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Música

O Big Jeff Vai a um Show por Dia e É a Lenda da Música ao Vivo de Bristol

O Flying Lotus ama, as Haim querem casar com ele, e muita gente já comeu seu cabelo.

Foto por Sofi Nowell

Durante toda esta semana no Noisey, falaremos sobre o estado atual da música no Reino Unido em uma série de artigos sobre as cenas além da capital britânica: de casas noturnas fechando à migrações à festas gratuitas à lendas locais. Acompanhe todo o conteúdo da série Fuck London aqui.

Qualquer um que já foi a um show em Bristol sabe dizer quem é o Big Jeff. Este, do Haim, já foi tão apaixonada pelo cara que tentou pedi-lo em casamento em um de seus encontros em Bristol. O cantor-compositor Beans On Toast já escreveu uma música exageradamente sentimental sobre o cara. E o Flying Lotus chegou a fazer previsões ao declarar que “precisamos fazer um documentário sobre esse bicho”, um imperativo que se tornou realidade poucos anos depois. Jeff é celebrado como uma lenda por todos, de Tim Burgess ao Foals e Bloc Party. Mas quem é esse cara?

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Continua…

Conhecido por alguns como “O Abominável Homem das Neves de Bristol”, Big Jeff (nome verdadeiro: Jeffrey Johns) é constantemente visto balançando na frente de um palco, em qualquer lugar, em qualquer noite; olhos fechados, batendo palminhas e movendo-se violentamente ao som da música. Com 1,93m de altura, cabelos loiros desgrenhados – meio surfista, meio Sideshow Bob – Jeff se tornou ao longo dos anos arroz de festa no circuito de shows em Bristol, cambaleando de um lado para o outro em qualquer show que você for. Independentemente de estar dançando no Thekla, de olho em músicos folk em um bar, ou de bobeira em algum concerto clássico no Colton Hall, a cabeleira sempre está lá, como um eterno meme da vida real. Boa parte dela deve ter entrado na sua boca em algum momento, e você deveria ser grato por isso.

Ele vai a pelo menos cinco shows por semana, por vezes sete, e esta é uma rotina que segue há quase 13 anos. Ao longo do tempo, seu status de celebridade ultrapassou Bristol, e agora ele é reconhecido por todo o oeste do Reino Unido e até no rolê dos festivais britânicos. Bandas locais sentem-se honradas em vê-lo em seus shows; quem está de passagem, e completamente alheio a este tipo de sinceridade louca, acha que ele está sendo condescendente; outros tantos simplesmente sentem-se lisonjeados por conta de seus movimentos hipnóticos. Mas quem não ficaria, né?

Foto por Charlie Pitt

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Em reconhecimento ao seu status de ‘lenda local’, agora existe uma Sociedade de Apreciação ao Big Jeff no Facebook, com quase 2.000 membros, e você também verá estêncils do seu rosto pichados por toda a cidade e em camisetas. Alguns jovens até começaram a imitar seu jeito de dançar – “fazendo o Jeff”, assim digamos – incansável, mas exultante e respeitoso. Até agora, porém, todos conheciam o mito de Big Jeff, mas ninguém tinha explorado a figura do rapaz animado que fica por trás da lenda, sendo apenas Jeff, 24 horas por dia. O que ele faz? Onde aprendeu a dançar? Qual é a dele? Decidi ligar pro cara e descobrir.

Malcolm Middleton, do Arab Strap, certa vez citou Jeff como um "metrônomo humano", então comecei lhe perguntando o que passa na sua cabeça quando ele fica batendo cabeça por três ou quatro horas todas as noites. Ele é efusivo. “O ritmo é um negócio que me pega, em partes porque estudei bateria por uns anos”. Ao explicar por que você quase sempre o encontra lá na frente, tentando criar uma ligação com a banda como uma espécie de encarnação da batida motorik, ele diz “o ritmo é algo que sempre traz energia e empolgação, então às vezes me vejo, sem querer, meio que conduzindo as bandas ou meio que mandando ver air drums. Muitas vezes, me vejo imitando o baterista. É do ritmo que vem a energia”.

(Crédito)

Jeff diz sempre ter sido fascinado pelo lado visual da música que “se relaciona tanto com a imaginação quanto à comunicação de algo”, no sentido de que ele sempre curtiu música ao vivo mais do que qualquer outra coisa. Morando em Bristol desde 2002, Jeff morava antes em um vilarejo com os pais, então não rolavam muitos shows por lá. A primeira apresentação que Jeff assistiu foi um festival de um dia inteiro de boy bands com East 17, Backstreet Boys e
“aquele cara que interpretava o Henry em Neighbours”.

