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Música

O Que Aprendi Sobre Estilo com "Black or White" do Michael Jackson

No aniversário de seis anos de morte de Michael Jackson, revisitamos esse clássico que ganha novos significados em tempos de Rachel Dolezal.

Semana passada a Rachel Dolezal colocou a pigmentocracia americana em frenesi, e estou vomitando até agora. Quando fiquei sabendo das imensas contribuições que Dolezal havia feito à NAACP (Associação Nacional para o Progresso de Pessoas de Cor) e à comunidade afro-americana, contudo, reconheço que perguntei a mim mesmo: será que importa se ela é negra ou branca? Embora fatos recém-revelados sobre a vida de Dolezal indiquem que sim, tenho que cumprimentar a mama por ser muito mais a favor da causa do que a maioria das pessoas, independente de raça.

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Como alguém de pai branco e mãe negra, vivenciei a fluidez de minhas próprias associações raciais a vida toda. Às vezes me sinto "mais branco" ou "mais negro", dependendo de como estou vestido, de que música estou ouvindo, com quem estou, onde estou, etc. É um luxo a que tenho direito, por ser de ambas as raças. Como fatores tão mundanos influenciam com grande facilidade a minha identidade racial, não consigo achar que seja muito difícil que influenciem a identidade racial de alguém com um negro a menos entre os progenitores do que eu. Especialmente quando essa pessoa provavelmente sabe tanto (se não mais) sobre a herança da minha progenitora negra quanto ela ou eu.

Mas eu, como quase todo mundo, nem conheço essa senhora, então deixem eu voltar para o meu caminho e minimizar o risco de ameaças de morte em comentários de Facebook. A questão sobre a raça de Dolezal obviamente me fez lembrar do hit lançado por Michael Jackson em 1991, "Black or White". Como o histórico de Dolezal, o vídeo (dirigido por John Landis, de "Thriller") contém algumas representações questionáveis de certas culturas, e alguns cortes de cabelo questionáveis também. Eles merecem que aliviemos para o lado deles, por causa das intenções kumbaya, ou que olhemos torto, por serem ofensivos e um tanto vulgares?

Vejamos.

P.S. Perdoem pela qualidade de algumas dessas capturas de tela. As pessoas acharam por bem que a maior resolução dos vídeos de Michael Jackson fosse de 480p. Amadores.

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O vídeo começa com um garoto (interpretado por Macaulay Culkin) curtindo um heavy metal no quarto de casa. Seu pai (George Wendt) entra como uma bola de demolição, e manda, gritando, que Culkin desligue o som e vá dormir. Culkin, contudo, não é de engolir desaforos de ninguém. Então ele coloca alto-falantes colossais na sala, onde os pais estão no sofá, largadões, os liga na guitarra, e vai subindo o volume até o nível "CÊ TÁ MALUCO?!". Depois de se paramentar com uma única luva sem dedos (dã) e óculos escuros, Culkin toca sua guitarra, emitindo pelos alto-falantes ondas sonoras tão potentes que fazem o papai e sua poltrona voarem pelo mundo e aterrissarem na África. É claro.

O Fetichismo É Real

O vídeo não demora a trazer um drama, com a primeira sequência de dança, na qual um grupo – que a Wikipédia generaliza como caçadores "africanos" – está espreitando um bando de leões. Não quero ser eu o chato, mas acabei de cursar uma matéria sobre Artes Performáticas da África, e não reconheço nenhuma daquelas tangas ou pinturas faciais anacrônicas. Com certeza não lembro de ver nenhum caçador africano com um cabelo tão maravilhoso quanto o do mano à esquerda. MJ emerge da poeira e, junto com os caçadores, faz uma coreografia "da África Ocidental" (valeu, Wikipédia o__0).

Assuma Seu Fetiche

Se você vai fetichizar continentes para passar uma mensagem, melhor fazer com que o seu look seja consistente com a marca: a armadura intensa que MJ usa na perna e a munhequeira fazem pensar em equipamentos e vestimentas de fetichistas. Viu o que fizeram ali? (Será que essa munhequeira foi o marco zero do #healthgoth?) O Rei do Pop não poderia sair correndo pelo nada gritando suas angústias relativas ao racismo sem usar nenhuma proteção. Que essa seja uma lição para todos sobre a importância de usar acessórios.

