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Música

Eu Quero Sair com Uma Maria-Majestic

Quero pegar uma delas pela mão, subir em um tapete voador e cantar para ela uma música com batidas de house dos anos 90 e vocais quebrados.

Eu conheci o canal de YouTube Majestic no final de 2012, quando a namorada do cara que morava comigo colocou umas coisas pra tocar que eu nunca tinha ouvido. E na época eu senti uma pontada no meu ego porque fazia oito anos que eu discotecava e seis meses que eu apresentava um programa de rádio - então eu achava que eu conhecia tudo de foda que existe por aí. Depois da quarta música que eu não conhecia e que já amava, eu coloquei a parada do ego de lado e perguntei que porra era aquela que estava tocando. Pra ajudar ela foi bem blasé: “Ah, são só umas paradas do Majestic.”

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Nos últimos dois anos o canal do Majestic explodiu. Também virou um influenciador de gosto musical com mais de um milhão de seguidores e impulsionou a carreira de muito bedroom producer. E a fórmula de sucesso do Majestic é esse formato maravilhoso de internet, que inclui uma foto de uma mina gata, um logotipo e horas e horas de mineração no Soundcloud para achar música boa. O blend musical sempre traz chillwave, hip-hop e deep house – esses três juntos formam uma faixa matadora.

Quando eu me liguei que um monte de artista bacana e até então desconhecido para mim estavam aparecendo lá, eu comecei a acompanhar as atualizações do canal e pirei fortemente. Daí comecei a reparar que sempre que eu mandava alguma música do Majestic na pista, um tipo específico de menina dava um gritinho e vinha correndo para frente da cabine. Essas meninas, além de serem sempre as mais bem vestidas, sempre piram com uns remixes antes que toda pista tenha ideia do que é aquilo que tá tocando. E se alguém perguntar o que é aquilo, ela ainda te responde com cara de interrogação.

Eu comecei a chamá-las de Marias-Majestic. Uma Maria-Majestic usa o canal para ficar por dentro do que está rolando de som bom, mas sem saber muito sobre os artistas que tocam ali ou sobre as suas influências. E sendo justo, os dois lados (tanto as minas quanto o canal) têm culpa nisso, mas parece muito uma parada de mina esse canal. É como se as faixas fossem curadas especialmente para elas. Aliás, na minha opinião, em 2012 e 2013 o EDM foi desenhado para fazer as minas dançarem.

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Foram anos de som agressivo e viril. Agora nós temos artistas que fazem remixes de faixas de R’n’B antigas e as transformam em músicas do Washed Out. Com o crescimento do R’n’B, trap, chillwave e deep house, um monte de produtores, esses de quarto que só comem cup noodles, começaram a produzir coisas misturando todos esses gêneros em uma única música. E talvez o lance é que alguns deles só quisessem colocar umas gatas para dançar mesmo.

Então, vou fazer uma confissão aqui. Eu quero me apaixonar por uma Maria-Majestic. Quero dançar ao som do remix das Destiny’s Child, do Cyril Hahn e fazer contato visual com uma Maria-Majestic. Vamos cantar juntos e vamos terminar falando das nossas músicas e artistas preferidos.

Eu quero pegar uma Maria-Majestic pela mão, subir num tapete voador e cantar aquela música do Alladin, “A Whole New World”, só que com os vocais quebrados, com uma batida de house anos 90, com uns reverb e umas tilintadas de órgão aqui e ali.

E como elas já têm bom gosto musical, seria legal mostrar que o mundo é muito mais do que isso, como por exemplo: se elas amam Shlohmo o que impediria elas de curtirem o DJ Screw? Se elas amam Giraffage, elas estão prontas pra curtirem Salem, certo? Se elas acham que Bondax é foda, espere até elas ouvirem George Michael!

Na real eu não estou querendo desrespeitar a Majestic, muito menos as minas que curtem esse rolê. Eu acho que o canal é ótimo, as pessoas é que são preguiçosas e se fecham à uma ou duas fontes musicais. Afinal, diz aí, quantos indies babacas você conhece que tem a mesma opinião que a Pitchfork e que muitas vezes deixam coisas boas passar só porque recebeu do site uma nota 5.9?

Eu acho que nós é que ficamos preguiçosos e queremos que a música venha até nós, afinal, o que aconteceu com o velho hábito de pesquisar música? Eu lembro de ter que ler uns 40 blogs até achar uma música. Hoje em dia para encontrar algo eu procuro em cinco canais de YouTube, dois blogs de rap e fico de olho no que os outros DJs favoritaram no Soundcloud. Isso me transforma numa pessoa muito melhor que uma Maria-Majestic? Nem a pau. A real é que todos nós estamos ficando preguiçosos, e enquanto isso as Marias-Majestic fazem isso e ainda são gatas.

Chega mais no programa de rádio do Chris, o Hood Pass, na australiana Triple R.

Esse post foi publicado originalmente no THUMP.