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Música

O novo disco do Nosso Querido Figueiredo é uma homenagem à sua cidade natal, Tapes

43º disco do gaúcho de 23 anos, 'Nossa Cidade'16' transforma o pacato recanto do litoral gaúcho em 15 faixas lo-fi/noise-pop.

Tapes é uma cidadezinha de mais ou menos 18 mil habitantes no litoral do Rio Grande do Sul. Além de atrair vários visitantes por causa da suas praias e do folclore regional, o município gaúcho serviu de inspiração para um dos seus nativos, Matheus Borges (vulgo Nosso Querido Figueiredo) lançar o seu novo álbum, o Nossa Cidade'16.

Feito todo em faixas lo-fi/noise-pop, o disco nasceu em 2012, depois de Matheus ter visto um panfleto de um projeto de lei de Tapes que propunha cercar uma parte da Lagoa dos Patos. "Achei aquilo muito engraçado e, alguns dias depois, escrevi a canção 'A cerca da cidade (Passe por Cima de Mim)'", disse. "Aos poucos, percebi que tinha facilidade para escrever sobre a cidade". Assim, saíram nove das 15 canções do disco. Quatro anos depois, ele acrescentou mais seis faixas ao álbum e finalizou o seu ambicioso trampo de fazer um "ciclo de canções que estabelecessem meio que uma mitologia de Tapes". Ou, como o próprio disse, o Rain Dogs (o discão do Tom Waits sobre Nova York, para os desavisados) dele.

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Nossa Cidade'16 é, provavelmente, o 43º álbum dele. Digo "provavelmente" porque nem ele soube me responder direito quantos disco já lançou — isso porque o menino tem 23 anos. Ouça o disco abaixo, com exclusividade no Noisey, enquanto lê o papo que bati com o Nosso Querido Figueiredo.

NOISEY: Vi que você já lançou muitos discos. Em que números estamos agora?
N. Q. Figueiredo: Então, na verdade é o 43º lançamento, desde 2008. Não tenho muito controle disso. Mas álbum-álbum mesmo tenho que ver — se for levar em consideração que álbum tem que ter duração de 30 minutos ou mais.

Nossa! São muitos. Como você explica essa sua produtividade?
Acho que vem de mim mesmo. Os processos de criação desses álbuns são bem diferentes uns dos outros. Às vezes, começo por um tema. Às vezes, começo quando quero fazer um tipo determinado de som. Mas não consigo explicar esse sistema de produção. Nunca tive essa intenção de ser prolífico. As coisas só foram acontecendo.

O que você tava ouvindo quando compôs o Nossa Cidade'16?
Então, eu queria fazer o meu Rain Dogs. Um álbum definitivo para uma cidade. Mas quis fazer música simples, deixar a voz e as letras em primeiro plano. Ouvi bastante o Songs for Drella também, algumas coisas do Warren Zevon. As minhas grandes influências mesmo, para o lançamento definitivo em 2016, foram os últimos álbuns do Cidadão Instigado (Fortaleza) e do Wander Wildner (Existe Alguém Aí?)

Esses dois discos foram importantes porque, quando gravei tudo isso em 2012, não tinha muita confiança de que era um material que fazia sentido. Mas, depois que ouvi Fortaleza e Existe Alguém Aí?, que são declarações tão honestas a respeito de duas cidades, decidi voltar a esse trampo e reorganizá-lo.

Existem altos álbuns sobre cidades, né? O Lou Reed tem o New York e o Berlin…
Sim! O Tom Waits tem o Rain Dogs. Chega a ser absurdo que eu faça um álbum inspirado em Tapes, essa cidadezinha com pouco mais de 18 mil habitantes. É quase ridículo que eu force o ouvinte a aceitar a existência de Tapes. Mas, Tapes existe! Tapes é real!

Mas por que você decidiu, então, fazer um disco sobre Tapes?
Morei lá até os 17 anos. Minha família toda é de lá. Me mudei pra Porto Alegra pra fazer faculdade. E é isso que acontece: as pessoas chegam a uma certa idade e vão embora para cidades maiores. Isso acontece em tudo que é cidadezinha. Acaba que a cidade pequena fica cada vez mais fraca. Mesmo assim, ela é uma estrutura fascinante em que tudo é muito claro. As posições sociais, a hierarquia. Dá pra enxergar tudo isso muito claramente. É um lugar onde ao mesmo tempo em que existe muita hipocrisia, não existe hipocrisia nenhuma. Isso que me motivou mais.

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