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Música

O Sleigh Bells se Inspirou em Funk Carioca pra Criar Seu Primeiro Hit

Aproveitamos a visita do Sleigh Bells no Brasil pra trocar uma ideia com eles sobre suas performances arrasadoras, feminismo e como o funk carioca influenciou sua música.

Aproveitei a rápida passagem do Sleigh Bells por São Paulo para trocar uma ideia com eles. Estava um pouco nervosa, graças à minha falta de experiência com jornalismo musical, e nos cinco minutos que aguardei a banda no camarim com meu caderninho lotado de anotações pensei que iria ser aquela conversa meio formal que costuma rolar nesse tipo de entrevista.

Logo que a porta de abriu e a Alexis Krauss e o Derek Miller apareceram sorrindo para mim, o nervosismo foi embora rapidinho e gelo derreteu mais rápido do que ele faria em um copo de uísque quente. O caderninho de anotações foi deixado de lado e acabou se tornando um bate-papo.

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A dupla do Brooklyn, Nova York, começou a tocar em 2008 e desde seu primeiro álbum Treats, fez a cena musical tremer com o seu pop pesado (se é possível taxar eles assim) e batidas que beberam na fonte do hip-hop e até mesmo do funk carioca.

Assisti algumas apresentações da banda na internet e fiquei impressionada com a tamanha banca que os dois conseguem meter nas suas performances. Por isso que não me abalei nem um pouquinho quando descobri que o guitarrista costumava tocar na banda de hardcore Poison The Well. Some isso com as danças frenéticas da Alexis, junto com sua voz rouca e agressiva e você teve dezenas de pessoas saindo suadas e com promessas sérias de casar com ela. Esse foi o show que rolou em São Paulo.

Nesse agradável bate papo, trocamos uma ideia sobre feminismo, fãs ingratos de hardcore e como devemos agradecer o funk carioca porque sem isso a banda talvez nunca estaria aqui. Obrigada, funk carioca!

Noisey: O nome Sleigh Bells vem da música do Neil Diamond “Sleigh Bells Ringing”?
Derek Miller: Não, na verdade isso até vai ser um pouco corta brisa, mas Sleigh Bells não significa nada. É apenas o nome de uma banda e não é muito bom, na minha opnião (risos). No começo da banda, quando eu e a Alexis estávamos gravando eu costumava escrever Sleigh Bells nos CDs gravados e acabou colando.

Me contem, qual foi a pior coisa que já rolou com vocês em uma turnê?
Derek: Para mim foi na segunda noite da nossa turnê com o Diplo, eu dei um mosh em cima da galera e todo mundo estava tão animado que me deixaram cair e eu quebrei minhas costelas. E nos primeiros dois meses foi horrível, porque não tem muito o que fazer quando você quebra as suas costelas.

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Sim, eu já quebrei meu cóccix bêbada uma vez e realmente não dá para fazer nada em relação a isso…
Derek: Exatamente, foi só Advil e whisky para melhorar. Alexis: Ele se recusou a ir para o hospital e ficou reclamando pra caralho. E teve uma noite que ele estava dormindo no ônibus e eu e uma amiga ficamos checando para ver se ele estava respirando.

Derek: É, seria meio romântico se eu morresse fazendo uma turnê.

Alexis: Isso sem contar na vez que ele bateu a guitarra na minha testa no meio palco e começou a escorrer sangue no meu rosto.

Cara, quando eu vi as fotos promos de vocês, achei muito pica grossa. E isso dobrou quando vi vídeos de vocês no palco. Qual é o segredo de tanta marra? Vocês vivem putos da vida toda hora?
Derek: Não! (risos)

Alexis: Somos pessoas legais.

Derek: Ah não, ela é ok. Sem querer parecer meio brega, mas eu toco hardcore desde os meus 15 anos. Estou nos palcos quase metade da minha vida (eu tenho 32), então estou acostumado com esse tipo de energia. O engraçado é que o Sleigh Bells parece um pouco nome de banda indie, parece meio mole e tal. Então eu acho que precisamos mostrar como somos.

Alexis: Sim, a música traz um lado seu à tona, especialmente para mim, que sou uma pessoa com uma fala relativamente mansa e quando eu entro no palco com o Sleigh Bells, parece que um lado meu mais agressivo e durão aparece. Todo mundo acaba pensando que nós somos um bando de babacas, mas nós realmente não somos (risos).

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Derek: Acho irritante até quando algumas bandas precisam seguir suas reputações e acabam destruindo quartos de hotéis ou tratam as pessoas que nem bosta. Eu odeio esse tipo de merda.

