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Música

O Minus the Bear Também Quer te Conhecer

Nesta coletânea, você vai encontrar músicas que passaram os últimos anos juntas na detenção por fumarem cigarros na hora do almoço, e assim formaram um disco indivisível do início ao fim.

Após quase 15 anos de labuta, o Minus the Bear está prestes a embarcar numa turnê por casas noturnas de pequeno porte para comemorar o EP com que estouraram em 2004, They Make Beer Commercials Like This. Para coincidir com o aniversário de 10 anos do Beer Commercials, a banda está lançando Lost Loves, um LP reunindo dez músicas raras e lados B que acabaram não sendo incluídos nos lançamentos anteriores.

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Cuidado! Lost Loves não é uma coletânea típica de raridades e lados B. Lembra da época do segundo grau, quando você era um desajustado e simplesmente não encaixava com o resto do pessoal do colégio – lembra como você fez amizade com os outros desajustados e encontrou o seu lar? Nesta coletânea, você vai encontrar músicas que passaram os últimos anos juntas na detenção por fumarem cigarros na hora do almoço, e assim fizeram amizade para tornar este um disco que parece indivisível do início ao fim.

Conversamos com o baixista, Cory Murchy, que estava na casa dele em Seattle, onde interrompemos sua rotina das manhãs de sábado de limpar a casa e assistir a futebol, para conversar sobre Lost Loves, suas coletâneas favoritas, e o que ele acha dos meet and greets (ocasiões em que, mediante um pagamento, as pessoas podem conhecer os artistas pessoalmente). Abaixo, ouça uma música de Lost Loves, "Cat Calls & Ill Means". Faça a pré-compra na Dangerbird Records (a data de lançamento é 7 de outubro) aqui.

Noisey: Vocês estão se preparando para o lançamento da coletânea Lost Loves. A maioria das bandas lança esse tipo de coletânea mais para o fim da carreira, enquanto que vocês ainda estão na labuta. Por que lançar agora?
Cory Murchy: É um monte de músicas que tínhamos gravado para os discos anteriores, mas simplesmente faltou espaço. A gente sempre tomou muito cuidado com as faixas que incluímos, de modo a fazer o disco fluir da primeira até a última música, e depois dividir a coisa para os dois lados do vinil. No fim das contas, um LP de vinil não tem espaço para tudo o que foi gravado. É tudo coisa que a gente gostou, mas que não se encaixava no disco por algum motivo. É engraçado, vi algum comentário dizendo "ah, eles nem são uma banda há tanto tempo para que sobrem músicas com que fazer uma retrospectiva ou coisa assim". A gente não é tão antigo quanto os Rolling Stones, mas também estamos aí há quatorze anos, e gravando e fazendo turnês esse tempo todo. Alguma história a gente tem. [Risos] Tem um monte de bandas que com cinco anos estão lançando seus Grandes Sucessos, mas a gente não fez isso. Foi uma boa maneira de lançar alguma coisa. Já faz muito tempo que a gente queria soltar essas músicas. Algumas delas tocamos em shows. As pessoas conheciam uma ou outra, mas não podiam ter em casa. E algumas delas foram lançadas em compactos diversos, bizarros e aleatórios, aqui e ali. Ou como faixa bônus no Japão. Foi legal juntar tudo e lançar como um projeto único.

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Gosto de essas músicas juntas parecerem muito um disco de verdade, um disco novo.
É esquisito. Para a gente, parece mesmo um disco acabado, completo. No sentido do fluxo das músicas e tal, o que é legal. Talvez elas tenham encontrado um lar porque todas foram cortadas de seus respectivos discos. Seja lá qual for o motivo, a gente está bem pilhado com o resultado. Não parece que essas músicas têm dez anos de idade, e essas músicas com certeza são novas. A sensação é meio de que tudo se encaixa e funciona bem como um todo.

