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Música

O Destruction Unit Quer Se Libertar

Uma banda de homens que querem forçar os limites de todas as formas possíveis.

A primeira vez que vi o Destruction Unit foi em Austin durante o SXSW em um estacionamento de piso de cascalho chamado Cheer Up Charlie’s. Quando minha banda terminou nossa quarta apresentação do dia, o Destruction Unit entrou, todos os membros usando óculos escuros redondos, cabelo bagunçado e oleoso e expressões vazias. Quando eles tomaram o palco, fiquei embaraçosamente fascinada. O coletivo psych-punk de Phoenix avançou com um set de guitarras pesadas e melodias penosas e repetitivas, mas o espetáculo era mais do que a banda, cada membro se movendo com extrema facilidade absorta, rodopiando pelo palco, fodidos e se contorcendo como bonecos aleijados. De olhos esbugalhados e revirados, o frontman Ryan Rousseau escalou as barras de metal que mantinham o palco a céu aberto de pé. Os caras do som começaram a surtar, se esbarrando freneticamente no palco, soltando o cabo do microfone do Rousseau conforme ele subia cada vez mais alto. A banda simplesmente continuou, sem perceber nada ou talvez fingindo não perceber.

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Depois que nossas bandas se separaram naquela tarde, fui até o guitarrista Cel. Jesco Starewell Aurelius II, apertei a mão dele e disse: “Foi ótimo. Sua banda me deixa muito feliz. Sua banda me dá vontade de ter um pênis para tocar com vocês”.

Em vez de se afastar do meu comentário psicótico como uma pessoa normal, Jesco sorriu animado, me deu um LP e disse que eu poderia tocar baixo quando quisesse. Esse é mais ou menos o modus operandi, porque o Destruction Unit é exatamente o que diz o nome (“Unidade de Destruição”): uma banda de homens que querem forçar os limites de todas as formas possíveis. O show maluco, as gravações angustiantes e viajadas e a contravenção impassível são seu charme. Depois do caótico e estridente LP Void do ano passado, o Destruction Unit lançou há pouco tempo o EP Two Strong Hits e, em 20 de agosto, o último LP, Deep Trip, pela Sacred Bones do Brooklyn. Conversei com o Jesco sobre o Arizona, sua filial de artes Ascetic House, a polícia de Phoenix e as meditações diárias do D-Unit.

Noisey: Como foi que o Destruction Unit começou?

JS Aurelius: Bom, a banda começou há mais de uma década, mas a banda que você conhece hoje provavelmente foi formada há um ano.

É, era uma coisa em andamento que o Ryan começou?

Para ser muito sincero, não conheço muito o histórico do começo da banda. O Ryan usou o mesmo nome quando começamos a tocar com ele, mas, essencialmente, é uma banda completamente diferente.

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Quando foi que você começou tocar?

Com uns 13 ou 14 anos. Meu irmão e eu tínhamos uma guitarra e uma bateria e tocávamos juntos. Mas minha primeira banda de verdade só foi quando eu já tinha 18 anos, com o Pigeon Religion. Eu estava mais interessado em arte e em escrever do que tocar numa banda, mas acabei decidindo que era uma coisa que eu queria fazer.

Você ainda escreve? Sinto que escrever por dinheiro afetou meu trabalho pessoal, e hoje faço muito esforço para escrever sozinha e não escrever para um público.

É, a coisa da música deixa a gente muito ocupado, mas ainda assim encontro tempo. Tenho algumas coisas escritas na revista L'Ascète, que é meio que um periódico sobre artes especificamente da nossa cena, compilado por alguns outros membros da Ascetic House. Tudo que escrevo sai em autopublicações via Ascetic House.

Quem está envolvido? Quando foi que a Ascetic House começou?

O número de pessoas envolvidas está constantemente em fluxo, então é difícil dizer com certeza. O grupo principal está todo aqui no Arizona, com várias pessoas que se mudaram para cá para se envolverem com o projeto. E também tem pessoas do Arizona que desde então saíram do estado ou do país. Matt Whitley, que escreveu várias publicações, agora mora em Nova York. O Paul, do Mall, mora em Berlim. Sebastian Kruse está em Copenhagen. A maioria dos nossos lançamentos de música é de projetos feitos fora do Arizona também, mas não são todos.

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Qual é o objetivo do projeto?

