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Música

Por que o Legado de ‘Quase Famosos’ Nunca Vai Morrer (Uma Dica: as Roupas)

Os anos 70 eram o melhor momento para se ter uma banda porque as turnês eram feitas na estrada e, mesmo não rendendo tanta grana, o rock n' roll era estiloso pra cacete.

A melhor época para estar numa banda? Os anos 70, definitivamente. Claro, as bandas na maioria das vezes faziam turnês de ônibus e não de avião, e os artistas ainda não ganhavam tanto dinheiro quanto ganhariam nos dias de sonho dos anos 80 e 90. Mas tinha muito álcool, bocas de sino enormes e o doce começo dos excessos do rock'n'roll.

Quase Famosos é ambientado em 1973, quando Bowie ainda usava glitter, o Led Zeppelin era a maior banda do mundo e Cameron Crowe (roteirista e diretor do filme), aos 15 anos, ligou para a Rolling Stone fazendo uma voz grossa e conseguiu seu primeiro trabalho como jornalista. O filme é baseado nas experiências de Crowe na indústria da música quando era um adolescente de rosto angelical sentado em ônibus de turnê ao lado de Bebe Buell, modelo, cantora e namorada de uma miríade de superstars, incluindo Elvis Costello, Mick Jagger, Iggy Pop, Todd Rundgren e, mais notavelmente, Steven Tyler. Sem ela, não teríamos a filha dele, Liv, ou AQUELE videoclipe do Aerosmith, então agradeça a Deus que esses dois ficaram juntos. Faz sentido que, enquanto Crowe escrevia o seu roteiro autobiográfico, ele tenha baseado o papel de Penny Lane (interpretada perfeitamente por Kate Hudson), ao menos em parte, em Buell.

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A versão de Crowe, de 1973, parece um pouco mais branda que outros relatos do período - talvez porque nós o vejamos através dos olhos de um virgem inocente. Claro, vemos um pouco do "Riot" Hyatt Hotel, em Los Angeles, garotas sem camisa enroladas em peles e drogas alucinógenas, mas é tudo bem suave. Por exemplo, as tais drogas são ingeridas em uma festa adolescente de subúrbio pelo guitarrista principal da banda fictícia depois de ele ter uma crise de autoconfiança. Usando esse calção de banho.

Isto não é carne de tubarão ou orgias. Mas tudo bem, assista a Gimmie Shelter ou Sid e Nancy para uma visão mais crua deste mundo glorioso, mas politicamente incorreto ao extremo. Em vez disso, Crowe oferece uma versão mais doce – um adolescente se apaixonando duas vezes, a primeira delas pela música, e depois por uma garota – e uma dissecação do que é estar em uma banda de rock que nem sempre está feliz com a sua posição nas paradas, porque a sua posição não é boa o suficiente para colocá-la na capa da Rolling Stone.

Mas o filme não é só sobre música (embora ela tenha rendido um Grammy de Melhor Compilação de Trilha Sonora a Quase Famosos). Também é, na mesma medida, sobre as roupas e todas as tendências de moda fascinantes da década: cores sóbrias, sapatos de plataforma, camurça. E em Los Angeles o esquema era muitas franjas, peles, batas e cultivar cabelos longos, grandes e naturais.

Já que os anos 70 voltaram à moda com força total, beirando a saturação nos looks de festivais, e com designers das passarelas como Prada, Louis Vuitton e Marni dando um toque moderno ao estilo da década para o outono de 2014, que hora seria melhor para falar sobre o guarda-roupa icônico de Quase Famosos?

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PENNY LANE

Penny Lane não é uma groupie. Ela é uma "band aid": uma jovem mulher que age como uma musa. Penny faz de sua missão ser a inspiração viva para canções de rock. No começo do filme, enquanto introduz William (o personagem de Crowe) ao seu mundo, ela dá um conselho a ele: "Eu sempre falo para as meninas, nunca leve isso a sério. Se você nunca leva isso a sério, você nunca se machuca, se você nunca se machuca, você sempre se diverte, e se em algum momento você se sentir sozinho, é só ir até a loja de discos visitar os seus amigos". Infelizmente, às vezes, é difícil seguir seus próprios conselhos.

