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Música

O novo álbum do Name The Band é um encontro do rock alternativo de todas as épocas

O segundo disco da NTB, 'Summer Lush', é resultado da mudança da banda brasileira para Los Angeles.

Divulgação

O Zeh Monstro tem uma característica irreparável: ele não consegue ficar sem fazer música. E, desde sempre, do Holly TREE ao Last Post, passando pelo Borderlinerz, seus projetos contam com a qualidade de fabricar sons dançantes, fáceis de absorver e com aquela atmosfera entre o proto-punk/pós-punk e o indie/alternativo. Com o Name The Band, sua investida atual, ao lado dos camaradas Gabriel da Rosa, Vini Marmore e Beto Kauer, as referências são as mesmas, mas os arranjos e vocais assumem uma roupagem menos inocente. A fase do Borderlinerz cantado em português já dava sinais dessa inclinação, que agora se consolida com o segundo álbum do NTB, Summer Lush. Quando o grupo se apresenta como um encontro entre Lou Reed, David Bowie, Devo e o indie do começo dos anos 2000, pode botar fé que é disso mesmo que se trata.

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Como os próprios integrantes gostam de brincar, Summer Lush é um segundo disco que soa como tal. Se a obra chega aos nossos ouvidos mais madura e exibe uma personalidade melhor definida do que no estreante Just Add Sugar, só espero que o próximo não venha confirmar a regra da “maldição do terceiro álbum”. Feito o aposto, no geral as faixas novas continuam açucaradas, porém oferecem mais peso e densidade. Talvez isso seja um efeito da participação dos outros músicos, além do Zeh, na elaboração das bases. É que, no debut, ele compôs e gravou tudo sozinho.

Surgida em 2012 no Brasil, em São Paulo, a banda se mandou pra Los Angeles já vai fazer dois anos. E pela conversa que tive com o Zeh, as coisas estão virando por lá. Sente só:

Noisey: Conta um pouco sobre o processo de composição e produção deste álbum. Alguma curiosidade sobre como uma ou outra faixa foi gravada em estúdio?
Zeh Monstro: Levamos mais ou menos uns dois anos pra gravar esse disco. Já tínhamos uma música gravada quando viemos pra Los Angeles. A “Flash Flood”, que gravamos no Studio Nimbus, em São Paulo, com a produção do Paulo Senoni. Tínhamos mais quatro músicas apenas no papel. As outras seis músicas foram compostas aqui, entre turnês, ensaios e tudo mais. No total, gravamos o disco em cinco estúdios. A ideia era passar por diferentes experiências em cada estúdio. Na fase da masterização nos preocupava que o disco soasse como uma coletânea, mas no final tudo fez sentido. Gravamos duas músicas no Station House Studio, um estúdio super legal em Echo Park, com uma vibe anos 70, muito equipamento antigo e gravação analógica. Depois, gravamos quatro músicas no Lolipop Studio, que também é um selo. Lá também a gravação foi analógica, mas as músicas soaram mais lo-fi. Por último, gravamos as quatro músicas restantes num estúdio incrível chamado Chalet, em Culver City. Esse, com certeza, foi o estúdio mais incrível que eu já gravei na minha vida. Gostamos bastante do resultado final.

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Você diria que o Name The Band tem um pouco de todas as outras bandas das quais você já participou? Com qual delas o Name The Band tem um parentesco mais próximo?
Quando montei o Name The Band, queria fazer um som diferente de tudo o que já tinha feito antes, mas com certeza eu não consigo fugir de mim mesmo. Tem um pouco de punk-rock, de guitar band dos anos 90, de post-punk dos anos 80. Eu acho um pouco difícil definir o nosso som porque cada música tem uma cara diferente. Sempre compus desse jeito. Nunca consegui ficar muito parado no mesmo estilo. Dá pra perceber muitas influências diferentes, mas ao mesmo tempo não dá pra dizer que se parece muito com alguma banda.