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Não Seja Sem Noção

A homenagem aos índios americanos nesse vídeo é um lembrete de coisas que "simplesmente não se fazem", categoria na qual se encaixava mesmo em 1991. MJ aparece dançando em uma plataforma com índios usando vestimentas tradicionais, enquanto uma horda de homens roda em torno da plataforma, todos montados a cavalo, dando tiros com seus rifles por motivo nenhum. Por que todos os outros grupos culturais que aparecem nesse vídeo estão executando uma coreografia, mas os índios americanos só ficam dando uns pulinhos de meia tigela e atirando? Um GRANDE "isso não"! Entre o palco tosco, as penas e os tons terrosos, os caras cometendo bufonarias sem sentido por todos os lados, e as vibes no geral desrespeitosas, esse segmento me fez ter intensos flashbacks do festival nova-iorquino Governors Ball e de todos os "isso não" que testemunhei por lá: coletes de camurça com franjas até o chão; uma garota nos ombros do namorado na minha frente, no show do Drake; Lana Del Rey não se apresentando no palco principal. Pessoal: festivais de música são ridículos, mas não são piada. Respeite a música, pense duas vezes na sua etiqueta, e, o mais importante, nas suas roupas, em vez de profanar geral com cocares de penas e botinhas mocassim, como esse diretor fez com os índios americanos.

Fique De Boa

A mina está super de boa com o fato de que a puseram para fazer movimentos de dança indiana no meio do trânsito, e agora é assim que vivo a minha vida. Quando o seu sári está perfeito e você está prestes a receber uma grana, pode mandar um twerk onde bem entender, e continuar de boa. MJ aumenta ainda mais o nível do "não estou nem aí" fingindo ler um jornal enquanto dança em sincronia com nossa amiga, no meio da estrada. Nunca achei que veria o dia em que fazer o seu melhor se tornaria uma lição de como ser chique sem parecer se esforçar.

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Ou Não

Então MJ emerge de uma cruz em chamas, com os braços esticados estilo crucificação. Realmente há algo a se elogiar nesse método igualitarista de ofender os outros. Não importa se você é negro ou branco: este vídeo lhe deixará puto pelo menos uma vez. É provavelmente em parte por isso que esse é o trecho em que MJ está cantando "I ain't scared of nobody" ("Tenho medo de ninguém"). Mas o verdadeiro motivo dele não ter medo é que, mesmo havendo um crucifixo em chamas e um cara da KKK atrás dele, de jeito nenhum aquela ralé vai alcançá-lo, graças ao ventilador industrial que está soprando seus cachos texturizados. Você talvez se lembre do uso intenso de máquinas de vento no álbum visual de Beyoncé… Estou começando a achar que o título da música "Blow" foi uma menção discreta ao uso abundante que MJ faz do vento. Ela é superfã – de MJ e de ventiladores.

Sempre Faça Carão

Vocês fazem ideia de como foi difícil pra mim capturar as caras que essas crianças fizeram por meio segundo durante o trecho do rap na escada? Eu mataria para conseguir chegar a esse nível de smize em menos de um segundo com a minha cara de bunda de nascença, como essas crianças prodígio fizeram. A julgar pela mistura escalafobética de estampas, pelos bonés de lado no ângulo certo, suspensórios, óculos escuros de tamanho exagerado e tênis retrô, essas crianças são figuras fáceis nos blogs de moda. Talvez também porque Anna Wintour faz parte da galera.

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Os blogs de moda ainda morrem de amores pelo revival anos 90 por no mínimo mais uns seis meses.

Mais é Mais

Às vezes, quando não tenho muita certeza do que vestir para ir a um lugar, ou quando estou só deprimido mesmo, começo a empilhar o máximo possível de roupas chiques de marca antes de parecer louco demais. Isso melhora meu ânimo. Acho que é isso o que esse frame está fazendo, só que com monumentos culturais, em vez de grifes. Estruturas como o Partenon, a Torre Eiffel, a Hagia Sofia, e a Esfinge de Gizé cercam MJ e a Senhora Liberdade como bolsas de marca – uma mistura dos "símbolos de status" da humanidade que têm apelo para as massas. Gauche, porém diplomático.

Pare Enquanto Ainda Está Ganhando

E agora, a tentativa de conquistar as massas que me deu uma indigestão. Da mesma forma que o trecho com os monumentos, eles juntaram todas as raças, gêneros e tipos de corpo em um único metamorfo nojento! Sei que a tecnologia era nova e maneira e tinha sido usada em Exterminador do Futuro 2, mas como essas imagens fazem você se sentir em 2015? Essa parte das metamorfoses de rosto é um lembrete de que, por mais fofinho que você seja, com certeza parecerá nojento em algum momento.

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