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Música

Moe Tucker - Instantâneas do Underground

A primeira baterista feminina em uma das bandas mais revolucionárias de todos os tempos.

Arte por Brian Wallsby

Maureen Tucker sentou-se na primeira fila da história do punk rock e a viu acontecer bem diante dos seus olhos. Uma garota normalzinha de Levittown, Long Island, teve a vida salva pelo rock ‘n’ roll quando ouviu Rolling Stones no rádio de seu carro. De Velvet Underground a Andy Warhol, Nico e Edie Sedgwick, Moe estava lá -- fazendo história com as próprias mãos ao se tornar a primeira mulher baterista de uma das bandas mais revolucionárias de todos os tempos.

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Houve boatos de que Maureen entrou para o Tea Party no estado sulista que ela agora chama de lar, mas graças a Deus eu a entrevistei antes de o Tea Party sequer existir. Odeio falar sobre política.

ORIGENS

Comecei a tocar bateria quando apareceram os Rolling Stones, porque aquilo era demais para mim! Estava dirigindo do trabalho pra casa e “Not Fade Away” tocou no rádio. Quase morri. Na verdade, tive que encostar o carro. Eu estava na Hempstead Turnpike em Levittown e parei o carro, não podia acreditar naquilo. Caralho, pensei. Que porra é essa?

Fui direto para casa da esposa do Sterling Morrison -- ela era minha melhor amiga -- e a irmã dela ficou maluca também. Corri pra casa dela e disse: “Kathy! Ouve isso que acabei de ouvir! Vamos comprar isso já!”

Voamos pra loja de departamentos mais próxima, compramos o disco, fomos pra casa e tocamos aquilo até furar. Ficamos tipo: “Meu Deus, isso é fenomenal!”

Então, um tempo depois, eu disse: “Bem, isso não tem graça. Preciso ter algo pra fazer enquanto ouço isso”, então comprei uma caixa de bateria. Eu tinha uns 19 ou 20 anos. Uma semana depois comprar a caixa, a irmã da Dot Parker me comprou um pequeno prato com uma basezinha que você podia acoplar à caixa. Então eu tinha um prato e uma caixa, e cara, eu ficava ali por horas, tipo oito horas, sem brincadeira, e tocava aquilo sem parar. E tocava e tocava. Foi assim que comecei.

Não conhecia nenhuma outra garota que tocasse bateria, mas nunca me ocorreu me preocupar com isso. Não era um problema. Nunca houve problema algum por parte de ninguém. Nunca ouve um comentário, inclusive por parte de outros músicos. Ninguém nunca disse: “Ah, uma garota tocando bateria, isso não é legal.” Não era nada de mais. Parece que falam mais disso hoje em dia do que falavam na época.

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A ENTRADA NO VELVET UNDERGROUND

Não fiz propriamente um teste pra entrar no Velvet Underground como baterista. Não sei se se podemos chamar isso de teste. Sabe, eu conhecia o Sterling Morrison desde os 12 anos, e o Sterling era amigo do meu irmão e meu irmão tinha ficado amigo do Lou Reed em Syracuse -- ambos estudaram na Universidade de Syracuse.

Também foi assim que Sterling conheceu Lou. E Sterling estava tocando com Lou Reed, John Cale e Angus MacLise por volta de seis meses a um ano. Então eles conseguiram um trabalho em que seriam pagos e Angus não concordou com aquilo e se demitiu. Eles tinham a vaga disponível e precisavam de um baterista o quanto antes. Sterling sabia que eu estava batucando coisas no meu quarto, então ele disse: “Ah, a irmã do Tucker toca bateria…”

Tinha visto o Lou uma ou duas vezes antes de ele vir ao meu quarto me ver tocar. Ele esperava meu irmão ou algo assim -- ele ficava ali esperando na sala de visitas. Mas nunca me sentei e conversei com ele. Quando ele veio me ver tocar, mal tive tempo de decidir se gostava dele ou não -- mas acabei amando ele.

Em Syracuse, Lou e meu irmão, Jim, se tornaram grandes amigos. Eles passaram os anos de faculdade colando num lugar chamado The Orange, tomando cervejas e curtindo, sabe? Foi onde eles conheceram Delmore Schwartz, como também algumas outras pessoas, tipo Garland Jeffries. Mas nunca fui visitá-los porque eu ainda estava no colégio, haha!

