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Música

Ricardo Beliel Revira seu Incrível Baú de Fotos da Música no Brasil — Parte 2

Circulando há 40 anos pela corte musical do país, o jornas-fotógrafo (respeitado para muito além da música, inclusive) conta os causos dos seus mais icônicos registros.

Little Richards
“Um dos inventores da onda rock´n’roll no início dos anos 50, compositor de ‘Tutti Frutti’, num show em 1993.”

“Um artista, um músico, é um ser humano, assim como o fotógrafo, e criar uma conexão de sensibilidades entre os dois é essencial para um bom retrato. Para mim, um show é como uma sinfonia, e o retrato, um concerto de piano a quatro mãos.” A frase é de Ricardo Beliel, o exímio fotógrafo autor das imagens aqui publicadas. Esta é a segunda e derradeira parte do nosso vislumbre musical sobre o seu trabalho. Clique aqui para ver a primeira. Foram mais de 60 fotos selecionadas, quando pelo menos o dobro ou o triplo desse apanhado seria merecedor de entrar nesta retrospectiva. Tudo porque o Beliel parece que não faz clique à toa. Cada frame captado por ele surge emoldurado numa poética icônica, por mais ocasional que tenha ocorrido. Como no caso de suas coberturas antropológicas ou de conflitos sociais, a realidade em movimento, quando congelada pelas lentes de Beliel, deixa sua alma impressa no retrato.

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“Um show é um espetáculo. O artista está exposto. Se exibe. É expressivo. O trabalho do fotógrafo é sintetizar tudo isso numa imagem poderosa. O retrato é uma relação íntima com o outro. Sua grandeza está em revelar o que se esconde atrás da máscara de alguém”, ensina o experiente fotojornalista, cujo olhar vem sendo apurado desde os anos 1970. Da MPB ao punk, do underground ao erudito, Ricardo Beliel já esteve próximo das mais grandiloquentes figuras da cultura pop em suas pautas. Mas ele garante não se iludir com a aura que se vende dos músicos. “Pessoas são complexas e não dá para viver de fantasias. Já vi muitos que admiro terem atitudes reprováveis ou, ao contrário, artistas consagrados com atitudes simples, cordiais e sem afetação. Gosto de gente simples e franca”, diz.

Beliel, a exemplo de seus contemplados, é um esteta generoso. Não está lá para adular os músicos, mas para extrair a beleza da situação. Tanto que nunca pediu um autógrafo ou uma selfie ao lado dos artistas. Quando aparece nas fotos, é sempre em situações comuns, corriqueiras do ofício e de suas andanças pelo cenário cultural. O único autógrafo que ele guarda até hoje foi dado pelo Sting, numa fotografia que tirou durante a turnê do ex-Police. “O próprio Sting tomou a iniciativa de assinar. Foi um gesto espontâneo e carinhoso”, explica.

Renato Russo e Legião Urbana
“Essas fotos foram feitas num show épico do Legião Urbana no Maracanãzinho, em 1988. Os ingressos esgotaram dias antes e somente dez mil alucinados puderam assisti-lo. Era a turnê de lançamento do álbum Que País é Esse?. Renato, vestindo jeans e camiseta branca, não economizava em gestos e expressões corporais, e o público correspondia numa euforia que fazia tremer o concreto do velho estádio. ‘Nas favelas, no senado, sujeira pra todo lado. Ninguém respeita a constituição, mas todos acreditam no futuro da nação. Terceiro mundo, se for piada no exterior. Mas o Brasil vai ficar rico. Vamos faturar um milhão quando vendermos todas as almas dos nossos índios num leilão’. Esses versos continuam ecoando fundo em nossos corações.”

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Zé Celso
“Em 1973 realizou-se um festival de rock na cidade mineira de Três Corações. Vivíamos uma ditadura militar que estava fechando todas as janelas do meio artístico e cultural. Muitos dos jovens artistas flertavam com a contracultura e os movimentos alternativos. Alguns festivais ao ar livre, mini Woodstocks, foram realizados. José Celso Martinez Corrêa apareceu no encontro de Três Corações envolvendo a todos com um happening ao estilo do Living Theatre. A peça ‘Gracias Señor’, com o grupo Oficina, tinha sido proibida pela censura no final do ano anterior. Mas em Três Corações, naquele momento, não dava para perder tempo com a caretice oficial.”

