Cinco e meia da manhã, eu voltava pra casa manguaçado e dirigindo pelas ruas da periferia de São Bernardo. Queria chegar em casa logo e dormir, mas pesquei numa curva e pláu! Acordei com a cara sangrando, o carro abraçado num poste e minha clavícula partida ao meio. Dos males o menor, mas imagina o desespero da minha mãe ao me ver sendo levado na ambulância e respondendo pro puliça: “cê bebeu?” Sim. “Cê fumou?” Sim. “Que bom que cê tá vivo e não matou ninguém, né não?”.Pois é, aí o Don L lançou o clipe desta pérola chamada “Morra Bem, Viva Rápido”, que segundo ele, foi escrita enquanto ele assistia aquele leilão de jóias da madruga, se recuperando de um acidente de moto. “Nóis tudo vive pra morrer, mas luta pela vida”. Foi exatamente nisso que eu pensei quando estava no hospital.O clipe, dirigido pelo cineasta português João Seguro, é um devaneio de Don, num passeio de carro pela centro de Lisboa. Mulheres, cigarros, as luzes da cidade e aquela voz doce da moça do leilão de joias, quase que mantendo a gente acordado, respirando, se sentindo vivo. Um mini-Don vai no banco de trás, conduzido por suas memórias e num momento até se questiona: “por que seus sonhos são sempre tom cinza?”Na primeira vez que ouvi este som, confesso que fiquei meio cabrero. Por que alguém acharia legal essa parada de viver rápido e morrer bem? Não quero nem pensar em morrer. Mas no momento em que sua vida tá diante dos seus olhos, não tem explicação, a não ser aquela sensação de que mais uma chance cairia muito bem. Pois bem, não é vitória que cê quer? Então brinda.