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Então Lou veio descobrir se eu conseguia mesmo tocar alguma coisa e era pra ser só naquele único show, na Summit High School em Nova Jersey. E eu estava uma pilha de nervos quando toquei. Só podíamos tocar três músicas e tínhamos ensaiado no loft de John Cale. Tocamos “Waiting For My Man”, “Heroin”, e acho que a terceira foi “Venus in Furs”. Estávamos tocando com uma banda, The Myddle Class, composta por um grupo de rapazes bonitos e o lugar estava cheio porque eles eram a sensação do rolê. Mas o público ficou boquiaberto depois que tocamos.

Fizemos um set de só uns 15 minutos no máximo e a cada música alguma coisa minha quebrava. Minhas coisas estavam desmoronando! O pedal quebrou numa música, a perna do surdo começou a balançar. Pensei, "Merda, vou foder com tudo!"

O Lou talvez nem tenha percebido. Tenho certeza que não. Tenho certeza que ele estava nervoso o suficiente -- não que ele estivesse nervoso quanto a tocar, mas isso era tipo tocar num superclube, o público estava sentado em cadeiras estofadas. E eu tinha essa bateria horrível -- só tinha a caixa quando comecei. Então minha mãe viu um anúncio no jornal local de um kit por 50 dólares e o comprou pra mim. Era bonzinho. Eu só estava na curtição, mas você pode imaginar o estado do kit.

Mas eu continuei tocando, hahaha!

ANDY WARHOL

Fizemos aquele show e consegui imediatamente um trabalho no Café Bizarre, onde não era possível pôr uma bateria porque era muito barulho. Então o Lou disse: “Bem, venha e toque um pandeiro…”

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Então fui e toquei pandeiro em “Heroin”, e foi meio difícil, haha! Daí em diante eu estava sempre ali. Mas nunca foi oficial, tipo “OK, você está na banda…”

Acho que foi Barbara Rubin quem trouxe Andy Warhol pra nos ver tocar no Café Bizarre. Era tipo a terceira ou quarta noite que estávamos tocando ali e eu estava impressionada com o Andy. Eu sabia quem ele era; claro, eu sabia que ele estava na crista da onda naquela época. Andy aparecia sempre na revista Time. E eu pensei, Ah, isso é bacana, sabe?

Não ligo muito pra arte. Sou péssima em arte, na verdade, não sei lhufas sobre o assunto. Sei o que eu gosto -- e eu meio que achava as latas de sopa de tomate legais, mas era tudo que eu sabia sobre Andy. Aparentemente ele estava procurando uma banda pra executar essa ideia que ele tinha de fazer um show multimídia. Acho que se poderia chamar de show. E Barbara Rubin achou que a gente se encaixava na ideia.

Andy gostou de nós imediatamente e só falamos dessa ideia do show multimídia, que, naquele momento, era só uma ideia. Ele perguntou se queríamos fazer a parada e nós topamos.

O Café Bizarre nos demitiu pouco tempo depois que o Andy veio nos ver. O gerente ou o dono disseram: “Se vocês tocarem mais uma música tipo ‘Black Angel’s Death Song’, vocês estão demitidos!” Tocamos mais uma desse tipo e fomos demitidos. O que foi bom pra mim, porque era a semana do Natal e eu não estava numas de passar a véspera do Natal no Café Bizarre. Fiquei feliz por termos sido demitidos.

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Eu vivia em Long Island; e vinha pra cidade todo final de semana pra passar um tempo na Factory. Era muito bom. Era tipo um bar, sabe? Um bom lugar pra passar um tempo com toda espécie de gente interessante, tipo Ondine, Gerard Malanga, Ronnie Cutrone, e toda essa gente, e era divertido pra caralho. Eu deitava e ficava vendo Andy desenhar. Ele era ótimo. Eu gostava muito, muito dele. Nós nos divertíamos muito. Curtimos muito na Factory.

Eu era muito ingênua. Nunca tinha estado em lugar nenhum, nem feito nada e lá estava eu na Factory com Andy Warhol. Eu era muito insegura e tímida -- era por isso que eu usava óculos escuros nos shows, eu estava com vergonha! E Andy poderia facilmente fazer eu me sentir um lixo, simplesmente por não falar comigo. Isso já teria sido o suficiente, sabe?

