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Música

Minha Noite No Maggie's Club, A Balada Londrina Que Venera Margaret Thatcher

É tipo uma Trash 80's de direita, só que mais caro

Nosso fotógrafo “oficial” caiu fora, então tivemos que nos contentar com um celular com câmera bosta

O proeminente pensador socialista William Morris escreveu sobre o capitalismo: “Que sórdidos e terríveis os detalhes que circundam os pobres, que vida mecânica e vazia ela [a civilização moderna] impõe aos ricos”. O proeminente rapper Danny Brown comentou acerca do serviço de mesa em boates: “Talvez você nem esteja assim tão bem na fita”. Tire uma noite no Maggie’s Club em Fulham, a maior tentativa britânica de combinar vida noturna abastada e celebração da ideologia dos livres mercados, e você consegue confirmar ambas as afirmações.

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Batizado em homenagem a grande rainha do neoliberalismo, o Maggie’s Club é uma combinação entre adoração à Margaret Thatcher e uma seleção musical de deliciosas cafonarias dos anos 1980. Assim como os políticos conservadores que falaram durante o velório da Dama de Ferro no ano passado, o clube apresenta a premiê como uma espécie de figura unificadora churchilliana que transcende as filiações partidárias, ao invés da mulher cuja morte foi mais celebrada do que as políticas que ela implementou em vida. Apesar de representar ostensivamente sua ideologia, permitir apenas a entrada membros do clube e ser um local de fato frequentado por conservadores, o Maggie’s Club quer passar a imagem de ser apenas uma baladinha divertida, nostálgica e apolítica.

Entretanto, uma breve olhadela no Twitter da casa sugere que sua clientela claramente está ali para celebrar o individualismo tanto quanto para ouvir o DJ Hayden virar “Take On Me” pra “99 Red Ballons”. Gerentes de marketing, proles de milionários europeus e competidores esquecidos do X Factor chegam aos bandos pra beber garrafas de Asaki a 7 libras e rezar no altar da aspiração. Vendo de fora, isso parece uma maneira bem domesticada de celebrar a participação nos 1%, mas é difícil fazer um julgamento aprofundado sem ao menos experimentar. Então decidi trocar os Rich Kidz por garotos ricos de verdade, peguei umas roupas bem conservadoras emprestadas e segui pra Fulham pra sentir o gostinho de uma noitada neoliberal.

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O consenso geral na internet é de que o Maggie’s favorece predominantemente os grupos de mulheres, algo irônico pra um bar que homenageia a oponente original da discriminação positiva. Pra se certificar de que o proletariado não vai atrapalhar nenhum banqueiro de investimento de arrastarem seus aristocráticos pés, cobra-se 15 libras pela entrada. A crueza dessa negociação não necessariamente funciona, até porque você percebe que está pagando pelo luxo de se sentar numa mesa que imita um cubo mágico enquanto um homem de meia-idade toca qualquer coisa das dez primeiras edições da coletânea anual de sucessos NOW! That’s What I Call Music. Pelo menos você tem o conforto de saber que, quando encher o saco, sempre pode ir ao banheiro mandar uma linha nas privadas temáticas da bandeira inglesa, e ainda por cima, juro, ouvir os discursos da Thatcher que ecoam dos alto-falantes.

Mas então, será que são as pessoas que fazem o lugar? Decidido a entrar no espírito do mau gosto, fui pra pista de dança mandar uns passos sincronizados com o que eu chamaria de um assistente de gerência perdidaço e uma mina que foi paga pra circular de patins pelo lugar, mas, obviamente, não o suficiente pra ela fingir que estava curtindo o rolê. Afinal, ganhar 6,50 de libras por hora pra entreter riquinhos de direita é uma maneira desgraçadamente triste de se sustentar.

Pra vocês que não esperam do rolê nada menos que salários de seis dígitos e heranças milionárias, o público era estranho, pra falar a verdade. Como a Maggie teria esperado, a boate não tinha uma atmosfera muito comunitária; uma coleção de indivíduos bizarros que variava de gente verdadeiramente rica se divertindo adoidado a estudantes estrangeiros que nem imaginavam quais eram os ideais de Maggie Thatcher, ou o quanto a classe média britânica adora cantar “Total Eclipse of the Heart” a plenos pulmões.

Embora tenha ficado desapontado com as respostas iniciais aos meus questionamentos sobre Margaret Thatcher, o lugar começou a suprir minhas expectativas quando um investidor norueguês, registrado abaixo ao lado da nossa estupefata fotógrafa, respondeu à pergunta “Você está curtindo sua noite?” com “Sonho em comer a Margaret Thatcher. Ela é tão, tão sexy”.

Isso foi rapidamente seguido pelo filho do embaixador da Bulgária no Reino Unido, que me foi apresentado por uma mulher que parecia ser do gabinete do Silvio Berlusconi, disparar sobre seu estilo de vida muito louco. Numa das pausas do seu air guitar em “Agadoo”, ele contou que não trabalhava e vivia na parte mais rica de Londres curtindo o festerê todas as noites. Então ele posou pra fotos fazendo chifrinhos com a sua galera antes de ficar rouco ao esgoelar “Still Haven’t Found What I’m Looking For”.

O Maggie’s visa celebrar os livres mercados, a onda oitentista dos capitalistas endinheirados que vieram do nada, e a cultura pop da época. E tenta despolitizar isso -- ao mesmo tempo em que vende um drink que se chama “Capacete de Mineiro” -- e apresentar a década como o tempo áureo em que as políticas de Thatcher mudaram o país pra melhor. Eles querem atrair aqueles que estão no topo como uma evidência da grandeza do capitalismo neoliberal e mostrar onde a ambição e o trabalho duro podem te levar. Pra quem vê de fora, parece um lugar onde os conservadores fervorosos vão e, apesar de ter conhecido dois funcionários do Daily Mail, um corretor da bolsa e um gerente de marketing senior, a maioria das pessoas parecia relativamente normal, e também um pouco confusa com os motivos de terem ido parar numa balada mixuruca.

Na realidade, uma noite no Maggie’s, que consiste basicamente em pessoas com gosto musical terrível e uma propensão a gastar dinheiro com elas mesmas, também diz algo sobre o Reino Unido, embora mais em 2014 do que 1985. Uma pequena minoria se divertindo enquanto a grande maioria vagueia sem rumo, esperando pra ver se algo acontece porque viram meia dúzia de gatos pingados curtindo adoidado, eles acabam por acreditar que, em algum momento, vai chegar a sua vez de compartilhar da mesma euforia. Enquanto isso, um faxineiro de banheiro que vive de salário mínimo faz um ar satisfeito quando ganha uma libra de gorjeta do gerente de desenvolvimento de marca da Jim Beam.