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Música

Um Guia para os Sambas-Enredo do Carnaval 2015

Repetimos o enredo e chamamos o Luiz Pattoli pra nos dar seu parecer acerca dos sambas-enredo paulistanos e cariocas de 2015.

O Noisey repetiu o enredo. Digo, o Noisey me chamou novamente para a agradável tarefa de escutar e analisar os sambas-enredo dos grupos especiais de São Paulo e Rio de Janeiro. Mesmo fora do período carnavalesco, eu gosto de escutar enredos antigos – ou nem tanto. Ao contrário de outros gêneros musicais, neste os lançamentos ocorrem apenas uma vez por ano. Em 2014 eu expliquei um pouco do processo de escolha de um samba pelas escolas. O que eu posso dizer, em 2015, é que as alas de compositores estiveram pouco inspiradas. Das 26 faixas analisadas, cerca de sete se salvam e talvez uns dois ou três serão lembrados daqui alguns anos. Vamos aos concorrentes em ordem de apresentação na avenida:

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SÃO PAULO

Mancha Verde

Depois de ter caído injustamente (não, eu não torço para o Palmeiras) para o Grupo de Acesso em 2013, a Mancha está de volta ao Grupo Especial. Uma das coisas que eu sempre elogiei na escola é o fato deles não fazerem enredos ligados ao futebol, mas eis que a escola homenageia o centenário do Palmeiras. Quem torce pro verdão vai gostar.

Acadêmicos do Tucuruvi

"Sou da Lira / Daqui não saio, daqui ninguém me tira / Ei você aí / Ö Abre alas pra Tucuruvi". Finalmente um samba criativo. O Tucuruvi homenageia o Carnaval em si, em especial as marchinhas antigas, que estão presentes em diversos trechos da letra do samba. Sem dúvidas, um dos melhores deste ano. Vai empolgar na avenida.

Tom Maior

Depois de passar sufoco com a quebra de um carro alegórico em 2014, a Tom Maior fala da adrenalina no Carnaval deste ano. Para 2016 já fica a sugestão: falar da raiva.

Dragões da Real

O enredo "Acredite se Puder" define bem a Dragões: subiu para o acesso em 2011 e desde então vem fazendo Carnavais grandiosos e sem relação direta com o futebol. O samba dá esperanças de um campeonato ou quem sabe ficar entre as quatro primeiras.

Rosas de Ouro

A Roseira aposta num enredo ligado ao mundo fantástico com um título enigmático: "Depois da Tempestade, o Encanto". A letra não encantou. E se depender do samba, vai ser mais um ano batendo na trave.

Águia de Ouro

Depois de três anos homenageando a música popular brasileira – Tropicália, João Nogueira e Dorival Caymmi – em 2015 a Águia vem com um enredo um pouco mais burocrático e batido: 120 anos da imigração japonesa no Brasil. Um verdadeiro ippon nos ouvidos.

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Nenê de Vila Matilde

Uma das maiores escolas de samba do Brasil, nos últimos anos a Nenê tem lutado para se firmar no Grupo Especial. O tema afro "Moçambique, a Lendária Terra do Baobá Sagrado" inspirou um belíssimo samba que tem um dos melhores refrões do Carnaval paulistano de 2015: "Bate o tambor do meu samba, surdo, tarol e repique / A Vila hoje canta Moçambique / Vem bateria de bamba, quem esperou pra me ver / Chegou Nenê".

Unidos de Vila Maria

Retornando do Grupo Especial, a Vila Maria comemora suas bodas de diamante e fala dessa pedra preciosa. O samba não é dos melhores, mas também não compromete.

Gaviões da Fiel

O enredo quilométrico é chamado "No Jogo Enigmático Das Cartas, Desvendem Os Mistérios E Façam Suas Apostas, Pois A Sorte Está Lançada". Ufa, achei que esse já era o samba. Não é, como diz a letra, "vai ser do baralho". Só que não. Mocidade Alegre

Em 2015, a campeã dos três últimos carnavais de São Paulo homenageia a atriz Marília Pêra. A letra é burocrática e não empolga. Restará aos outros departamentos da escola tentar garantir o quarto título consecutivo.

Império de Casa Verde

Parece um sonho ao contrário. Sim, um pesadelo. O enredo "Sonhadores do Mundo Inteiro: Uni-vos" conclama a todos para nos unirmos e elaborarmos um samba melhor. Esse não rolou.

Acadêmicos do Tatuapé

Em 2011, o Tatuapé fez um dos melhores sambas dos últimos tempos no Grupo de Acesso. Pena que quase ninguém ouviu. Agora, no Especial, eles têm a chance de mostrar um samba ótimo cantando o "Ouro". "Ora iê iê ô/ Ora iê iê Oxum / Senhora do ouro de toda riqueza / Ora iê iê Oxum". Sem dúvidas, um samba que vai refletir na avenida.

