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Música

O Nickelback Está Sendo Escroto com os Próprios Fãs no Clipe de “Get 'Em Up”?

Os fãs de Nickelback já não sofrem o suficiente?

Foto via Facebook do Nickelback

O Nickelback é uma banda do tipo ame ou odeie com força, muita força – isso não é novidade para ninguém, e não é novidade desde que o primeiro single deles, a adocicada “How You Remind Me”, disparou nos rankings como um míssil russo. Eles construíram toda uma carreira com base na premissa de que são iguaizinhos a você, cara; camaradas que pegam no batente e gostam de cerveja, mulher bonita, piadas sujas e clichês fáceis. Construíram um império dourado em cima das costas dos bêbados da classe trabalhadora, de ouvintes das rádios do meião dos Estados Unidos, e dos véios gente boa que procuram imitar, na estética, se não na prática.

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A imagem deles é quintessencialmente americana também: apesar da cidadania canadense e da criação em cidadezinha do interior, o Nickelback constantemente busca lugares comuns robustos que tenham as cores da bandeira americana, como cavalos, caminhões e Hollywood. Tomam para si elementos da música country mainstream, do classic rock, do grunge (embora só Deus saiba o que Kurt Cobain acharia da misoginia grosseira de "Something in Your Mouth"). Como nosso estimado colega Drew Millard já observou, Chad Kroeger e seus parças montaram o coquetel perfeito para consumo nas rádios. Uma parcela ávida e gigantesca da América – 19 milhões e crescendo, isso só no Facebook – o tomam com a avidez de um bebê nas tetas da mãe; portanto, o Nickelback continua seguindo em frente.

Continua abaixo…

Eles lançaram recentemente o clipe da faixa “Get 'Em Up”, e embora a música seja tão simples e grudenta e tão impregnada de bravatas de machão quanto tudo o que eles já fizeram, o vídeo me fez parar pra pensar. Como explica Kroeger, o conceito do clipe é, em tese, despretensioso, divertido até: dois caras, um plano, um banco, um final infeliz. Ele cita Jogos, Trapaças e Dois Canos Fumegantes, e ri de si mesmo por sonhar com roubos a banco quando era jovem e estúpido. A história é simples – dois caipiras imbecis e sem um puto no bolso paramentados com camisas de mangas cortadas e jeans Wrangler planejam roubar um banco, treinam suas habilidades pistoleiras perto do trailer fodido em que moram, saem para cumprir o objetivo, descobrem que o banco não abre aos domingos, e são presos por dois policiais que estão ali de bobeira. Não chega a ser Tarantino, mas pelo menos há uma máscara de palhaço.

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Assistindo ao clipe, porém, tem-se a nítida impressão de que o Nickelback está, de maneira não muito sutil, cagando na cabeça do seu público. Ao fazer um vídeo caçoando dos estereótipos dos americanos de classe baixa eles estão, por consequência, caçoando da sua própria base de fãs. É claro que nem todos os fãs do Nickelback são bocós, mas uma parcela gigantesca do seu público é composta de gente hétero e branca que só completou o segundo grau, trabalha como vendedor ou caixas de lojas, ouve rádio, e se identifica com letras sobre cair na farra, encher a cara, e, às vezes, sobre o amor. Eles não mexem com o Spotify e estão pouco se fodendo para o Tidal; só querem aumentar o volume do rádio e ouvir um pouco de rock enquanto vão de carro para o trabalho.

Ao ridicularizar as pessoas que parecem se encaixar perfeitamente nessa imagem a banda está, basicamente, rindo da cara das pessoas que compram seus CDs. Eles estão dizendo: “Ei, vejam só esses jecas desmiolados que não conseguem nem roubar um banco!”, mostrando-os já prontos para serem zoados, com o trailer, a roupa de flanela e a namorada genericamente gostosa e indiferente. Ou estão tentando descer ao nível do público, tipo: “Ei, cara, a gente também não tem muito miolo, estamos todos no mesmo barco, deixa eu te pagar uma breja”, como se a própria banda não estivesse gerando uma renda de literalmente milhões de dólares, tirados diretamente dos habitantes do meião dos Estados Unidos cuja cara estão zoando. Seja como for: que merda.

Estou analisando demais? Provável. Mas sei que, se uma banda com a qual eu realmente me importasse – ou, ao menos, da qual gostasse o bastante para gastar grana com ela – fizesse um clipe retratando a minha pessoa e o resto do seu público como um bando de capiaus espalhafatosos e abilolados, eu ficaria um tanto puta. E, sério, a situação já não está difícil o bastante para os fãs do Nickelback? A última coisa de que precisam é a própria banda se voltar contra eles.

Kim Kelly nunca esperou dedicar tanto tempo assim a pensar sobre o Nickelback, nem aqui, nem no Twitter: @grimkim

Tradução: Marcio Stockler