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Música

Morte de Prince pode estar ligada a analgésicos, mas especialistas não excluem gripe como causa

Segundo o TMZ, o pouso de emergência que o músico fez na semana anterior à sua morte teria sido resultado de uma overdose de Percocet, mas médicos ainda veem possibilidade de morte por gripe.

Foto por Marc Ducrest/EPA

Esta matéria é parte da parceria entre MedPage Today e VICE News, onde foi originalmente publicada.

O ícone do pop Prince morreu inesperadamente no dia 21 de abril em sua casa em Minnesota, uma semana depois de seu avião fazer um pouso de emergência em Illinois. Desde então, a todo instante pipocam rumores sobre o que exatamente teria acontecido com o artista. Apesar dos representantes de Prince terem culpado um grave caso de gripe, vários relatos afirmam que analgésicos prescritos tiveram um papel importante no tal pouso forçado e no falecimento do artista de 57 anos.

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O TMZ, primeiro a noticiar da morte de Prince, disse que o pouso foi resultado de uma overdose de Percocet, uma droga que contém os analgésicos acetaminafeno e oxicodona opioide. Citando “várias fontes”, o TMZ disse que Prince foi levado às pressas para um hospital e os médicos deram a ele uma “injeção salvadora”, provavelmente uma referência à droga naloxona, que é administrada para combater os efeitos de overdose de opioide. Mas no dia seguinte ao incidente, Prince aparentemente estava se sentindo bem o suficiente para visitar uma loja de discos local e dar uma festa em sua casa.

O áudio da torre de controle do aeroporto, liberado esta semana, inclui comunicações sobre uma pessoa anônima a bordo do jato de Prince e que “não estava respondendo”, mas não diz o que teria causado o incidente. Vários veículos, incluindo o TMZ, também relataram que analgésicos prescritos foram encontrados com Prince e em sua casa quando o corpo foi descoberto, apesar de não haver uma declaração oficial sobre a relação disso com a sua morte.

Segundo vários relatos citando fontes das autoridades, agentes do DEA foram chamados para ajudar na investigação.

Mas enquanto o foco das suspeitas recai sobre os analgésicos, uma morte por gripe ainda não está inteiramente descartada.

Entre 3 mil e 49 mil pessoas morrem de gripe por ano nos EUA (o número de mortos varia dependendo da cepa da gripe que circula em determinado ano), segundo o Center for Disease Control and Prevention (CDC). Apesar da maioria das mortes por gripe envolver pessoas muito jovens, idosas ou com o sistema imunológico comprometido, o vírus pode matar até pessoas saudáveis, segundo o epidemiologista Dr. William Schaffner, presidente de medicina preventiva do Centro Médico da Vanderbilt University em Nashville, Tennessee.

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“Gripe é sim uma infecção muito, muito séria”, disse Schaffner. “Sabemos que ela causa mais do que tosse, bronquite, febre e arrepios. Ela faz o paciente sentir fraqueza, então é preciso ficar de cama. Ela evoca uma resposta inflamatória que reflete no corpo todo.”

O médico explicou que a gripe “mata de duas maneiras”. A primeira é quando o vírus se espalha para os pulmões e causa pneumonia viral, ou para a corrente sanguínea, onde ela pode viajar por todo o corpo. Também pode causar meningite (inflamação da membrana que cobre o cérebro e a espinha) ou encefalite (inflamação do cérebro), além de inflamação do músculo cardíaco, uma condição conhecida como miocardite. Tudo isso pode ser fatal.

O segundo jeito, segundo o epidemiologista, é que o vírus pode ocupar o sistema imunológico de tal forma que bactérias que ocorrem naturalmente na garganta se espalham sem controle, causando pneumonia bacterial, que é muito mais comum que pneumonia viral.

Prince teriawalking pneumonia” [pneumonia galopante, numa tradução livre], um termo não oficial usado para descrever um caso brando da doença.