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Vai-Vai

A maior campeã do Carnaval paulistano chega em 2015 com um enredo popular e com um samba que vai arrepiar a avenida. A esperança é ganhar o título depois de quatro anos de maus resultados. Ao homenagear Elis Regina, a escola do Bixiga simplesmente usou como refrão de seu samba o mesmo estribilho de "Maria, Maria". Alguma dúvida de que será o samba que vai levantar a avenida toda?

X-9 Paulistana

Eis que temos um samba muito adequado ao momento atual: a X9 vai cantar a chuva no sambódromo. E parece que mesmo com a seca enfrentada em São Paulo, a ala de compositores encontrou um terreno fértil para compor o samba. A escola encerra os desfiles do Grupo Especial e colocou isso no refrão de maneira criativa: "Deixa chover, deixa molhar / A nossa festa não tem hora pra acabar / Eu quero ver você sambar / Com a X-9 até o dia clarear".

RIO DE JANEIRO Viradouro

A Viradouro chega de volta ao Grupo Especial com um enredo forte que canta a história dos negros no Brasil. O samba foi composto a partir de duas músicas de Luiz Carlos da Vila, “Nas Veias do Brasil” e “Por Um Dia de Graça”. Um dos melhores do ano.

Mangueira

Com um enredo que pode ser considerado trivial, "Mulher", a verde e rosa apresenta um samba maravilhoso em 2015. Prova de que menos é mais e de que os enredos simples rendem letras ótimas. Mocidade Independente de Padre Miguel

A Mocidade pergunta em seu enredo "Se o Mundo Fosse Acabar, Me Diz o Que Você Faria Se Só Lhe Restasse Um Dia". Eu já sei, ficaria bem longe desse samba. Vila Isabel

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A Vila repete a fórmula da Vai Vai em 2011 e homenageia um maestro. Se a escola paulistana falou de João Carlos Martins, a Vila vai de Isaac Karabtchevsky. Ao ouvir o samba, eu achei que o enredo era sobre Villa Lobos. Sente o drama… Salgueiro

Ano passado o Salgueiro fez um dos sambas mais bonitos de todos os tempos. Neste ano, ao falar de comida mineira, parece que a ala de compositores foi ocupada por algum centro acadêmico universitário. Lamentável. Grande Rio

A Grande Rio fez a mesma piada infame que a Gaviões ao usar a expressão "é do baralho". Ou teria sido a escola de SP que copiou? Não importa, os enredos são bem parecidos em todos os aspectos. Inclusive na falta de criatividade. São Clemente

Para falar de Fernando Pamplona, a São Clemente criou um enredo gigantesco: "A Incrível História do Homem Que só Tinha Medo da Matinta Pereira, da Tocandira e da Onça Pé de Boi". Se tivesse terminado na primeira parte, seria um samba ótimo, mas a segunda parte, descritiva, deu um tom de tédio. Portela

A Portela fala dos "450 anos do Rio de Janeiro, uma Cidade Surreal". Surreal ficou o resultado, num belo samba que remonta a sambas antigos. Vai levantar a avenida. Beija-Flor

Mais um enredo que mais parece uma tese: "Um Griô Conta a História: Um Olhar Sobre a África e o Despontar da Guiné Equatorial Caminhemos Sobre a Trilha de Nossa Felicidade". O refrão gruda no ouvido: "Negro canta, negro clama, liberdade/ sinfonia das marés, saudade / um africano rei que não perdeu a fé / era meu irmão, filho da Guiné". União da Ilha

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Se samba ganhasse Carnaval, a Ilha já teria ao menos uma dúzia de campeonatos. E mais um ano a escola chega com um samba muito bom em cima de um enredo simples, a beleza. O refrão que começa com "a Ilha chegou" vai incendiar a Sapucapaí. E a letra ainda rende bons momentos como "sou a cara da riqueza / tiro foto de mim mesmo / eu só quero aparecer". Tá na hora da Ilha tirar uma selfie com o troféu do Carnaval. Imperatiz Leopoldinense

Um enredo forte sobre Mandela não poderia deixar de render um bom samba. E a ala de compositores da Imperatriz conseguiu fazer um samba que homenageia e ao mesmo tempo empolga.

Unidos da Tijuca

A sensação dos últimos Carnavais apresenta um enredo que fala da Suíça e do tempo sob o olhar de Clóvis Bornay, que foi carnavalesco da escola e era filho de um suíço. O samba parece um queijo cheio de buracos.