FYI.

This story is over 5 years old.

Música

'Freedom Conspiracy', de Wino & Conny Ochs, É um Prosa Folk com um Pé no Metal

Ouça com exclusividade o novo álbum, leia nossa entrevista com a dupla e chore com tanta beleza.

Cerca de três anos após a ótima estreia com Heavy Kingdom (2012), a improvável dupla formada por uma lenda americana do doom metal e um cantor (ainda) pouco conhecido da Alemanha lança no dia 31 de março aquele que deve ser um dos melhores discos deste ano.

Intitulado Freedom Conspiracy (2015), o mais novo álbum de Wino & Conny Ochs estreia para streaming nesta quinta (26) com exclusividade no Noisey. O disco traz 13 músicas, incluindo um cover inesperado e emocionante para uma música do já falecido cantor americano Chris Whitley, que, curiosamente, possui uma forte ligação com a Alemanha, já que morou no país.

Publicidade

Desde a abertura com “Drain”, que traz ótimas melodias e harmonias que fazem lembrar diversos cantores clássicos de folk e country, já é possível notar que o novo álbum traz a dupla ainda mais entrosada. Os diversos duetos vocais ao longo dos cerca de 45 minutos de violões são permeados por algumas guitarras, ora “agradáveis”, ora barulhentas, provavelmente para ninguém esquecer que esse é um disco feito por dois caras com os pés fincados no metal e no punk.

Nesta semana pude falar, via e-mail, com Scott 'Wino' Weinrich e Conny Ochs, os dois responsáveis por mais esse petardo da gravadora alemã Exile on Mainstream. Nas entrevistas abaixo, falamos, obviamente, do novo álbum, mas também sobre o início da parceria em 2010, os discos que mudaram a vida dos dois e a fixação das bandas de doom/sludge pelo folk, entre outras coisas.

Noisey: Ao ouvir o novo disco nessas últimas semanas, tive a sensação de que o Freedom Conspiracy (2015) talvez seja um pouco mais melódico do que o Heavy Kingdom (2012). Você se sentiu mais confortável para tocar com o Conny Ochs após o primeiro álbum e a turnê? Qual o seu sentimento sobre o disco agora que está para ser lançado?
Wino: Acho que o disco ficou ótimo, é algo muito natural tocar com o Conny. E, apesar de já fazer um tempinho, mal posso esperar para entrar em turnê novamente.

Antes deste disco você já tinha feito covers de artistas mais conhecidos como Motörhead, Grateful Dead (ao vivo com Scott Kelly, do Neurosis) e Townes Van Zandt. Por que desta vez resolveu gravar a música “Dirt Floor”, do Chris Whitley, um cantor mais underground, digamos? A versão de vocês me parece mais melódica do que a original, especialmente por conta das ótimas harmonias vocais entre você e o Conny.
O Conny que me fez gostar do Chris Whitley. E, estranhamente, descobri depois que um velho amigo meu tinha trabalhado com o Chris. Bom, nossa versão é definitivamente diferente. Meio que uma versão “gospel dark”, mas nada consegue tocar a versão original. Apesar de não gostar de tudo dele [Chris], ainda preciso ouvir mais discos. O Hotel Vast Horizon (2003) é o meu favorito; o Conny me mostrou esse também.

Publicidade

Quando nos falamos pela última vez, em 2011, você tinha acabado de lançar o Adrift (2010) e me disse que deixar os amplificadores e a guitarra de lado para ficar no palco sozinho com seu violão era algo muito diferente e “despido”. Pensa que talvez seja mais fácil e confortável fazer isso com outra pessoa, como o Conny, ao seu lado?
É uma dinâmica diferente, e é realmente fácil tocar com o Conny. Nossas jams espontâneas são enriquecedoras de verdade. Uma vez ou outra um de nós pode sentir que não fez o show que gostaria, mas normalmente é algo satisfatório para as duas partes. E, com o Conny, nós definitivamente temos algo poderoso para entregar com os vocais fortes e os ritmos bonitos e ultrasólidos dele.

