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Música

A Cena Punk Britânica Vai Muito Bem, Obrigado

Há quem diga que o punk nasceu no Reino Unido. E há controvérsias. O fato comum é que tem bastante coisa boa oxigenando a cena atual e recebendo bastante atenção do público.

O punk não nasceu no Reino Unido, pelo menos não tecnicamente. Há quem tente provar o contrário, claro, mas estão errados. O punk nasceu do outro lado do Atlântico, numa garagem no Queens, em Detroit, quando três garotos começaram uma banda chamada Death – momento em que Iggy estreou nos palcos e pela primeira vez colocou um microfone na boca. Mas o punk cresceu mesmo nas mãos da desprivilegiada classe trabalhadora britânica, impulsionado por, além de The Clash e Sex Pistols, uma enorme variedade de bandas com as mais diversas abordagens musicais: Crass, Subhumans, The Exploited, Conflict, Chaos UK e outras. Enquanto bandas americanas moldavam o hardcore em porões de igreja e reformatórios em Washington, DC, britânicos já tinham aperfeiçoado o punk por excelência: sarcástico, profundamente político, com seus moicanos, couro preto, pins e cortes de cabelo.

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Mas, desde então, o punk britânico viveu sistematicamente às sombras da expansiva cena americana. Embora ocasionais casos de exportação tenham existido – alguém se lembra da banda inglesa Hooton 3 Car? – os fervilhantes bares punk de Nova York, Filadélfia e de outras cidades dos EUA drenaram sumariamente a cena underground londrina.

Nos últimos anos, tudo mudou. Bandas punks britânicas tornaram-se um produto conhecido nos Estados Unidos, e eis o motivo: muitas delas são absoluta e empiricamente excelentes pra caralho. Em minha condição de americano, certamente não estou na melhor posição para discutir sobre o que acontece nos mais profundos e escuros cantos da cena punk britânica, as bandas mandando ver em galpões e casas de show, tudo com aquele chiado dos amplificadores. Mas as bandas que de fato chegam até mim – algumas que inclusive irão à Flórida para os festivais deste outono – são mais do que dignas de atenção da comunidade punk americana.

THE CUT UPS (EXETER)

Principais representantes do pop punk britânico, os Cut Ups têm feito músicas aceleradas e contagiantes há uma década. Embora sempre tenha sido uma banda consistente, Building Bridges, Starting Here, lançado ano passado, brilhou do começo ao fim. Eles são a banda inglesa que melhor responde à The Bouncing Souls – músicas grandes e cativantes sobre cidades natais, passeios de bicicleta e aquele sonho de ter visto o Fugazi ao vivo.

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CRASH OF RHINOS (DERBY)

Lembram de quando o revival do emo tava rolando? Haha, essa época foi boa! Mas enquanto crianças americanas choramingavam sobre encartes de discos de bandas como The World Is a Beautiful… e Into It, Over It – álbuns bonitos que eram – o Crash of Rhinos discretamente se tornou talvez a melhor banda emo da década. Knot é um álbum grande, expansivo, que transita sem esforço entre calmos instrumentais e um ritmo punk acelerado, igualmente influenciado pela cena pós-hardcore americana e sua própria herança do punk britânico.

GOOD THROB (LONDRES)

Good Throb é tão brutal quanto você pode imaginar, isso se você imagina que seja bruta uma banda que chama seu primeiro álbum de Fuck Off. No álbum, a vocalista KY Ellie quebra tudo nas 11 canções de um pós-punk maníaco, ao mesmo tempo hiperfeminista e juvenil, cativante e discordante. O Good Throb é descendente direta da cena musical da gravadora independente Crass Records e compartilha do espírito punk feminista de bandas como Perfect Pussy, Priest (com quem estiveram em turnê inverno passado) e Hysterics.

CAVES (BRISTOL)

O Noisey já escreveu sobre a banda Caves, e por um bom motivo. Esqueça o Reino Unido – Caves pode ser a melhor banda do planeta atualmente. Seu último álbum, Betterment (2003), é de um punk frenético. Há apenas alguns poucos momentos de calmaria, em que permite-se retomar o fôlego antes que a bateria, enlouquecida, e o som dos vocais masculinos/femininos voltem com tudo e você se sinta compelido a cantar junto, graças à imensa qualidade da música.

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GREAT CYNICS (LONDRES)

É fácil comparar o pop punk guitarreiro do Great Cynics com bandas americanas – alô, The Menzingers – mas isso não deve diminuir esta banda punk de sensibilidade pop e letras ousadas. Há também uma espécie de maturidade cansada que ecoa em músicas de seu primeiro LP, Like I Belong, lançado ano passado. “Nada importa se você não deixar se importar/ então me digo que é verdade.” Eu sinto isso. Complete tudo isto com brilhantes ganchos pop e o resultado é tremendamente bom.

MUNCIE GIRLS (EXETER)

Parceira da banda Great Cynics em um single lançado no começo deste ano, Muncie Girls é o tipo de banda punk liderada por uma mulher, brilhante e barulhenta, que se tornou um marco na cena punk em ambos os lados do Atlântico. Isso não é pouco. A banda é das melhores que se pode encontrar e remonta ao melhor da geração de bandas que construíram o caminho por onde elas agora passam: Tilt, Discount e similares. Sleepless, EP lançado ano passado, é maravilhosamente equilibrado e um grande acerto, desde o punk de “Car Crash” à sentimentalidade pop de “Music Forever”, trilhas para amores perdidos e tudo mais.

SHOPPING (LONDRES)

Os punks avant-garde da banda Shopping fazem músicas que são puro passinho de dança e guitarras esparsas sobre batidas envolventes. É divertido, é bom para dançar e talvez uma das melhores possibilidades em música essencialmente pós-punk. Há tensão nas letras e uma clara sensibilidade independente, mas no fim, o baixo e a guitarra de uma nota só comandam. É o tipo de música que convence o mais impassível dos punks a remexer os quadris e bater palmas.

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APOLOGIES, I HAVE NONE (LONDRES)

Com músicas que parecem feitas especialmente para mãos levantadas e coros coletivos, Apologies, I Have None compartilha da atmosfera punk mais lenta de Iron Chic e Red City Radio, com os mesmos ganchos inescapáveis e toda aquela sensibilidade que nos faz gritar junto. Seu primeiro álbum, London, é sólido desde a primeira nota, mas “Sat in Vicky Park” é a verdadeira estrela: uma sincera ode a dias ensolarados em Hackney, o ônibus de dois andares e aquele outro clássico britânico, o álbum Under the Radar, da banda Grade.

BEAR TRADE (NORDESTE DA INGLATERRA)

Há bandas britânicas e há bandas BRITÂNICAS. Bear Trade é orgulhosamente uma banda BRITÂNICA com letras maiúsculas. Com seu forte sotaque do nordeste da Inglaterra, a banda parece o resultado da mistura de algumas das melhores bandas de punk pesado e melódico dos EUA com gírias inglesas.

Tradução: Pedro Taam

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