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Música

O Deaf Kids e o Rakta Transcenderam e Chegaram à sua Própria Montanha Sagrada: o Mauna Kea

Procurando estados meditativos através da improvisação, duo ainda mantém o noise e o lo-fi na bota

A gente já falou de Deaf Kids aqui. São aqueles crust-punks niilistas de Volta Redonda. Eles fazem um som barulhento e caótico, como uma briga de foice no escuro. A Rakta é mais melódica, mas de peso semelhante, a voz dá a consistência necessária pra deixar o som tão denso e carregado quanto.

Quando Dovglas, o front-man do Deaf Kids e Maria Paula, vocal da Rakta, se juntam, a densidade da carnificina se transforma em uma leveza fora do comum, com mantras relaxantes, mas cheios de ruídos, que estranhamente se encaixam e revelam a assinatura dos dois. Um verdadeiro parto musical.

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Assim nasceu o Mauna Kea, projeto experimental da dupla, que desde o fim de 2013 já tem rendido bons frutos em três EPs. O mais novo, Soundtracks For The Inner Machine, saiu no início do mês. Aliás, domingo passado, 27, foi a primeira apresentação deles ao vivo, no Veg Fest, em São Paulo. Saca só:

Além disso, trocamos uma ideia por e-mail com os dois, pra falar sobre sua montanha sagrada, de transcender em meio ao caos, e claro, planos pro futuro.

Noisey: Tanto o Deaf Kids quanto o Rakta são projetos sólidos, com shows e fãs definidos. De onde surgiu a ideia de criar mais um projeto? Não dá um bode sustentar?

Paula: Eu e o Dovglas já nos conhecíamos de vista e por amigos em comum, mas a primeira vez que realmente nos encontramos foi em um estúdio para ver como seria tocar juntos e pirar livremente. Desde o princípio, o elo que começamos a construir já envolvia a criação em conjunto, então a ideia surgiu naturalmente. Logo percebemos que rolava uma sintonia com um potencial massa. Não sinto que a gente sustenta nada… Pra mim, o Mauna Kea é um círculo espiralando.

Dovglas: Sim, não é questão de sustentar! O Mauna Kea é um projeto onde nós dois temos a total liberdade de criar intuitivamente em conjunto e sem expectativas de como ou o que vai resultar. Nós fizemos e fazemos para nós, em nossas casas, de maneira lo-fi, gravamos e disponibilizamos na internet para download para quem se identificar ou quiser fazer bom uso das músicas. Ou seja, pelo contrário, não dá bode nenhum.

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Além de gêneros e coisas classificáveis, qual é a diferença desse projeto com relação ao Deaf Kids e ao Rakta?

Paula: Bom, por sermos em dois, a dinâmica é muito diferente. Pelos instrumentos e "artefatos" que usamos, conseguimos gravar tudo no quarto/sala também - todos foram, menos o O or XXI… O Mauna Kea pra mim é mais caseiro (em diversos sentidos)… Quando cansa, é só deitar no tapete. Com o Rakta eu deito no chão.

Dovglas: E também, todos os materiais gravados até hoje foram completamente improvisados. Criamos a atmosfera, damos o rec e construímos os sons naquele momento.

Mesmo com ruídos repetitivos e sons que fogem do habitual, a principal proposta do Mauna Kea é ser algo meditativo. Isso tem alguma relação com vocês estarem em São Paulo, uma cidade que nunca está totalmente tranquila?

Paula: Acho que tem mais a ver com nossas mentes, que nunca está totalmente tranquila…

Dovglas: Concordo com a Paula, tem mais a ver com a nossa mente, nosso ser. A realidade é um reflexo exteriorizado do nosso interior. Se por dentro temos raiva, ganância, angústia, medo, tristeza, violência, do lado de fora temos estresse, competição, inveja, divisões, frustrações, violência, etc. Usamos a nossa criatividade musical como uma forma de meditação, de maneira que possa ser usada por outras pessoas também.

Vocês definem o projeto como "nossa própria montanha sagrada". A intenção é se entregar ao som e desligar do mundo? É possível transcender em meio ao caos?

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Paula: Acredito que sim… Se entregar com consciência ao caos é uma forma de diluir a ilusão da segurança, do controle, das regras, dos erros. No fundo, tememos a liberdade.

Dovglas: A intenção sempre foi se entregar ao som, e talvez eu mudaria para se "religar" ao mundo! Eu acho que cada um tem o caminho e a resposta para essa pergunta dentro de si. A vida é caótica, é possível não transcender em meio ao caos?

O Mauna Kea tem planos para o futuro?

Paula: Temos vontades e ideias. Elas podem mudar. Mas queremos tocar bastante ao vivo!

Dovglas: E daqui a alguns poucos meses, vamos lançar todos os EPs em fita k7. Pra quem se interessar, temos uma página no Facebook.