Todo mundo sabe que você tocava no Poison The Well e gostaria de saber como foi a recepção dos fãs de hardcore – que costumam ser bem fieis. Você acha que eles se sentiram traídos de alguma forma quando você começou a tocar no Sleigh Bells?
Derek: Eu não tenho a mínima ideia e acho que não me importo com isso (risos). Parte dos motivos que me fizeram deixar o Poison The Well foram musicais. O que eu estava compondo simplesmente não era mais hardcore. A diferença dos fãs do Sleigh Bells é que eles esperam que nós evoluamos e com o hardcore é o oposto. É como uma gaiola onde você grava o mesmo disco de novo, de novo e de novo. Eles reclamam, acham que você está se vendendo quando começa a fazer algo diferente.

Eu lembro uma vez quando ia tocar em um show do Poison The Well e um fã colou em mim depois do show e me perguntou por que eu tinha tocado uma música do set. Isso me deixou putaraço da vida a ponto de ter brigado com o cara. Foi horrível e nem vale a pena contar a história toda. Mas porra, a gente sofreu para chegar na hora, literalmente quase morreu no meio de uma tempestade de neve para chegar até a casa de show e me vem um babaca desse me acusando de eu não ter nenhuma integridade. O cara baixou a bola depois e falou algo tipo “me desculpa, vocês são a minha banda favorita” e eu mandei ele a merda e vazei de lá.

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Alexis: Eu acho que é raro encontrar alguém que curtia muito hardcore/punk quando tinha 17 anos continuar com a mesma mentalidade quando ficou mais velho. E quando eles continuam com essa mentalidade, é porque definitivamente existe algo de errado com eles.

Derek: Muitas pessoas vieram falar comigo lá no começo do Sleigh Bells para me perguntar como eu saí do hardcore para fazer algo tão diferente, mas é isso. Eu evoluí assim como acontece com todo mundo em algum momento da vida delas

Sim, eu acho que é o clássico caso do fã ingrato de hardcore. Isso rola bastante por aqui e acho que no mundo todo é a mesma coisa…

Derek: É engraçado saber como eles são tão similares, não é mesmo? Honestamente, eu estava morrendo de medo e sair dessa cena, até mesmo quando o Sleigh Bells começou eu estava com medo das pessoas não me levarem a sério. E rolou um espaço de quatro anos entre minha saída do Poison The Well e a criação do Sleigh Bells.

Mas a recepção foi foda desde o primeiro álbum.

Derek: Sim, e isso foi demais! Que nem eu disse, estava aterrorizado com o que ia acontecer. Porque com o hardcore parece que você nunca vai sair disse quando eu desisti, estava com medo, mas eu tava

Papo sério agora.Tem uma coisa bem interessante rolando na indústria musical agora, vemos artistas femininas falando sobre feminismo, empoderamento feminino e tudo isso. Alexis, você acha importante espalhar essa mensagem?
Alexis: Bom, eu fui criada por uma feminista, então posso dizer que já era feminista sem ser associada com certos estereótipos. Então acho que essa conversa que está rolando agora é maravilhosa, especialmente quando você tem ícones da música como a Beyoncé falando sobre isso. É um modo que as mulheres conseguiram de desviar um pouco o clichê da hipersexualização da mulher na indústria da música. As mulheres podem ser também algo além de um ser sexual. E eu vejo cada vez mais fãs mulheres e jovens garotas nos meus shows. O importante é que você pode ser sim uma deusa sexual e também ser inteligente ao mesmo tempo. Hoje vemos mulheres diferentes como a Grimes ou a Lorde preenchendo diferentes espaços para todos os tipos de mulheres. Lembro muito bem quando ouvi a Debbie Harry pela primeira vez e como isso me incentivou a passar essa mensagem e imagino como deve ser foda para uma menina de 17 anos que é a Lorde ter ouvido esse mesmo som agora e poder fazer algo com isso.

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Derek: Eu vejo a Alexis como um grande ícone também. Não tenho nada contra em vender só sexo, mas acho meio preguiçoso se você está fazendo apenas isso. Se é só isso que você tem a oferecer, nunca terá um fim. Eu só acho que é ótimo para ela poder se envolver com uma plateia sem ser um teor apenas sexual.

Li que você amou a autobiografia do Quincy Jones.
Derek: Sim, mudou completamente minha vida. A maior contribuição que ele deu na minha vida foi a confiança que você tem quando está fazendo algo seu,sem precisar de alguém falar que é bom. Tem uma coisa que ele chama de “God’s Diving Rod” que significa basicamente aquele arrepio na nuca quando você está trabalhando com um artista e escuta o som que ele gravou. Quando você tem esse sentimento, você sabe que é maravilhoso. Isso já é o bastante para mim.

Você produz também, né?
Derek: Sim, eu produzo e escrevo todas as músicas do Sleigh Bells. Eu gostaria de não ser tão territorialista com a esfera da produção, é um mau hábito que eu deveria quebrar, porque coisas ótimas acontecem quando você colabora com outras pessoas.

