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Música

O Screamo Morreu Antes de Você Achar que Curte Screamo

O verdadeiro screamo não era sobre roupas, cabelos e estilo, mas sim - pasmem - sobre o som. E quando ele acabou, você ainda não tinha nem largado a chupeta.

O screamo é um gênero tão incompreendido quanto o seu pai, o emo. Perdido entre centenas de bandas que deram seu sopro de vida entre os anos 90 e os anos 00 – e que tanto renegaram o rótulo, assim como a sua alegria de viver – o gênero, outrora original e realmente agressivo, acabou se tornando um termo que a imprensa musical e a indústria tentaram relacionar com caras cobertos de tatuagens ruins e cabelos ruins.

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Inclusive, um dos maiores culpados pelo cabelo periquito foi um cara baixinho que hoje é também responsável pela disseminação de um dos gêneros musicais mais irritantes do século: Skrillex. Na real, eu conhecia o Skrillex como Sonny Moore, vocalista do From First To Last. A banda era bem ruim e acho que foi daí que podemos sacar que porque o cabelo do Skrillex é tão estranho. Ele é um reincidente do cabelo feio.

Hoje em dia, sou obrigada a ouvir pessoas tirando sarro quando eu falo que gosto de screamo. Talvez sejam essas imagens que elas têm em mente quando pensam em screamo:

Olha o Skrillex, gente! (não é screamo)

Não é screamo.

Não sei exatamente o que é isso, mas não é screamo.

Não.

É. Screamo.

Odeio vocês, Attack! Attack! Foda-se o crabcore.

Galera, o que realmente importa é o seguinte: o screamo meio que morreu. E ele seria esquecido se não fosse pela internet, que reviveu essa leva de bandas dos anos 90. E sem querer soar meio tiazona do emo aqui, as bandas que imortalizaram o som não eram sobre o estilo do cabelo ou das roupas, mas eram screamo por causa do som.

Partindo para uma vertente bem mais agressiva do que o emo, o screamo (ou “emo violence”, ou “chaotic emo”) xavecava o experimental, grind e até mesmo o metal.

Como o mundo é um lugar ingrato, a maioria dessas bandas morreram, porém deixaram um legado que grande parte dos grupos copiou toscamente para formar o que a nova geração do emo conhece como screamo.

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Na função de registrar o som que deu origem ao que vimos na MTV dos anos 00, fiz uma seleção das melhores bandas de screamo que – na minha humilde opinião – você precisa escutar.

POR FAVOR, não me mande mensagens se a sua banda favorita não está na lista. Escreva uma reportagem por conta própria. Eu sou apenas uma repórter, não sou a porra da Wikipédia.

ORCHID

Uma das mais conhecidas do gênero e a primeira que tive contato. Os moleques de Massachusetts tocavam mal, cantavam mal e pareciam meio loucos da cabeça, mas ainda acho que poucas coisas conseguiram soar que nem eles. Muito barulho e muito experimentalismo, recheados de letras com referências filosóficas e políticas. Meio pedante e tal, mas ainda sim é fera. O guitarrista Will Killingsworth formou outra banda de screamo (ele fala que é grind, mas ok) chamada Ampere.

 A banda acabou em 2002, mas um cara muito gente fina filmou o show deles na integra e disponibilizou no Youtube. Sente só:

PORTRAITS OF PAST

Aqui fica bem evidente o que toda essa molecada do cabelo de periquito escutou. O Portraits of Past viveu entre 1994-1995 e voltou depois em 2008 para fazer alguns shows de reunião, quando alguns jovens desesperados se tocaram que talvez nunca vissem uma banda de screamo legítima. A banda fazia parte da Ebullition Records, que assim como a Level Plane, eram os principais selos que catalogavam e lançavam bandas do gênero.

LOVE LOST BUT NOT FORGOTTEN

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Um vocalista berrando desesperadamente, disputando com guitarras tão perturbadoras que doem seus ouvidos. Isso é Love Lost But Not Forgotten, ou LLBNF, como você preferir. Eles lançaram dois CDs, sendo o primeiro o meu favorito. Morreu mais ou menos na época no Orchid.

