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Música

Um Guia Audiovisual pra Entender o Funk Carioca

Repassamos os vinte anos do gênero com uma lista de cinco documentários independentes.
Arte: Renato Martins

O baile funk tem vivido momentos áureos. Hoje, o gênero consegue invadir as ruas — do morro ao asfalto — do Rio de Janeiro e não ser associado à bandidagem. Já em São Paulo, o som se firma cada vez mais como a voz da juventude periférica.

Ainda assim, pro caso de você não ser familiarizado com o funk, a cultura nasceu assim: No início dos anos 90, existia um movimento musical que rolava escondido nos galpões e ginásios cariocas. O som intitulado funk era uma variação do hip-hop (o Miami Bass) que, por sua vez, era uma variação da funk music americana do James Brown. Os DJs cariocas não gostaram muito do termo hip-hop, por isso continuaram chamando o som de funk mesmo. E daí que nas festas em galpões e ginásios, o público não entendia inglês e acabava cantando o que entendia por cima das músicas. Foi aí que um desses DJs, o Malboro, resolveu apresentar à sociedade carioca o que vinha acontecendo nessas festas com o álbum Funk Brasil. Em linhas gerais, temos aí a pedra fundamental do movimento funk carioca, também conhecido como baile funk.

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Rio Parada Funk 2015: O Maior Baile Funk do Mundo Foi Bem de Rua

A trajetória do gênero, porém, nem sempre foi feita só de sucessos — já rolou muito problema e muita polêmica. Mas para não esticar mais esse chiclete e você entender mais sobre o gênero surgido em comunidades do Rio de Janeiro no raiar dos anos 1990, separamos cinco documentários que mostram o desenrolar dessa história — desde os seus primórdios em 1994 até fins de 2010. Assim você pode compreender melhor todo esse balaio de gato que é o funk carioca.

Funk Rio (1994)

Dirigido por Sergio Goldemberg, o documentário Funk Rio é um dos poucos registros do gênero nascente nos anos 90. No filme, é possível ver que desde o início do movimento há danças sensuais, o encontro de galeras (que uma vez rolou na praia e virou o tal do "arrastão") e a turma colando no baile depois de ensaiar passinhos durante a semana inteira.

Ser jovem e morador da favela nos anos 90 era ainda mais difícil e estigmatizado do que hoje em dia. Muitas vezes sem trabalho, sem dinheiro e sem ter o que fazer, a única distração dessa galera eram os bailes funk. Alguns depoimentos no doc relatam justamente que as brigas de corredor eram uma forma de expressar a revolta contra essa falta de oportunidade dos jovens das comunidades.

O Funk Rio também mostra a dura realidade em ser negro no Brasil dos anos 90. Ao levar um dos personagens do doc à praia, Goldemberg evidencia o preconceito que existia (existe?) com o público funkeiro.

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Febre de Funk (2001)

Se nos anos 90 o funk carioca ainda era privilégio do público das comunidades, na virada do século a coisa mudou de forma e o funk se tornou uma febre — de forma positiva ou negativa. Bondes invadiram programas da TV aberta brasileira e a música começou a interessar a classe média carioca.

Veja: Os Melhores Dubsmashs do Funk

Foi também nessa época que a produção musical no gênero começou a ser abrasileirada, o som que antes usava bases de músicas norte-americanas, começou a ganhar uma forma que viria a ser chamada de tamborzão — a famosa batida do funk carioca que deixava sua origem americana no passado. As equipes de som viraram gravadoras. Os bondes começaram a tomar forma na figura de um artista. E a juventude periférica carioca começou a sonhar em virar MC e ter uma vida melhor.

Dirigido por Gustavo Caldas, o documentário Febre de Funk apresenta toda a estrutura que o movimento funk tinha no seu início: os MCs reclamando das novas músicas e clamando pela melhora do movimento; as intrigas entre os produtores; a forma como as equipes de som promovem os artistas; a polêmica das meninas sem calcinha no baile — e já nesse filme fica evidente que as crianças participaram do funk, com a presença da filha do MC Cidinho, a MC Cindy Ohana.

Leia: Depois de MC Pedrinho, a Justiça Quer Barrar Outros MCs Mirins

O destaque do filme vai para trilha sonora e pra pesquisa de personagens. Já ouviu falar da "Chatuba da Mesquita" e o Bonde do Sexo Anal? O MC Duda te explica como faturou R$500 mangos com essa música.

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Tá Tudo Dominado (2001)

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Numa era em que a internet não era tão popular como hoje, a maneira mais fácil de saber o que rolava do outro lado da cidade era indo até lá. Foi o que fez Roberto Maxwell, diretor de

Tá Tudo Dominado, filme que também serviu como trabalho de conclusão de curso na faculdade de Cinema e TV da Universidade Estácio de Sá.

Veja: Nove Clipe que Mostram como Era o Funk Antes da Ostentação

No doc o ponto central são os festivais de Funk — movimento que ajudou a popularizar as músicas entre as comunidades distantes. Um destaque do documentário é a forma como Ivo Meireles e a Mãe do Funk (a Verônica Costa) contam sobre como os jovens se jogam, cegamente, no mundo funk em busca de um futuro melhor. Há diversos depoimentos que elucidam por que tantas músicas falam de sexualidade. Esses fatores são apenas um reflexo do que eles vivem. Outro pronto apresentado é porque há um volume grande de produções musicais totalmente parecidas. Não é que falta criatividade, os jovens querem de toda forma alcançar o sucesso, então copiam o "caminho do sucesso" dos outros.

O documentário encerra com uma polêmica: já ouviu falar da menina que engravidou no baile? Eles foram atrás dela.

Sou Feia, Mas Tô na Moda (2004)

Dando sequência a história do funk, junto da batida do tamborzão veio o momento da entrada das mulheres no gênero. E isso não foi um momento passageiro. Elas chegaram pra ficar e com o verbo bem afiado. Lançado em 2004, com a direção de Denise Garcia, Sou Feia, Mas Tô na Moda tem protagonistas Deize Tigrona e Tati Quebra-Barraco.

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Agora pare e pense que coisa mais utópica. O som periférico mais criticado do Brasil, é exatamente onde a mulher tem seu espaço independente para: cantar, trabalhar, ter o domínio do seu próprio corpo, conscientizar jovens garotas sobre a sexualidade e ainda encontram espaço para defender o espaço da comunidade LGBTT.

Proibidão (2010)

Depois da mulher no funk, as músicas consideradas proibidas com mensagens do que acontecia ilegalmente nas comunidades, tornaram-se assunto polêmico do funk. O documentário Proibidão, dirigido pela dupla Guilherme Arruda e Ludmila Curi, mostra o cotidiano de um dos principais funkeiros a encabeçar o subgênero do funk carioca. Personagem principal do filme, MC Smith continuou cantando firme e forte, dia a após dia, mesmo depois de ser preso pelo conteúdo de suas músicas.

Smith ficou preso em 2010, e o Proibidão mostra justamente esse período e a realidade de quem vive no fogo cruzado entre o polícia e traficante. O vídeo também demonstra que o problema não esta só no crime e no tráfico — de acordo com o filme, a polícia também tem sua culpa nessa história. O que mais impressiona são umas crianças que desde cedo já sabem o que é uma pistola, uma metralhadora e uma bazuca. Como sempre, a música relata o dia a dia desse público.

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