Tendo crescido na cena punk rock, alguns dos meus discos favoritos eram compilações e coletâneas. Teve algum disco que vocês usaram como parâmetro no que fizeram com o Lost Loves?
Não acho que tenha rolado qualquer consciência no grupo. A maioria de nós veio também da cena hardcore e punk rock, e sempre tinha umas bandas soltando uns compactos bizarros, obscuros, ou soltando músicas em compilações, que quando eram reunidas num disco só, era sempre foda. É engraçado, o disco que me vem à mente é o de lados B do Cardigans [The Other Side of the Moon]! Eu amo demais o Cardigans, amo pra caralho, e esse disco saiu acho que 20 anos atrás, era esse monte de lados B excelentes do Cardigans, junto com covers do Black Sabbath e do Thin Lizzy, e foi maravilhoso ter tudo isso junto. Para mim, pessoalmente, foi nisso que eu pensei.

Como é a experiência de revisitar essas faixas antigas?
Eu com certeza sou um cara nostálgico pra caralho. Fico lembrando e penso, "ah, era aquilo que estava acontecendo quando gravamos isso". Acho que todos tivemos conversas desse tipo, e pudemos rir de muitas dessas coisas. Acho que nos leva a um espaço mental semelhante, de pensar no passado, e nos dar conta de que somos uma banda e gravamos há muito tempo, e pensar sobre isso. É meio legal ter esse outro conjunto de músicas que não ouvimos ou tocamos ao vivo um milhão de vezes. De um jeito bizarro, meio que deixa entrar um ar fresco na parada toda. É engraçado ver e pensar "eita! Eu fiz isso nessa música? Queria poder fazer de novo". Ou o contrário, "nossa, essa ficou foda! Meio radical mesmo!".

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Este é também o aniversário de dez anos do EP They Make Beer Commercials Like This, que vocês vão celebrar nessa próxima turnê. Isso de lançar o LP Lost Loves em conjunto com o aniversário foi planejado?
Acho que a coisa meio que acabou acontecendo desse jeito. A coisa do aniversário de Beer Commercials, a gente só planejou fazer dois shows, os de Seatle e Portland, que fizemos nesse verão [do Hemisfério Norte] passado. Nosso plano era deixar por isso mesmo. Mas aí fãs de vários lugares demonstraram um interesse muito grande por ouvir aquelas músicas. A coisa meio que deu certo em matéria de timing. De uma certa maneira, a gente lançou um disco, ou alguma coisa, basicamente a cada dois anos ou quase isso. Seria difícil não ter nada engatilhado. Não foi um esforço consciente. Foi só o jeito que a coisa se desenrolou. É ótimo. Foi um dos nossos primeiros EPs e um dos conjuntos de músicas nossas que a gente mais gosta também.

Com exceção do tecladista original, o Minus the Bear conseguiu manter a mesma formação por toda a sua carreira. Qual é o segredo de vocês terem se mantido unidos durante todos esses anos?
Sabe, pensei muito nesse assunto recentemente. Acho que, no final das contas, em última análise, é a banda que nos mantém juntos. A gente com certeza passou por uns períodos em que olhávamos torto uns para os outros, e pulávamos na jugular um do outro, e era horrível. Nós todos amamos de verdade essa banda, e adoramos tocar nela. Acho que isso nos impediu de afundar, e foi o catalisador que deu forças para seguir em frente, enquanto fornecia também uma motivação para deixarmos para trás algumas das merdas que inevitavelmente aparecem no caminho. É um grupo de cinco caras vivendo juntos e criando música juntos, e é também uma empresa. Nós comandamos uma empresa juntos, e tentar conciliar nossas vidas pessoais e famílias e tudo o mais com isso pode se mostrar difícil às vezes. Todos temos um desejo, uma vontade e um foco comuns, de ver essa banda chegar o mais longe possível. No final das contas, esse é o emprego dos sonhos, né? A gente viaja pelo país e toca para pessoas que em geral estão empolgadas com a música, e temos feito isso há esse tempo todo, e é bom demais. A gente seria idiota se não tentasse resolver as coisas, dar um jeito de tudo funcionar no final das contas. Acho que ainda gostamos de criar juntos. Tem vezes que é difícil e muito ruim, e a gente quer arrancar o olho do outro com uma colher, mas o produto final é algo que realmente traz uma grande alegria e um grande orgulho do que fazemos.