Qual foi uma das coisas que fizeram você ter certeza que era isso que queria fazer?
Derek: Recentemente vi a turnê do Yeezus, do Kanye West, e foi uma das coisas mais incríveis que eu já na minha vida. Outra coisa que me mudou foi ver uma turnê do Deftones do disco Adrenaline lá em 1994. Foi no dia 8 de abril e tinha tipo, 30 pessoas. Quando o vi o show, pensei na hora “é isso que eu quero fazer da vida”, eu estava literalmente chorando. E eu tive um sentimento vendo o show do Kanye West. Sério, esse cara sabe totalmente que ele quer fazer e eu acho que ele literalmente poderia morrer pelo o que ele faz. Ele é um filha da puta teimoso e ver isso explodiu a minha mente.

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Como foi fazer uma turnê com o Cansei de Ser Sexy?
Alexis: Foi ótimo! Inclusive a Lovefoxx também se encaixa dentro desses ícones femininos que nós estávamos conversando. Eu adorei ver o show deles, a plateia pirou demais. Eu nem escuto muito o som deles, mas só de ver o show já curti demais.

Derek: Sim, outra banda que eu adoro e inclusive sou amigo dos caras é o Bonde do Rolê. Eu adoro o som e inclusive foi uma enorme influência para a música “Infinity Guitars”.

Caralho, “Infinity Guitars” foi inspirado no funk brasileiro?
Derek: Sim! São beats de Miami bass com versos gritados em cima das guitarras. Tem alguns sons nossos que pegamos do Miami bass e do baile funk também, eu adoro esse som.

Isso é ótimo de ouvir, muita gente por aqui costuma gongar para caralho o funk brasileiro.
Derek: Pois é, quando eu conheci a Alexis, a gente trabalhava em um bar em Nova York chamado “Favela Brasileira”. Eu lembro que chegou a tocar isso uma vez e eu pirei. Nunca tinha ouvido algo assim antes e a dona do bar, que era uma brasileira velha, falou que era um lixo e eu só consegui me lembrar da repercussão com o velho hip-hop. As letras são chulas, mas esse que é realmente o ponto do estilo. Se não fosse pelo funk, nós não estaríamos aqui, aliás.

Alexis: Isso que eu ia falar. Nós nos conhecemos nesse bar e por causa de uma aposta.

Como assim?
Alexis: Sim, eu e a minha mãe estávamos no bar e ficamos nos perguntando se o Derek era brasileiro.

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Derek: Sim, e eu era único americano trabalhando lá. Eu sou da Flórida.

E é a primeira vez de vocês aqui?
Derek: Sim.

Alexis: Essa é a minha segunda, eu vim com a minha amiga em um Fórum Social Mundial em Porto Alegre e foi ótimo. Estávamos na faculdade, demos um rolê na praia e nosso hotel era na verdade um puteiro.

Ah sim, isso é bem brasileiro.

(risos)

Então vocês estão bem familiarizados já com a cozinha brasileira.
Derek: Sim, a picanha é a melhor coisa que eu já comi na vida e a feijoada também. Quando comi pela primeira vez vieram com uma farofa e eu pensei “Cara, qual é dessa areia que vocês colocam na carne? Você são loucos?”, mas é basicamente uma das melhores coisas do mundo.

E a coxinha?
Derek: Sim, são ótimas! Mas não encontramos uma legal ainda por aqui. Comi uma e foi horrível.

Alexis: Eu sou vegetariana e consegui achar um restaurante ótimo aqui. Mas também não sou chata, se eu estiver em um lugar que só tem carne não vou negar também.

Tem um repórter que escreve pro Noisey gringo chamado Dan Ozzi e recentemente ele fez uma matéria metendo pau nas tatuagens de modinhas que a galera faz. Vocês têm algumas?
Derek: Ah sim, tenho um “I Love Spider” no braço que foi por causa de uma aposta que eu perdi.

Alexis: Eu tenho uma atrás do pescoço que é tipo isso. É o perfeito exemplo de você ser jovem, ter crescido no subúrbio, entrar na faculdade e querer fazer uma tatuagem. Aí você sai com uma coisa horrível nas costas. Mas não me arrependo dela. Aliás, nós não vimos muita gente tatuada aqui em São Paulo.

Tem bastante, é que vocês estão mais para a zona sul em uma parte mais comercial, é só chegar perto do centro e você verão que tem MUITA gente tatuada na cidade.

Alexis: Sim, nós definitivamente queremos voltar para conhecer mais coisas e fazer uma turnê para nossos fãs. Sabemos que temos muitos fãs aqui no Brasil e estamos muito ansiosos para tocar para eles.

Siga a Marie no Twitter: @marieisbored