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Música

Monte a Sua Banda de Metal: Um Passo a Passo

Foi-se o tempo em que pra tocar metal bastava juntar seus amigos virjões num quarto e costurar patches nos coletes. O metal moderno tem tantas derivações que é necessário um guia passo-a-passo.

Houve uma época em que montar uma banda de heavy metal significava juntar alguns amigos que tocassem algo, costurar um patch no seu colete jeans e passar horas e horas sem sexo no seu quarto tentando tirar sons do Kiss e Van Halen. Ah, mas esses tempos mais simples se foram. O metal é um lance gigantesco hoje em dia, acompanhado de milhares de subgêneros, cada um com seu conjuntinho de regras (ou regras a serem quebradas). É uma era confusa pra quem só quer ser foda, adorar riffs e suar em cima de um palco.

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Então se você quer começar sua própria banda de metal, saiba que existem algumas decisões sérias a serem tomadas. Abaixo listamos alguns dos caminhos pelos quais você terá de passar em sua jornada de entregar sua alma aos deuses Rock’n’Roll (o Rock é benevolente, mas o Roll é um desgraçado bebedor de sangue e destruidor de mundos), além de alguns conselhos para cada escolha.

TEATRAL OU CASUAL?

Se você toca em uma banda de metal, ou você quer fazer parte de um monstro estapafúrdio que vive a impressionar seus fãs ou só agir como caras comuns mostrando que qualquer um pode fazer aquilo se for de coração. O que você escolherá?

Teatral: bandas de arena como Iron Maiden e Rob Zombie, ou qualquer horda de black metal da Escandinávia. Ninguém quer ver uns otários comuns no palco, as pessoas buscam uma experiência. Certifique-se de usar couro com tachas e coisas pontudas, mantos com capuz, e/ou corpsepaint. Nos shows, tem que ter fogo, sangue ou um crânio no palco; combine os três e de repente você conseguirá convencer o público de que não é só um cara sofrendo com brotoejas com aquelas caneleiras.

Passo em falso: máscaras de Dia das Bruxas compradas em lojas. Não tente ser o Slipknot.

Casual: as primeiras bandas de thrash da Bay Area e bandas de death metal americanas são os melhores exemplos. Vista-se normalmente – vocês não são espíritos do mal, só uns músicos prontos pra arrebentar. A única coisa que tem deve estar no palco é uma bandeira com o seu logo, e olhe lá.

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Deixe claro pra molecada que você é um deles, desde que não encostem em você quando forem dar stage dives.

Passo em falso: sair falando mal durante seus shows de bandas que se preocupam com imagem. Bela maneira de mostrar que alguém tem um orçamento maior pro palco.

Meio-termo: thrashers com tachas. Pense no Slayer ou Skeletonwitch. Só porque a sua banda não é um circo não quer dizer que você não possa usar cintos de bala e manoplas. TRADICIONAL OU PROGRESSIVA?

O metal é um gênero cansado nos dias de hoje, carinha. Você honrará os deuses ao seguir seus passos, ou valerá de sua mente aberta para trilhar seu próprio caminho?

Tradicional: lembre-se de Exodus, Manilla Road, Holy Grail. Fodam-se aqueles hipsters – jeans e couro até o fim, bicho. Foque em riffs crocantes, baterias galopantes, solos em chamas e bater cabeça. Tenho ao menos uma tatuagem inspirada na NWOBHM e um cover do Slayer – só dos quatro primeiros discos – que possa tocar a qualquer momento. Beba uísque e louve peitos.

Passo em falso: usar imagens abstratas em suas artes. Mete um bode com uma mini-metralhadora nessa porra feito homem.

Progressiva: Enslaved recente, Wolves In The Throne Room, Deafheaven. Não somos mais homens da caverna, caras, podemos ser cheios de ideias e ter cabelo curto. Certifique-se de que a sua música é dissonante e contenha momentos de quietude e crescendos emocionais absurdos. Escreva sobre literatura filosófica, os efeitos do sexo na mente e colapso ambiental.

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Passo em falso: homofobia. Você sabe que os caras do Cynic são gays, né?

Meio-termo: death metal adorador de Schuldiner. Você pode soar brutal e ter uma puta linha de baixo, além de discutir psicologia conceitual.

SATÂNICA OU NÓRDICA?

Desde o primeiro disco do Black Sabbath, o Diabo tem sido um pilar da música extrema. Mas não seria a hora de dar um descanso pro Bode Véio e fazer algo verdadeiramente brutal?

Satânica: vai com tudo. Pentagramas, cruzes invertidas, Baphomets, a porra toda. Use termos como “qliphoth”, “Gehenna”, e “blasfemo” nas suas letras. Componha uma canção para cada uma das formas as quais você gostaria de ver Jesus ser morto. Quando pressionado em entrevistas, deixe claro que Satã não é só uma criatura com cascos, mas um deus que representa a liberdade, um estilo de vida ou um sentimento dentro de cada um de nós.