Mas ele nunca foi assim. Andy fazia com que eu me sentisse não só bem-vinda -- mas muito bemvinda, e isso foi muito importante pra mim. Eu gostava muito dele. Eu o chamava de “doçura”. Andy era famoso por ser pão duro e eu vinha dirigindo de Long Island pro fim de semana e precisava de dinheiro pra gasolina pra voltar pra casa. Nesses dias precisava-se dois dólares pra encher um tanque, então eu chegava pro Andy no domingo à tarde e falava: “Beleza, doçura, preciso de uma graninha…”

E ele respondia: “Ops, espera um minuto…”

E vazava pra outro lugar, esperando que eu fosse embora! Acabou virando uma piada, todo mundo ficava esperando eu puxar uma briga com o Andy e correr atrás dele pela Factory. Sabe, “Seu filho da puta, me dá uma grana!”

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“Ops, só um minuto, Mo…”

Andy estava fazendo uns balões prateados. Acho que era arte, algo assim, não sei nada sobre isso. Então quando ele estava fazendo esses balões prateados, eu ia pra Factory nos finais de semana e ele os estava terminando. Tinham tipo uns quatro ou cinco deles flutuando e ele chega e diz: “Mo, olha meus balões que lindos…”

Respondi: “Quem você pensa que vai comprar essa merda?”

Andy disse: “Não, não, não, as pessoas vão gostar deles…”

Então no dia seguinte ou uma semana depois ele os vendeu por três mil dólares!

Cara, o Andy trabalhava pra cacete. Ele estava sempre trabalhando, se não estava criando arte, estava ao telefone ou planejando algo. Ele costumava dizer pro Lou e pro John: “Você precisa escrever uma música nova todos os dias.” Não acho que tenha dito todos os dias, mas eu lembro disso como uma piada, mas não propriamente uma piada. Sabe, “Quantas músicas você escreveu hoje, Lou?”

Eles diziam: “Duas.”

E Andy dizia: “Só duas?”

Andy Warhol, Maureen Tucker, e Lou Reed

NICO

Nico veio logo no começo, e a razão de estar dizendo isso é porque temos fotos dela cantando conosco na Factory quando estava lá só curtindo. E aquilo foi muito no começo, na Factory antiga. Andy não me apresentou a Nico particularmente. Ele não a empurrou pra nós, porque nós não deixávamos ninguém nos empurrar nada. Tenho certeza que ele só disse: “Olha, talvez ela devesse cantar uma música…”

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E nós dissemos: “Bem, vamos tentar…”

Acho que as músicas que Nico cantou eram ótimas, e nenhum de nós conseguiria jamais chegar perto de cantar aquilo como ela cantou. Mas Nico e eu não tínhamos particularmente nada em comum. Eu não desgostava dela, mas nunca ficamos por ali papeando. Ela era de um mundo muito diferente do meu. Quer dizer, eu era uma bobona de Levittown, sabe? Quão descolado você consegue ser quando vem de Levittown? E ela era essa beleza nórdica!

Há uns dez anos, bem, provavelmente doze ou quatorze, eu estava morando no Arizona e tocando com uns jovens, tínhamos uma banda e um show agendado na Califórnia. Quando chegamos lá, vimos o nome da Nico no letreiro do Whiskey a Go Go e eu disse: “Oh, será que devo ir?”

Não a via há uns 20 anos e, como eu disse, nunca fomos muito amigas, não éramos inimigas, mas também não éramos propriamente amigas. Não sabia mesmo se eu ficaria entediada e diria algo tipo “Oi, e aí, tudo bem?”

Mas pensei: “Talvez eu deva dar um oi pra ela…?”

Então fui ao Whiskey quando sabia que ela estaria chegando pro seu show e ela ficou felicíssima em me ver. Foi tão bom. Fiquei tão feliz que isso aconteceu, principalmente depois que ela morreu. Ela ficou muito feliz mesmo em me ver. Então depois do show dela -- e do meu -- nos encontramos no hotel. Nico, eu e algumas das pessoas delas e algumas das minhas nos sentamos e ficamos bebendo e conversando, foi muito bom.