O estilo da Penny é relaxado e boho, ela é a garota que essencialmente toda minazinha no Coachella está tentando emular. A Free People é uma marca que se baseou totalmente nas roupas desta mulher. A maioria das roupas dela é bordada, até as botas. Ela usa tops de renda por baixo de casacos pesados de camurça, jeans é o melhor amigo dela, e o seu cabelo está sempre solto e cacheado. Ela usa até óculos escuros à noite.

Já que ela está sempre na estrada com as bandas, Penny usa uma velha maleta de pescaria (vista acima) para guardar sua maquiagem. Até onde sei, esta é uma tendência que se tornou bastante popular nos anos 70. Tanto que, quando o pessoal da Plano Molding viu uma foto na revista People da apresentadora da Roda da Fortuna, Vanna White, usando uma maleta de pescaria para guardar sua maquiagem, decidiu criar uma marca especializada, a Caboodles, e começou a fazer frasqueiras inspiradas nas tais maletas de pesca. Eu tenho uma dos anos 80 e ela é incrível.

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Viu só, shorts jeans (embora o dela cubra as nádegas), ah, e crop tops (como andam chamando as miniblusas hoje em dia).

A roupa da Penny que eu mais gosto só pode ser esta: uma saia de camurça marrom com bata, usada com os pés descalços e uma rosa na mão dela. Ela rodopia sobre papel crepom depois do show, e todos nós nos apaixonamos por ela.

É claro, assim como muitos outros que parecem despreocupados e relaxados, Penny é na verdade uma criatura caótica e frágil, mas ela sempre dá uma de durona. Ela é agridoce. Ela é Joni Mitchell cantando "River" – o que só torna a maneira como ela reage ao tratamento que recebe do homem que ama ainda mais comovente. Esta é uma mulher que, quando descobre que ele a vendeu para outra banda por 50 dólares e uma caixa de cerveja, enxuga uma lágrima, sorri e pergunta: "Que tipo de cerveja?".

Quero dizer, sim, claro, depois ela aparece no mesmo bar onde a banda está, em Nova York, fica chateada, ingere um coquetel nojento de álcool e Quaaludes e depois tem que receber uma lavagem gástrica do médico do hotel. Mas quem liga? Certamente William, que olha espantado, enquanto "My Cherie Amour", do Stevie Wonder, toca no rádio dentro da cabeça dele. Você pode culpá-lo? Olhe como ela foi incrível durante toda essa viagem triste.

O vestido é bordado, claro, e as botas também. Preciso dos dois.

A melhor coisa da Penny é o quanto ela faz todo mundo ao redor dela se sentir bem. Ela cuida de William. Ela dá a ele óculos enormes e oferece conselhos sobre como falar com os membros mais fechados da banda – enquanto dá uma mijada, usando um chapéu de pele gigante.

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Ah, e esta garota pode começar a cantar "Tiny Dancer" em um ônibus, mesmo quando todos estão seriamente putos uns com os outros.

Ao final do filme, Penny está mudada. Ela percebe que não é mais feliz sendo uma musa, então faz as malas e vai para o Marrocos, usando um look que deixaria o viajante mais glamuroso envergonhado. Os Allman Brothers explicam isso melhor, só tem "One Way Out".

Te amamos, Penny.

RUSSELL HAMMOND E JEFF BEBE

Eu ia analisar esses dois separadamente, mas como você pode separar uma dupla de compositores? E esses caras se encaixam perfeitamente na dinâmica das parcerias musicais: eles são Lennon e McCartney, Plant e Page, Jagger e Richards. Bebe, em um estilo típico de vocalista, é barulhento, carismático e ardente de aprovação. Ele se sente frustrado, com uma pontada de inveja, e está infinitamente desapontado que nunca será tão evasivo ou misterioso, e portanto tão interessante quanto Russell Hammond. Porque o único jeito de ser assim é não ligar a mínima, e Bebe liga demais. Isto o leva a um comportamento vergonhosamente mesquinho – ele fica furioso quando um acidente com a impressão das camisetas da banda coloca apenas Hammond em evidência, e isto só reforça todas as suas inseguranças fúteis sobre como ele é percebido em comparação ao guitarrista principal do Stillwater.

