FYI.

This story is over 5 years old.

Música

A antidiva MC Carol

A funkeira de 22 anos negra gorda e da favela se tornou a cara e a voz do novo movimento feminista.

Em março, na coluna Mulher do Dia, vamos diariamente parar por um minutinho o torno informacional para respirar e pensar sobre quantas vezes nós levamos realmente a sério o fato de que muitas das nossas artistas preferidas são, todos os dias, mulheres.

Foto por Felipe Larozza/VICE

“Fodam-se os padrões. Não temos e não queremos o corpo da Gisele Bündchen”, tuitou a MC Carol na última terça-feira (22). A postagem rendeu mais de 200 likes e vários comentários a chamando de “diva” e “gostosa” — qualidades que, normalmente, não seriam atribuídas a ela, justamente por Carol ser gorda, negra e ter vivido toda sua vida na favela. Ainda assim, graças à sua autoestima superelevada e das letras engraçadas de suas músicas (e, algumas, até políticas), a funkeira de 22 anos, meio que sem querer, ganhou uma massa de fãs na internet e foi alçada à “diva” feminista (apesar de nunca ter ouvido falar de feminismo até pouco tempo).

Publicidade

Carol nasceu na comunidade do Morro do Preventório, em Niterói, no Rio, e teve que ser criada pela avó, depois de o pai ter sido preso e a mãe, sumido. Queria ser juíza, mas abandonou os estudos na 8ª série. Entrou pro mundo do funk entre os 16 e 17 anos, quando fez “Tô Usando Crack”, faixa que ela se arrepende um pouco de ter gravado, “depois de ter tomado consciência do que o crack pode fazer com a vida das pessoas”.

Em 2015, foi convidada por um de seus maiores ídolos, a rainha do funk carioca Tati Quebra-Barraco, para o programa Lucky Ladies. E foi lá que Carol conquistou de vez as redes sociais, mandando várias “lições” pra vida, como “Queria ficar magra comendo churrasco” e “Você gosta de chocolate? Prazer, Carol Show”. Depois disso, ela ainda lançou sua música “Não Foi Cabral”, na qual fala sobre escravidão e genocídio indígena no descobrimento do Brasil. Foi a partir daí que a Carol encarnou de vez a imagem de funkeira politicamente correta. Agora, ela se prepara pra lançar o seu primeiro disco, entitulado, claro, 100% Feminista. Leia a nossa entrevista com a funkeira, que falou sobre a emoção de de subir no palco Lollapalooza ao lado de outra cantora negra, a Karol Conká.

NOISEY: Como que você começou a trabalhar com música?
MC Carol: Eu comecei a cantar uns seis anos atrás. Tinha uns 16, 17 anos e cantava de graça em troca da passagem de volta e um lanche. Hoje tudo está ótimo. Estamos preparando um álbum, com o Leo Justi, que deve sair até o início do segundo semestre se tudo der certo.

Publicidade

Você já sofreu preconceito na música por ser mulher?
É difícil ser mulher e ter que comandar uma equipe. Minha equipe é toda de homens. E conseguir o respeito deles foi difícil. Pra mulher ser respeitada, ela tem que se colocar como homem às vezes. Ela não pode ser sensível. Tem que ser dez vezes mais forte do que o homem para conseguir um pouco de respeito.

Já te falaram alguma coisa sobre a sua aparência?
É que sou uma pessoa de uma personalidade muito forte. Então, se alguém vem falar alguma coisa pra mim, já meto uma resposta à altura. Não levo desaforo pra casa.

Que mulheres você tem como influência no mundo da música?
Tati Quebra-Barraco, Amy Winehouse, Nina Simone, Alcione, Flora Matos, Karol Conka, entre outras. Muitas mulheres.

Quando você se descobriu feminista? Como foi?
Foi com o pessoal no meu Facebook, falando que estavam adorando essa a minha "fase feminista". Eu confesso que não entendia bem o que era. Mas sempre me importei muito com igualdade entre as pessoas. Sempre lutei por isso, desde pequena. Sempre tive que me impor. Se entrava em briga e batiam em mim, eu batia de volta. (Risos)
Ainda estou aprendendo o que é ser feminista. Mas se é ser mulher que quer seus direitos, não é fase não… sempre fui feminista.

Pra você, como está o cenário da música para a mulher?
Acho que tem mais espaço para as mulheres gostosonas que cantam melody, no funk pelo menos. Mas, tem umas minas do rap vindo com um público muito forte. Acho que vai reverter esse quadro e todas nós vamos ter nosso espaço.

Como foi cantar no Lollapalooza com a Karol Conka?
Já vi o vídeo umas 85 vezes e a ficha ainda não caiu. Sou muito fã dela. As músicas delas são incríveis. Fiquei muito emocionada. Foi uma oportunidade única. Cara, eu ainda tô questionando Deus, sabe? Pensei: “Deus, o que foi isso? Eu não sou merecedora disso. O que está acontecendo?” Foi muito maravilhoso. Aquela plateia toda… Aquela gente toda… Eu nunca tinha cantado pra uma plateia tão grande. Quase desmaiei quando era a minha vez de entrar no palco. Foi muito, muito louco. Ainda tô digerindo. Eu falei pra Karol que nem se eu subir o Cristo Redentor de joelho de costas eu vou conseguir agradecê-la, porque pra mim foi uma emoção muito grande. Toda vez que eu vejo o vídeo, os meus olhos enchem de lágrimas. Foi uma experiência muito boa. E eu quero mais.

Siga o Noisey nas redes Facebook | Soundcloud | Twitter