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Música

Os Caras do KroW Atropelaram uma Família de Javalis

A caminho da República Tcheca, só havia árvores, montanhas e penumbra, quando o inesperado tomou o conjunto death metal de assalto.

A partir de uma pesquisa minimamente apurada, não é difícil encontrar na história do metal bandas ligadas a cultos macabros, suspeitas de realizar sacrifícios de animais em cerimônias de ovação ao Belzebu. No caso do KroW, conjunto death egresso do "triângulo satânico mineiro", como os próprios integrantes gostam de se apresentar, o único sacrifício de bichos que já fizeram na vida foi totalmente involuntário. Durante uma turnê pela Europa, saindo da Alemanha para tocar na República Tcheca, eles passaram por alguns perrengues que culminaram com o atropelamento a uma família de javalis. Isso, depois de três dias de atraso para chegar ao destino porque a van quebrou e eles tiveram que fazer o corre para substituí-la.

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Um episódio doido assim vem apenas sublinhar o mote que deu luz a esta série Roubadas na Estrada: passar sufoco faz parte da rotina em turnê quando você é peça de uma banda independente. E os causos que já contamos aqui, nas edições anteriores da coluna, do No Violence e do Móveis Coloniais de Acaju, estão devidamente registrados para fundamentar nossa percepção empírica. Depois que passa o aperto, quando tudo termina bem, pelo menos dá pra dar umas risadas…

Enquadrei o guitarrista e o baixista do KroW após um destruidor show que fizeram, e pedi pra eles contarem direito essa cabulosa fita pra gente:

Noisey: Qual a história mais inusitada de perrengue que vocês já passaram em turnê?
Cauê De Marinis (baixo): A gente já passou por várias. Mas acho que pra essa série aí do Noisey vale contar da vez que fomos tocar na Europa. Foi em 2013, quando fizemos uma turnê de cinco meses pelo Velho Continente. Foram dois perrengues seguidos. O primeiro foi que nós estávamos a caminho da Alemanha, Leipzig, quando a van quebrou. Mas não é que ela quebrou por causa de alguma coisa que dava para perceber. Ela quebrou do nada, moeu sozinha, fundiu o motor. Aí acabou, não tinha o que fazer, tinha que jogar fora, por fogo, pintar de verde e largar no mato. Mor-reu a porra do veículo! Preocupados em resolver a parada, ligamos pro cara que tinha alugado o carro: "Veio, a van morreu, manda outra van e tal, dá um jeito". Até aí beleza, o cara foi gente fina, disse que rolava de enviar outra, só que demorou três dias pra chegar. Isso porque o veículo era alugado na Romênia. Deu tudo certo, mas ficamos três dias ali meio no limbo, né. O bom é que nós demos uma sorte filha da puta porque calhou de isso acontecer na cidade em que um grande amigo nosso tem casa. Ligamos para ele e nos hospedamos na casa dele. Aí os alemães deram um jeito de mandar buscar a gente, fizemos o show, rolou e tal. Tinha três dias de day-off, e a próxima parada era pra tocar num festival na República Tcheca.

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Lucas Simon (Guitarra): Que é ali próximo, mas não muito, era tipo 500 km, mais ou menos. Não era tão longe. Só que, pra chegar lá de van era meio osso… Porque a van quebrou num lugar que era meio do caminho. Mas tivemos que voltar e percorrer todo o caminho de novo, mais o trajeto que faltava. O cara da locadora buscou a gente, retornamos, buscamos todo o equipamento, botamos na van nova, e dirigimos os outros 400km pra trás. Maravilha. Só que era pro cara chegar lá meio-dia, uma hora da tarde, e ele só chegou umas 16h. O show era umas 20h30/21h. Veio, fo-deu geral! E, nesse dia, eu tava de motora. Tudo resolvido, beleza, "vamos pra República Tcheca". Alemanha tem essa vantagem, não tem limite de velocidade. Cara, imagina uma van de seis toneladas, os caras a 190km/h, vrrrummm, arregaçando. "Vamo chegá! Vamo chegá!!". Eu acho que a gente nunca teve tanta pressa na vida. E bicho, correndo e mandando mensagem pro pessoal da organização do show: "Vamos chegar atrasados". Contamos toda a história, os produtores sabiam: "Vai passando nossa entrada pra frente aí. A gente toca por último, mas toca". Saímos da Alemanha, entramos na Polônia, depois República Tcheca… Chegando na cidade, esqueci o nome, era um nome bem bizarro. O lugar era muito legal e tal, só que de repente acabou a highway…

Caraca, vocês mesmos que dirigiam a van num pico desconhecido e, ainda por cima, numa trilha incógnita sem asfalto?
Cauê: Não é que não tinha asfalto, até tinha, mas pra você chegar no lugar, tinha que atravessar uma estradinha estreita que passava por cima de montanhas. Aí escureceu, e nós no meio do mato, árvores dos dois lados, nego já olhando pro lado e falando, "Caraio, estamos num lugar mal assombrado. Tipo O Albergue". Veio, nada em volta! Não tinha uma alma viva! Tinha umas vilas no caminho, e as casas não tinham luz, tudo escuro, satânico. Se estivéssemos no caminho errado não dava nem pra saber, seguíamos confiando absolutamente no GPS. Não dava pra ler placa naquela porra também. Como é que lê placa na República Tcheca?! (risos) No meio de uma floresta filha da puta, e eu tô lá moendo pra chegar no endereço, só nós na estrada, farolzão alto aceso… Quando de repente me passa uma família de javali na estrada…

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Vocês fizeram strike nos javalis? Quantos eram? Uma pá, estilo Jumanji?
Cauê: Era uma família completa, pai, mãe, irmão, irmã, vó, sogra… Os javalis pareciam uns bezerros, as paradas eram muito grandes! Eu lembro deles meio cinza assim. Só sei que soltei um "puta que pariu!". Pé no freio, a van derrapando… A gente fala van como modo de dizer. Porque o veículo era enorme, tipo um micro-ônibus. Imagina isso derrapando no meio da pista com todo o equipamento. Pra você ter ideia, era uma van de nove lugares, e o espaço atrás dos bancos, para carga, tinha a mesma medida de extensão do espaço dos assentos. E era daqueles veículos de teto duplo, então era de fato um micro-ônibus. A 130km/h, e me passa os javalis na frente… Plaw!!

Beleza, mas aí deu aquele strike e vocês continuaram até achar um lugar pra parar?
Lucas: Pera lá que a parte tensa não acaba aí. Sabe aquele pequeno momento de alívio? Respiramos mais tranquilos, avaliamos a situação, vimos que dava pra seguir em frente, e continuamos. Só que um pouco adiante, tinha um retardado mental… Sabe aquele filho que ninguém gosta? Estávamos lá no gás de novo, quando passou um último javali, um retardatário, e o carro pegou bem na cabeça, no meio do javali, assim de quina, acertou em cheio. Fez um puta de um barulho, mas nós continuamos! Aí deu uns 200 metros, conseguimos parar, descemos pra ver… Enfim, a frente do carro ficou toda fodida. Curioso é que ninguém achou o javali, não conseguimos localizar o bicho, até porque não dava pra ver um palmo na nossa frente naquela estrada. Ficou uma puta mancha, assim, do meio do para-choque até a lateral. Quebrou a van, fodeu tudo mais uma vez. Foi uma semana maldita…

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