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Música

Os Caras do JJ Estão Dando uma Festa Triste Porém Divertida No Meio do Nada

Suas reinvenções e interpolações de músicas de hip hop anteciparam uma onda de produtores caseiros com obras similares. Em vários sentidos, estavam à frente de seu tempo.

Foto por Antonia Sehlstedt

Há cinco anos, o duo sueco JJ chegou aos EUA trazido pelos ventos do hype, oferecendo uma fusão onírica do synth pop à la Ibiza que dominava o mundo do indie rock junto do hip-hop e R&B com autotune que dominava as rádios. Ao comunicar-se com uma linguagem e estética diferenciadas que não davam destaque algum aos seus integrantes, eles conseguiram uma reputação – de acordo com os mesmos, não tão merecida assim – de misteriosos. Suas reinvenções e interpolações de músicas de hip hop anteciparam uma onda de produtores caseiros com obras similares. Em vários sentidos, estavam à frente de seu tempo.

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Mas o se tempo alcançou o JJ de alguma forma, isso só revela a oferta unicamente idiossincrática de sua música, e seu mais novo disco, V, é ao mesmo um entrincheiramento e uma expansão do universo levemente bizarro da dupla. O álbum combina influências de hip hop, new age, e indie rock e as coloca bem longe de seus contextos originais. Nem sempre funciona – estávamos bem sem alguns vocais zoados chegarem da Suécia – mas praticamente todas as músicas tem seus momentos. Vozes agudas vibram, solos de guitarra explodem do nada, e o autotune dobra fraseados familiares de novas formas.

Gravado ao longo dos últimos sete anos, parcialmente entre outros lançamentos do JJ, V se vale de muitos dos truques já utilizados pela dupla: músicas que se constroem sobre arpejos lentos e metódicos; vocais agudos e esticados; a interpolação de letras de rap – incluindo aí uma interpolação de Drake interpolando “It’s My Party” de Leslie Gore, um excelente indicador do quão fundo vai o buraco de desorientação deste disco. Ele também dá jeito de atordoar, e há uma sensação de plenitude que não existia em lançamentos anteriores da dupla, que podem dar a ideia quase de que eles foram suspensos no tempo, deleitando-se em belas ideias. V é uma espécie de conclusão, de acordo com Elin Kastlander, uma das metades do JJ, com quem conversei via Skype recentemente.

Pronunciado como a letra e não um numeral romano, V é, pelo que entendi, a mais clara expressão do duo até então – o V, incidentalmente, não só significa cinco (este é o quinto projeto numerado deles), mas também vegetarianismo e Vallentuna, a cidadezinha próxima de Estocolmo onde ela e seu colaborador Joakim Benon cresceram e a qual retornaram há pouco. Elin e eu falamos sobre a influência de ouvir T-Pain em um ambiente mais rural, amadurecer, e como lidar com corações partidos – todos temas explorados em V.

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Houveram experiências específicas com você nos últimos anos que deram o tom do disco?
Corações partidos sempre são um ponto de partida. Talvez seja aquela sensação de que você não está ficando mais feliz com o passar dos anos. [Risos]. Não sei. É só que quando tudo vai bem, eu gosto. E quando está tudo é triste, se fica muito triste.

Como o JJ começou?
Acho que nós compreendemos que deveríamos trabalhar juntos, e sempre nos ouvíamos aqui pela cidade. Digo, tem muita gente fazendo música aqui.

Só começamos a trabalhar juntos. Havia um centro para a juventude aqui, com estúdio e locais para ensaiar. Simplesmente começamos a frequentar lá e gravar e experimentar com coisas diferentes.

Desde o início vocês já sabiam como queriam que a música soasse?
Só aconteceu, eu acho. Penso que o Joakim que é o cara com as ambições. Acho que isso rolou porque antes disso só tocamos em bandas punks, então buscávamos algo diferente, suponho.

