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Música

Entrevistamos o Mala, Produtor Britânico que Toca Neste Sábado em SP

O Dj e produtor está no país para uma série de palestras e workshops, junto com umas festas muito pesadas em São Paulo e no Rio de Janeiro.

Quando eu cheguei no hotel para entrevistar o DJ e produtor MALA, ele tinha acabado de chegar de viagem vindo de Nova Jérsei, e dali a mais ou menos seis horas ele partiria em outra, rumo à Porto Alegre. Ele nem tinha conseguido ter uma visão de São Paulo, e pareceu muito excitado ao ver a cidade da cobertura do hotel, pelo seu tamanho e provavelmente pelo tanto de coisas que poderia explorar. "Eu gosto de caçar discos pelas cidades que passo, geralmente voltando com excesso de bagagem".

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Pioneiro em uma das cenas mais colaborativas da música eletrônica, no começo dos anos 2000 a cena dubstep engatinhava e vivia nas frequências de rádios piratas por todo o Reino Unido. Junto com seus amigos Coki e Loefah, figuras carimbadas e formadas pela rádio essencial Rinse.fm e BBC1 Extra, e órfãos da Big Apple Records, eles decidiram criar a gravadora DMZ. O selo logo se tornou referência para as músicas de baixas frequências que esses amigos criaram, inspirando uma cena e um gênero totalmente novo, repetido exaustivamente nos dias de hoje. Com cada um tocando de sua forma, e seguindo paletas sonoras de sua preferência, o MALA viria a criar ainda outro selo, para apoiar e promover jovens talentos, a Deep Medi.

Até segunda, ele estará no Brasil promovendo uma série de palestras, workshops, e lógico, festas animais pela Red Bull Academy. Sua vinda é parte da divulgação do documentário What Difference Does It Make?, que revela a atmosfera do processo criativo de alguns músicos, novas ideias na produção musical e o encontro entre artistas representantes de diferentes gêneros musicais e gerações. Uma cidade diferente é escolhida a cada ano, onde 60 músicos de todo o mundo participam de workshops em estúdios com astros da música. O filme estrá disponível para download a partir da terça-feira (18) em todo o mundo.

Nós conversamos sobre a importância de colaborações, de onde ele tira inspiração para fazer suas músicas, que já foi até trilha-sonora do filme "Filhos da Esperança", e sobre como ele trocava cassetes de raves por sanduíches na escola. Ele toca no sábado (15) no Executivo Club com a galera do coletivo Metanol, com sets de Seixlack, SoulOne e Akin, e domingo no BaixoGarage, no Rio de Janeiro com a turma da Wobble.

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Noisey: Você acabou de chegar de uma série de viagens, e parece estar pronto e agendado pra outras. Você não tem vontade de as vezes só dar um tempo de toda essa correria? Você consegue isso?
Mala: Sim, muito. Geralmente no Natal, Ano Novo e em julho eu consigo um tempo. Nas festas de Ano Novo, todo mundo está indo pra essas festas incríveis e tudo, e só o que eu quero é relaxar. É época dos grandes festivais e tudo mais, mas eu curto ficar de boa.

Imagino, ainda mais que esses festivais geralmente duram dias, semanas…
Sim, eu gosto de festivais, mas eu acho que é importante lembrar que você ainda é só um humano, que há coisas mais importantes pra fazer com a sua vida do que ficar balançando a cabeça pra cima e pra baixo. Eu não tenho mais 21 anos, estou com 33 agora. Quanto mais velho você vai ficando, seu tempo de recuperação pra essas coisas vai ficando maior. Eu amo o que eu faço, sabe, e acho que sou privilegiado por ter essas oportunidades. Mas isso toma muita energia de você, e é bom as vezes ficar em um lugar calmo, que não envolva estar cercado por uma multidão. Acho importante tomar um tempo para se recuperar, e relembrar o que você fez. Tem gente que passa cinco anos tendo essa experiência incrível, mas você não lembra de nada porque não guardou tempo pra reviver o que aconteceu.

Você já esteve aqui no Brasil, ou outro país da América do Sul?
No Brasil não, estou muito animado. Eu já estive no Peru, para curtir, ano passado. E Venezuela à trabalho, e acho que é isso. Peru é um lugar incrível, eu senti essa energia muito boa e antiga nas pessoas e pelos lugares que eu passava.

