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Música

Santiago É a Incubadora do Rock Saudosista Psicodélico da América Latina

Dez bandas psicodélicas da capital chilena pra quem pira num Tame Impala.

Föllakzoid, via Facebook

Algumas cidades têm a geografia como parceira. Santiago, no Chile, fica situada em um vale cercado pelas montanhas dos Andes, com o oceano Pacífico a oeste, a um cuspe de distância. É o tipo de paisagem urbana que inspira grandes sonhos, e num país que proporciona uma das melhores experiências de observação de estrelas no mundo, é um lugar onde esses grandes sonhos parecem possíveis. Talvez seja por isso que, nos últimos cinco anos, todo adolescente que sabia fazer alguma coisa na guitarra e cresceu cultuando os discos de Hendrix acabou entrando numa banda.

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Santiago hoje abriga uma das cenas underground de música mais quentes da América do Sul. Com casas de show locais pipocando nos bairros boêmios da cidade, como Bellavista e Larrista, Santiago agora se especializa em outra coisa além de las vistas de las montañas e empanadas: rock psicodélico. Talvez seja a presença do Observatório La Silla, ao norte da cidade, perto dos limites do deserto de Atacama, que se orgulha de possuir um dos melhores pontos de observação do céu noturno em todo o mundo. Os americanos talvez pensem que a observação de estrelas foi inventada por adolescentes que se deitavam no capô do carro depois da festa de formatura, mas trata-se de um célebre passatempo chileno. Santiago tem 300 noites de céu claro por ano.

As bandas que estão surgindo dessa conjunção perfeita de história folclórica, bananas da terra temperadas e paisagens dramáticas estão modernizando os sons psicodélicos da América do Norte e da Europa do início dos anos 70. Você poderá ouvir referências claras a The 13th Floor Elevators e The Electric Prunes, rolando uma sensação de que todos esses músicos jovens e cabeludos sonharam um pouco demais na noite passada. E se vestem como eles também: com camisetas com gola em V cortada à mão e penteados zoados à lá John Lennon, eles prestam homenagem aos anos 60 e 70 de todas as maneiras possíveis. Então, da próxima vez que você estiver planejando fazer trilha na Patagônia ou uma viagem para surfar nas praias de Valparaíso, arranje tempo para dar uma parada em Santiago, porque dá pra curtir bastante essa nova onda de retrofuturistas.

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The Holydrug Couple

Os sons extáticos e com forte presença do reverberador da banda The Holydrug Couple fazem lembrar do grupo australiano de psych-rock Tame Impala. O som deles é prolixo e cheio de um groove ondulante por trás de tudo. É como se estivessem tocando em uma câmara de ecos que gira devagar à sua volta; você talvez fique tonto, mas vale a pena. Eles já tocaram duas vezes nos Estados Unidos, uma vez no Brooklyn e outra em Austin (vai entender), e a julgar pela atenção que obtiveram em ambos os shows, com certeza não demorarão a voltar.

Föllakzoid

Depois da criação da banda, em 2008, os caras do Föllakzoid logo viraram os grandes maestros do ressurgimento do psych-rock chileno. Se inspirando em predecessores chilenos dos anos 70 como Los Jaivas e Aguaturbia, eles modernizaram os sons do passado chileno, acrescentando elementos de krautrock e rock progressivo. O som deles poderia ser filho de Amon Düül II com The 13th Floor Elevators, e o mundo vira um lugar melhor com isso. O trio também fundou o selo indie chileno Blow Your Mind Records, que vem soltando pérolas em vinis prensados à mão faz cinco anos.

Trementina

O Trementina não pode ser ignorado. O noise pop experimental deles é suavizado por vocais estilo shoegaze da vocalista e guitarrista Vanessa Cea. Eles têm o mesmo som de guitarra tipo “estou pouco me fodendo, só quero tocar música” de bandas americanas como Wavves e King Tuff, mas há uma nítida qualidade sulista no jeito em que juntam os vocais com a parte instrumental. Eles citam Jesus and the Mary Chain e My Bloody Valentine como suas maiores influências, o que explica por que a música da banda oscila tantas vezes entre o maníaco e o relaxadão. Trementina, traduzido, significa “terebentina”.

