FYI.

This story is over 5 years old.

Música

O rap vileiro do Julian Sem Modos, agora em projeto solo

Após a pausa no Sem Modos, o rapper radicado em Jundiaí lança seu primeiro single, dando um toque de seriedade na molecagem vileira pinguça que tanto amamos.

Formado em 2012, o Sem Modos é um dos grupos responsáveis pela preservação do estilo foda-se no rap nacional. Com rimas ácidas e gozadas e levadas descompromissadamente chapadas, Julian e Nil integram a galera da nova escola que está de saco cheio de fazer marra e cara de mau, mas que ainda quer fazer um som do bom. A vibe do grupo é completamente laricada, com algumas referências bem alheias ao hip hop e, por mais que as bases e os temas às vezes sejam pesados, os caras sempre acham um jeito de zoar.

Publicidade

O Sem Modos surgiu enquanto Julian buscava um aliado para fazer suas dobras e rimar com ele, inspirado nas muitas crews com as quais ele tinha contato, como a Astúcia, a Estilo Oeste e a Blunt. Após uma trajetória de três anos na cena, dois EP’s e um álbum, faixas com participação de Costa Gold e De Leve e destaque na cena nacional, o grupo jundiaiense agora pausa suas atividades enquanto os dois MCs seguem em carreira solo. Com “O Problema É Só Meu”, um trap bem vileiro, Julian abre a nova fase de sua carreira.

Conversamos com ele pra saber das fitas que ocorreram e também as que estão por vir.

Noisey: Como foi o início da sua caminhada no rap?
Julian: Bom, comecei a ouvir rap por volta dos 8 anos de idade. Primeira faixa que me lembro de ter ouvido foi “Ensino Errado”, do Gabriel, o Pensador. Mais ou menos nessa época, meu irmão levou pra casa uma fita k7 do Sobrevivendo no Inferno, do Racionais. Eu morava em Santos e lá chegava pouca coisa de rap, então o que pegava era os funks no batidão miami bass. Ouvi bastante MC Barriga, Danilo e Fabinho, esse foi o primeiro contato. Logo depois, me mudei para Jundiaí, onde conheci a rádio 105 FM e o programa Espaço Rap. Daí pra frente é que fui me aproximando da cultura. Cheguei a rabiscar alguns graffitis nas paredes, mas era muito ruim, aí lá pra 2009 comecei a esboçar umas rimas, gravar paradas com a qualidade horrível, até que em 2011 arrumei dinheiro e gravei minha primeira track em estúdio, chamada ”Missões e Mansões”. Daí em diante, comecei a buscar meu espaço na cidade.

Publicidade

E o Sem Modos aconteceu como?
Como não havia muitos eventos de rap, me envolvi no rock, no hardcore e na MPB e continuei firme. As oportunidades de cantar foram aparecendo aqui e ali e cheguei a abrir um show do Emicida na cidade. Comecei a fazer alguns eventos em São Paulo com grupos da época, como Estilo Oeste (formado por Adonai, Slim, Deuce e Caosbeats) e o Astúcia Crew (Predella, Rato, CG, Cogito e outros). Nesse caminho, sentia falta de alguém junto comigo no palco. Conheci a molecada que tava começando a fazer rap aqui nas áreas e certa vez ouvi algo do Nil num estúdio e curti a levada. Daí conheci ele, que já flagrava meus sons, e o convidei pra fazer as dobras e cantar algumas faixas que ele tinha. As coisas começaram a dar certo, começamos a colar juntos até que certo dia, por lei natural, firmamos o Sem Modos. Lançamos dois EPs e um álbum, vários clipes e singles, viajamos para outros estados, conhecemos muita gente pela caminhada. Por uma necessidade de cada um e motivos pessoais, resolvemos trabalhar nos nossos trampos solo, mas o Sem Modos tá aí! Tenho uma porrada de CD do Muitaguimba aqui ainda pra quem quiser comprar. (risos)

Um tempo atrás o De Leve, de certa forma, apadrinhou o grupo, divulgou o trampo de vocês, fez participação. Você se considera uma espécie de segunda geração de largados?
Pô, conhecer o Ramon foi uma puta coisa da hora na vida. Eu sempre fui viciado nos sons dele. A primeira vez que um parça me mostrou “Largado” eu viajei demais, foi algo louco mesmo. Não lembro ao certo como surgiu o primeiro contato com ele, acho que ele curtiu algo nosso e começamos a desenrolar a ideia. Aí calhou de em um fim de semana nós termos show em Santos e ele também, trombamos por lá e bolamos várias ideias. Daí não podíamos perder a oportunidade de deixar registrado esse momento. Segunda geração eu não sei, mas é só me trombar na rua e tirar as conclusões! Salve, tio De Leve!

Publicidade

Gostaria que você comentasse um pouco sobre as suas referências e sobre as diferenças entre o trampo do Sem Modos e o seu trampo solo.
O que eu ando reparando nas minhas coisas novas que estão aqui é que o estilo de escrever para o Sem Modos é completamente diferente do meu trabalho solo. A proposta do Sem Modos era justamente ser um rap cru, descompromissado, falando o que vier na telha e sem muito filtro. Num ar de tiração de onda mesmo. Com meu trabalho solo estou dando um trato diferente para os temas, referências, tomando certos cuidados que antes eu não tomava — embora o trampo não tenha ficado careta por isso.

Sobre as referências, o Bukowski especificamente eu sou fã há muito tempo, já li todos os livros dele que tem na biblioteca aqui de Jundiaí. A parada vileira é quase impossível de não ter nos sons, eu moro no interior de São Paulo, última linha de trem da linha vermelha, grande parte das horas tô aqui no botequinho perto da goma, armando aquela pindureta, trocando ideia com os tiozinho. Tem um tiozinho que leva pião pro bar e daí ficamos lá rodando pião, quer mais vila que isso?

E o que nós podemos esperar dos próximos lançamentos?
Estamos tentando trabalhar da forma mais calma e consistente possível, estou gravando, regravando e experimentando possibilidades. O que posso deixar é que a intenção nesse próximo trabalho é alcançar o melhor de todos os envolvidos. O próximo lançamento será o clipe da faixa “Vamo Nessa”, que é a introdução do CD. Ela contará com produção do JayBeats, que está fechado com a gente nesse novo projeto. Ainda não posso divulgar a data, mas tudo indica que em abril tá na pista.

Agora fica aí o espaço pra você deixar aquele salve pra galera
Um salve primeiramente a meu mano Ed Magro, que faz a parada acontecer, pras minhas famílias de Curitiba, Snarekick e Trastelife, JayBeats, sem palavras, moleque invocado. Um salve também ao Raphael Vieira, zica da viola. Fizemos um projeto com ele mês passado chamado “Nãolembroquem”, e rolou uma mistura de tudo, do reggae ao samba, além de rolar uma documentada na nossa rotina também. E um agradecimento a todos que vem me dando a maior força nessa nova fase, muito obrigado!

Siga o Noisey nas redes Facebook | Soundcloud | Twitter