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Você foi em alguma festa lá?
Não, mas eu queria muito ter ido ao show de um grupo chamado Dengue Dengue Dengue. Eles costumavam vir às festas da DMZ quando eles estavam morando em Londres. Na época eles estavam partindo para uma apresentação no México, e infelizmente não consegui vê-los. Tem esse outro coletivo que não lembro o nome agora, que misturavam m;usica eletrônica com bass e cumbia, e acho que tinham uma gravadora chamada Terror Negro. eles eram todos jovens, e viam que na cidade deles estava acontecendo mais ou menos a mesma coisa que estava acontecendo com a cena em Londres, então eles me mandaram um monte de música, que eram bastante interessantes. Você podia ouvir as similaridades entre o começo do grime e do dubstep na música que eles tentavam fazer. Mas também não consegui ver o show deles, porque eu estava em Cuzco. Eu acho interessante vir tão longe e ver que as pessoas são influenciadas por coisas acontecendo em Londres, sabe? Você conhece um cara chamado Bruno Leme?

Não.
Ele é daqui do Brasil, e vem acompanhando minha música desde 2004! Ele estava sempre em contato conosco, e já estava tentando me trazer para o Brasil desde 2005, mas era meio impossível. Ainda bem que isso mudou, certo?

Sim. Outra coisa que mudou aqui foi a exposição à soundsystems e festas de rua. Você sempre participou de soundsystems em Londres?
Na verdade eu cresci ouvindo jungle, muito jungle. Eu lembro de ter 11 ou 12 anos quando ganhei meu primeiro stereo. Meus pais tinham acabado de se separarem, e eu levei meu som para a casa da minha mãe, que era no interior. Eu ficava ouvindo uma faixa atrás da outra, com essas batidas malucas de breakcore, que era obviamente um jungle hardcore, mas eu não fazia idéia do que era aquilo. Mas eu me senti atraído desde a primeira vez que ouvi, e descobri depois que meus amigos também ouviam o mesmo tipo de música, as mesmas rádios.

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E como vocês trocavam música?
Com cassetes. A gente conseguia cassetes com alguns shows de rádio, ou gravção de alguma rave, ou fazíamos alguma gambiarra e pirateavamos a transmissão. Tinha um cara no colégio, que sua mãe fazia os melhores sanduíches do universo. E ele amava esse tipo de música também, então a gente trocava fitas por sanduíches. Muitas raves estavam acontecendo naquela época, Desert Storm, Jungle Fever, Roasts, Wild Nation, Desire… Infelizmente éramos muito jovens para ir nelas, mas a gente dava um jeito de ouvir o que tocavam, e as rádios piratas faziam muita publicidade delas.

E como você se envolveu com esse pessoal de rádios piratas?
Eu nunca participei diretamente, nunca tive um show meu. Mas conhecíamos pessoas que tocavam, como o Hatcha. Um monte de caras do começo, como Jay Da Flex, ele aparecia direto na Rinse e BBC1 Extra, o Zed Bias, Horsepower… Todos esses produtores estavam produzindo sem parar e sendo tocados em rádios piratas, mas o Hatcha era o que mais tocava a música que a gente gostava. Eu conhecia o Hatcha da cena garage, todos nós o conhecíamos: Skream, Benga, Plastician, o Coki. Então quando a gente começou a fazer música, o Hatcha falou "Eu poderia tocar essa música", e eu pensei "O quê?".

Acho que o lance com rádios piratas foi que fomos muito sortudos, porque já estávamos fazendo música antes das pessoas nos ouvirem. Não possuíamos apenas uma música, e as pessoas depois esqueceram da gente. Eu e o Coki tinhamos centenas de faixas prontas, e o Loefah também. Então junto com o Arthur, que toca sob o nome de Artwork e tinha sua própria gravadora na sua loja de discos, e o John da gravadora Big Apple, nós não teríamos feito nada. Nós mandávamos faixas para gravadoras independentes, mas eles foram os únicos que aceitarem o risco, sabe? Felizmente eles tinham contatos com as rádios piratas, e uma vez que você faz músicas que outros DJ's querem tocar, e eles tocam em uma rádio, você apenas cai sem perceber nesse mundo.

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Você, o Coki e o Loefah já tinham a DMZ nessa época?
Não, abrimos a DMZ porque a Big Apple fechou uns 6 meses depois de lançarmos nosso primeiro release. Era 2003, as coisas já estavam indo meio mal para as gravadoras, e o John decidiu sair enquanto estava tendo um tempo bom. Foi uma loucura abrir a DMZ naquela época, mas era como queríamos lançar a nossa música, então decidimos ir em frente. Eu estava trabalhando na época, fazendo horas extras e fazendo alguns workshops, e tinha muito tempo para andar pelas lojas de Londres tentando vender os discos.