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Logo quando a Nico veio pro Velvet foi quando tocamos na Convenção de Psiquiatria no Hotel Delmonico. Porra, foi tão engraçado. Por que nos convidaram, eu não saberia dizer. Não era tipo um show; era tipo um jantar com uns duzentos psiquiatras e nós -- esses esquisitos da Factory. Tocamos talvez duas músicas ou coisa assim, e depois pessoas tipo Gerard Malanga e Barbara Rubin foram perturbar o público com seus gravadores e câmeras de mesa em mesa fazendo perguntas cretinas. E os psiquiatras ficaram pasmos. Só me sentei e disse: “O que caralhos estamos fazendo aqui?”.

Acho que todos esses psiquiatras consideraram fazer alguma anotações ou algo do gênero, hahaha!

Nem teve muita repercussão, só uma noticinha, algo do tipo: “MALUCOS DO WARHOL VÃO A UMA CONVENÇÃO DE PSIQUIATRIA!” E houve uma menção no New York Times, mas nem foi nada de mais. Quer dizer, era uma convenção e eles precisavam de algum entretenimento, então chamaram os louquinhos da Factory, hahaha!

THE DOM

Costumávamos tocar no The Dom em St. Marks Place e nos divertíamos muito porque era só nós. Alugamos o espaço e tocávamos três ou quatro vezes por noite por meia hora e entre os sets colocávamos uns discos pra tocar -- qualquer coisa que quiséssemos. Claro, trazíamos nossos próprios discos. Lou tinha uma coleção incrível de singles, coisas que você nunca ouviu falar, mas cada qual tinha um solo maravilhoso de guitarra, uma ponte incrível ou um bom gancho. Me lembro de tocarmos “River Deep Mountain High” tão alto que mal consigo descrever. Era incrível porque era grande, e, cara, nós tocávamos o que queríamos. Então todas as noites ouvíamos a música que gostávamos e quando não estávamos fazendo isso, estávamos fazendo música.

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Tocamos no The Dom por tipo um mês, e todos os nossos amigos de Long Island vinham nos finais de semana e nós fazíamos a nossa festa particular de Levittown, haha! Tocávamos todas as noites e sempre tinha gente no The Dom. Estava sempre cheio. E então nos finais de semana, claro, ficava lotado. E Andy ficava na varanda com suas luzes e coisas e subíamos lá entre os sets pra levar uns lances pra ele, haha!

Era divertido, tivemos ótimos momentos.

Mas então minha bateria foi roubada, aquele kit de 50 doláres que minha mãe comprou pra mim. Chegamos lá pra tocar e minha bateria tinha sumido -- alguém a tinha roubado. Daí eu e o nosso ajudante, que tinha uma perua, dirigimos procurando por lixeiras de metal pra usar como bateria. Achamos um par, mas elas estavam meio nojentas, então eu disse: “Não, vamos continuar procurando…” Então encontramos um par mais limpo e foi isso que eu usei por três ou quatro noites, talvez uma semana. Foi a única coisa que me roubaram na vida, na verdade.

As latas de lixo soavam muito bem, aliás. Mesmo. E eu usava tacos para tocar e botamos uns microfones debaixo de cada lata. Na primeira noite a bateria estava debaixo de uma pilha de caca que saiu da lateral da lata, então tivemos que limpar aquilo, claro. E na noite seguinte a pilha de caca estava menor, e na outra menor ainda. A cada noite eu batucava mais merda pra fora da lata, a pilha ficava menor a cada dia.

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Então Andy usou nossos rendimentos do The Dom pra me comprar outro kit usado. Sempre fiquei com a merda. O baterista sempre fica com a merda, hahaha! Mas nos divertimos muito no The Dom -- era tipo a sala da nossa casa.

Depois de tocarmos no The Dom, saímos em turnê. Acho até que fomos pra Califórnia e ficamos no “The Castle”. Aquilo era muito divertido, mas não a Califórnia. Não curtíamos aquela parada de paz e amor, hahaha! Não gostávamos de hippies. E não éramos muito fãs dos sons de São Francisco. Não curtíamos aqueles lances, sabe?

Nem um pouco.

