FYI.

This story is over 5 years old.

Música

O Salve Geral do PCC dado pela música

Os "cinco dias de terror" promovidos pelo PCC aterrorizaram São Paulo em 2006 e renderam funks e raps em apologia à facção.

Há dez anos, São Paulo parou. Pânico na Zona Sul. Pânico em SP. Caos mental geral. Na noite de 12 de maio de 2006, sexta-feira, a maior organização criminosa da história do Brasil, o PCC, pôs em prática um ataque simultâneo a dezenas de alvos pela cidade e motins por cadeias em todo o estado. 59 agentes policiais foram mortos. A retaliação veio com força total, de farda ou capuz, e, nos dias seguintes, centenas de civis morreram por arma de fogo. Este bangue-bangue urbano moderno virou São Paulo do avesso, e, guardadas as devidas proporções, deixou uma marca profunda na psiquê coletiva da cidade, à lá 11 de setembro. Aproveitamos a ocasião de uma década dos Crimes de Maio para relembrar, com uma série de matérias em todos os nossos sites, a fatídica semana, um trauma social que até hoje tem imensa influência na sociedade paulista, das favelas ao Jardins, passando pelo Palácio dos Bandeirantes.

Publicidade

O rapper Cascão. Reprodução do Youtube.

Por retratarem o dia a dia das periferias do Brasil, o funk e o rap sempre foram honestos na hora de falar sobre o crime, a violência policial e o tráfico de drogas. A partir dos anos 1990, surge um tipo específico de funk que fazia apologia a facções criminosas no Rio de Janeiro, que viemos chamar de "proibidão". Quem conta essa história melhor é o antropólogo paraibano Hermano Vianna que, no seu livro Mundo Funk Carioca, explica como esse gênero do funk começou a ser feito depois que os bailes tiveram que migrar "do asfalto" (ou seja, em clubes fora da comunidade) para dentro das favelas, por causa da proibição do poder público carioca, que alegou que essas festas traziam "muita violência" pro centro da cidade.

Basicamente, foi assim: para que os bailes funks pudessem rolar dentro da quebrada, os funkeiros precisavam da "bênção" dos criminosos que comandavam determinada favela. Por isso, eles começaram a fazer músicas com letras que exaltavam facção x ou y, dependendo do local onde estavam tocando — funcionando meio que como uma "troca" de favores entre MC's e traficantes.

Esse esquema carioca foi copiado no estado de São Paulo logo depois que o funk começou a chegar na Baixada Santista, no final década de 90. E mesmo antes de 2006, já rolavam raps e funks que abordavam criminalidade, tráfico e até exaltavam algumas facções criminosas — principalmente porque no começo dos anos 2000 foi a época em que o proibidão estave "mais em alta". Então, era meio óbvio que, depois dos "Cinco Dias de Terror" promovidos pelo Primeiro Comando da Capital (PCC) em maio de 2006, iriam surgir uma porrada de músicas que ou relataram o ocorrido ou que faziam apologia direta ao PCC.

Publicidade

Dentro da imensa variedade de músicas que fazem referências ao PCC/Salve Geral, selecionamos oito que têm referências diretas e explícitas aos ataques de maio de 2006. Ouça abaixo:

MC Keké e NB - “Cinco Dias de Terror” (“Quem Manda é o PCC")

Assim como em muitas das músicas, o muleques da Baixada Santista MC Keké e MC NB chamam a série de ataques de "cinco dias de terror": "Cinco dias de terror/ Que o Brasil parou pra ver/ Quem manda/Quem manda/ Quem manda é o PCC".

MC Zóio de Gato - “Primeiro Comando”

O menino do Grajaú (zona Sul de São Paulo) Dener Antonio Sena da Silva, mais conhecido como MC Zóio de Gato, se pá foi o funkeiro paulistano que ficou mais famoso cantando funk apologia ao PCC. Morto aos 16 anos por causa de um acidente de carro, Zói foi autor do proibidão "1º Comando", faixa na qual dizia: "Foi cico dias de terror/ que a Zona Sul tremeu/ Quem abalou a Zona Sul foi o Bonde do Zebedeu".

MC Daleste - “É Só Bala de AK”:

O MC Daleste também foi um dos principais MC's a engrenar no funk apologia/ostentação em terras paulistanas. Morto em 2013 durante um show em Campinas, Daleste, antes de fazer "O Gigante Acordou", tinha feito "É Só Bala de AK", faixa na qual chama o Salve Geral de 2006 de "ataque soviético contra a opressão": "Foi cinco dias de terror que o Brasil parou pra ver/ Provado veneno sentiu desespero porque a penha é o poder".

MC Keké - "É o Menor"

Mais uma do Keké: "Nos 5 dia de terror tipo Afeganistão fechamo as loja/ Colocamo fogo lá nos buzão sem atingir os inocentes/ Aqui não tem covarde a nossa guerra todos sabem e contra as autoridade".

Trilha Sonora do Gueto - “Fala Que É Nóis”

No rap paulistano, o Trilha Sonora do Gueto, liderado pelo rapper Cascão, foi o principal grupo a mandar um salve ao PCC nas suas músicas, como em "Fala que É Nóis", de 2012: "Os atentado é pra mostrar que o comando é de verdade/O sistema tá ligado que o comando tá crescendo/Que a cada dia mais armado, nóis não tá podendo/Se cansamo de ficar vendo a polícia matar".

Cascão - W2 Proibida

Já em 2015, o Cascão lançou "W2 Proibida", agora salve geral encomendada pela própria facção, segundo disse o rapper em uma entrevista à Carta Capital.

MC Primo - PCC Contra Ataca

MC Primo foi mais um dos nomes do proibidão da Baixada Santista. Assassinado em 2013, o funkeiro que tinha então 32 anos fazia funk sobre a criminalidade em São Vicente, sua cidade natal, e faz apologia à facção criminosa em "PCC Contra Ataca".

Publicidade

MC Tartaruga - Salve Geral

"As favela fica alaerta com o Salve Geral/Nos quatro cantos do Brasil, foi manchete nacional", canta o carioca MC Tartaruga no seu salve geral ao PCC.

MC BR da 28 - Sou CV sou PCC

O MC BR da 28 foi mais um carioca a fazer funk sobre a união entre Comando Vermelho (facção criminosa do Rio de Janeiro) com o PCC.

Siga o Noisey nas redes: Facebook | SoundCloud | Twitter