Então antes de partir com a Red Bull Academy dando palestras e workshops, você já fazia isso?
Sim, com crianças. Quando abrimos a DMZ, um outro amigo meu trabalhava na Youth Place, que é um lugar que acolhe crianças com problemas com a polícia, violência doméstica, etc. Ele mem chamou no estúdio dele, e falei que não tinha nenhuma qualificação, mas mostrei o que tinha produzido até ali. Foi um período bem desafiador para mim.

E eles se interessavam pela música?
Claro, eles amavam música. A maioria das pessoas amam música, então foi muito fácil me aproximar deles.

E você mantem contato com algum dos seus ex-alunos?
Sim, e muitos estão indo bem na indústria. O mais interessante era que eu tinha apenas 24 anos na época, e achava que sabia o que eles gostavam ou esperavam, mas as coisas mudam tão rápido, entende? Essas crianças não eram como eu. Eles tinham 15 anos, mas não queriam saber de escola, só de ganhar dinheiro e serem independentes, devido ao passado que tiveram. Então eu tentava canalizar essas coisas negativas que eles possuiam em coisas construtivas como produção musical.

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E como foi a sua experiência como aluno da Red Bull Academy?
Na verdade não fui exatamente um aluno. Quando você participa das sessões da academia, você está nesse imenso estúdio com músicos e produtores de todas as partes do mundo.

E você já tinha lançado algum disco?
Sim, e você se sente um pouco por já ter um trabalho reconhecido, mas muitas pessoas que estão ali são melhores que você. Mas eles são incríveis, é uma energia criativa e de colaboração muito boa. Já participei também de vários debates, palestras e workshops, inclusive participei desse projeto que eles têm de trazer grandes pessoas como o Ryuchi Sakamoto e Lee Scratch Perry para dar aula. Eu estava bastante nervoso, suando pra caralho. Acho que a forma na qual eu lido com a música é bastante diferente do normal, contra o sistema, e isso as vezes pode dificultar as coisas.

E como seria o jeito normal?
Somente o fato de eu ainda usar discos, sabe…

Você toca somente com vinis?
Sim, desde sempre.

E você tem esse debate sobre digital e analógico com outros produtores, ou como o Loefah por exemplo, que ultimamente tem advocado o Serato?
Quando estamos em turnê pelos EUA, o Coki usa CD's… Eu acho que esse debate poderia durar um dia inteiro sobre o que é bom ou ruim. Alguns fatos têm surgido que diz que certos formatos apresentam a música em uma qualidade melhor, mas eu acredito que uma hora você tem que deixar de ser científico com música, sabe? Acho que no final, a música que eu escuto ou faço, têm uma certa mensagem ou emoção à ser experimentada, e isso é o mais importante, não se você a toca através de um laptop ou toca-discos. Eu tento sempre lembrar disso, não é porque meus amigos tocam de uma forma diferente da minha, que eu não posso gostar de seus trabalhos.

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E como você ouve música?
Eu baixo muita coisa, muita coisa me é enviada, e compro muitos discos. Eu levei uns 10 anos para perceber que o mp3 já existia a um tempo. Eu me sentia preso à um outro mundo, e ainda acho tecnologia uma coisa nova. Acho que afinal somos criaturas de hábitos, especialmente em relação à música. Apesar de ter a mente aberta, eu acho minha atitude um pouco militante, e não diria que isso me deixou limitado, mas me levou a um certo caminho pronto a ser explorado.

Voc6e acha que seu som mudou durante esse tempo?
Sim e não. Quando eu entro no estúdio, eu ainda não faço ideia do que estou fazendo, ainda me sinto um iniciante. Mas claro que minha música evoluiu de alguma forma depois de todas as experiências em estúdios, na estrada, na vida em geral. Acho que é uma mistura dos dois, minha mente ainda procura aquela mesma coisa de anos atrás.

