FYI.

This story is over 5 years old.

Música

O Metronomy Captou o Espírito dos Anos 70 para Fazer Canções Pop Memoráveis

Trocamos uma ideia com o compositor e produtor Joseph Mount, que falou da boa fase puxada pelo seu melhor e mais recente álbum, ‘Love Letters’.

Em sua quarta passagem pelo Brasil, o conjunto inglês de electropop Metronomy é uma das principais atrações do Popload Festival, que rola no Audio Club, em São Paulo, nos dias 28 e 29 de novembro. Depois de um show solo no Circo Voador (20/11), eles chegam à capital paulista para fechar o segundo dia do evento, dividindo o line-up com nomes como 2manyDJs, Icona Pop, Cat Power, Boogarins, Rodrigo Amarante, The Lumineers e Tame Impala. A banda vem para divulgar seu novo álbum, Love Letters, lançado no começo do ano. Se no trabalho anterior, The English Riviera (2011), eles já haviam se distanciado do som festivo dos tempos em que foram revelados em direção a uma espécie de pop erudito, Love Letters deixa para trás o synth pop pungente e vai buscar inspiração nas baladas sessentistas e no soul.

Publicidade

“Sempre gostei da música dos anos 1960-70, acho que foi a época que definiu o pop como o conhecemos hoje. Tudo veio dali. Então quis me deixar levar um pouco por aquele espírito para criar composições memoráveis”, observou o produtor e compositor Joseph Mount ao telefone, semanas antes de embarcar para o Brasil. Pense em Supremes, Zombies e Sly & the Family Stone: é mais ou menos esse o espírito. Canções como “I’m Aquarius” e a faixa-título, a qual ganhou um bonito vídeo dirigido por Michel Gondry, ilustram bem a pegada atual da banda, mais próxima do clássico e sublime conceito de canção. Sobre a parceria com Gondry, Mount deixa escapar que foi uma ideia do próprio diretor: “Alguém mostrou a música para ele, ele curtiu e aconteceu. É uma loucura isso, porque todo mundo que tem banda gostaria de ter um clipe dirigido pelo Gondry”.

As letras também estão diferentes. Mais elaboradas e melancólicas, falam de amores perdidos, arrependimentos, corações partidos. “Agarre-se firmemente a tudo aquilo que você ama”, aconselham os versos de “Monstrous”. Uso esta passagem como gancho e comento com Mount que os versos desse disco são os mais confessionais já escritos por ele. O artista então abre o jogo e lança que “nem tudo o que é dito vem de experiências pessoais. Alguns versos surgem a partir de situações que eu imaginei. Minha namorada até ficava brava no começo, porque todo mundo olhava para nós e ficava ruminando os problemas que vivíamos para que eu compusesse uma ou outra letra. Na verdade, as passagens são vagamente baseadas em situações vividas por mim ou por pessoas próximas, e não totalmente. ‘I’m Aquarius’, por exemplo, é tipo uma historinha que eu imaginei. É sobre os personagens que inventei, e não sobre mim mesmo. Acho normal, é tipo literatura”.

Publicidade

Quando o baixista/tecladista Gabriel Stebbling, membro da formação original, pulou fora em 2009 para se dedicar ao seu outro grupo, o Your Twenties, poucos imaginavam que a mudança seria para muito melhor. O Metronomy, afinal, está em sua melhor fase desde que começou, em 1999, época em que tudo o que Mount tinha em mente era um projeto paralelo eletrônico e instrumental, diferente das coisas com as quais costumava trabalhar – antes da banda, Mount já atuava como produtor de estúdio profissional. Tão logo a coisa ficou um pouco mais séria, juntaram-se a ele Stebbling e o tecladista/saxofonista Oscar Cash.

Com a entrada de Gbenga Adelekan no baixo e da baterista Anna Pior, o Metronomy concebeu o surpreendente The English Riviera, que ejetou o quarteto para o mainstream, emplacando nas paradas do Reino Unido e vendendo mais de 60 mil cópias; além de uma indicação ao Mercury Prize, a oportunidade de abrir os shows do Coldplay nos Estados Unidos e uma série de apresentações com ingressos esgotados, a exemplo do Royal Albert Hall. Pergunto a Mount se ele tomou um baque com toda essa repercussão, na tentativa de pescar algum intento do Metronomy em se tornar um espetáculo de arena, contudo ele disse apenas que “foi uma boa experiência, mas eu gosto de tocar em shows menores também, me traz uma satisfação nostálgica, do comecinho da banda”.

E falando em “comecinho da banda”, talvez tenha demorado um pouco, mas é possível afirmar que, de 2006 para cá, quando eles assinaram com a Because Music e começaram a trabalhar no repertório de Nights Out, lançado em 2008, o Metronomy deixou de ser um projeto paralelo despretensioso para virar a principal ocupação de seus integrantes. Tanto que Mount passou a ter que conciliar sua agenda para não abandonar a profissão de produtor musical. “Eu tento, da melhor maneira possível, equilibrar as duas coisas. Não quero abandonar totalmente nenhuma das duas. Mas é certo que o Metronomy demanda mais do meu tempo hoje em dia”, pondera ele.

Publicidade

Foi em Nights Out que sua eclética fórmula, uma combinação de influências que abraça sonoridades que vão de Bowie a Devo, N.E.R.D. e Pavement, atingiu maturidade e passou a conquistar gradativamente um público fora do circuito alternativo, graças a músicas como “Heartbreaker” e “My Heart Rate Rapid”. Daí que a coisa veio evoluindo até chegar em Love Letters. “As pessoas têm dito isso, que Love Letters é a obra-prima da nossa carreira. O que posso afirmar é que esse foi mesmo o disco ao qual eu mais dispensei energia no que tange aos detalhes e à produção. Eu estava empolgado do começo ao fim desse projeto. Quando você faz algo realmente elaborado e coloca sua verdade naquilo, as pessoas sentem e se conectam”, argumenta Mount por baixo do chiado da ligação.

Para encerrar nossos 15 minutos de conversa, eu quis saber se o Metronomy estava preparando alguma coisa diferente para o show no Popload. “Nós estamos muito mais confortáveis no palco do que da última vez que fomos ao Brasil. Acho que isso já vai ser diferente o bastante”, replicou o artista, dando risada. Confesso que naquele momento eu não catei a piada, sem saber o que dizer de volta, acho que não manjo muito do senso de humor inglês. Mas entendi que eles vão fazer um puta show daora.

Popload Festival

R$ 140 (meia, primeiro lote) a R$ 1.100 (inteira, camarote para os dois dias)

Ingressos à venda pela internet. Clique aqui para comprar