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La Hell Gang

Esses caras saíram diretamente de 1971, e não estou reclamando. Doom misturado com garage rock misturado com stoner trance music vinda de Marte. São a trilha sonora perfeita para a exploração de novos planetas ou para mergulhos em profundidade, em meio a criaturas que nunca viram luz na vida, sobre as quais a BBC cria séries inteiras de documentários. La Hell Gang encontra um groove, mergulha dentro dele e nunca larga o osso, mandando ver até o fim. La Hell Gang é prova de que as bandas cover de Led Zeppelin realmente deveriam começar a recrutar talentos no Chile.

WatchOut!

Deve ter havido algumas lojas de disco de Santiago que distribuíram gratuitamente o que ficou sobrando no estoque de discos de Hendrix, The Stooges e The Monkees no início dos anos 2000. Enquanto bandas como Föllakzoid, Cindy Sisters e Acid Call explodiam na cena underground de rock em Santiago, sete anos atrás, os amigos Martin, Gonzalo e Nicolas decidiram que seria uma boa começar uma banda também. O que resultou disso foi o WatchOut!, uma banda que apanhou os melhores elementos de bandas que já faziam parte da cena chilena, e se dedicou a fazer os melhores shows ao vivo.

Lumpen & The Happy Pills

Lumpen & The Happy Pills é um sonho lúcido intenso; você tem pouco controle sobre o que está acontecendo, porque está embasbacado demais para se importar. Eles são tipo um encontro entre Radiohead e a música tema da Família Addams – com o acréscimo de umas pílulas de felicidade. Frequentemente se apresentam no espaço DIY Trip House, injetando uma nova energia na cena musical underground. Eles são os calouros do psych-rock de Santiago, tão insanos e estridentes quanto seus públicos.

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Vuelveteloca

O Vuelveteloca foi oficialmente marcado como o novo grande produto de exportação de Santiago, tendo recém-assinado contrato com a BYM Records (o equivalente chileno da Trouble in Mind Records). Esses caras são essencialmente roqueiros de garagem, com sérias vibes “cabei de vir da praia onde passei o dia inteiro surfando”. São mais melódicos que alguns de seus compadres de cena, mas isso não os torna piores. Na verdade, são os ganchos e vocais em harmonia do surf rock viajandão o que os destacam em meio a uma cena que não tem pouca gente. Com certeza, é o tipo de banda que convida o público inteiro a dar uma chegada no estacionamento depois do show para ficar de bobssss.

The Psychedelic Schafferson Jetplane

O The Psychedelic Schafferson Jetplane merece o prêmio de melhor nome de banda da qual você nunca ouviu falar. E também o prêmio de banda menos googlável desta lista. Embora já estejam por aí faz algum tempo, o disco homônimo é um dos projetos mais bizarros e ambiciosos que já ouvi. Baterias afro-caribenhas, sons de obra e gongos chineses marcam presença. Justo quando tudo parece se assentar num estilo hipnoticamente ambiente, você é destruído por um improviso nebuloso de guitarra. Esses caras são uma banda da Discogs e assunto de lendas de trolls da cena musical internética. Criaram uma obra-prima, um psych-rock noise infinito internacional.

Chicos de Nazca

O Chicos de Nazca desce contigo pelo litoral do Chile, do arrasadoramente seco deserto do Atacama, no norte, às impressionantes formações glaciais da Patagônia, no sul. Eles tocam em platôs musicais, sempre provocando o precipício, mas nunca chegando a arremessar você lá embaixo. O apelo grunge e a vibe febrilmente hipnótica dão a sensação de que eles experimentaram de tudo, e que a música deles é uma culminação dessas jornadas psicodélicas coletivas. Se você um dia for descer de moto o litoral do Chile, esses caras proporcionam a trilha sonora perfeita.

Mi Andromeda

Traduzido, o nome deles é “minha galáxia”, o que é um bom nome para uma banda mandando ver sons intergaláticos parecidos com os do The Holydrug Couple. Eles tocam com uma liberdade delirante, optando por solos de guitarra que duram cinco minutos e jam sessions que duram dez em shows ao vivo. Há um surrealismo estilo Broken Social Scene na maneira em que criam suas músicas; não temem soar ruidosos, mas equilibram isso com seus vocais shoegaze belamente sussurrados. Muitas vezes são tristes e conturbados como uma separação ruim, mas de vez em quando surpreendem entrando num modo totalmente pop. Eles transformam sua felicidade corrosiva em um atordoamento alucinatório que faz lembrar aquelas primeiras horas depois que removeram o seu siso e você não parava de perguntar à sua mãe onde é que vocês estavam.

Tradução: Marcio Stockler