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Música

Estourando Amplificadores e Dançando com Crianças: o Deerhoof Comemora 20 Anos com um Disco Novo

Uma banda que joga bola unida permanece unida.

A carismática líder do Deerhoof, Satomi Matsuzaki, está sentada em seu apartamento térreo no bairro de Greenpoint, no Brooklyn, contemplando o dia cinzento pela janela. O tempo ruim é o completo oposto de sua ensolarada camiseta do Snoopy (organza atrás, algodão na frente) e shorts curtos. A gente sabe disso tudo porque fizemos um monte de perguntas constrangedoras assim que ela atendeu o telefone. "Onde você está?", ela pergunta de volta. Londres, na verdade, onde o dia também está cinzento, e, para completar, está chovendo pra caralho. Mas essa entrevista não é sobre mim, é sobre nossos exuberantes noise-punks que se juntaram em São Francisco e que estão prestes a lançar seu décimo terceiro disco, La Isla Bonita (o mesmo nome de uma das melhores composições de Madonna, não esqueçamos). Este ano, o Deerhoof também celebra o seu vigésimo aniversário.

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Retornemos a maio de 1995. Quando uma jovem Satomi acabava de chegar do Japão, o baterista Greg Saunier e o ex-baixista Rob Fisk já vinham fazendo música sob o nome Deerhoof há um ano. Uma mísera semana depois de conhecerem Satomi, fizeram o upgrade para um trio e pegaram a estrada. Acrescente 19 anos, 13 discos, seis amplificadores quebrados, mais quatro mudanças na formação da banda (hoje composta de Satomi, Greg e os guitarristas Ed Rodriguez e John Dietrich), e uma passagem da música improvisada com um mínimo de ruído para um noise-punk embebido de pop, e o resultado é o Deerhoof.

Noisey: Uau, 20 anos! Conte para nós como é isso.
Satomi Matsuzaki: Em poucas palavras? Hoje o Deerhoof oficialmente virou a minha vida.

Qual foi o melhor momento das últimas duas décadas?
O meu momento favorito é sempre quando o amplificador está prestes a quebrar no meio de um show, porque o som de melhor qualidade sai deles logo antes da fumaça começar a subir. Quando isso acontece, olhamos uns para os outros, pensando: "uau, esse amplificador de baixo está com um som tão bom hoje", e então BUM! A fumaça começa a subir e todos sabemos o porquê. A adrenalina corre solta quando isso acontece.

E qual foi o momento mais esquisito?
Uma vez a gente tocou em Palermo, na Sicília, e as pessoas não estavam esperando o Deerhoof. Muitas delas vieram para a festa disco que haveria depois, então estavam só esperando a gente terminar o show. Estávamos fazendo um cover do Shaggs, então eu estava cantando "My Pal Foot Foot", e uma mulher italiana chegou bem na minha cara e disse: "mais rápido! mais rápido!", e depois: "pare!", em italiano. Mas sabe como é, essas coisas acontecem. No início havia sempre alguma mulher esquisita e drogada mandando eu cantar mais alto.

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Quando o público está descontente, isso faz você se sentir mal?
Eu não me importo; isso é punk. O que mais gosto durante os shows é observar as pessoas na plateia. É engraçado, eu adoro. As pessoas estão constrangidas, elas não têm certeza se deveriam voltar para pegar uma cerveja; elas conversam com os amigos. Gosto de tudo nas reações das pessoas.

La Isla Bonita é o 13º disco – você acha que ele vai ser azarado?
Ah, eu não acredito nisso, porque sou do Japão. Treze é um número normal no Japão. O número nove é ruim no Japão, e o quatro. Quatro quer dizer morte em japonês!

Caralho, tenebroso isso, vamos manter o papo mais leve. Sobre o que é o La Isla Bonita?
Na última música, "Oh Bummer", Greg canta e eu toco bateria, e acho que essa música expressa declínio e decadência. Mas esse disco é sobre… é como eu disse no começo: o sentimento de que o Deerhoof se tornou a minha vida. O disco surgiu naturalmente, e bem rápido. Espero que as pessoas possam curtir esse embalo.

Dizem por aí que o disco foi feito em apenas duas semanas.
A gente gravou no porão do Ed durante dez dias, numa sala muito pequena. Dá pra ver como é pequena no nosso vídeo [abaixo]. Terminamos de escrever as músicas numa semana e gravamos todas elas na semana seguinte. Foi super rápido.

Vocês trabalharem no porão do Ed foi uma maneira de voltar às raízes?
No início, a gente sempre gravava na nossa cozinha, com os cachorros e os gatos. No primeiro disco, dá até para ouvir o som dos passos deles, porque estavam pisando nos nossos microfones. Não foi engraçado na época, mas foi tão "faça-você-mesmo". Acho que o local é importante, para que seja punk rock. Vocês sendo punk desse jeito, ainda têm empregos normais?
Não, não temos. Sorte a nossa, sorte a nossa! Porque fazemos tudo nós mesmos, e gastamos menos dinheiro do que a maioria das bandas. E somos humildes. Parece esquisito dizer isso, mas a gente não faz questão de bons hotéis, ou de casas de espetáculo de alto custo, em que contratam equipes de 50 seguranças. A gente ainda é underground, sabe?

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O que significa que alguém, em algum lugar deste mundo, ainda não ouviu falar de vocês. Por qual disco recomendaria que essa pessoa começasse?
Por esse, porque ele é novo e a gente está muito empolgado: eu sempre recomendo o disco novo quando me fazem essa pergunta.

Vinte anos é bastante tempo. Vocês ainda passam tempo juntos, fora da banda?
Somos ótimos amigos, adoramos passar tempo juntos. Saímos para comer. Jogamos futebol. Na verdade, John traz uma bola de futebol nas turnês, então depois da passagem de som a gente fica jogando no estacionamento, com todo mundo que chega antes da hora. O espírito de equipe fica forte quando você joga algum esporte junto!

Para ver os passos super joinha de Satomi, por favor assista aos primeiros 30 segundos deste vídeo.

Você deve adorar fazer exercícios – até mesmo os seus passos de dança parecem aeróbica. Já pensou em lançar o seu próprio vídeo de ginástica?
Nããão, mas a gente acabou de fazer um clipe do próximo single em Londres, em Manor House, e ele poderia virar um bom vídeo de ginástica no futuro. Mas posso acrescentar uma coisa?

É claro, Satomi.
Eu costumava dar aula de japonês para crianças de três a quatro anos em São Francisco, nos finais de semana, na época em que fazia faculdade, e a gente sempre começava a aula com exercícios. Você chama de aeróbica, mas os meus passos de dança eu peguei de criancinhas.

O milkshake de Danielle Goldstein atrai todos os garotos para o quintal, mas eles todos têm intolerância a lactose. Siga Danielle no Twitter.

Tradução: Marcio Stockler