o nome da banda de rock-metal-alternativo-qualquer-coisa chamada Seether) pendurou as chuteiras depois de dois álbuns de estúdio, o de estréia American Thighs (1994) e Eight Arms to Hold You (1998), mais o EP Blow it Out Your Ass.

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Em meio ao processo de composição de um novo álbum, a guitarrista e fundadora Nina Gordon deixou a banda de espontânea vontade (como ela mesma admitiu mais tarde, devido ao uso de drogas) para consternação dos demais fundadores Louise Post, Jim Shapiro e Steve Lack. Louise Post, que seguiu usando o nome Veruca Salt, e Nina Gordon, que embarcou numa carreira solo ao longo dos anos 2000, gravaram separadamente as músicas que haviam composto juntas, e permaneceram distantes tanto como amigas como musicalmente pelos 15 anos seguintes.

Mas, em vez de choro e depressão por causa do que poderia ter sido e não foi, as recentes notícias vindas do Veruca Salt falam sobre um novo álbum e uma vasta turnê no verão, coisa que deixou os fãs passando mal de felicidade. Há mais de um ano, a reconciliação oficial de Gordon e Post promoveu - no dia 19 de abril, Record Store Day - o lançamento de um 10 polegadas com novos singles como "Museum of Broken Relationships", "It's Holy", e o nem tão novo "Seether". Ou seja, os fãs podem parar de agir como criancinhas petulantes e aceitar aquilo que esperaram por tanto tempo. Recentemente, conversei com Nina Gordon e Louise Post sobre o novo álbum e a turnê, discutimos se "Brain Stew" do Green Day estava em Dookie ou Insomniac, falamos sobre como é estarmos perto do 20º anversário de American Thighs, sobre como é complicado ter um bebê e fazer música ao mesmo tempo, e se elas sairiam ou não em turnê com o Hole se o Hole finalmente voltar.

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No final do clipe de "Museum of Broken Relationships", vocês duas começam a rir. Achei esse momento muito legal. O que foi tão engraçado?

Nina Gordon: Quando estávamos tocando essa música no estúdio para a gravação do clipe, diante das câmeras, nos sentimos meio bobas. Você sempre se sente boba quando está gravando um clipe e tem que dublar sua própria música, mesmo que no caso a gente estivesse realmente tocando e cantando. Quando acabamos acho que estávamos falando pelos fones de ouvido com o Brad ([Wood], nosso produtor, e a gente perguntou, brincando, "essa ficou boa?" Porque é isso que você diz quando termina um take de gravação no estúdio . Você pergunta "essa ficou boa ou apagamos e seguimos em frente?". Foi por isso. Estávamos rindo porque era engraçado fingir estar tocando e gravando também.

Foi também uma reação ao fato de estar pela primeira vez gravando e fazendo um clipe juntas depois de uma década?

Louise Post:Definitivamente o fato de fazer um clipe e ter a câmera nas nossas caras é algo que não acontecia havia tempo. É algo um pouco bobo de forma geral. Mas no que diz respeito ao estar juntas de novo, na verdade voltamos a ser uma banda já faz um ano e a Nina meio que voltou há uns dois anos, quando nos vimos e saímos para jantar. Alguns meses depois começamos a tocar juntas. A cada passo que damos, lembramos de como é legal estar fazendo isso de novo. Quando uma ouve a outra cantar, quando cantamos juntas ou quando tocamos com [o baterista] Jim [Shapiro, irmão da Nina] e [o baixista] Steve [Lack], e escutamos as lindas linhas de baixo do Steve e o único e incrível som da bateria do Jim. A química que faz uma banda é a química de uma família. Não tem como fugir disso. A emoção da novidade já está começando a passar, mas no bom sentido.

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Nina: Vou ter que interromper vocês porque, para mim, a emoção ainda não passou. Ontem começamos a ensaiar num estúdio novo onde, em vez de tocar todos apertados, tínhamos um palco de verdade. Parei diante do meu microfone, apertei o pedal de distorção, vi a Louise à minha esquerda, e pirei. Era tipo "meu Deus, isso está acontecendo de verdade". Eu tive sonhos em que isso acontecia, nos quais a gente estava de novo no palco como Veruca Salt e eu entrava em pânico sem conseguir lembrar das músicas! Mas sim, eu ainda me sinto assim, tenho choques de realidade bizarros quando olho pro lado e vejo a Louise. Penso "meu Deus, estou tocando com ela de novo".

Então por que decidiram fazer um álbum agora? Foi mais pelos fãs ou mais por vocês?