Falei recentemente com o Mike Scheidt, do YOB, sobre por que existem tantos vocalistas de bandas de doom/sludge que possuem carreiras solo voltadas para o folk/acústico, como ele, você, o Steve Von Till e o Scott Kelly (Neurosis), o John Baizley (Baroness) e o Nate Hall (US Christmas). Para o Mike, isso acontece porque o doom/metal em geral possuem suas raízes no blues, que, por sua vez, tem uma conexão forte com o folk, mas também porque você e esses outros vocalistas realmente deixam suas almas à mostra no palco, seja em um show acústico ou com a banda elétrica. Você concorda com ele? E por que pensa que isso acontece?
Sim, concordo totalmente com o Mike. Ele foi muito feliz em falar isso porque você realmente expõe a sua alma quando faz um show acústico; é definitivamente o mais simples possível. O desafio é transformar essa simplicidade em algo poderoso, mas nós sabemos que você não precisa de uma afinação baixa ou mil amplificadores para ser pesado; é o poder da música e/ou a sua performance que contam. É uma torrente. E às vezes me pego pensando demais no setlist do meu show solo, mas se apenas tocar o que eu quero e não fugir muito do setlist, tudo costuma dar certo.

Publicidade

Wino.

Nos últimos quatro anos, você lançou/participou de mais discos acústicos do que elétricos, incluindo o seu primeiro álbum solo acústico, Adrift, o tributo ao Townes Van Zandt, e os dois discos com o Conny. Você já consegue se ver como um cantor folk – de modo separado da sua carreira no doom metal/sludge?
Bem, isso aconteceu porque eu realmente gosto de tocar acústico. É difícil pensar em mim como um cantor folk, mas tenho orgulho de poder ser respeitado e admirado pela minha música, seja no formato que for. Preciso dar uma olhada na definição de folk, se é que existe uma. Acho que a minha definição de um cantor folk poderia se aplicar a mim porque a música reflete o período da vida em que estou, com histórias e baladas mostrando a vida e os acontecimentos, os períodos, descrevendo as emoções associadas com amor, morte e vida.

Por favor, me diga três discos que mudaram a sua vida e por que eles fizeram isso.
Bom, esses discos seriam: Are You Experienced? (1967), do The Jimi Hendrix Experience, Rockin The Fillmore (1971), do Humble Pie, e Tyranny And Mutation (1973), do Blue Oyster Cult. Todos elétricos. Ainda preciso encontrar os acústicos que fizeram o mesmo – mas as coisas do Neil Young e do Townes Van Zandt são ótimas.

Você está prestes a entrar em turnê com o Black Label Society nos EUA. O que acha deles? E qual sua expectativa em tocar um set acústico antes de uma banda elétrica grande como o BLS?
Já encontrei o Zakk Wilde uma ou duas vezes e ele é um ótimo cara. Não conheço bem todo o trabalho dele, mas gosto da maior parte do que ouvi. Acho que fazer um cover de Ain’t No Sunshine When She’s Gone” foi genial. Então…é, estou ansioso por isso. E tenho uma ótima equipe também com a Earsplit, Tone Deaf, e a Pellet. Sinto que as coisas estão indo na direção certa. Obrigado pela entrevista.

Publicidade

Conny Ochs.

Noisey: Como foi o processo de composição para esse disco? Vocês escreveram a maior parte das músicas juntos ou se encontraram cada uma já com as músicas feitas?
Conny Ochs: Com exceção de duas faixas, trabalhamos juntos em todas as músicas. Nós aparecíamos com uma ideia básica, então quando nos encontrávamos, a começar pela turnê do Heavy Kingdom, pensávamos em maneiras de dar os direcionamentos para as músicas… Sinto que essas faixas estavam esperando para serem finalizadas por nós dois.

Após escutar o álbum, tive a sensação de que provavelmente temos mais músicas com harmonias vocais e coisas do tipo, talvez até um equilíbrio maior entre os dois, em vez de apenas juntar músicas suas e do Wino. Você concorda com isso?
Sim, também sinto isso. Há um equilíbrio e uma abertura que cresceu do primeiro disco para cá. Ficamos bastante tempo na estrada com o Heavy Kingdom e, por meio disso, conseguimos entender mais nossos caminhos na vida, nossas formas de compor e nossas lutas. Muitas das músicas do disco novo vieram de experiências que tivemos juntos. Deixar alguém entrar no seu processo de composição não é algo fácil. É preciso muita confiança e entendimento para isso.