Quando tocamos no The Trip em LA, o xerife prendeu nossas coisas no clube. Não sei bem o que aconteceu, não era nada que tínhamos feito, era algo que o clube tinha feito. Só que quando fomos pegar nossas coisas elas estavam todas trancadas e não pudemos pegá-las. Isso ficou resolvido depois de uns dias, mas nesse meio tempo ficamos no The Castle por umas semanas, esperando pra tocar no Fillmore in São Francisco.

E nenhum de nós se dava bem com Bill Graham, o dono e promotor do Fillmore, ele nos tratava mal pra caralho. Primeiro, ele expulsou o Sterling, e depois ele ainda mandou um: “Eu quero que vocês se fodam!”.

Ele nos odiava porque éramos da costa leste. Não tínhamos feito nada para que ele nos odiasse. Ele só não nos curtia desde o princípio e nem nós a ele, então tudo bem.

Infelizmente ele é conhecido como o inventor das luzes nos shows e tal. Foi mal, mas já estávamos fazendo isso primeiro. Não tô nem aí, mas a reputação é de que ele começou com o lance de luzes em shows, quando ele tinha dois refletores e um strobo, talvez.

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Mas ele não começou nada disso, foi o Andy.

Quando estávamos na estrada, todos respeitavam minhas idas à igreja católica aos domingos. Quer dizer, enchiam o meu saco e saíam pra um passeio, mas todo domingo de manhã eu dizia: “Preciso de um carro pra ir à igreja…”

Então eles me zoavam um pouco, mas eles me respeitavam muito e eu nunca tive problemas quanto a isso. E quando o Andy ia começar um filme, eles diziam: “Olha, Mo, vamos começar a fazer um filme agora…”

E eu dizia: “Bem, até logo”, porque eu não queria ver aquela merda, hahaha!

Fizemos o primeiro disco com nosso próprio dinheiro. E então fomos à luta. Tínhamos acabado de gravar o disco e então a ideia era que alguma gravadora ia querer comprá-lo. Não tínhamos muito tempo; o primeiro disco levou oito horas pra ser gravado. E então, quando a Verve o comprou, eles nos deram mais um tempinho de estúdio, tipo cinco horas e tal na Califórnia.

Nossa gravadora, a Verve, nunca pagou os royalties e nunca fez a distribuição. Tocávamos em algum lugar, tipo Filadélfia ou Boston, e as pessoas lotavam o lugar e amavam aquilo e então perguntavam: “Onde consigo comprar seu disco?” Em qualquer parte que íamos, era a mesma história. Por que eles assinaram conosco? Pra nos manter fora das ruas? Era um mistério. Sabe, por que assinaram conosco? Por causa de isenção de impostos?

Então nos fodemos com a Verve.

A ESTRADA

Também era um bocado assustador fazer uma turnê no interior dos EUA naquele tempo. O cabelo do John Cale estava na altura no ombro e as pessoas literalmente vinham falar coisas pra ele na rua -- um cara bateu nele em Chicago, de todos os lugares possíveis. Só por ter cabelo comprido. As pessoas não eram nada descoladas.

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Nosso ônibus ficou preso em Ohio uma vez e com sorte encontramos um posto de gasolina. Então nosso ônibus parou e dele saíram uns 13 lunáticos e o atendente chamou a polícia imediatamente. Daí saímos de lá e mandamos a nossa pessoa mais normal, Sterling Morrison, pra conversar com o cara: “Ei, você tem um distribuidor?”.

Todos estavam fora do ônibus pra esticar as pernas e de repente a polícia estava lá perguntando quem era o responsável.

Alguém disse: “Andy…”

Outra pessoa disse: “Não, não manda o Andy lá!”

Dissemos aos policiais: “Olha, o ônibus está quebrado, estamos presos! O que vamos fazer?”

Ainda não estava escuro, mas era óbvio que não iríamos resolver o problema no cair da noite. O cara teve que mandar alguém até Detroit pra conseguir a peça que precisávamos e teríamos que passar a noite inteira lá. Os policiais nos disseram: “Bom, vocês estarão fora daqui amanhã por volta de meio-dia!”.