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Eu sei que as bandas têm de procurar por outras fontes de renda para continuar existindo, mas, vindo do mundo do punk rock, como se sente em relação aos meet and greets para VIPs que vocês têm feito antes dos shows?
Com certeza, vindo da cena punk rock, isso meio que não se faz de jeito nenhum. As bandas e os fãs estão em pé de igualdade. Nesse mundo, tinha um motivo para você não tocar em cima de um palco. Com certeza já pensei sobre os prós e os contras disso. No final das contas, as pessoas ficam empolgadas de verdade. Ninguém é obrigado a estar lá. Só é preciso ser real, e não usar uma máscara na hora de encontrar as pessoas. A gente é a gente. Somos cinco caras bobões, gente igual a eles. É sempre legal encontrar os fãs e ser com eles o que a gente é de verdade. É engraçado, quando eu tinha uns 14 ou 15 anos, fui a um meet and greet com o Mighty Mighty Bosstones. Sempre penso neles quando fazemos meet and greets. Eles foram tão legais e receptivos e gratos por estarmos lá. Isso ficou realmente gravado na minha cabeça, no sentido de que esses caras estavam fazendo uma música foda e eram totalmente humildes e fodas e pé no chão. Foi legal demais poder conhecer eles e perceber que eram na verdade uns oito ou nove caras bobões! [Risos] Em última análise, estamos todos fazendo a mesma coisa, e somos fãs de música. Pode ser uma ponte muito legal entre essas coisas todas. Acho também que hoje em dia, com o Twitter, o Instagram ou até mesmo o Facebook, ou seja lá o que for, o contato com os fãs é muito maior do que costumava ser. Mesmo nos tempos do punk rock, ninguém chegava e ia bater um papo com o Henry Rollins, ou tinha oportunidade de fazer isso; e tenho certeza de que isso vai voltar para puxar o meu pé, e Henry vai me dizer, "para falar a verdade, escrevo cartas para todos os meus fãs", mas você entende o que eu quero dizer. Com o Twitter e o Instagram, há um contato com as pessoas em geral. Acho esquisito o fato de estarmos fazendo meet and greets pagos, mas também queremos ter certeza de que estamos dando àquelas pessoas algo além de simplesmente nos conhecer. Estamos dando a elas muito mais do que isso. É uma porrada de coisas legais, e também gostaríamos de conhecer vocês.

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Dando uma olhada no seu Twitter e no seu Instagram, percebi que você toma cervejas sem álcool de vez em quando. Como você decidiu fazer essa mudança para as cervejas sem álcool?
Bom, isso é meio que um vai-e-volta constante na minha vida. Meio que passo por longos períodos de seca, sem beber, limpando a minha cabeça. Daí eu volto. É uma longa – acho que pode-se chamar de luta. Eu meio que sou um cara que está dentro ou está fora, em vários sentidos. Não acho que seja muito incomum se sentir assim, especialmente nesse ramo, ou sendo bartender, ou, na verdade, qualquer tipo de emprego hoje em dia. Muita gente pensa "ah, você é músico. Deve ser dureza demais. Você vive cercado pela coisa". Isso é verdade. Quando você está tocando em uma cidade, não importa qual noite da semana seja, para todo mundo é noite de sexta. Como banda, você está sempre na noite de sexta de todo mundo, todas as noites. O bicho começa a pegar bem rápido. Especialmente quando você está nessa há 20 anos. As bebidas sem álcool são ótimas para quando preciso limpar a minha cabeça, e isso com certeza acontece periodicamente, e provavelmente vai acontecer de novo.

Você também fica sóbrio quando está em turnê?
Depende de onde eu estou no meu espaço mental. Com certeza é difícil, porque todos os outros estão virando o copo. É fácil simplesmente entrar na onda. Para mim, quando decido não beber, eu não bebo e pronto. Sou do tipo que ou está dentro ou está fora. Quando estou fora, estou fora. Encontro outras coisas para ocupar as mãos vazias. Provavelmente jeitos mais saudáveis e menos autodestrutivos.

Com o que você enche o seu tempo?
Tenho pintado e desenhado muito, feito mais artes visuais, criado com minhas mãos. Gosto de fazer coisas.

Damian Buford comanda um podcast maneiro chamado Mostly Harmless. Siga-o no Twitter. - @DammitDamian

Tradução: Marcio Stockler.