Você conheceu o Wino há alguns anos e, pelo que fiquei sabendo, vocês tiveram uma conexão musical instantânea, certo? Como isso aconteceu? E como é tocar com ele? Quero dizer, você tem uma carreira mais focada em música acústica, enquanto que o Wino vem de décadas tocando música pesada e bem barulhenta com bandas como Saint Vitus e The Obsessed.
Nós nos conhecemos na turnê do Adrift (primeiro álbum acústico de Wino), em 2010. Na época, eu tinha sido designado para ser o motorista e artista de abertura dos shows. Tinha acabado de entrar para a Exile on Mainstream Records, que é a nossa gravadora desde aquela época. Nós circulamos em torno das mesmas coisas, na verdade. Isso ficou claro após os primeiros shows que fizemos juntos, e rapidamente o Wino me chamou para subir ao palco com ele para algumas músicas, apenas para improvisar. Acho que a primeira vez que aconteceu foi em Dresden, na Alemanha. Naquela época, tocávamos umas duas músicas por noite. Nós incentivamos muito um ao outro quando estamos juntos. Na verdade, também venho de um background de punk/rock, e quanto ao peso na música, ambos concordamos que o Townes Van Zandt é o mais pesado de todos.

Publicidade

Quando falei com o Wino pela primeira vez, há alguns anos, ele me disse que era mais interessado no lado negro das coisas e que era um cara mais John Lennon, em vez de Paul McCartney. E você?
Acho que isso também vale para mim. Penso que há mais luz para brilhar nas coisas encontradas na escuridão. Mas se tivesse que escolher um dos Beatles, acho que ficaria com o George Harrison.

Voltando ao novo disco. A capa é simples, mas muito bonita, e me lembrou uma mistura do Zuma, do Neil Young, com uma pegada mais hardcore, vamos dizer. Qual o conceito por trás dela? E vocês trabalharam juntos na criação?
O Wino chegou com a ideia para a capa, e então eu fiz o desenho. Isso aconteceu muito rápido, e a capa se encaixa totalmente nas músicas. É uma meditação crua sobre liberdade e liberdade falsa. Tanto pessoalmente quanto politicamente, se você quiser. Para nós dois, se debater com a sociedade e a irritação que isso cada vez mais produz, cortando direitos pessoais em troca de uma falsa segurança, é um problema real. O mesmo vale para a libertação pessoal. A liberdade do espírito, e do coração. Penso que isso está presente em todas as músicas que escrevemos. E também foi isso que nos uniu.

Vou repetir a mesma pergunta que fiz para o Wino. Quero que me diga três discos que mudaram a sua vida e por que eles fizeram isso.
O primeiro seria o Nevermind (1991), do Nirvana. Essa foi a primeira vez que uma banda com algo a dizer me impressionou. Estava no acampamento de verão na época e, quando voltei, meu mundo tinha mudado.

Outro seria o Weed (2004), do Chris Whitley. Para mim, o Chris é um dos maiores poetas da música. Tive a honra de tocar com ele uma vez e, depois disso, soube da sua vida, sua luta profunda com o mundo, e sua paixão incansável, impossível de ser presa. Esse disco foi gravado em um banheiro, em Dresden, na Alemanha. Ele tinha um espírito e um entendimento universal da música. Queria que ele tivesse ficado mais por aqui [o cantor morreu em 2005].

E o terceiro seria o News of the World (1977), do Queen. Costumava ouvir esse disco com o meu pai. Quando eu era criança, ele costumava colocar o vinil e eu ficava impressionado com o punho dele no ar na “Spread Your Wings” e “It’s Late” – ele não conseguia ficar sentado quando ouvíamos essas músicas. E esse disco sempre me lembra dessa paixão.

Para terminar, gostaria de saber quando você começou a tocar e quais as suas principais influências.
Comecei quando tinha 15 anos, junto com o meu melhor amigo, depois de ouvir Nirvana pela primeira vez. Ele também estava no acampamento de verão. Ele me ensinou as notas, e emprestou seu amplificador e pedal de distorção. Mas não queria apenas tocar as músicas dos outros, então rapidamente começamos a escrever as nossas próprias músicas. Ainda tocamos juntos na Baby Universal (banda alemã). As influências desde então vão do Black Sabbath até o Prince e do Allen Ginsberg até o Richard Strauss. Existem tantas coisas ótimas na música, na arte e na vida por aí, e enquanto funcionam como uma influência, elas te mudam e abrem caminho para ainda mais. Sonho em encontrar a liberdade. Comigo mesmo, para os meus amigos, no amor, neste mundo. Essa é uma influência que não muda. Além disso, a cultura underground me influenciou bastante. É uma vida em que eu posso acreditar, tanto na arte quanto no dia a dia, porque é sobre ser independente, e curioso, e isso me mantém acordado. Nos últimos anos, isso também virou uma forte fonte de inspiração e poder para mim. E as pessoas que eu conheço, como o Wino. Impactos rápidos.