Liminha tocando no Mutantes
“O hoje consagrado produtor Liminha foi o baixista dos tempos lisérgicos dos Mutantes. Na linha de frente estavam a Rita, o Sérgio e o Arnaldo. Mas Liminha e Dinho, na bateria, estiveram com o grupo quase sempre, mesmo que muitos não soubessem.”

Jimmy Cliff e Gilberto Gil
“Essa foto foi feita durante a turnê de Gil e Cliff no Brasil em 1980. Gil sempre flertou com o reggae, e Cliff, com o Brasil. A primeira vez que eu tinha visto e ouvido Jimmy foi num Festival Internacional da Canção, em 1968, cantando ‘Waterfall’, um reggae alegre e contagiante. No show com Gil, eles mandaram um dueto lindo cantando ‘No Woman, No Cry’, do Bob Marley. Aliás, Cliff se mudou da Jamaica para a Inglaterra porque a galera rasta não aceitava sua conversão ao islamismo.”

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Egberto Gismonti
“Quando comecei a fotografar, no início dos anos 70, eu estava muito próximo de músicos e artistas plásticos, e isso me ajudou a dar um uso mais profissional ao que eu fazia com a minha câmera. Egberto era um deles. Eu já tinha fotografado ele em algumas apresentações até que, um dia, reuni um grupo de fotos numa caixa e fui à casa dele no Jardim Botânico mostrar como eu o via. Ele adorou e comprou as fotos para usar na divulgação de seu trabalho. Ele nunca soube, mas seu gesto me incentivou a ter a fotografia como uma forma de expressão profissional.”

Sarah Vaughan
“Em 1987 a fantástica cantora Sarah Vaughan esteve no Brasil para se apresentar no Free Jazz Festival. Mas o que ainda me lembro e que ainda me faz rir muito foi a gafe do crítico do jornal O Globo. Como o show começaria tarde e o jornal precisava da matéria antes do fechamento, o crítico resolveu assistir à passagem de som que a diva do jazz fez pouco antes de começar a série de apresentações daquela noite. O crítico esculhambou de forma cruel as interpretações das músicas, citando algumas na ordem em que foram passadas no teste de som. Achava tudo muito frio, sem alma. Criticou até a forma como ela se vestia. Acreditava que seria tudo igual quando ela voltasse ao palco, momento em que sua matéria já devia estar sendo impressa para a edição do dia seguinte. Sassy, como era conhecida a Sra. Vaughan no meio jazzístico, mudou a roupa, inverteu a ordem das músicas e fez um show espetacular para espanto e arrependimento do meu colega de redação.”

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DJ Maseo em Los Angeles
“Na festa Do Over, em LA, um dos membros do grupo De La Soul, DJ Maseo (Vincent Mason), colocando todo mundo pra dançar. 2012.”

George Harrison
I look at the world and I notice it's turning

While my guitar gently weeps

With very mistake we must surely be learning

Still my guitar gently weeps

Sting
“Bati essa foto na apresentação do ex-baixista do The Police, Sting, no Maracanã, durante a turnê Nothing Like The Sun, em 1987. Era uma mistura de jazz e rock com ótimos músicos: Steve Coleman, Kenny Kirkland, Delmar Brown, Jeff Lee Campbell, Tracy Ann Wornworth, Mino Cinelu e Marvin Smith. Cinco anos antes, no Maracanãzinho, o Police tocara pela primeira vez no Brasil. Outro show histórico.”

John McLaughlin
Esse cara é o guitarrista do disco Bitches Brew, do Miles Davis. Não bastasse isso, formou uma dupla incrível com outro guitarrista, o Carlos Santana, um trio, com Paco de Lucia e Al Di Meola, e uma banda precursora do world fusion, a Mahavishnu Orchestra. Foi um dos melhores guitarristas que vi tocando ao vivo.”

Courtney Pine
“Saxofonista inglês, jazzista dos bons, que não se amedronta em fazer colagens e invenções sonoras recheadas com funk, reggae, soul, drum and bass e o que vier na cabeça. Tocou na Charlie Watts Orchestra, do mítico baterista dos Rolling Stones, e com os Jazz Messengers, do Art Blakey. Esse clique aconteceu durante uma entrevista, à ocasião de sua vinda ao Rio para participar do Free Jazz Festival, em 1988.”