Louise: Bom, não foi planejado. Na verdade pensamos que poderíamos fazer um ou dois shows marcando a volta da banda, mas o que aconteceu foi que quando Nina e eu voltamos a tocar juntas algumas músicas de American Thighs, ficamos comovidas. Foi incrível voltar a cantar juntas. E ficamos interessadas no que iríamos fazer depois. Parte disso foi porque ambas havíamos dado um tempo da música para darmos mais atenção às nossas famílias, mas nossa criatividade já estava prestes a explodir, estávamos loucas para voltar a ter uma vida artística. Foi nessa época que voltamos a nos ver. Foi como se ambas tivéssemos saído à tona pra respirar, depois de esperar anos até estar prontas para curar nossas feridas. Cada uma foi para um lado e levamos vidas separadas, e aí foi como se houvesse um alinhamento de planetas. Tinha que acontecer naquele momento, e foi apenas coincidência estarmos reunidas, gravando e lançando um álbum no 20º aniversário de American Thighs. Pura coincidência. Não houve um plano por trás. Foi o destino.

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Você falaram em dar um tempo para se concentrar na família. É difícil conciliar filhos e banda?

Nina: [Risos] Gostaria de arrasar e dizer que é facílimo, que não tem problema nenhum. Mas na verdade não, vivemos reclamando juntas de como é difícil, porque realmente dá vontade de se dedicar completamente à música. É uma parte tão importante de nós, que agora renasceu. Tenho desejo de escrever músicas, de ir pro meu quarto e ficar tocando, mas ao mesmo tempo tenho duas crianças pequenas que amo e quero estar com eles também. Estivemos ensaiando muito ultimamente e vemos menos nossos filhos, então ficamos o tempo todo dizendo uma à outra que está tudo bem. Que é bom pra eles, é bom que nos vejam trabalhando, inspiradas, que é ok.

Seus filhos já vieram pro estúdio?

Louise: Não só vieram como montaram uma banda.

Nina:Eles têm quatro, cinco e sete anos. Vão pro estúdio e querem tocar bateria, orgão e todos os teclados legais.

Louise:A filha da Nina sabe todas nossas músicas, e os amigos dela também.

Isso é incrível.

Nina: É divertido, mas pode ser estressante. Estamos tentando manter o pensamento positivo e acreditar que isso é bom mesmo. Uma das coisas que me marcaram nos dois primeiros anos como mãe foi que quando eu não estava tocando música, nem trabalhando, minha filha dizia: "O papai trabalha, a mamãe não". Isso me machucava fundo. Eu pensava, "espera aí, isso não está certo. Sim, eu quero ficar com você o tempo todo, mas eu não sou só isso". Aí comecei a tocar minhas músicas para meus filhos contando a eles que aquilo era o que eu fazia antes que eles nascessem. Eles começaram a gostar mesmo do som e passaram a dizer "a mamãe já teve um emprego" [risos]. Isso sempre me fazia sentir uma merda. Por isso agora é legal poder dizer para meus filhos que tenho que trabalhar, tipo: "Vocês são a coisa mais importante para mim, mas a música também é, e para mim é importante fazer aquilo que amo". Acho que é algo muito bom de se ensinar a minhas filhas e também a meu filho.

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Quando vocês voltaram a andar juntas depois de 15 anos, perceberam que a outra havia mudado?

Louise: Essa é uma pergunta e tanto.

Nina:É uma pergunta e tanto. Não quero monopolizar o assunto, mas, pessoalmente, minha reação instintiva é dizer que não. Louise é tão próxima pra mim que é como estar com uma irmã que não via há 15 anos, e 15 anos é muito tempo, mas, passado o primeiro momento, estar juntas foi imediatamente confortável e íntimo. Na primeira vez em que nos encontramos estávamos ambas nervosas. Mas assim que vi o rosto dela, foi algo impressionante o quanto foi instantâneo a gente voltar a se entender, confortavelmente, melodicamente. Foi tão comovente e emocionante. Então estamos aproveitando esse impulso e esse desejo de continuar, porque isso é química. Não tem como negar. Como amigas e mulheres temos tanto em comum e nossas vidas tomaram rumos parecidos ainda que estivéssemos separadas. Você tem algo a dizer sobre o tema, Louise?

Louise: Concordo totalmente com você e acrescentaria que a forma em que ambas crescemos e amadurecemos é um elogio para ambas. Também é reconfortante te conhecer como é agora, ver como a passagem do tempo nos afetou e onde a vida acabou levando a nós duas. É como se a gente tivesse continuado a se conhecer profundamente o tempo todo, e na verdade é assim. Como a Nina disse, seguimos caminhos de certa forma parecidos e isso é incrível. Adoro a pessoa que a Nina se tornou ao longo dos anos e estou muito feliz por voltar a me dar bem com ela. Quando nos reencontramos eu senti essa onda de alívio. Tipo, graças a Deus, tudo está como deveria ser agora, e também somos adultas.

