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Música

Pusha T é Famoso Normal

O rapper falou sobre a mídia, a sua relação com o Kanye West e sobre, lógico, o estado do hip-hop atual.

Esta é uma foto do Pusha T com um crocodilinho

Na sala verde pouco iluminada de um estúdio da VICE no Brooklyn, Pusha T reclina em um sofá de couro barulhento e ri. E depois ri de novo. E de novo. E de novo. Sem saber o que fazer, paro a entrevista, espero um momento constrangedor, olhando para ele, sem saber o que vai acontecer em seguida, porque, sério, Pusha T — um rapper que construiu uma carreira inteira baseada em raps cocainômanos sobre vender drogas e criar ameaças de modo geral — não para de rir.

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“Cara, eu não sabia o que esperar”, diz entre gargalhadas.

O motivo do riso é compreensível. Ele acaba de contar a história do que passou na cabeça dele quando o Kanye West pegou o microfone na festa de lançamento, algumas semanas antes, de My Name Is My Name, o primeiro disco solo do Pusha, onde ‘Ele começou com uma de suas bravatas hoje infames, que culminou com a simples declaração: ‘AQUI É PUSHA T, PORRA.”’

Pusha pode rir do elogio do Kanye, mas isso não muda a validade da afirmação deste último. Na última década, foram poucos os rappers que ofuscaram a influência de Pusha T. Em Clipse, ao lado de seu irmão Malice (hoje No Malice), ele estabeleceu o hip hop lírico como uma Coisa que você pode fazer sem ser chato, levando o gênero a se investigar, desafiando o som que o rap poderia ter com a produção visionária do Neptunes, quebrando com os moldes tradicionais e ao mesmo tempo mantendo o respeito pela sua herança. Desde que seguiu carreira solo, o rapper assinou contrato com a G.O.O.D. Music, lançou um punhado de mixtapes respeitadas, teve aparições incríveis em colaborações (“Runaway” e “Mercy” me vêm à cabeça), mas apesar disso tudo, o momento do Pusha ainda é, de alguma forma, agora. E como é que ele faz isso?

Noisey: Como é passar por esse turbilhão de entrevistas para a imprensa na divulgação do disco solo?
Pusha T: Mano. Tá sendo muito agitado, mano. Quando você faz um álbum, o lançamento é extremamente importante. Principalmente para um artista como eu — não sou artista que toca no rádio. Meus clipes não passam automaticamente. É uma situação para os fãs mesmo. É uma coisa cultural, ou seja, da cultura do hip hop e para aqueles que gostam do hip hop que tem a letra como forte. Ir a vários lugares, um atrás do outro sem parar, tudo em uma semana, o seu ano e a publicidade estão condensados em uma semana — entrevistas que eu faria se fosse um artista mais comercial… Tudo isso acontece em cinco dias.

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É estranho sair de um espaço criativo e entrar nisso?
É. Quer dizer, é muito cansativo. Muito cansativo. Quero acabar logo com essa parte, e só voltar a fazer música e procurar batidas e coisas assim. Mas, enfim, é só uma semana. É só uma semana. [Risos.]

A essa altura na sua carreira, você está onde imaginava que estaria?
Eu não tinha expectativa nenhuma sobre onde estaria 11 anos atrás, mas posso dizer que estou extremamente feliz com o lugar onde estou agora. Mas ainda tem muito espaço para ir além.

Para onde você se vê indo?
Ah, quero ser um dos próximos magnatas do hip hop. Quero perpetuar e cultivar a cultura do hip hop. Quero ver o hip hop perdurar para sempre e se equiparar com seus correspondentes do rock ‘n’ roll, tá ligado, tipo a turnê do Eagles e do Foreigner. Quero ver o hip hop fazer isso.

O gênero está finalmente chegando lá. De certa forma, o Jay Z é o primeiro clássico do rap rock.
É, finalmente estamos chegando lá. O Jay é o primeiro. Espero que ele seja mesmo. Com tantas outras coisas, ele promete muito. Para mim, ele é a primeira geração de hip hop que não desaprovou o que veio depois. Sinto que todo o resto — todas as gerações anteriores — desaprovavam as novas tendências, e foi por isso que ficaram datadas. O Jay é o primeiro que está prestes a nos mostrar que você não precisa ser datado no hip hop, não precisa ser velho, que é o mesmo motivo pelo qual os Rolling Stones podem lançar um álbum — se as pessoas vão pensar que é uma merda ou não, tanto faz — mas eles podem fazer isso. E as pessoas estão ansiosas com isso. Pode não ser tão bom quanto um dos anos 70, mas essa oportunidade e esse nível de mente aberta está presente nos fãs. E acho que está prestes a ser construída dessa forma no hip hop.