Correndo o risco de parecer muito vago, é impossível atribuir um objetivo ao que fazemos. Não existe uma narrativa social ou política única que orienta o que fazemos, porque é um coletivo de indivíduos, todos com crenças diferentes. Se tem uma coisa que unifica nossa produção, é o desejo de estimular a evolução mental. O mundo só vai melhorar quando a mente das pessoas melhorar. Quando evoluirmos como raça, não quando o cara certo for eleito. É tanto uma meta científica quanto espiritual, mas não existe nenhum debate ou moral que buscamos além da liberdade individual.

Entendo. E a coisa com os presidiários?

Em relação ao projeto de apoio aos presidiários, ele foi criado pela minha simpatia por todas as pessoas trancadas em gaiolas simplesmente porque sua ideia de ter uma vida agradável não combina com as ideias de algumas outras pessoas sobre como alguém deve ter uma vida agradável. O objetivo não é necessariamente levar material subversivo para a cadeia, embora isso seja um bônus. É apenas um esforço para ajudar algumas pessoas a passarem o tempo. Não tem muita coisa para fazer na cadeia, e receber alguma literatura ou música pode ajudar muito para que uma semana ou mês passem mais rápido.

Faz sentido você ter uma paixão por isso considerando o Arizona como um lugar onde a polícia – principalmente a que lida com drogas – é muito rígida. Tem muitas leis contra diversão recreativa em Phoenix.

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Tem muitas leis em todo lugar nos EUA. Mais do que você conseguiria ler em dez vidas se sentasse e tentasse, e isso não é um exagero. É, o Arizona é particularmente rígido em termos de crimes de vícios, como bebidas e drogas, mas a coisa é bem ruim em qualquer lugar que você vá.

É que acho que quando estou em turnê, todo mundo diz: “CUIDADO NO ARIZONA!” Talvez eu esteja paranoica com isso, principalmente eu, que vim de um lugar que é mais tranquilo com drogas.

É porque é muito perto da fronteira. A segurança foi reforçada em toda aquela parte da estrada. Conheço várias pessoas que já foram presas vindo de Austin e indo para o oeste ou vindo de San Diego e indo para o leste. Aqui está cheio de barreiras militares. Essa é a América livre em que vivemos.

Seu cantor escreve as letras do D-Unit?

É, o Ryan escreve todas as letras.

Vocês são uma banda comunicativa? Parece um coletivo e é muito tipo “vai lá e toca, vê o que acontece”, que é uma coisa que eu até gosto.

Provavelmente não operamos da mesma forma que outras bandas. Nós nos comunicamos, mas não sobre as coisas típicas. O set list normalmente é improvisado, o que às vezes faz com que a gente toque músicas diferentes ao mesmo tempo. Para compor músicas novas é do mesmo jeito: alguém começa a tocar e o resto acompanha até que as peças se encaixem. Depois que improvisamos bastante, ouvimos o que tocamos e selecionamos o que gostamos. Quando tudo se une, funciona bem – introduzindo elementos de operação aleatória em uma música com base de rock.

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Nunca fica frustrante?

Muitas vezes, sim. [Risos]

Todo mundo fica frustrado com a sua própria banda. É difícil ser casado com quatro pessoas que você nem tem intenção de namorar.

É, é verdade. Nossos melhores shows são quando todo mundo está frustrado ou irritado, porque aí todo mundo quer provar que está certo.

Vocês discutem muito?

Não discutimos nunca. Somos uma máquina única e bem lubrificada com um foco guiado a laser. Uma única mente.

Como isso é possível?

Anos de meditação em grupo.

O que vocês veem como sendo o maior problema na indústria fonográfica hoje em dia?

Ela falha em não evoluir, imagino. Mas esse é o problema em todos os aspectos do status quo; ele quer se preservar. Não sou nem um pouco relutante porque não tenho nada a perder. Nenhum de nós tem. Não contamos com a indústria fonográfica para nos sustentar ou apoiar uma carreira. Podemos fazer tudo sozinhos, desde agendamento à arte, gravação, prensagem e publicidade, então ter gente te “ajudando” é tipo: “Bom, pode fazer, mas eu sei fazer isso, então se você for embora, nem vou ligar muito”.

Luto muito contra essa ideia. Não acho que as pessoas percebem que no momento em que você inclui o capital, pode dar briga e tudo bem. Nada é simples. É tudo incerto.

É tudo muito incerto.

Muito, muito incerto.

@myszkaway