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Música

O Disco Novo do Mercado de Peixe, ‘Água da Faca’, É um Fumacê nos Trilhos do Trem

Álbum marca a volta da banda depois de sete anos sem gravar; ouça com exclusividade no Noisey.

Foto por Cosmo Roncon Jr./Divulgação

O lugar ideal para ouvir o Mercado de Peixe é a beira dos trilhos da Ferrovia Bauru-Itapura, vendo a fumaça dos trens e fazendo seu próprio fumacê. É nessa brisa de fim de tarde que eles lançam com exclusividade aqui no Noisey Água de Faca, o terceiro álbum (oitavo contando os EPs e demos) do grupo depois de um hiato de sete anos. O disco chega à rede mundial de computadores no dia 1º de agosto, aniversário de Bauru, e o show de lançamento será no dia 15 do mesmo mês, no Teatro Municipal da cidade. Ouve aí:

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Para entender o som dos caras é preciso sacar que viola, sanfona, beats e samples têm tudo a ver e dão a maior liga. “A cultura popular e a cultura do remix são muito parecidas. Nas duas a noção de autoria se dissolve e as duas se baseiam no transes da repetição de células rítmicas”, explica o vocalista Juninho Madureira.

“Começamos a pensar em um disco novo em 2014, quando a gente resolveu ir pra um sítio em Piratininga. Ficamos quatro dias e saíram cinco músicas", conta o tecladista e e produtor do disco Fernando TRZ. Mixado por Pipo Pegoraro e com participações de Saulo Duarte, Junião, Rômulo Nardes e das cantoras Tika e Kika, Água da Faca é um novo passo na história do Mercado de Peixe, um passo que muita gente acreditava não ter mais.

Foto por Cosmo Roncon Jr./Divulgação

A história da banda se confunde com os passos da música independente do interior paulista do início do final dos anos 90 e anos 2000. Fundado em 1996 na cidade de Bauru, o grupo fez parte de uma cena local muito interessante e variada com nomes como Serotonina e a Música de Metro, Strange Music, Lavoura, Bloco do Teodoro, Norman Bates e os Corações Alados, Autoboneco, conhecida também como Bonequinho, BNQNH ou >+O. “No começo ficamos bem isolados por um tempo porque não éramos aceitos nem pela galera do rock e da eletrônica, nem pela galera da música tradicional”, afirma o guitarrista e violeiro Ricardo Polettini.

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O rolê começou na Universidade Estadual Paulista (Unesp), onde parte dos caras cursavam design, jornalismo, entre outras fitas. A galera se juntou na República Samacô, que virou também o nome do selo, e no Interunesp, festival de música promovido pela faculdade, em Ilha Solteira, a coisa assumiu uma forma. “Na época era uma formação totalmente diferente. Chegou a ter 13 pessoas na banda com saxofone, clarinete, dois berimbaus, um monte de percussão. Era um lance meio de choro, jazz, com blues e samba. O bagulho era insano”, explica o baixista Fabiano Alcântara.

“A gente tinha uma pira de fazer música eletrônica no braço. Nós fomos num show do Roni Size Represent e do Aphex Twin no Free Jazz, em 2001 e piramos", conta TRZ. Essa piração ganhou força com Roça Elétrica, segundo disco do grupo, lançado em 2003. ”Foi o momento em que conseguimos empregar as ideias de fazer música contemporânea com base em cultura popular”, comenta Fabiano.

Formação antiga da banda. Foto: Acervo da República Samacô

Sons como como “Brasil Novo”, “Beats e Batuques” e “Fogo no Caviar” (uma versão pós-caipira de Alvarenga e Ranchinho) são a síntese dessa mistura de drum and bass, catira, folia de reis e post rock. Eles cantam o interiorzão, histórias do trem e lendas locais como Eny, dona de um dos puteiros mais famosos do centro-oeste paulista, que apareceu em 2003 em “Brasil Novo” e volta a toda em “Juan Caballero”. “A Eny é ao mesmo tempo amada e odiada em Bauru. Era uma cafetina de muito prestígio em sua época, entre os anos 50 e 70, e o seu bordéu era ferquentado por grandes políticos e artistas conhecidos nacionalmente. O local onde funcionava chegou a ter pedido de tombamento histórico, mas a sociedade local rechaçou a possiblidade”, conta o guitarrista e violeiro Ricardo Polettini.

Se com o Roça Elétrica o Mercado de Peixe cantou Bauru, agora em Água da Faca eles pegaram o trem até a Bolívia passando por mais uma pá de piração.