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O rap está em um momento muito interessante atualmente, porque parece que o que ele pode ser não tem limites. Veja o Yeezus — é tipo um álbum de rap pós-punk. O que você pensa sobre o gênero nesse momento?
Adoro os rappers jovens que estão na área. Gosto do fato de que os rappers jovens estão seguindo as regras old school no lirismo e na inteligência e na narrativa e nas inflexões e coisas assim. Vejo que o ciclo está voltando para o lirismo, lugar em que não estava há bastante tempo. Vejo como o hip hop influencia o que acontece na cultura popular ainda hoje.

Você fala do Yeezus, mas eu não coloco o Yeezus nessa categoria. Eu acompanhei quando ele estava fazendo o álbum e a intenção dele era não ser colocado em nenhuma categoria de rapper.

Quer dizer, é isso que quero dizer. É isso que é incrível nele.
[Risos.] É. Não vou sentar do lado dele e dizer: “É isso aí, mano. Você está levando o rap para frente”. Ele ia dizer *começa a falar com a voz fina do Kanye*: “FILHO DA PUTA, EU TE FALEI, NÃO QUERO FICAR PERTO DE NENHUM DE VOCÊS RAPPERS”.

Esta é uma foto do Pusha T sem crocodilinho

O Kanye é tão intenso pessoalmente quanto é nas entrevistas?
Com certeza, mano. [Risos.] Cem por cento. Quando ele fez o discurso na minha festa de audição – é engraçado, fiquei pensando onde é que isso ia parar. Mas mais do que qualquer outra coisa – temos conversas muito francas, cara. Desde relacionamento até nossas opiniões sobre o rap ou sobre rappers, tá ligado, coisas que nunca vamos falar em público. Temos conversas muito, muito francas e específicas sobre muita coisa, e aí quando ele começou a falar em público, eu pensei: pera, você quer mesmo falar isso na frente de toda essa galera e câmeras? Essa foi a minha maior preocupação. Adoro a arrogância atrevida do Kanye. Quer dizer, somos rappers, é isso que a gente deve fazer, manja? Adoro o jeito que ele fala. Então não foi uma coisa muito importante para mim. Mas para mim o mais importante foi que eu não sabia se queria deixar as pessoas saberem o que a gente pensa —eu e o Kanye — fora dos raps, tá ligado?

Por quê?
Não merecem. As pessoas não merecem saber. As pessoas são muito duas caras. De boa, eu aceito isso, mas só preferia ter essas conversas internamente. Quer dizer, não foi ruim. Essa bravata específica não foi nada de louca. Mas para a maioria desses momentos expressivos, eu preferia que as pessoas não ouvissem.

É estranho ser famoso?
Não para mim. Não sou superfamoso. Sou famoso normal. Sou tipo famoso de baixo orçamento. Famoso da pobreza. Essa é a fama da pobreza. [Risos.] A fama da pobreza é quando eu consigo entrar numa casa noturna — na casa de hip hop — com meus amigos e me dão uma mesa e uma garrafa. Uma garrafa. Uma garrafa da pobreza. Não duas. Nem cinco. A gente toma uma garrafa da pobreza. Mas não tem paparazzi. Não sou famoso de paparazzi, então não é tão estranho.

É um pouco esquisito com a minha mãe. Não gosto de gente falando com a minha mãe. Não gosto de jornalista falando com a minha mãe. Não gosto de gente deixando recado no carro dela em casa. Não gosto de gente falando com ela na igreja. Não gosto de gente falando para ela que o filho dela é Illuminati. É tipo: quem está falando isso? Minha mãe já tem mais de 60 anos e eu não consigo lidar com isso. Isso incomoda. Mas fora isso, não estou pirando.

Eric Sundermann sempre tenta gritar YUGH igual ao Pusha T mas ele sempre parece um idiota porque ele não é o Pusha T. Encontre ele no Twitter aqui - @ericsundy.