FYI.

This story is over 5 years old.

Música

Wu-Tang É Coisa Nossa: O Brasileiro Breno Tamura Desenhou a HQ do Ghostface Killah e Nós Falamos com Ele

"12 Reasons To Die" narra uma caçada sangrenta aos maiores magnatas do crime organizado

O paulistano Breno Tamura iniciou sua carreira no mundo dos quadrinhos fazendo ilustrações e histórias curtas, de quatro páginas, para uma revista de RPG (o jogo, não a parada de fisioterapia) brasileira. Depois, assinou uma série para a revista +SOMA, chamada Dias de um Fantasma Suicida, projeto que ele ainda pretende retomar no futuro. Em paralelo a essas investidas, pegou um trampo no mercado norte-americano para fazer uma linha de cards do Batman, até que, nessas, o pessoal da Image Comics o convidou a participar da série PIGS. Com o fim deste projeto, ele deu cabo de sua primeira graphic novel autoral, MUTE, que foi o gancho para que a editora Black Mask entrasse em contato com ele oferecendo a oportunidade de trabalhar em 12 Reasons To Die, do Ghostface Killah.

Publicidade

Dividida em seis partes, a série homônima ao álbum do rapper conhecido por integrar o grupo Wu-Tang Clan narra uma tensa caçada vingativa aos doze mais poderosos senhores do crime no mundo. A lista de artistas convidados inclui nomes como Jim Mahfood (Tank Girl), Ramon Perez (Wolverine, X-Men), Paolo Rivera (Daredevil), Riley Rossmo (Bedlam), Tim Seeley (Hadk, Slash), Kyle Strahm (Haunt) e Christopher Mitten (30 Days of Night). Cada edição traz dois enredos paralelos: um, que aborda um crime na Itália dos anos 1960; outro, que é uma história de horror, passada em meados dos anos 1980.

Tudo começa com a família Deluca, sua ascensão ao poder e seu encontro sangrento com Anthony Starks, o personagem alterego do Ghostface. O lado B da trama apresenta um garimpador de discos que leva uma misteriosa peça de vinil a um figura com uma história pra contar e um trabalho a oferecer. O Breno assinou, em parceria com o Gus Storms (Space Creep), as narrativas centrais, enquanto os artistas convidados se revezam a cada edição ilustrando os flashbacks que conectam as duas.

Geralmente, brasileiros que se destacam na gringa embarcando em HQs desse quilate acabam pegando projetos pra dar um talento em coisas que têm algo a ver com super-heróis. Já o Breno, que nem fã de rap ou do Wu-Tang se diz, conseguiu essa moral justamente porque o RZA em pessoa, produtor executivo da parada, achou bem louco o seu traço e quis colocá-lo como artista principal em dupla com Storms.

Publicidade

Troquei uma ideia com ele sobre a experiência, e ele ainda descolou uns originais de seus desenhos a fim de ilustrar a nossa entrevista. Se liga aê:

Noisey: Como foi que rolou a oportunidade de fazer 12 Reasons to Die? Você já tinha um contato legal com o pessoal da Black Mask?

Breno Tamura: Eles entraram em contato comigo porque alguém do Wu-Tang era fã do PIGS, que eu estava fazendo para a Image, e queria que eu desenhasse uma parte da revista do Ghostface Killah. Aceitei na hora! Lembro que, na época, eles queiram publicar pela Image, mas acho que eles acharam mais legal publicar pela Black Mask Comics (um dos donos é alguém da Epitaph Records) [NdoE: Brett Gurewitz, guita do Bad Religion e fundador da gravadora punk Epitaph, é sócio da editora]. Acho que fazia mais sentido.

Você trabalhou em todos os seis álbuns desta narrativa? Como foi essa dinâmica criativa? Alguém tinha que aprovar os trabalhos, rolava uma divisão de funções com outros ilustradores?

Trabalhei. O que mais demorava para chegar para mim era o roteiro, que tinha que ser aprovado pelo editor e por um monte de gente do Wu-Tang, então até todo mundo ler e aprovar demorava algumas semanas. A minha parte era desenhar bem o Ghostface, era o que mais importava para eles, para o editor e um monte de gente do Wu-Tang.

Você aplicou seu estilo usual a este trabalho, ou trouxe algum elemento estético diferente, por conta da temática da história?

Publicidade

Meu estilo é bem solto, mas ao mesmo tempo bem sujo. O que eles mais gostavam eram as cenas de tiroteio, e olha que tinha isso em toda edição. Gosto de exagerar a cena, tipo, tudo explode, mesmo com um tiro de revolver comum, então muita cabeça explodiu nessas seis edições.

O que você achou mais instigante nessa experiência toda do 12 Reasons?

Acho que é saber que já trabalhei com os caras do Wu-Tang de alguma maneira. Receber e-mail deles era muito engraçado, porque cada um tinha uma opinião, e tinha muita gente que dava palpite! Era uma luta definir que roupa o Ghostface usaria na série. Se ele ia usar boné ou chapéu, terno ou só regata com suspensório. Eu sei que me divertia com as ideias dadas nos e-mails.

Você já acompanhava a carreira do Ghostface Killah, ou mesmo do Wu-Tang Clan? Curte os caras musicalmente? O que acha da proposta?

Nunca fui muito de escutar rap. Já tinha ouvido eles e sabia que eles curtiam quadrinhos e tal. Então, quando aceitei fazer a série, tive que recorrer a todos os meus amigos que conheciam bem os caras, e pelo que falaram deles, curti ainda mais saber que estava fazendo parte de algum projeto do Wu-Tang.

Como foi a repercussão do trabalho todo? Esta série acabou te dando mais visibilidade para realizar outros lances lá fora?

Eu sempre espero alguma crítica negativa, mesmo porque isso me ajuda a melhorar alguns pontos do meu trabalho. Mas, quando fui à New York Comic Con, lembro que o editor da série falou que o RZA e o próprio Ghostface estavam curtindo muito o trabalho, então fiquei bem tranquilo. Fazer parte desse tipo de projeto ajuda muito a conseguir o próximo trabalho na indústria de quadrinhos.

Publicidade

Você está trabalhando em algum projeto específico atualmente, que possa compartilhar detalhes com os leitores?

Atualmente, na própria Black Mask, assino o design dos personagens e algumas páginas de uma série que eles vão lançar chamada Hard Money. Também estou fazendo meu segundo projeto pessoal, que pretendo lançar em outubro, lá na NYCC, e em dezembro aqui, na Comic Con Experience.

PIGS e MUTE são as obras que mais se encontram em buscas na internet fazendo referência ao seu nome. Você diria que estes são de fato suas realizações mais destacadas até aqui?

Sim, porque elas chamaram muita atenção no cenário dos quadrinhos. PIGS porque é de uma editora grande, e MUTE porque é meu trabalho autoral. Mas a 12 RTD chamou muita atenção pelo fato de ser um projeto dos caras do Wu-Tang, então muita gente que curte eles, e não necessariamente curte quadrinhos, acabou conhecendo meu trabalho.

Os quadrinhos são a sua principal ocupação atualmente? Com que outros projetos/trabalhos você está envolvido?

Trabalho com quadrinhos acho que 99% do meu tempo. O 1% que me resta, às vezes uso para fazer ilustrações para alguma revista, quando a proposta é boa. E brinco de DJ no Milo Garage aos sábados.