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Dominguinhos
“Captei essa imagem num show/comemoração dos artistas da Rádio Nacional no Teatro João Caetano. Dominguinhos, que começou tocando profissionalmente na infância, em Garanhuns, no agreste pernambucano, com o nome de Neném do Acordeon, também brilhou nos bons tempos da Rádio Nacional, acompanhando seu mestre Luiz Gonzaga. Aliás, ele conheceu o Rei do Baião quando, ainda menino, tocava com um trio na porta do hotel onde o Gonzagão estava hospedado. Só foi reencontrá-lo no Rio, depois de enfrentar mais de dois mil quilômetros de viagem num pau-de-arara durante 11 dias na companhia do pai. Dominguinhos era pura alegria, com um sorriso contagiante, e uma fala mansa que combinava com seu forró cadenciado. ‘Que falta eu sinto de um bem. Que falta me faz um xodó…’”

Pat Metheny
“Outro instrumentista marcante, com vários prêmios Grammy de melhor guitarrista de jazz. Nesse concerto ele apresentou-se acompanhado do tecladista Lyle Mays e de Milton Nascimento, nos vocais. Música para os olhos, da imaginação…”.

Mick Jones
“O guitarrista do The Clash, Mick Jones, formou uma nova banda depois da separação do Clash, no início dos anos 80. Big Audio Dynamite, era o nome do grupo. Eu os fotografei num show em 1987 durante a turnê de lançamento de seu segundo disco, No. 10 Upping St.”

Jards Macalé
“A primeira vez que vi o Jards Macalé foi num Festival Internacional da Canção (1969) com o Maracanãzinho lotado. Ele, barbudo, vestindo uma bata colorida e óculos fundo de garrafa, gritava: ‘No céu de Gothan City há um sinal. Sistema elétrico e nervoso contra o mal. Meu amor não dorme, meu amor não sonha. Não se fala mais de amor em Gothan City’. O público vaiava e ele gritava. A orquestra engravatada do festival não entendeu nada quando recebeu a pauta da música, arranjada por Rogério Duprat, onde se podia ler: ‘Toquem o que quiserem’. Depois o vi num show mágico (1972) na companhia dos amigos Gilberto Gil e Naná Vasconcelos, no Teatro Vila Velha, em Salvador. E na mesma época em outro, dessa vez solo, no ginásio da PUC, no Rio, para lançar um disco espetacular em que gravou ‘Mal Secreto’ e ‘Hotel das Estrelas’. Mas para mim o momento mais marcante e inusitado foi quando resolveu lançar seu segundo disco, Aprender a Nadar (1974), em parceria com o poeta Wally Sailormoon (como se autodenominava Wally Salomão), na barca de Paquetá que alugou, promovendo um festão à bordo, no meio da noite, na baía de Guanabara. Quando a velha embarcação passou embaixo da ponte Rio-Niterói ele se atirou na água, apenas de cuecas, ao som do seu ‘Mambo da Cantareira’. Jards Macalé, tropicalista, malandro carioca, iconoclasta, ator de filmes de Nelson Pereira dos Santos, parceiro de Moreira da Silva, excelente violinista e arranjador… Dizer mais o quê?”.

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Gilberto Gil
Gil é um autêntico camaleão da música brasileira. Nos anos 60 era um dos porta-vozes da MPB, com seu jeito de bom malandro baiano (‘O rei da brincadeira. Ê, José! O rei da confusão. Ê, João!’). Transformou-se no liquidificador cultural tropicalista (‘Um poeta desfolha a bandeira. E eu me sinto melhor colorido. Pego um jato, viajo, arrebento. Com o roteiro do sexto sentido. Faz do morro, pilão de concreto. Tropicália, bananas ao vento’). Roqueiro sertanejo (‘Por algum tempo que afinal passou depressa, como tudo tem de passar. Hoje eu me sinto como se ter ido fosse necessário para voltar. Tanto mais vivo de vida mais vivida, dividida pra lá e pra cá’). Afro-baiano com muito axé (‘Omolu, Ogum, Oxum, Oxumaré. Todo o pessoal. Manda descer pra ver. Filhos de Gandhi’). Andrógino-pop (‘Um dia vivi a ilusão de que ser homem bastaria. Que o mundo masculino tudo me daria. Do que eu quisesse ter’). Rastafari arrasta-pé (‘Kaya já, na Gandaya. Kaya já, na Gandaya. Kaya já, nem que a chuva. Kaya’). Um cidadão brasileiro e do mundo (‘Não se iludam. Não me iludo. Tudo agora mesmo. Pode estar por um segundo…’) Que prazer ter estado perto desse cometa por tantas vezes em sua órbita de vida.”