ANTIOCH ARROW

Como escrever esse bando de baboseira sem ao menos citar uma das bandas genuinamente responsáveis pela existência do gênero e por colocar San Diego no radar além de disputas sangrentas entre gangues.

O vocalista, Aaron Montaigue, inclusive deu uma entrevista em 2012 para o Noisey Gringo.

O Antioch Arrow num rolê meio pirigótico

SADDEST DAY

Uma das minhas bandas favoritas de screamo é brasileira e de Belo Horizonte. O Saddest Day teve uma curta existência de seis a sete meses, mas não deixa de ser tão visceral quanto as bandas gringas. Tagori divida o vocal com uma americana chamada Lori McBride, que berrava letras cheias de angústia e ódio pelo mundo.  Dizem que eles moravam em um casarão antigo e meio abandonado na capital mineira, mas nunca pude conversar com ninguém para ver se isso é verdade. Na real, o "casarão abandonado" era uma casa da família de um dos membros que foi transformada em um centro cultural com videoteca, biblioteca e espaço para shows e ensaios.

A banda tem um álbum e junto com o CD vinha um zine com todas as letras e uns textos malucos dos integrantes. Fiz questão de imprimir e grampear quando um amigo que tem o CD me mandou tudo escaneado. Coisa de maluco. Se vocês fuçarem por aí talvez consigam achar um arquivo perdido nessa rede mundial de computadores. Só sei que o site deles ainda está no ar e é hospedado no AngelFire:

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Além do Saddest Day, os integrantes formaram também as bandas Libertinagem e Retórica.

UPDATE: Algumas informações sobre a banda foram corrigidas após a publicação do post. Valeu, Sávio Vilela!

DAÏTRO

Essa banda é um pouco mais atual em comparação às outras.  Foi formada em 2000 e viveu bastante tempo, 12 anos para ser exata. Sempre achei interessante poder escutar franceses putos da vida e com o Daïtro aprendi a cantar pelo menos uma música inteira em francês (com um puta sotaque escroto, claro).

As músicas são bem tocadas e as letras são as melhores que já ouvi. São dois CDs que integram a discografia da banda e um deles você pode ouvir abaixo:

Les squelettes dans mon placaaaaaaaaaard jouent à la roulette russe avec les fusils de nos colèreeee. Vieux, rouillés et dangereeeeeeeeeeeeeeeeeeux.

Daiïtro lançou dois CDs e fez um split com outra banda de screamo chamada…

YAPHET KOTTO

Não é o ator americano que fez o Dr. Kananga no 007.

Otário.

A banda da Ebulittion Records foi talvez uma dos grupos mais influentes do post-hardcore do Meio Oeste.  Assim como uma boa banda de hardcore, as letras traziam uma carga fodida de consciência política e social. O álbum de 2001, The Killer was in the Government Blankets é uma voadora na garganta.

Faça um favor para si mesmo, jogue fora seus CDs do Silverstein ou sei lá que você acha legal e escute tudo que essa banda já criou.

CIRCLE TAKES THE SQUARE

A banda está vivíssima e ainda fazendo discos. Inclusive, o Dan Ozzi mencionou na matéria sobre o ano de 2013 ter sido o ano das garotas no punk. Não discordo nada com ele. Aliás, desde que a vocalista Kathleen Stubeleck apareceu na minha vida, não sei como ainda existem pessoas que falam que punk não é lugar para mulheres. Provavelmente essas pessoas precisam escutar mais CTTS para aprender a nunca mais blasfemar os deuses do screamo.

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Se prepare porque muitas músicas da banda têm MUITOS minutos e são barulhentas pra caralho. É tipo uma rave para emos.

A woman’s work is never done.

Marie Declercq não quer discutir com você sobre screamo. Siga ela no Twitter. - @marieisbored