Mas talvez a maior derrota de Bebe seja a sua ânsia incontrolável de vomitar hipérboles intermináveis sobre a natureza de ser um rock star: "O rock'n'roll é um estilo de vida e um jeito de pensar… e não é sobre dinheiro e popularidade. Apesar que algum dinheiro seria bom. Mas é uma voz que diz: 'Aqui estou eu, e foda-se se você não consegue me entender'. E uma dessas pessoas vai salvar o mundo. E isso significa que o rock'n'roll pode salvar o mundo… Todos nós juntos. E as garotas são ótimas. Mas no fim, tudo se resume àquela coisa. A coisa indefinível quando as pessoas percebem algo na sua música". Grande erro, Jeff, todo mundo sabe que o melhor membro da banda é aquele que nunca fala. Neste caso, Hammond.

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Quero dizer, Bebe é um homem que usa uma camiseta estampada com a porra da cara dele.

Enquanto Hammond usa esta jaqueta esportiva de seda incrível.

Hammond é uma estrela relutante. Ele também quer ser aceito, mas quer que isso aconteça nos seus próprios termos, nomeadamente, sendo reconhecido como bom músico, de credibilidade. Ele confia em poucas pessoas e fala com menos pessoas ainda. Ele é bonito e quieto, então quando ele decide que gosta de você e dá a você uma visão da sua psique e do seu senso de humor, você se sente a pessoa mais sortuda do mundo. Mas, assim como acontece com muito tipos quietos e acabrunhados, ele na verdade é meio que um cretino. Como é fácil confundir silêncio com uma incrível personalidade secreta – *cof*, Jordan Catalano. Ele vende a Penny Lane, pelo amor de Deus. E ele é casado.

A música da Stillwater é típica dos anos 70. Solos fodões, referências à espiritualidade e animais nas letras, reflexões filosóficas sobre o que é ser Um Homem. Vocais anasalados, bateria espalhafatosa, amar FEBRILMENTE. Isso deve envolver bastante suor. As influências e colegas (Yes, Lynyrd Skynyrd) a quem eles fazem referência abertamente são a carta na manga deles – mangas longas, estilo boca de sino, em camisas de botão que parecem muito quentes para o palco no meio do verão.

Apesar que, quem liga para isso quando tem um cinto de rebites gigante desses?

Ah, e camisas. Esses caras têm camisas incríveis: de flanela, florais, finas. Todos os F.

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Sabe, Russell e Penny foram feitos um para o outro porque os dois gostam de bordados.

Em uma ocasião, Russel usa uma jaqueta roxa de veludo. Lembra do Prince?

LARRY FELLOWS

Eu seria negligente se não falasse da performance e da grande pessoa, no geral, que é o Mark Kozelek, que é um excelente músico na vida real e interpreta o baixista caladão da banda, Larry. Kozelek, do Sun Kil Moon e do Red House Painters, é conhecido pelas suas letras altamente pessoais, muitas vezes autobiográficas – ele meio que compartilha demais a vida. Ele também é tipo um especialista quando se trata de rearranjar as músicas dos outros. Em 2000, no mesmo ano em que este filme saiu, ele lançou um EP com covers de faixas do AC/DC, reinventadas como lindas baladas acústicas. Então ele é o complemento perfeito para o elenco, já que é claramente um fã de rock'n'roll, mas também pode revelar os seus lados mais suaves. Além disso, ele sabe como é estar na estrada. Minha frase favorita do Larry?

William: Larry Fellows, como você descreveria o seu papel no Stillwater? Qual é o elemento químico que você adiciona à química?

Larry Fellows: "Sou o baixista"

William: "Certo. E se você tirasse isso, o que faltaria, estilisticamente? Que elemento químico?"

Larry Fellows: "Um baixo?"

Juntos, Larry, Russell e Jeff são as estrelas do Stillwater (desculpa, baterista), e em nenhum outro momento eles parecem tão bonitos quanto quando estão no banco de trás de um táxi, passando em cima da ponte e entrando em Manhattan, com as suas jaquetas e óculos de sol combinando perfeitamente com o reflexo do amanhecer.

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Larry usa muitas camisetas, mas ele também não tem medo de um colete de couro.