Passo em falso: tratar seu satanismo como uma coisa boba de adolescente, mais a frente. Uma bela maneira de cagar a diversão toda.

Nórdica: escolha o caminho mais complicado. Satanistas nada mais são que outra espécie de cristão; Odin e os Aesir precedem essa porra toda há séculos. Use um colar de Mjolnir e não deixe de corrigir os outros quanto à pronúncia ‘Mjolnir’. Deixe a barba crescer, use couro trançado, beba hidromel em chifres. Escute algo de folk metal, mas só as bandas mais brutas. Não se esqueça de mudar o vocabulário – não é apocalipse, é Ragnarök. Não é inferno, e sim Hel.

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Passo em falso: bermudas. Se você quer relaxar, usa uma porra dum kilt, babaca.

Meio-termo

: misantropia Lovecraftiana. Sem cabelo, sem chifres, só o desejo de ver lulas gigantes matarem todo mundo com fogo mágico.

TÉCNICA OU TOSCA?

O metal sofre influências do rock blueseiro e da música clássica barroca, mas sejamos sinceros, era um negócio meio bobo até o punk entrar no meio. Você entra na onda caótica ou se preocupa com o posicionamento dos seus dedos? Técnica: Children of Bodom, Meshuggah, Brain Drill, Origin. Não seja preguiçoso – tranque-se num quarto e toque escalas até seus dedos sangrarem. Se os solos não forem feitos com cuidado e a produção não for mais brilhante que lombo de pão doce, não vale o esforço. Metal é isso – dominar suas habilidades e a grandeza do som. Punk era só algo sobre penteados, certo?

Passo em falso: dar uma de Malmsteen. Ninguém dá a mínima pra suas mãos rápidas se você não consegue compor uma música boa.

Tosca: Darkthrone, Midnight, Impaled, Pig Destroyer. Não seja um nerdalho – quem liga se você acerta cada nota, contanto que dê o seu melhor? Trate seu instrumento como atores pornográficos tratam Sasha Grey. Beba e se entupa de drogas, ou seja 100% straight-edge. Perca as estribeiras no palco – fique de joelhos, corte os dedos, vomite. É isso que importa na música – energia pura. O metal clássico só ligava pra penteados, certo?

Passo em falso: Dar uma de Discharge. A sua tosquice não é nada glamourosa ou artística.

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Meio-termo: Stoner e sludge. Ainda soa como algo técnico mesmo se você só toca uma nota a cada 30 segundos.

ZUERA OU SÉRIA?

Metal é sobre tomar umas e curtir, certo? Errado. É sobre a grandiosidade do universo, cuzão. Você é um babaca ou um dos brothers?

Zuera: The Black Dahlia Murder, Gama Bomb, GWAR. Você até pode falar sobre demônios e a escuridão, mas vamos encarar os fatos, você é só um cara cheio de esmegma. Fique de rolê com os fãs, zoe a si mesmo em vídeos, e eventualmente bote um cara vestido de taco no palco. Viva em nome da maconha e cerveja; certifique-se de que ambas apareçam muito em sua estética. Se alguém levar a sério demais, faça um gesto imitando uma punhetinha na cara deles.

Passo em falso: ironia. O metal pode ser engraçado, mas ainda assim é do caralho; sempre, o tempo todo.

Séria: Triptykon, Unleashed, Danzig. Se quer rir, vá brincar de fazer cosquinha. Isso aqui é metal. Nunca sorria em fotos da banda. Recuse-se a rir ou contar histórias engraçadas sobre turnês em entrevistas. Se no começo da carreira você fez parte de algum projeto engraçadalho, negue por completo. Use roupas militares ou de inspiração militar. Escreva sobre fatos históricos e Aleister Crowley. Nunca deixe que te vejam beber.

Passo em falso: vir a público falar mal dos engraçadinhos. Se prepare pr’aquela punhetinha imaginária.

Meio-termo: socialmente consciente.

Você pode relaxar e rir de quase tudo, menos direitos dos animais. Nunca dos direitos dos animais.

Dá pra assumir um compromisso com alguns destes pontos, né? A resposta é: não. Compromisso é a coisa menos metal do mundo. Mas não importa que caminhada você escolha – banda comum simples louca por cerveja ou enviada do inferno de cara feia cuspidora de fogo – esperamos que você meta medo pra cacete em pais preocupados e que costurem patches da sua banda com fio dental em jaquetas de todo o mundo. Só fique de olho no consumo de drogas do baterista, atualize o Bandcamp de vez em quando e lembre-se: se essa banda for ruim, há sempre projetos paralelos.

Chris Krovatin chupou Kerry King em uma festa certa vez, mas ele não é gay porque gritou “SLAYER” no final. Siga-o no Twitter.

Traduzido por: Thiago “Índio” Silva