Weather Report
“O grupo de jazz fusion liderado por Wayne Shorter e Joe Zawinul contou por um tempo com a participação do baixista Jaco Pastorius. Jaco foi eleito o melhor em seu instrumento pela revista Down Beat e assim é considerado por muitos dos músicos com quem tocou. Em 1980, durante a turnê que ficou registrada no álbum Weather Report 8:30, Jaco estava no auge, pontuando com seu baixo os solos de Shorter, no sax, e Zawinul, nos teclados. Com essa formação gravaram sete discos, entre eles os geniais Black Market e Night Passage. Fotografá-los num concerto era como estar diante de um caleidoscópio sonoro de máxima potência.”

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Maria Rita
“Essa foto rolou num jantar oferecido pela Varig a convidados ‘VIPs’ para comemorar o lançamento das então novas rotas da companhia. No ano seguinte, a mais tradicional empresa aérea do Brasil faliu e deixou de voar tanto nas antigas como nas novas rotas. Nunca imaginei que isso pudesse acontecer. No palco, Maria Rita me fazia lembrar muito sua mãe. O mesmo tom de voz, a mesma alegria no jeito de cantar, o sorriso largo. Admiro as duas, mas por um tempo nutri um sentimento de rejeição por Elis Regina. Fui fotografá-la no ensaio do show Transversal do Tempo para a revista Fatos e Fotos e, temperamental e impulsiva como era, ela me impediu que o fizesse. Fiquei chateado e demorei um tempo para compreender e dar razão a ela. Suportar fotógrafos e jornalistas não deve ser fácil. Essa foto é uma homenagem à fantástica Elis e sua bela e talentosa filha.”

Marcelo D2 e Planet Hemp
“No final dos anos 90, acompanhei a apresentação do Planet numa casa noturna no bairro da Penha, zona norte carioca, e foi um prazer reencontrar aqueles garotos, que eram meus vizinhos em Santa Teresa, fazendo muito barulho ali no palco. BNegão, Black Alien e Marcelo D2 na foto, incendiando o palco. O Planet era a banda do momento. Moro até hoje no condomínio (Equitativa, em Santa Teresa) que foi o ponto de partida de várias bandas (Funk Fuckers, Planet Hemp, O Rappa, Squaws..) da Hemp Family. Mas só fui rever o Marcelo durante a filmagem de uma sequência do clipe dirigido por Gandja Monteiro em Los Angeles, em 2012. Meu filho, Rudah Ribeiro, produtor e agente musical radicado em L.A., amigo de D2, me fez retomar o contato em terras californianas com esse genial artista/agitador da música carioca. Rudah e Marcelo, sempre um prazer estar na companhia de vocês.”

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Mad Professor
“Esse show do produtor e DJ inglês foi no Teatro Rival em junto da equipe Digital Dubs. O 'professor' parece que gosta do Rio. Já esteve por aqui diversas vezes e sempre em parceria com os toasters e selectors do dub carioca. Adora favela, praia, caipirinha, conversa solta, batida funk, amigos e amigas… Sabe das coisas, esse cara!”

Lia de Itamaracá
“A célebre cirandeira da ilha de Itamaracá, Pernambuco, trabalhou a maior parte de sua vida como merendeira de escola pública. É um exemplo do poder da cultura popular no Brasil. Manteve a tradição da ciranda por força própria, quase sem apoio algum. Criou um centro cultural na ilha em 2005 para abrigar os artistas locais, mas o espaço foi destruído por fortes chuvas em 2014. Um lugar onde o povo do maracatu, do coco e do forró se sentiam em casa. Lia faz parte de um Brasil que canta e encanta…”