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Após sua mudança para Bristol, o jovem sofreu com apendicite, e uma cirurgia malfeita lhe deixou em coma induzido por três dias. Pouco tempo depois, um amigo próximo seu faleceu. Porém, a cirurgia deu energia à Jeff, a vitória sobre a apendicite lhe conferindo uma “sensação de vitória”, e todas aquelas experiências o levaram a rever sua postura diante da vida. “Aquilo me abriu, o que significou que agora conseguia conversar com os outros”, revela.

Portador da síndrome de Asperger, dispraxia e surtos esporádicos de depressão, Jeff explica que assistir a estas bandas tornou-se uma maneira de “estar à vontade em um lugar no qual consigo me relacionar com as pessoas”. Frequentar shows se tornou, efetivamente, uma válvula de escape, bem como um jeito de fazer amigos e conversar com desconhecidos sobre uma paixão compartilhada. “Levei um tempão pra começar a falar mesmo, porque ficava muito nervoso ao me aproximar das pessoas”, comenta. “Muitas vezes tenho que esperar que alguém me aborde. Agora a coisa virou um vício, sério mesmo. E foi assim que comecei a fazer amigos. Eu conversava com os outros, especialmente músicos – dizia a eles o que eu curti e o que penso que poderia melhorar”.

Desta forma, ele se tornou uma espécie de embaixador para as bandas locais, bem como amigo e fonte vital de feedback para bandas da Howling Owl Records, de Bristol, tais como Spectres, Oliver Wilde and the Naturals e Zun Zun Egui, quem Jeff afirma ser “a banda mais psicodélica e impressionante que existe agora”. Este papel de apoiador combina com o emprego de Jeff na Art & Power, uma organização de artes para deficientes, encorajando-os a melhorarem suas habilidades, criarem projetos, e, mais ambiciosamente, realizarem seus sonhos.

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Foto por Adam Braunton

Sempre escuto gente falando sobre como nunca conheceram alguém que curta tanto música quanto Jeff. Chris Sharp, dono da Fleece, onde o nome de Jeff foi pintado em uma de suas lajes de 200 anos de idade, encontrou com ele umas semanas antes de abrir o lugar. “Acho que ele iria, literalmente, para todos os shows, se pudesse”, disse Chris. “Se ele não foi no seu show, é porque está rolando alguma outra coisa que ele preferiria ver”. Definir a programação musical em Bristol já quase virou um jogo de “quem atraiu o Jeff?”

Mas como os outros frequentadores reagem à Jeff? “Acho que Bristol tem uma quedinha por ele”, continua Chris. “E ele é um cara tão adorável. Mesmo que as pessoas achem irritante esse lance dele, assim que você começa a falar com o cara, aquela primeira impressão se vai”.

Laura Williams é a antiga editora de Jeff no Bristol 24/7, onde ele costumava assinar uma coluna sobre seu “mês em shows”, e ela diz que há uma divisão sincera sobre como a população vê o rapaz, com seus detratores normalmente reclamando de como Jeff fica na frente, atrapalhando a visão. Ela me revela que o mais incrível a respeito de Jeff é sua resistência. “Algo que nunca deixa de me surpreender é a energia de Jeff”, afirma. “Ele não bebe, e mesmo assim é sempre o último a ir embora nos festivais. Quando todos já largam de mão lá pelas quatro ou cinco da manhã, sempre posso esperar pelo Jeff perto da fogueira no Green Man ou End of the Road, ou do lado de fora da Start the Bus às 3 da manhã depois do Dot to Dot ou Simple Things”.

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Um lance que Jeff odeia é ter moleques de 14 anos lhe abordando, se pendurando no seu ombro gritando “olha, é o Big Jeff!” Mas se isso algum dia lhe impedirá de ir aos shows? “Não, não consigo imaginar isso acontecendo agora”, confirma. “Mas nunca se sabe o que o futuro reserva. Não posso afirmar que continuarei indo aos shows até morrer, agora não me surpreenderia se morresse em um show, na real… Provavelmente seria a melhor forma de partir”.

Foto por Marc Sethi via Ninja Tune

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Tradução: Thiago “Índio” Silva