E não tínhamos feito absolutamente nada de errado. Então nos hospedamos num motel e pegamos dois quartos. As garotas estavam num quarto e os garotos no outro. Estávamos sentados lá, no meio do nada, e havia um bar tosquinho no fim da rua, então eu e Sterling fomos lá pegar uma cerveja. Quando voltamos, fomos todos pra um quarto beber cerveja e ver TV -- e o gerente ligou pra reclamar -- eles estavam putos porque as garotas estavam no quarto dos garotos.

Foi uma loucura.

Quando voltamos da Califórnia, Albert Grossman, o empresário do Bob Dylan, havia roubado o contrato do The Dom e o renomeado pra Electric Circus. Aquilo era pra ser nosso e enquanto estávamos fora, Grossman tinha dado um jeito de pegar o contrato com o proprietário. Ele disse: “Ah, eles saíram da cidade”, algo assim. Então quando voltamos, ele estava gerindo aquilo, por isso não curtíamos muito o Albert Grossman, haha!

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Fomos o Velvet Underground com a Nico por quase um ano, quando estávamos fazendo o lance do Andy. Eu diria quase um ano, talvez um ano e meio. Não acho que existiu um momento em que disseram que a Nico estava fora da banda.

Só meio que nos separamos.

Isso é pura especulação da minha parte, mas não acho que Nico se via como uma cantora naquela altura. Acho que ela se via como alguém do cinema, ou uma modelo -- cantar conosco era só algo pra se fazer. E talvez, por ter cantado conosco, ela pensou, Olha, isso é massa, sou muito boa nisso! E então ela foi atrás disso, mas é só minha opinião.

Na mesma época, nos separamos de Andy. Era tempo de irmos embora e parar com a curtição e ser uma banda de verdade, hahaha!

Também não sei ao certo o que aconteceu entre Lou Reed e John Cale. Acho que eles se confrontavam -- não o tempo todo -- mas mais pro fim era muita briga rolando. Era sobre música, mas eu não sei exatamente se o John queria tentar isso e o Lou não queria, ou o que era. Mas fiquei magoada com a saída do John da banda. Foi muito doloroso pra mim. Eu gostava muito do John, não só musicalmente -- então foi tudo uma merda.

John ainda queria ter uma banda; Acho que pensou, Agora vou fazer meus próprios lances, então não era uma questão de estarmos na banda do Lou ou do John. Não era isso. Era só, “bem, vamos continuar como uma banda…”

Mas a vida é uma merda quando essas coisas acontecem.

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Durante todo o meu tempo tocando com o Velvet, nunca pensei nisso como uma carreira. Era só que estávamos nos divertindo e fazendo boa música. Depois que a banda acabou, era hora de conseguir um trabalho.

Então Andy me contratou pra fazer umas transcrições. Eu ia pra Factory na Union Square, ouvia as fitas e as datilografava. Andy estava fazendo filmes e todos aqueles lances rolando -- e eu passava o dia datilografando. Depois de uns três dias, Paul Morrissey veio ver como eu estava e percebeu que havia uns espaços em branco nas páginas. Eu estava deixando espaços em branco.

Então Paul disse: “O que é isso?”

Eu disse: “Ah, eu não vou colocar essas palavras nojentas.”

Quer dizer, Bridget Polk estava falando palavrões e outras pessoas estavam falando coisas sujas nas fitas, e isso me incomodava, sabe? Então eu deixava espaços em branco nos lugares dos palavrões. Eu estava deixando o espaço específico com todas as letras de cada palavra pra eles preencherem depois.

Mas Paul foi lá e contou ao Andy, e ele vem correndo e disse: “Oh, Mo, você não está colocando os palavrões?”

Eu disse: “Não, não, você sabe que eu não gosto desse tipo de conversa.”

Então ele disse: “Você poderia colocar a primeira letra?”

Eu disse: “Não, vocês têm que voltar e ouvir e descobrir qual é a palavra.”

Andy disse: “Ah, tudo bem.”

Então eles tiveram que voltar tudo e completar todos os palavrões.

Em 1975, Legs McNeil cofundou a Punk Magazine, que é parte do motivo pelo o qual você sabe o que essa palavra significa. Ele também escreveu Mate-me Por Favor. Além de colaborar como colunista da VICE, ele continua a escrever em seu blog pleasekillme.com. Você também deveria segui-lo no Twitter -- @Legs__McNeil

Este artigo apareceu primeiro na VICE.