E de que forma esses lugares que você visita modificam sua forma de pensar e fazer música?
Muitas. Eu fiz esse projeto em Cuba com o Gilles Peterson, uma figura musical bastante reconhecida no mundo inteiro, com uma companhia chamada Havana Culture. A ideia era que ele iria escrever algumas músicas para algumas compilações que ele já tinha feito outras duas vezes, mas aí ele decidiu fazer diferente e resolveu me chamar. Nós tinhamos nos encontrado apenas em entrevistas, nas raves, etc. Então ele me propôs esse projeto e eu aceitei. Eu estava meio inseguro no começo, porque só tinha lançado minhas músicas através da minha própria gravadora, mas pareceu errado negar essa oportunidade. Isso era em 2010. Em 2011 eu fui à Havana pela primeira vez, e foi lá que encontrei Roberto Fonseca, pianista do Buena Vista Social Club. Então ele e o Gilles me deram umas 15 músicas com ritmos cubanos para levar pra casa, digeri-los, e voltar em abril. Só então eu já tinha uma ideia do que fazer, mas ainda foi bem dificil para mim, porque eu não sou músico. Eu não sei tocar nenhum instrumento, e se você me pedir para tocar ou assoviar a nota Dó, eu não vou saber. Mas se você tocá-la para mim, eu posso senti-la, e é assim que eu venho vivendo.

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Apenas sentindo, sabe? O projeto foi bastante desafiador, pois nunca precisei responder a ninguém, nem me preocupar com ninguém. Mas aí um cara te chama pra fazer música, te dá dinheiro e te envia para Cuba, para trabalhar com músicos que você ama, eu achei que não ia conseguir. Senti um grande desafio, honestamente. Mas é assim que a vida é, sabe? Sentir-se confortável enquanto está desconfortável, e eu tenho me lembrado disso desde sempre.

E você ainda sente esse medo com novos projetos?
Todo o tempo.

E como você começou a fazer música?
Eu nunca tenho uma ideia do que vou fazer ou criar, só entro no estúdio, acendo um e deixo rolar, e é assim que começa. Acho que a música sempre existiu, não acredito que qualquer coisa que eu faça é novo. Eu acredito em encontrar um ponto ou atemporalidade ao meu redor que me permite sintonizar em algumas frequências, que aparecem em diferentes formas e cores, e no final é tudo sobre juntar esses pedaços em algo único.

E você nunca aprendeu a tocar nenhum instrumento?
Nunca, só batia nos meus joelhos pra soltar um som. Quando eu tentei entrar na universidade, eu queria fazer música, todo mundo amava música, eu e meus amigos. Minha mãe estava comigo no dia, e ela estava contando esses dias como me perguntaram se eu sabia tocar algum instrumento, mas não sabia. "Sabe ler música?" Não. "Sabe cantar?" Também não. Todas as crianças no corredor carregavam seus trompetes, flautas, e eu não tinha nada!

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Me falaram para fazer aulas de teatro e performance, e eu fiz, mas sempre na hora do almoço ia para o estúdio fazer música. Eu e um amigo fomos à sala de mídia um dia e conseguimos nosso próprio show de garage, que era transmitido por todo o campus. Apesar do que me mandaram fazer, eu tinha oportunidade de fazer o que eu queria também, sabe? Os professores de lá não tentavam moldar voc6e de uma certa forma, lhe deixavam livre. Porque sempre existe alguem querendo dizer que voce tem que fazer isso ou aquilo, ou que não pode fazer nada. Eu sou totalmente surdo do lado esquerdo, e lembro de um engenheiro uma vez me dizendo que eu nunca conseguiria mixar ou terminar uma faixa direito, e eu falei dane-se. Porque para mim, música não tem a ver com ciência, mas com sentimento, sabe? Apenas faça! Eu não amo terminar uma música, eu simplesmente amo fazer música.

Sim, quando você fala produzir música, eu consigo sentir que vêm toda uma experiência junto. Como foi fazer o projeto com o Tate Britain e o Chris Olifi?
Parte desse projeto era fazer crianças irem ao museu. O curador do projeto entrou em contato comigo, não sei por quê, e me apresentou esse artista britânico Chris Olifi. Eu não o conhecia, mas me disseram que queriam que eu fizesse uma música baseada nas obras dele. Me enviaram seus livros, fui na galeria, e pendurei seus trabalhos por todo o meu estúdio. Eu fiquei realmente interessado nessa obra chamada Strangers in Paradise, e o título me chamou a atenção. Não quero ser desrespeitoso ou coisa assim, mas eu nunca consegui me conectar com arte do jeito que eu me conecto com música, ou outras pessoas conectam com arte. Mas essa obra me prendeu quanto mais eu via, você podia ver esses personagens no fundo. Era uma situação de vice-e-versa, eu os via no Paraíso, enquanto eles me observavam e viam que aqui era o Paraíso. Então criei essa música de uns quatro minutos, depois fui mostrá-la na galeria e falar sobre ela.

