Não sei se você lembra, mas o GZA, conhecido também como The Genius, do Wu-Tang Clan, tocou no centro de São Paulo de graça em setembro deste ano. Se você perdeu a roda de bate-cabeça mais cabulosa que o Vale do Anhangabaú já viu, não tem erro: o Pedro Gomes estava lá, fez um vídeo sujeirão e classe e mandou pra gente dividir com vocês. Abaixo ele conta como nasceu a devoção bate-cabeça dele e como foi a experiência de filmar um dos mais sagazes rimadores da língua inglesa:"Peguei os canetão e os spray" (era assim mesmo, sem plural), gritava eu e continuava, "leva o vinho na sua mochila, segura seus B.O.". O exército dos calça-larga ia se formando a cada esquina. Era como uma religião, todas as sextas-feiras tinha culto. Reunir os amigos, descer pra avenida, pegar o ônibus pro Terminal Sto. Amaro e de lá pegar outro para o Class (que de tempos em tempos mudava de endereço, porque a vizinhança não nos aguentava. Realmente pegávamos pesado). O lance era simples, dividir um espaço com centenas de outros manos, onde as paredes transpiravam, para ir ouvir RAP. Ouvir entre outros sons, o principal deles, Wu-Tang Clan. O tempo passou. Anos depois, mais velho e com uma filha, diminuí o ritmo, o Class acabou. Mas, o amor pelo rap e pelo grupo, permanece. Poder filmar o GZA em São Paulo, em um evento bem organizado no centrão da cidade, aberto ao público é, de fato, um sucesso. É como olhar para trás e perceber que deu certo, fez sentido toda aquela rebeldia e bagunça. Sempre foi de coração o lance, não acabou como os pais achavam e diziam: "isso é moda, logo passa". Comigo não. E hoje 2014, após 30 anos contrariando as estatísticas, ter uma vida profissional que cria intersecções com seu gosto pessoal é uma realização tão grande, que poucos tem condição sentimental de interpretar.