Quanto de pop americano vocês ouviram? Como começaram a trabalhar em cima de covers deste tipo de música?
Sempre fui uma grande fã de covers, mas não sei. Joakim me mostrou umas músicas e tal, achei tudo bacana. Daí começamos a fazer isso, acho. Daí ele me mostrou algo de hip hop, que era um lance que eu não ouvia até então, acho que tudo isso me inspirou muito.

O que tinha naquilo que era inspirador pra você?
Era uma espécie de novo punk, creio. Havia algo naquela expressão que refletia a música.

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Você lembra se houve um artista um ou faixa específica que te fez se sentir desse jeito?
Sou uma grande fã de Akon e T-Pain, amo eles mesmo. Eles soam muito libertos, mas acho que o bicho pegou mesmo com Biggie em “Suicidal Thoughts”.

Muita gente curte hip hop por ser música de festa, mas vocês pegam nesse lado mais deprê dele.
É, acho que sim. Nunca pensei nisso. Acho que depende de quando você ouve a música e seu estado mental. Mas T-Pain ou similares, dá até pra chorar junto, parece a coisa mais triste que já ouvi na vida. E então posso ouvir quando tô tocando como DJ ou o que for, e é tudo super divertido. Não sei qual que é, mesmo.

Há alguma música em V que você ache que tenha essas duas características?
Tenho que mencionar “All Ways, Always”. Acho que consigo farrear ouvindo qualquer coisa, então citaria todas as músicas, mas o novo single acho que tem essa pegada. Consigo dançar e chorar com ela, então é perfeita.

Acho que alguns dos artistas que inspiram vocês, como T-Pain e tal, não são vistos pelo público como honestos ou sinceros, então acho massa que vocês conseguem reconhecer o núcleo emocional de algumas destas músicas.
Muita gente não consegue ver músicos como pessoas, e isso é muito idiota porque, bem, eles são. Nós somos – se você nos considera músicos – então acho que as pessoas não ligam mesmo. Elas só querem ter algo pra falar, tipo, não sei se você ouviu Yung Lean e Sad Boys.

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Ah sim.
É o mesmo com eles. Eu adoro. É incrível e não sei porque. Eles simplesmente usam bem aquele meio de expressão e letras e tudo mais, acho que é esse o porquê.

Quando você diz que muitas das músicas são inspiradas por amor e corações partidos, há pessoas específicas de quem estas músicas tratam?
Bem, tem uma pessoa. Quer dizer, foi alguém pro Joakim também, mas tem mais a ver com amizades e tal, mas acho que é o meu ex.

Quando você fala de amizades, imagino que enquanto amadurecemos, e todos amadurecemos, nossas atitudes ou nossos relacionamentos com nossos amigos e atitudes perante a amizade mudam. Por que mudanças você passou nesse período?
É mais que todo mundo vive se mudando e não consigo manter o contato de antes. É esse medo constante – não medo, mas essa sensação de solidão. Acho que é sobre tentar não se sentir tão só? [Risos]. Mas tem muito amor no disco, acho que ele é baseado só em amor. Aí parte desse ponto.

Morar em uma cidade menor ajuda na criatividade?
Tenho um problema sério com cidades geral. Fico muito ansiosa, mas às vezes é divertido estar em uma dessas. E também sempre é bom voltar pra casa. Gosto mais de ficar no mato mesmo.

Quando as pessoas pensam no mato ou uma cidade menor, pensam logo em música acústica ou algo assim, que não é exatamente o que vocês fazem.
É verdade. Acho que nunca encarei assim. É só que um monte de música é meio – se é bom, encaixa em qualquer lugar. Digo, quando eu ando na floresta, gosto de ouvir “All I Do Is Win”, com participação do T-Pain, e parece fazer parte daquilo ali. Pode soar esquisito, eu sei, mas soa muito natural.

Kyle Kramer bem que curtiria uma caminhada no mato ouvindo T-Pain. Siga-o no Twitter - @KyleKramer

Tradução: Thiago “Índio” Silva