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Você curtiu? Tem vontade de fazer mais projetos como esse?
Sim, gostei muito. Mas não posso falar dos meus projetos. Eu não gosto de falar muito, pois desde quando eu era criança, todas as vezes que eu falava pra alguém dos meus planos, eles nunca aconteciam. Mas sim, estou trabalhando em vários projetos nesse momento.

E como vão as gravadoras, a DMZ e a Deep Medi? Muitos releases programados para esse ano?
DMZ foi um projeto meu, do Coki e do Loefah para lançarmos nossas músicas, e fizemos várias festas e sessões. Quando eu estava trabalhando na Youth Work, eu já recebia músicas de todas as partes do mundo, então decidi seguir por esse caminho de tentar desenvolver e ajudar jovens produtores. Não ajudar como fazer caridade, sabe…

Acho que se as pessoas podessem viver trabalhando com o que elas realmente são apaixonadas, essa naturalidade cria um ambiente melhor. Foi por isso que decidi assinar vários artistas e fundar a Deep Medi.

E o que você acha da internet como esse espaço de colaboração e criação?
Acho magnífico, uma ótima forma de conectar-se a pessoas, coisas e mundos que você nunca fez ideia que existiam. mas obviamente existem contrapontos à isso.

Quais?
Acho que o problema quando algo se torna muito popular é que as pessoas se envolvem por diferentes motivos. Alguns só querem fazer dinheiro, o que é normal. Mas quando diferentes propósitos começam a se chocarem, eles criam um conflito, que eu acho normal acontecer, não apenas em música mas na sociedade em geral. Quando algumas pessoas vêem outras em um certo patamar social ou financeiro, eles pensam "Eu quero um pedaço disso, também". Então eles pegam o que já funciona, e tentam recriar aquilo. Não acho que isso seja algo ruim ou bom, é apenas uma forma que as pessoas encontram de fazer o que querem, então ok.

Como o que as pessoas não entendem oq ue é o dubstep de 2005, e o dubstep Skrillex?
Acho que no final isso apenas gera mediocridade, que é entediante. Não quero ofender ninguém, mas muito de uma coisa só é entediante. Você se acha entediante quando vê as roupas que usava quanto tinha 18 anos. É importante se manter natural eter noção que as coisas mudam, sabe? Eu sinto muito isso como produtor. Por isso que foi bom pra mim estar em Cuba, e sentir desconforto em trabalhar com pessoas em um mundo estranho. Isso me faz mudar. Acho que a mídia e a internet as vezes podem generar mais dessa mediocridade, e é entediante.

Está animado para tocar no Brasil?
Sim, já ouvi muitas historias sobre o Brasil… sobre sua música e as pessoas.

O que você conhece de música brasileira?
Não muito. Seu Jorge, Ed Motta, um ritmo que ach oque se chama batacuda…

Batucada.
Isso. Tenho vergonha de sempre dizer os nomes errados. A música brasileira é muito conhecida internacionalmente, principalmente seu carnaval. E isso não são coisas que eu pesquisei na internet antes de vir para cá.

E para onde você vai daqui?
De volta aos EUA, vou tocar em Washington DC. A última vez que toquei lá, toquei um set de apenas uma hora, quando estou acostumado a tocar uma hora e meia, duas.

Qual foi o maior set que você já tocou?
Cinco horas, no Japão, em um clube chamado Union, numa sessão chamada BBS. Tenho tocado lá faz cinco anos, eles trazem pessoas de todo o mundo como Goldie, Jah Shaka… Os promoters lá são os melhores, pessoas incríveis. Eles sempre entendem que não gosto de ficar muito na cidade quando estou em Tóquio, então me levam para as montanhas, nesses hotéis antigos onde você veste quimono e etc.

Como é a cena eletrônica lá?
É ótima, mas ultimamente uma lei que proibe as pessoas de dançarem depois de certa hora da noite. Você pode realmente sentir essa pressão em Osaka.

E você prepara diferentes sets quando vai tocar em um festival, clube ou na rua?
Eu não quero soar arrogante, mas eu gosto de tocar música que eu gosto de tocar. É o mesmo que faço quando produzo uma música. Você faz tudo de uma forma que pode parecer egoísta, mas não é. Você ainda quer compartilhar aquilo com as pessoas, mas não gosto de pensar que em festivais eu preciso tocar aquel ehit para as pessoas levantarem as mãos e irem à loucura. Não penso assim. A música funciona diferente para diferentes públicos, mas acho que tenho sido tão militante na forma como eu falo ou produzo música, que as pessoas que vão me ouvir já esperam ouvir música que eles nunca viram antes, já me esperam com meus vinis.