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Música

Recordamos os 25 Anos da Morte de Raul Seixas com 25 Músicas que Muita Gente não Manja

Aqui não tem “Metamorfose Ambulante”, “Tente Outra Vez”, “Carimbador Maluco” ou “Eu Nasci Há Dez Mil Anos Atrás”. E se você gosta do Paulo Coelho, vá ver ele lamber a própria bola em seu filme.

Olha só, eu não nasci há dez mil anos atrás. Foi em ‘91, dois anos depois da parada cardíaca devido a pancreatite aguda que levou o maior nome do rock brasileiro de todos os tempos. No entanto, cresci cercado de histórias de órfãos de Raul Santos Seixas, um cara tão genial que influenciou gerações inteiras e continua a influenciar até quem aparentemente não entendeu porra nenhuma do que ele falava.

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"Quando eu compus fiz Ouro de Tolo
Uns imbecis me chamaram de profeta do apocalipse
Mas eles só vão entender o que eu falei
No esperado dia do eclipse"

Foi então que, nessa data tão importante para todos os Raul Seixas de Buteco do Brasil, fui incumbido da grande responsa de listar boas músicas para recordar do nosso herói nacional. E como os roquistas veteranos do ABC me ensinaram a não tolerar posers, aqui não tem “Metamorfose Ambulante”, “Mosca na Sopa”, “Tente Outra Vez”, “Carimbador Maluco”, “Medo da Chuva” ou “Eu Nasci Há Dez Mil Anos Atrás”. E se você gosta do Paulo Coelho, vá ver ele lamber a própria bola enquanto chora porque se acha feio em seu filme. Dito isso, vamos para a primeira música:

Ave Maria da Rua

Essa música é uma oração, e é com uma oração que se inicia uma cerimônia de celebração póstuma. Ela é tão bonita que devia substituir a Ave Maria original. Já tô chorando.

Rock do Diabo

Um copo pra Deus, outro pro Diabo. Pro Raul foi assim a vida toda e no nosso caso não poderia ser diferente. Afinal, o Diabo é o pai do rock. Foi ele mesmo que me deu um toque.

Eu Também Vou Reclamar

“E as perguntas continuam sempre as mesmas, quem eu sou? Da onde venho? E aonde vou dar? E todo mundo explica tudo, como a luz acende, como um avião pode voar”. Parece muito com a minha timeline.

As Aventuras de Raul Seixas na Cidade de Thor

Pra seguir na linha da contemporaneidade, Raul manda um verso do além: “Hoje a gente já nem sabe de que lado estão certos cabeludos, tipo estereotipado, se é da direita ou da traseira, não se sabe lá mais de que lado”. OBS: esse vídeo é gravado de um show ao vivo, e é muito engraçado ver o Raul bebaço errando a letra e fazendo firula com “Garota de Ipanema”.

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Rock n Roll

Mas firulas caricatas não bastavam pra expressar sua irreverência, aí ele resolveu tirar um belo sarro dos intelectuais brasileiros nesse verso brilhante: “No Teatro Vila Velha, velho conceito de moral, bosta nova pra universitário, gente fina, intelectual. Oxalá, Oxum, Dendê, Oxóssi de não sei o quê…”

Muita Estrela, Pouca Constelação

Falando em encher a cara e meter o pau na patota, mais um resmungo delicioso. E certeza que se ele estivesse vivo, meteria o pau nesse post também – se bem que, se ele estivesse vivo, esse post não existiria. Segue o verso: “E o jornalista ele quer bajulação, pois new old é a nova sensação. A burrice é tanta, tá tudo tão à vista, e todo mundo posando de artista”.

A Verdade Sobre a Nostalgia

Um vídeo mostrando o Raul de cueca e chinelo, cortando o próprio cabelo, dançando e cantando “eu vou fazer o que eu gosto”. Só isso já basta. Mas aí vem uns roqueirinho moderninho querendo fazer versão com fotografia parecida. Pô, Vivendo do Ócio, vê se te orienta!

No Fundo do Quintal da Escola

“Desde aquele tempo em que a turma se juntava pra bater uma bola, eu pulava o muro com Zezinho no fundo do quintal da escola”. Alguém imagina o que Raul e Zezinho faziam no fundo do quintal da escola? Eu acho que era assistir uma bela briga de aranhas, no mínimo.

Super Heróis

Nesse som, Raulzito encontra várias celebridades num rolê com Paulo Coelho (aka Dom Paulete – um nome artístico muito melhor) na Rua Augusta. E num bar em Nova York, ele convence um garçom “a não pagar o tal do casco. Ele aceitou, pois sou um astro”. O cara era ou não era picudo? OBS: se liga no Pelé caindo aos 2:20.

