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Música

Uma Karol Conka incomoda muita gente

Com seu rap girl power sem papas língua, Mamacita é uma das artistas brasileiras mais necessárias de 2016.

Em março, na coluna Mulher do Dia, vamos diariamente parar por um minutinho o torno informacional para respirar e pensar sobre quantas vezes nós levamos realmente a sério o fato de que muitas das nossas artistas preferidas são, todos os dias, mulheres.

Divulgação “Sociedade em choque, eu vim pra incomodar”, canta Karol Conka no seu último single, “É o Poder”. E se tem uma coisa que a Mamacita faz muito bem é justamente incomodar. Seja por causa do seu rap girl power sem papas na língua — que, com participação da também feminista MC Carol, “tombou” o último Lollapalooza — ou por causa dos seus cabelos rosa e suas roupas coloridonas, não tem como estar no Brasil em 2016 e ser indiferente à rapper de 29 anos.

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Todo esse poder que emana da Karol Conka de hoje tem como fonte, principalmente, a sua vó e a Lauryn Hill. A sua vó, porque foi ela quem a ensinou que a Karol não devia se curvar pra homem nenhum. “A vovó apanhou a vida inteira do meu vô e essa agressão só cessou quando ela reagiu”, disse. Já a Lauryn Hill, porque foi quem fez a rapper se apaixonar de vez pela música. “Foi quando ouvi essa mulher cantando pela primeira vez que eu percebi que queria e podia fazer hip hop da minha vida”, explicou.

Justamente o que a Karol quer hoje é ser a Lauryn Hill de várias meninas negras no Brasil. “Ainda somos poucas no rap, mas tô aqui pra provar que é possível ser mulher e fazer o que você quiser, por mais que nos digam o contrário”. E, pra ela, dois dos caminhos para as minas conseguirem dizer o que pensam e o que querem estão na música e nas redes sociais.“São a principal ferramenta hoje para passarmos as nossas mensagens de forma mais clara, não é?”. Leia a entrevista com a nossa Mulher do Dia:

NOISEY: Como você começou a trabalhar com música?
Karol: Foi quando eu me liguei que só conseguia fazer isso da minha vida. Já fazia música desde pequena, mas foi quando eu tinha 15 pra 16 anos, depois de ouvir The Fugees e conhecer a Lauryn Hill, que comecei a ter um interesse maior. Me identifiquei muito com ela.

Que mulheres você tem como influência?
Simone, Cássia Eller, Beyoncé, minha mãe e minha vó [risos]. São mulheres fortes, que passaram por situações de dificuldade, mas conseguiram superar. Elas passam mensagem de força. Minha vó sempre me ensinou que mulher jamais tem que abaixar cabeça pra homem, nem jamais deixar que ele te bata — porque ela apanhou a vida inteira do meu vô e ele só parou quando minha vó resolveu se manifestar. Minha vó também me falou sempre que nós vivemos numa sociedade muito machista e que se a gente não reage, somos engolidas por ela.

Você já sofreu algum preconceito no mundo da música só por ser mulher?
Com certeza. Praticamente, quase sempre. Um dos exemplos aconteceu num determinado festival, no qual eu era uma das principais artistas — e a única mulher, porque o restante era tudo grupo de homens —, e eu não tinha o mínimo de estrutura no camarim que pedi no evento. E aquilo era justamente por eu ser mulher. Quando você começa, sempre rola aquela coisa de “quem é essa aí?”. E, se você é mulher, é muito pior. Tive que bater muito o pé para ter o que tava combinado no contrato. Já aconteceu muito de os contratantes custarem a seguir as minhas exigências do contrato justamente por eu ser mulher. Eles são camaradas dos homens, das mulheres não. Quando é pra levar artista mulher e ganhar grana em cima delas, tudo bem. Agora, na hora que eles têm que mostrar respeito e empatia com a artista, é muito difícil.

Como é ser mulher no rap?
É desafiador. Principalmente por ser um lugar dominado pelos homens. Mas não é impossível. Ainda somos poucas, com certeza. Porém eu tô aí pra provar que é possível sim ser mulher no rap. E quero que as meninas vejam isso: que dá pra ser mulher negra e fazer música, por mais que te digam o contrário.

Como você acha que está o cenário agora pra mulher na música?
A gente está conseguindo, cada vez mais, passar a mensagem de feminismo de forma mais clara, né. E, por meio da música e da arte, nós estamos conseguindo falar dos problemas que enfrentamos enquanto mulheres sem sermos tachadas de vítimas. Acho que as mulheres estão numa fase boa. As redes sociais também estão aí para nos ajudar — seja através de posts polêmicos, textões ou grupões, que nos fazem refletir sobre esses temas, gerar debate. Afinal de contas, informação sobre esse assunto nunca é demais, né?

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