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Música

O Perfume Genius Manda a Homofobia se Foder em Seu Terceiro Disco

Seus primeiros dois discos são delicados, emocionantes, e inerentemente tristes.Too Bright, o terceiro, não é tão diferente, mas há um quê mais forte, derivado de mudanças em sua vida pessoal.

Mike Hadreas – que eu e você conhecemos como Perfume Genius – morde um sanduíche. Estamos do lado de fora de uma cafeteria em East London e ele está perfeitamente montado: flashes de esmalte vermelho adicionam cor a um traje completamente preto. Ele mastiga o pão, uma aura de delicadeza ao seu redor, falando sobre seu show de ontem.

“Sou o pior avaliador”, afirma. “Busco coisas diferentes no show; sou muito crítico de mim mesmo. Foi tudo muito calmo, algo que você torce para ser algo como reverência, mas nunca se pode ter certeza.”

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A sombra da dúvida e da introspecção temperam a carreira do Perfume Genius. Seus primeiros dois discos, Learning (2010) e Put Your Back N 2 It (2012), foram compostos durante a recuperação do vício em drogas e álcool; a atmosfera lo-fi dos álbuns exemplificam uma necessidade confessional de resolução e redenção. Como Hadreas, eles são delicados, emocionantes, e inerentemente tristes. Seu terceiro disco, Too Bright, não é exatamente uma grande mudança em relação à suavidade de seus trabalhos anteriores, mas há um quê mais forte, derivado de mudanças em sua vida pessoal.

“Quando eu bebia e usava drogas os problemas eram fáceis de serem percebidos. Agora é só meio que um clima escroto geral que não se foi”, diz, sua voz ondulando como se tivesse me falado algo que não deveria. “É mais complicado de se mapear; é complicado de separar as coisas e os sentimentos todos estão meio que misturados ao invés de apenas uma depressão profunda por ter sacaneado alguém, ou enforcado alguém”.

Porém, ao invés de se deixar ser consumido por seus pensamentos, Hadreas se arriscou e o novo álbum experimenta com sonoridades. Ele mora em um novo lugar agora, com seu parceiro Alan, e o resultado é um álbum audacioso, que conta “segredos com um pouco mais de agressividade”. Isto, talvez, encontre-se mais no single “Queen”, que dá um chega pra lá na homofobia e no tal “pânico gay”.

“Meu namorado e eu podemos nos casar e é um lugar relativamente aberto, sabe? Mas ao mesmo tempo posso viajar a algum lugar que me colocaria na cadeia por isso”, explica. “Estas coisas acontecem cada vez menos, e até ficam mais complicadas, como quando as pessoas tem boas intenções mas acabam falando algo ofensivo”.

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Ele me diverte com uma história sobre um homem em um ponto de ônibus, que lhe disse que a homossexualidade era resultante da criação em uma vizinhança ruim. “Não faço ideia do que ele quis dizer com aquilo. Só estou esperando o ônibus, não pensando sobre a minha gayzice”, declara, rindo jocosamente.

Hadreas vê “Queen” como o oposto de alguém bancando a vítima, buscando aceitação e reafirmação. “Eu quero é que se foda”, diz. “Vou me curtir e não tô nem aí se alguém aceita ou não.”

O disco aborda outros aspectos da homossexualidade também. “I Am a Mother” é uma canção distorcida e perturbadora que disseca os pensamentos de Perfume Genius sobre ser pai. “Eu imaginava como seria se pudesse dar à luz sem ajuda de ninguém. Nem meu namorado nem ninguém, só eu, sozinho, em um fosso escuro. É uma música meio sombria”.

Ele faz uma pausa, contemplando, e continua. “Nunca pensei que teria filhos um dia, mas a minha mãe acha que sim, e Alan quer também. De algum jeito. Sei que há formas de fazê-lo, mas às vezes isso me faz pensar de forma ainda mais extrema sobre porque quero trepar com um homem; eu não entendo”.

“Por que quero trepar com o Alan?” diz, após uma longa tragada em um cigarro. “Não vai dar em nada. Quero roubar a energia vital dele e devorá-la para que os héteros não a tenham? É algo tão mau assim? Não acho, mas às vezes penso nisso. Acho que isso acaba fazendo parte da música também”.

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Os elementos sombrios costumavam ser algo para se esconder, uma muralha de vergonha. Mas ficou claro que Hadreas agora aceita-os, mergulhando nas sombras em busca de significado. Ele tem outros pensamentos sombrios também, contando-me empolgadamente como passa horas lendo autópsias e vendo no YouTube vídeos de gente sendo sentenciada à prisão. “Ou”, diz ansiosamente, “fico obcecado com algum serial killer”.

Em Too Bright, Perfume Genius está rumando em direção a se tornar parte do mundo, ao invés de ficar à margem. “Os momentos em que me senti mesmo como parte do mundo foram bem mais recompensadores que os tempos em que me senti à margem”, diz, em profunda percepção. O disco flerta com a acessibilidade, com batidas eletrônicas e melodias melancólicas complementando uma jornada de autodescoberta. É um sucesso triunfante, seguro de si e que se aceita, e ele está mergulhando com tudo.

“Sinto-me mais maduro agora, e não de um jeito chato. Só sinto que estou com tudo agora, bem mais que antes, sabe?” diz, animado, olhos brilhando. “E como gosto de me distanciar e não pensar nas coisas porque pode ser demais, agora deixo rolar”.

“É assustador e emocionante ao mesmo tempo”.

Too Bright será lançado em 22 de setembro. Ouça em streaming abaixo

Siga Alim no Twitter: @alimkheraj Tradução: Thiago “Índio” Silva