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Nina: Sim, somos adultas agora. Estávamos na casa dos 20 anos [na época do Veruca Salt] e não tínhamos vidas muito estáveis, mesmo. Então algumas das coisas que são diferentes agora são a estabilidade e a sensação de ter uma âncora emocional, coisas que certamente não existiam naquela época. É engraçado, também, porque a gente está sempre perguntando coisas como: "Meu Deus, mas o que você achou dos White Stripes na época?". Teve uma outro dia… o que era? Algo tipo "aquilo foi quando a gente estava junto ou já tínhamos nos separado?". Era sobre uma música do Green Day que nós duas gostamos muito. Sempre tem algo do gênero pra gente se atualizar.

Louise:Qual era o nome daquela música? Era tipo… [Louise começa a cantarolar a sequência de acordes de "Brain Stew"].

Nina:Não consigo lembrar do nome.

Eu sei do que vocês estão falando mas também não lembro do nome. Acho que é do Dookie ou do album seguinte.

Nina:Insomniac [quarto álbum de estúdio do Green Day].

Louise: Fui ver American Idiot ontem à noite e meu marido falou: "Tudo o que quero é que você me traga o nome daquela música".

Nina:É tipo a sequência de acordes de "Smoke on the Water" [do Deep Purple] e a de alguma música do Chicago. Aquela que diz "On my own, here we go" [sozinho, lá vamos nós]. Mas enfim.

Louise: E além disso, Stephanie, a gente estava pronta para fazer mais um disco quando a banda terminou, estávamos nos encaminhando para fazê-lo quando aconteceram nossas crises pessoais. Seguimos em frente e gravamos algumas músicas em nossas carreiras solo – a palavra "carreira" é meio nojenta, desculpe – mas a gente não tinha terminado de trabalhar juntas. Não concluímos o que estávamos fazendo criativamente e foi como se tivessem arrancado isso de nós. Mas agora estamos aqui e temos a chance de fazer outro disco. Poderíamos simplesmente ter nos juntado e feito uma turnê de volta da banda, teria sido divertido, mas também, talvez, um pouco entediante pra mim. Não por falta de diversão, mas porque eu sinto que não seria suficiente, eu ainda não joguei a toalha.

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O interessante, para mim e para todos nós, é escrever e tocar coisas novas. É super divertido tocar American Thighs, Eight Arms to Hold You, e Blow it Out Your Ass [o EP de 1996]. É bem divertido tocar esses discos e não vemos a hora de tocá-los na turnê deste verão.

Queria perguntar sobre as músicas que vocês estavam escrevendo na época em que a banda acabou. Vão retomá-las e quem sabe incorporá-las ao novo álbum?

Nina:Acabei gravando duas no meu primeiro álbum solo. A Louise acabou gravando algumas no Resolver [terceiro álbum de estúdio, após a saída de Nina Gordon]. Certamente houve pedaços de músicas, em diferentes estágios de finalização, que pegamos de volta, sim. Também tem algumas que escrevemos agora, colaborativamente, como nunca havíamos feito antes. Conseguir simplesmente sentar juntos pra escrever uma música? Nunca tinha acontecido antes.

Mas ao mesmo tempo, voltando à sua pergunta anterior, a gente não está fazendo isso pelos fãs. Ficamos emocionadas por saber que ainda tem gente que gosta da banda e tem sido legal ver as reações na Internet, saber que tem fãs por aí empolgados com isso. Mas na verdade é como foi desde o início, em 1993 ou 1994 com o Brad, ainda é a mesma coisa. A gente faz isso por nós mesmos. Porque ficamos tão empolgados por tocar juntos e gravar juntos, é tudo emocionante. Voltar a gravar vocais com a Louise é um sonho que se realiza. É por causa da gente mesmo, de nossos desejos artísticos.

Louise: E isso tá certo, Stephanie, mas não vai dar pra você pôr na entrevista o título de "Irmãs Fizeram Isso pelo Desejo Artístico".

Ok, uma última pergunta: se o Hole decidir voltar, vocês levariam em consideração a ideia de sair em turnê com eles?

Louise: [Risos] A gente adoraria sair em turnê com o Breeders, com o Sonic Youth e com um monte de bandas que a gente adorava na época… mas essa não é uma delas.

Acho justo.

Stephanie Dubick está no Twitter, relembrando os anos 90 - @SteffLeppard

Tradução: Susana Cristalli