Pais costumam levar os filhos com gripe correndo para o médico, mas adultos geralmente esperam de quatro a cinco dias para procurar ajuda quando ficam doentes, optando por “tentar aguentar”, disse Schaffner. Essa demora piora a doença.

“O problema é mais grave quando você está tendo dificuldade para respirar e tossindo coisas amareladas ou esverdeadas. Você tem febre e calafrios e fica se sentindo muito mal”, ele disse. “Isso é uma circunstância ruim. Você precisa ver um médico.”

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Apesar dos relatos sobre Prince e analgésicos serem apenas rumores no momento, Schaffner diz que certos analgésicos podem piorar a gripe. Codeína já foi usada regularmente para tratar a tosse, porque analgésicos meio que dizem ao cérebro e ao corpo que não é preciso tossir. Mas isso pode trazer complicações sérias para a gripe.

“Se você suprime a tosse, diminui a chance de expelir o catarro prejudicial”, diz Schaffner. “Ele fica nos seus tubos bronquiais e causa uma predisposição para pneumonia.”

O Dr. Robert Glatter, falando pelo American College of Emergency Physicians, disse que a gripe também pode desencadear uma reação imune em pessoas saudáveis chamada “tempestade de citocina”, em que o sistema imunológico entra em marcha acelerada, fazendo a pressão sanguínea despencar. Isso geralmente acontece em questão de horas.

Mas como médico da emergência, ele já viu diversas mortes relacionadas a opioides. Drogas como o Percocet suprimem o sistema nervoso central, desacelerando a respiração e a resposta do cérebro ao dióxido de carbono.

“Alguém que usa essa medicação pode basicamente parar de respirar”, disse Glatter. “Combinando isso como álcool e benzodiazepinas [uma classe de drogas que inclui medicamentos para ansiedade, como Xanax], você vai ter problemas.”

Apesar de Prince ter ganho a reputação de festeiro sem limites durante os anos 80, pessoas próximas dele, incluindo seu advogado e um ex-segurança pessoal, insistiram que ele não bebia ou abusava de drogas. O músico se tornou testemunha de Jeová mais tarde na vida, uma religião que desencoraja fortemente o abuso de álcool.

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Mas outros, incluindo a ex-noiva de Prince e colaboradora Sheila E., disseram que Prince estava “com dor o tempo todo”, resultado do desgaste no quadril e joelhos depois de anos pulando do palco com botas de salto alto. O site de celebridades Entertainment Tonight citou uma fonte anônima dizendo que Prince “tinha um problema” com Percocet, que ele teria começado a tomar depois de uma cirurgia de substituição de quadril em 2010.

Glatter disse que mesmo remédios para dormir e Benadryl podem agravar os efeitos perigosos dos opioides, e apontou que médicos e pacientes precisam ser francos sobre os riscos dos opioides, e a necessidade de remédios de compensação e apoio no caso de um paciente se tornar viciado.

“É uma das coisas que me vem à cabeça quando veja um registro que diz overdose e opiáceos: sempre considero o uso de vários medicamentos”, ele diz.

Em janeiro, a CDC anunciou que os EUA estão passando por uma epidemia de mortes por overdose de drogas. Segundo os últimos dados da Substance Abuse and Mental Health Services Administration, 1,9 milhão de americanos têm transtornou de abuso de substâncias envolvendo analgésicos prescritos. Entre 2013 e 2014, as mortes por opioides prescritos aumentou 16%, indo para 18.893 mortes por ano.

“Acho que muitas pessoas ficaram surpresas com essa notícia”, ele disse. “Muita gente não entende como esses medicamentos são perigosos. Como ele foi prescrito, se acha que o medicamento é completamente seguro. Um equívoco comum dos pacientes.”

A autoridade médica do Minnesota conduziu a autópsia de Prince um dia depois que seu corpo foi descoberto, mas os resultados foram inconclusivos. Um relatório completo, que incluiria testes toxicológicos, poderia “levar semanas”, segundo um comunicado à imprensa do legista.

Siga a Sydney Lupkin no Twitter: @slupkin

Tradução: Marina Schnoor