POLEXIA APHRODISIA, SAPPHIRE E ESTRELLA STARR

Não acho que esses sejam os nomes verdadeiros delas. Essas três meninas são as outras "band aids", amigas da Penny, e mulheres fodonas por seu próprio mérito. Estrella lê auras, Polexia analisa jogos amorosos e Sapphire dá de cara com uma parede – além de ter o melhor guarda-roupa de todos os tempos. Essas também são as mulheres que roubam a virgindade de William – um roubo que o deixou bastante contente. O momento acontece em uma bela montagem em slow motion, com lenços e uma cueca branca imaculada, ao som de um violão (aparentemente, Crowe perdeu sua virgindade de forma parecida: Steely Dan estava tocando na televisão).

Mas, de qualquer forma, as roupas de Sapphire. Ela usa muito crochê, renda preta, pele multicolorida, tranças adornadas com penas, calças boca de sino e chapéus de caubói. Ela é o Keith Richards das Band Aids.

Polexia e Estrella têm um guarda-roupa mais parecido com o da Penny Lane. Mas Polexia usa mais rosa e estampas florais, e Estrella tem uma vibe bruxa pagã do bem. Elas me lembram muito a Daisy Lowe e a Florence Welch, e para sustentar a minha argumentação, devo mencionar algo que a Alexa Chung disse recentemente em uma entrevista: "Outro dia eu esbarrei na Florence (Welch) e na Daisy (Lowe), que estavam hospedadas no Bowery Hotel. Era domingo e eu tinha que pegar uns arquivos no dia seguinte, então estava com o meu laptop. Subimos para o quarto delas, e a Florence começa a cantar e a jogar lenços sobre as luminárias, Daisy tira a roupa e fica só de calcinha e sutiã e eu fico enrolada num suéter, fumando um cigarro na frente do laptop. Não estávamos fazendo nada específico, só estávamos sendo nós. Estou tentando pegar mais trabalho, adiantar coisas, Daisy está flutuando ao redor, sensualizando, e Florence só está cantando". Viu só? A influência dessas garotas boêmias das bandas dos anos 70 nunca acabou.

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Mas, de qualquer forma, de volta às originais. Elas gostavam de quimonos, renda, robes e outras roupas íntimas.

As mulheres da vida real que rodaram o país com as bandas nos anos 70 sem dúvida inspiraram muitas canções. A própria Buell, diz-se, foi catalisadora de várias faixas de Armed Forces, de Elvis Costello, e é claro, Chester French fez uma música sobre ela. Depois de assistir a este filme muitas e muitas vezes, não posso escutar "Feel Flows", dos Beach Boys, sem pensar nelas.

WILLIAM MILLER

Ele nunca vai ser um ícone de estilo. Apesar que ele é bem normcore, então talvez eu esteja errada. O estilo do William é simples. Ele é um jornalista a trabalho. Ele não está tentando impressionar ninguém com as roupas dele. Conforto e praticidade são as coisas mais importantes para o adolescente mentindo sua idade e perdendo a sua graduação do Ensino Médio para seguir uma banda ao redor do país. Então isso significa camisas por cima de camisetas, jeans, uma bolsa transversal e um olhar desorientado.

É claro que o cérebro dele é que é o mais importante, o seu talento para escrever e o jeito de fazer as pessoas se revelarem. O que é algo em que, sabe-se, Crowe era um mestre: ele conseguiu entrevistas com Joni Mitchell, Jimmy Page e Neil Young quando ninguém mais conseguia. Na verdade, quando ele falou com Young, eles conversaram por tanto tempo que acabaram as fitas dele, então Young deu a ele algumas das demos dele para gravar em cima para que eles continuassem falando. Este garoto é mágico. Ele é "That's The Way", do Zeppelin, ele é "Sparks", do The Who, mas ele também é Alvin e os Esquilos.

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Tenho que encerrar com uma menção especial a alguns dos atores no filme que tiveram papéis pequenos, mas agora são grandes estrelas da TV. Além disso, as roupas deles são de cair o queixo.

ZOOEY DESCHANEL

Antes d'A Franja.

RAINN WILSON

JIMMY FALLON

ERIC STONESTREET

“Tomamos todo tipo de pílulas que nos dão todo tipo de sensações, mas a sensação que não conhecemos é aquela que você sente quando a sua foto aparece na capa da Rolling Stone”.

Elizabeth Sankey é especialista em Quase Famosos. Ela está no Twitter - @sankles.

Tradução: Fernanda Botta