Como se deu a ida de vocês para Los Angeles? A banda está integrada ao cenário local, tem sido melhor para promover o som, tocar e tudo mais?
Levamos mais ou menos um ano pra preparar a nossa vinda pra cá, entre o processo do visto, marcar os shows e organizar a viagem. Estamos aqui há quase dois anos. Nos primeiros seis meses estávamos bem perdidos, mas aos poucos fomos entendendo mais a cidade e a cena por aqui. L.A. está borbulhando, muita banda, selos, festivais independentes e público. Quem acha que o "rock está morto" deveria vir passar um ano por aqui. Posso dizer que estamos bem entrosados com as diferentes cenas de rock de Los Angeles. Fizemos uns 80 shows no ano passado pela Califórnia, Nevada, Texas, Oregon e Arizona, e, até agosto desse ano, devemos chegar a uns 150 shows no total. Lançamos o nosso primeiro album em fita K7 pela Wiener, da Burger Records, um selo que reúne muitas bandas legais desta cena. Gravamos algumas músicas no selo Lolipop, situado em Echo Park, bairro onde a gente mora e que seria uma mistura de Brooklin (NY) com Rua Augusta e Vila Madalena [risos]. Estamos bem empolgados com o lançamento do disco novo!

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Como são os rolês por aí?
Tocamos bastante em L.A., mas estamos sempre viajando pra outras cidades da Califórnia e outros estados pra fazer show. Normalmente fazemos pequenas turnês de dois ou três shows. Temos uma van (a Lady Van) e nosso equipamento, então podemos tocar em qualquer lugar. As pessoas de um modo geral são bem solícitas e acho que por sermos "gringos" o pessoal sempre se interessa. A cena é muito forte, com muita banda foda. Mas é uma concorrência limpa, todo mundo se ajuda. A vida na estrada é compartilhada com muita gente. É bem fácil viajar por aqui, as estradas são boas e não têm pedágios, os hotéis são decentes e baratos e o visual é incrível!

Muitas loucuras, roubadas, aventuras?
Com certeza, muitas loucuras [risos]. Por incrível que pareça ainda não tivemos nenhuma roubada muito grande. Apenas alguns incidentes como acabar a bateria da van, acabar a gasolina, furar o pneu, não ter dinheiro para comer, essas coisas normais de quem tem banda independente. Mas no geral as viagens são a melhor parte!

Antes do Name The Band vocês já tocaram juntos em outros projetos?
Depois de lançado o álbum de estreia, resolvi chamar uns amigos para poder tocar o disco ao vivo. Já conhecia o Gabriel dos rolês da vida e ele estava sem banda e curtiu o som. Junto com ele veio o Careca pra tocar a batera. Eles já tocavam juntos em bandas anteriores. O Vini, nosso querido baixista, trabalhava no Nimbus, o estúdio onde eu gravei o primeiro disco. Convidei ele pra tocar o baixo e ele topou. Depois disso nós viramos essa família que somos hoje. A gente se dá muito bem, tanto musicalmente como no dia a dia. E, aos poucos, eles foram colocando a personalidade deles no som.

As influências da banda reverberam Strokes e Arctic Monkeys. Vocês acham que esses grupos indie do começo dos anos 2000 amadureceram de um jeito legal?
Acho que seria mais correto dizer que nós bebemos das mesmas — pelo menos algumas — fontes que essas bandas beberam. Nossas influências são muitas! Com certeza o Strokes e o Arctic Monkeys marcaram essa geração e influenciaram muitas bandas. Acho que o Strokes se perdeu um pouco no meio do caminho, e o AM deu uma amadurecida no som, o que acho legal em particular.

De rock mais atual, surgido de 2010 pra cá, tem alguma influência ou coisas que vocês andam curtindo?
Hoje em dia eu estou mais interessado em ouvir bandas novas, pequenas, e ver shows em buracos. Quando a banda ainda é relevante de verdade e imaculada artisticamente, tocando pelo tesão de tocar e quando ainda não foi engolida, pasteurizada e embalada pelo mercado. E o legal de morar aqui é que é possível encontrar algo assim em qualquer esquina, numa segunda-feira, no meio do nada.

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