FYI.

This story is over 5 years old.

Música

O Clipe de “Shake It Off” da Taylor Swift Não É Nada Burro

Parece que ela está usando a estratégia de subverter convenções da escola Miley Cyrus. Lógico que aplicada ao jeitinho Taylor Swift de se comportar.

27 pode ser aquela fatídica idade em que jovens estrelas do pop batem as botas, mas é por volta dos 24 que as revelações começam. Nessa idade Britney mostrou as garras, Lindsay foi pra cadeia, e também foi quando a Rihanna arrumou um segundo emprego como fumeta profissional em lanchas.

Taylor Swift tem 24 anos, ainda que a chance dela ser pega sem calcinha saindo de carro louca de ecstasy e lança-perfume seja de 0%. Ela é menos doidinha do pop e mais uma congressista em seu segundo mandato com ambições de chegar ao gabinete. Há uma competência que flutua gentilmente em torno de tudo que ela faz – como se ela tivesse recebido algum direcionamento no início da vida que dizia “impetuosa, mas equilibrada” e esteja esperando novas instruções. Independente de estar jogando um balde de água em sua cabeça em prol da caridade, saindo da academia após um treino duro ou vendendo toneladas da bebida mais deliciosa do mundo, ela faz do brega algo digno e do superficial, profundo.

Publicidade

Recentemente, Taylor lançou "Shake It Off", seu primeiro clipe novo em um ano. Em um dos mais sombrios meses em termos de notícias da memória recente, o clipe oferece uma breve pausa do horror de nossos feeds no Twitter enquanto as pessoas se maravilham com as questionáveis habilidades de Taylor no rap e na dança.

O que chocou mais neste vídeo é que Taylor está tudo, menos mantendo a compostura. Ela faz caretas, não consegue acompanhar os outros dançarinos e a letra da música é sabidamente boboca. Taylor é uma compositora de talento, ela sabe que um trecho como “To the fella over there with the hella good hair” [Pro carinha bem ali com um puta cabelo bão] não é o melhor que ela pode fazer. Então que que tá pegando?

Como já falamos antes, o modelo Miley Cyrus de música pop – fazer uma ou outra música boa, uma puta identidade visual e pagar peitinho sempre que possível – não funciona mais tão bem. Tarados não consomem mais pop como costumavam. Mas ao mesmo tempo, música feita por meninas de bem limpinhas também não está dando muito certo. O Little Mix não tá indo mal nos EUA, mas não existe uma banda bem-sucedida de minas norte-americana há mais de uma década. A esperança feminina de Simon Cowell, Fifth Harmony, não consegue subir nas paradas. Cantoras como Kelly Clarkson e Lea Michelle tem lutado contra este clima desfavorável. No ano passado, apenas três discos de artistas femininas chegaram ao top 20 da Billboard: a própria Taylor, P!nk e Rihanna – e a não ser que Taylor queira começar a fazer músicas para divorciados bêbados ou coletâneas para clubes de strip, ela não não pode seguir os passos das outras duas.

Publicidade

Ela pode, é claro, seguir fazendo seu pop com um tiquinho de country, para o qual ainda existe um mercado gigantesco nos EUA. Mas depois de quatro discos disso, é óbvio que ela está pronta para mudar.

Então Taylor foi ver o que está dando certo no pop: boybands. O One Direction lançou o álbum mais vendido do ano passado, a nível mundial. No top 10 de discos da Billboard desta semana, duas posições foram tomadas por bandas que seguem o mesmo molde: 5 Seconds of Summer e The Vamps. Claro que parte do sucesso destes é que adolescentes nunca deixarão de curtir meninos bonitinhos. Mas há mais por trás disso. O One Direction criou um, agora muito copiado, novo modelo para boybands. Ao invés dos rapazes deprês dos anos 90, o One Direction é composto por piadistas cuidadosamente criados para parecerem autodepreciativos e envergonhadinhos, enquanto deixam as fãs loucas.

Boa parte disso é uma construção de si mesmos como antítese ao complexo ficcional do pop corporativo. No clipe de “Best Song Ever”, por exemplo, eles discutem com executivos sedentos por grana e estilistas (interpretados por eles mesmos) que querem que os rapazes façam coreografias horrendas e usem roupas bregas, mas o melhor exemplo disso são os anúncios para o perfume do One Direction, paródias bem sacadas do gênero e que ainda assim vendem uma caralhada de perfumes. Eles vão longe o bastante para zoar o making of de clipes em uma bem-sucedida estratégia de conteúdo online apenas pelo bem do conteúdo.

Publicidade

A mensagem é sempre a mesma: olha como a gente é bobo, subvertendo o sistema, brincando com as convenções. Mas a real é que eles sabem que a subversão funciona melhor que a verdade, e vendem mais um milhão de unidades daquele Bom Ar metido à besta para jovens ludibriáveis.

A Taylor não tem como se comparar com as boybands em termos de penteados bagunçados porém bonitinhos ou sex appeal pré-púbere, mas ela pode entrar nesta nova convenção ao subverter convenções.

Está ali, de cara, desde a primeira frase, “I stay out too late, got nothing in my brain, that’s what people say.” [Fico até tarde na rua, não tenho nada na cabeça, é isso que todo mundo fala]. Bem, e não é mesmo? O estereótipo com Taylor não é a de que ela seja uma selvagem tarada por farra, mas no máximo uma devoradora de homens da alta sociedade. Mas assim que você monta esse mundo exterior malvado, não importa o quanto daquilo é fantasia, é fácil de derrubá-lo. É o mesmo no vídeo – ninguém espera que Taylor tenha a graça de uma bailarina, ou a buzanfa de uma mina que faz twerking ou a frivolidade de uma líder de torcida. Mas lá está ela, não aceitando nenhuma destas regras que ninguém pediu que ela aceitasse ao agir idiotamente.

A coisa toda parece ainda mais cínica porque sabemos que Taylor não é dessas. Dê a ela o desafio do balé ou de ser líder de torcida e ela vai com tudo, a congressista pronta para uma foto. Ela adora aceitar tudo, então aí temos um paradoxo pop, em que para ser tão equilibrada e bem-sucedida como ela, Taylor tenha que emburrecer, mesmo que ela consiga fazê-lo com um esquisito e adorável aprumo.

Publicidade

Então parabéns a você, Taylor Swift, você conseguiu. Você é uma boyband de uma mulher só. Mal podemos esperar até que vocês se separem daqui um ano e seu braço esquerdo lance um disco indie de merda.

Siga @samwolfson on Twitter

A Taylor Swift tá bebendo na fonte da Miley Cyrus. Se liga em mais posts sobre isso aqui: Miley Cyrus E Kathleen Hanna Não São Tão Diferentes Assim

A Miley Cyrus Fazendo Cover De Smiths É Algo Que Acontece

A Turnê Bangerz, De Miley Cyrus: Quando O Sexo Para De Vender

Tradução: Thiago “Índio” Silva