Lennie Dale
“Conheci Lennie Dale durante uma temporada que morei no Bexiga, em São Paulo, e ele fazia shows com o grupo Dzi Croquettes no vizinho Teatro 13 de Maio. Ele era uma das cabeças e coreógrafo do Dzi, que balançou a caretice da época, 1972, auge da ditadura militar, colocando 13 homens com corpos esculturais, totalmente andróginos, debochados, críticos, sensuais, loucos e criativos dançando ‘como nunca na história desse país’ havia acontecido. Eu ia quase todas as noites lá, às vezes na companhia de um amigo artista/grafiteiro que, tempos depois, ficaria famoso, o Alex Vallauri, e outro, o Paulo Leão, que mais tarde seria reconhecido como o poeta beat das noites de Belo Horizonte. Nunca mais encontrei as poucas fotos que fiz no 13 de Maio. Devo tê-las perdido em alguma mudança. Lennie ensinou Elis Regina a dançar, viveu intensamente o início da Bossa Nova, coreografou o filme Cleopátra, com Elizabeth Taylor, e participou do elenco de dançarinos de West Side Story. No final da vida, quando já apresentava os primeiros sintomas de AIDS, montou um espetáculo autobiográfico. Essa foto é desse espetáculo.”

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Laurie Anderson
“Empty Places foi um show/performance que Laurie Anderson (antes do casamento com Lou Reed) apresentou usando o repertório do álbum Strange Angels, em 1989. Em meio a efeitos sonoros de sintetizadores, violino eletrônico e projeções de vídeo arte, novidade na época, a peça era uma reflexão sobre o momento de crise que os Estados Unidos atravessavam. Como disse a própria Laurie: ‘Como muita gente, eu dormi politicamente na era Reagan. Quando acordei, tudo parecia bem diferente. Homens e mulheres sem teto viviam nas ruas de Nova York, centenas de milhares de americanos morreram ou estavam morrendo de AIDS, e o clima no país era caracterizado por medo, intolerância e ganância. De repente tudo parecia tão pouco familiar. Era esse o meu país? Então decidi escrever sobre esse novo lugar, não porque tivesse as soluções, mas porque precisava entender como e por que as coisas tinham mudado…’.”

Joe Cocker
“’Unchain my heart. You worry me night and day’. Mr. Cocker arrasou no Rock in Rio, em 1991, levantando uma multidão que lotava o estádio do Maracanã. Eu já o tinha assistido, em meados dos anos 70, quando ele esteve aqui num show pouco divulgado, na companhia de Michael Lang, idealizador do festival de Woodstock. ‘What would you do if I sang out of tune? Would you stand up and walk out on me? Lend me your ears and I'll sing you a song. I will try not to sing out of key. I said I want to get high I will. High with a little help from my friends’. Um vozeirão com muito soul.”

Wayne Shorter, Herbie Hancock e Wallace Roney
“Herbie Hancock, Wayne Shorter, Wallace Roney (os três na foto), Ron Carter e Tony Williams gravaram, em 1991, o álbum A Tribute to Miles Davis. Ganharam – individualmente os cinco músicos e o disco – os prêmios Grammy da categoria de jazz. Com exceção de Roney, todos os outros quatro gravaram discos antológicos com Miles. So what? Juntos, os cinco. Não poderia haver melhor homenagem ao grande mago do trumpete.”

Milton Nascimento e Som Imaginário
Milton nos brindou com uma de suas melhores fases quando teve o Som Imaginário como parceiro, no início dos anos 70. Juntos, gravaram alguns discos antológicos e realizaram vários shows inesquecíveis. A banda, formada por Wagner Tiso, Zé Rodrix, Robertinho Silva, Tavito, Fredera e Luis Alves (com participações de Naná Vasconcelos, Nivaldo Ornelas e Toninho Horta), era a alma gêmea do Milton. Wagner Tiso era amigo e parceiro de Milton desde os tempos de Três Pontas, e foi um dos arranjadores do álbum Clube da Esquina, junto com Eumir Deodato. Certa vez, assisti um show deles no MAM e o Som abriu, tocando só. Na segunda música, continuaram sós, e nada do Bituca. Na terceira, ele entra cambaleando no palco. Começa a cantar, ou melhor, tenta cantar. Estava tão bêbado que caiu para trás e bateu com a cabeça na bateria e, por fim, foi levado aos bastidores. A sintonia deles era tão mágica que ninguém na plateia se importou. O Som fez o show e todos saímos satisfeitos com a música ainda soando em nossas cabeças.”