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Eu Sou Egoísta

E sabe por que ele era picudo? Porque ele era egoísta, pra caralho. Era tão egoísta que fez uma música falando sobre o quanto isso era bom pra ele mesmo, e ficava repetindo “eu sou ego, eu sou ísta”. Mas pelo menos ele assumia ao invés de ficar com falsa modéstia repetindo o tempo todo que é feio, né não Dom Paulete?

Tu És o MDC da Minha Vida

Mas ele também sabia ser bonitinho. Taí esse som que não me deixa mentir. Uma verdadeira declaração de amor e sucesso até hoje nos karaokês desse Brasil-sil-sil. Ideal pra tomar umas biritas ouvindo uns “embalos quentes pra lembrar do teu calor”.

A Maçã

E se seu broto tá fazendo uns frila fora de casa, Raul ensina que não tem problema, porque “amor só dura em liberdade, o ciúme é só vaidade”. Muito antes de qualquer papo de poliamorismo e relacionamentos abertos, ele já vinha com “se eu te amo e tu me amas, e outro vem quando tu chamas, como poderei te condenar” e ainda “o que que eu quero se eu te privo do que eu mais venero que é a beleza de deitar?”. Não é dor de corno, é amor de verdade.

Sessão das Dez

Mais um som sobre relacionamentos amorosos inocentes, puros e bestas. Aquela história de casar com alguém porque a pessoa te ofereceu pipoca, e essa pessoa curtir com seu corpo por mais de dez anos e te deixar depois de um engano. Foda.

Peixuxa

Depois de músicas tão bonitas como estas, tem som até pra criançada. Quando eu era moleque, adorava ouvir “Peixuxa”, porque ele era “amigo dos peixes, é gente e respira debaixo do mar”. Eu imaginava tipo um Aquaman Maluco Beleza tirando onda com os animais marinhos e combatendo os burocratas do petróleo. Legal.

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Meu Amigo Pedro

Eu também tinha um amiguinho da escola que se chamava Pedro. Hoje ele é um pai de família e trabalhador respeitável (e careta), e eu sou um vagabundo que caga regras na internet. E essa música tem uma história engraçada, porque no

documentário

do Raul, seu irmão Pedro Seixas diz que a música é feita pra ele, mas o filme lambe-bolas do Paulo Coelho sugere que a música é para o Pedro Coelho, papai de Dom Paulete (Spoiler. Foda-se, o filme é ruim).

Paranoia

E quando você cresce e vira adolescente, o que você mais tem é o que? Exatamente, paranoia! Vai falar que você não “vacilava sempre a ficar nu, lá no chuveiro com vergonha”? Com vergonha de saber que tinha alguém ali com você “vendo fazer tudo que se faz dentro de um banheiro”?

Sapato 36

Falando em adolescência, o que combina mais com isso que tretas com o pai? Essa música é o choro de qualquer adolescente antes dessa fase modernosa e mimada atual. Jovens, vocês não sabem o que é calçar 37 e ganhar um sapato 36.

Quando Você Crescer

Aliás, o que é que você quer ser quando você crescer? Alguma coisa importante? Um cara muito brilhante?

Fim do Mês

Independente disso, existe uma preocupação que todo adulto tem. Se chama fim do mês.

S.O.S

E é no meio de toda essa bagunça alucinada que você vai se encontrar num quarto de pensão da zona sul, sendo vetor de uma transmutação, enquanto reza para totens e Jesus em domingos glaciais. Amadurecer pode ser difícil.

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Banquete de Lixo

Raul deu a letra da treta que estava enfrentando com o alcoolismo nesse som. A vida lhe pegou na marra, “pois enfermeiro quando agarra é que nem ordem de prisão”. E daí o que rolava era “internamento e injeção”. Foi assim até o fim.

Canto Para Minha Morte

De que a morte é a única certeza, Raul sabia muito bem. Tinha completa noção de que todo seu glamour rebelde e contraventor era, no fundo, um lindo tango mortal.

Nuit

O último suspiro de Raulzito também veio em forma de música. No Panela do Diabo, sua última gravação junto com seu fã Marcelo Nova, ele se despede com versos metafóricos e ambíguos sobre uma figura noturna que jamais se revelará. “Acendo as luzes para nossa festa, senhores”. Baixou as portas.

A Lei

O homem vai, fica a lenda. Seu legado tá aí, nos encontros na Praça da Sé, nos doidos de rua tocando violão, nos andarilhos de São Tomé e até nos tios do pavê que pedem Raul em qualquer showzinho de bairro. Raul se foi, mas deixou sua lei.

A Geração da Luz

“Eu vou-me embora apostando em vocês, no testamento eu deixo minha lucidez. Vocês vão ter um mundo bem melhor que o meu”. É, Raul, a gente ainda tem a velocidade da luz pra alcançar.