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Música

Os 10 melhores álbuns da música brasileira de 2015

Com algum esforço e vista grossa compilamos essa listinha com o que deu para salvar na música brasileira pós 7 a 1.

Todo mundo tá reclamando pra caramba de 2015. Teve crise sim e bateu forte. E nada vai bem se os negócios vão mal, certo? Certo. Por isso vamos colocar na conta da crise uma certa escassez de discos MUITO BONS. Lançamento não faltou, até por que, no século XXI, você precisa de quase nada para fazer, gravar e lançar música (nunca esquecer que o funk carioca ganhou o Brasil e o mundo graças às saudosas LAN houses). Então, foi com algum esforço e vista grossa que compilamos essa lista de dez discos que nós, a equipe editorial da VICE Brasil, julgamos como os melhores trabalhos fonográficos lançados em território brasileiro neste ano. Com certeza deixamos coisa boa de fora, cometemos injustiças, cagamos regras sem saber direito do que estamos falando, mas juro pra você que a lista e os textos que a justificam foram feitos de coração, na mão e na mais sincera intenção de trazer à tona o que nos tocou de verdade, os discos que a gente até baixou pro celular para ouvir no ônibus.

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2015 tava ruim, tava bom, mas parece que piorou. Nossos votos são para que em 2016 os músicos desse nosso Brasil dêem a volta por cima, sacudam a poeira e tragam só medalha de ouro para a nossa seara musical.

Se você discordou, concordou, ficou possesso, achou fofo, achou bem petista, hipster, ou qualquer outra coisa, não deixe de expressar a sua valiosíssima opinião nas redes sociais do Noisey. Um simples “lacrou” basta. Ou um “seus modinha”. Aí é com você.

1. Rodrigo Ogi - RÁ!

Peço desculpas logo agora: pra mim é difícil falar do RÁ! sem ter que colocar um monte de eu eu eu eu no texto. Então, vou tentar ser breve, pra não estragar o dia de ninguém com egotrip. Não vou esconder que eu fui testemunha ocular e espiritual do árduo e longo processo necessário para que o RÁ! saísse. Até fui em gravação, dei uns pitacos — que não faço ideia se foram aceitos ou não (espero que não). Já faz uns dois anos que o disco do Rodrigo Ogi é pauta fixa em conversas de bar, no almoço, no Whatsapp e em onde mais der. Então, entendo e até aceito que apontem o dedo duro “questão ética jornalística” pro lado de cá, denunciando o flagrante conflito de interesse que é ser editorialmente crítico com algo que, indiretamente, eu estou envolvido. Mas a grande Verdade é que, independentemente de ser bróder do Ogi, ou de ter acompanhado gravação, ou de ser editor aqui no Noisey, toda vez que ouço o Rá!, eu reafirmo a minha convicção de que o Ogi foi o melhor rapper de 2015. No Rá!, ele e o Nave conseguiram dar novas cores e valores para o lirismo Gotham-Bixiga que é a linguagem da urbe cinza e toda pixada que o Ogi pinta desde 2011, ano do Crônicas da Cidade Cinza.

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O Rá! tá cheio de canções, de hits, de punchlines e refrões que grudam fundo na mente. Foi o disco que gerou a maior quantidade de earworms (eu não lembro se o português tem um termo equivalente, me perdoem), aqueles trechos que ficam em loop batendo pra lá e pra cá na mente. Ele transparece algo raro na música brasileira contemporânea que é um trabalho cuidadoso na construção das rimas (complexas num nível Racionais MC’s), na criação dos beats, nos arranjos, na forma como todos esses elementos se entrelaçam e se apresentam. Por último, o mais importante: uma imaginação fértil pra criar um universo cheio repleto de personagens, sensações e imagens inusitadas vivendo num cenário tão psicótico que é engraçado. O Rá! é a redenção do Coringa, com o Ogi cambaleando na fronteira entre o malandro de rua e moleque de vila sangue bom pra ficar em harmonia com o próprio caos.

Então, por isso e muito mais é que não vou fugir do conflito ético jornalístico de interesse sei lá o quê. Vou é abraçá-lo e dizer que é motivo de orgulho poder conviver e participar de uma forma ou de outra do Rá!, que é (ou devia ser) um ponto chave não só da história do rap, mas de toda a música popular brasileira. — Eduardo Roberto

2. Elza Soares - A Mulher do Fim do Mundo

Numa dessas madrugadas endiabradas, eu e minha melhor amiga voltávamos pra casa querendo ouvir (de novo e de novo) A Mulher do Fim do Mundo. No apê, garrafa de Jameson aberta, ouvimos o disco mais precioso do ano pra nós duas. Cantamos juntas todas as músicas enquanto falávamos que da próxima vez que trombarmos o Rodrigo Campos vamos mandar um “você é meu irmão moleque”, assim como ele fez com a “Elzinha”. Esse é um disco maravilhoso por várias razões. Maravilhoso porque repassa musicalmente a vida da rainha do samba. Maravilhoso porque eu, minha amiga e todas as minas cantamos juntas: “Você vai se arrepender de levantar a mão pra mim”. Maravilhoso porque a vida, às vezes, é uma bosta, mas nós sempre teremos madrugadas endiabradas e esse disco pra nos lembrar que pode ficar tudo bem. E mesmo com a finitude certeira (essa é a única certeza que temos), esse disco é maravilhoso porque a Elza nos ensina qual o remédio que ela sempre usou pra lidar com as mil tretas da vida: “Me deixem cantar, me deixem cantar, eu vou cantar até o fim”. — Carla Castellotti

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3. Aláfia - Corpura

O

Aláfia

deu o papo sem massagem e sem rodeio.

Corpura

, o segundo álbum do grupo, é o amadurecimento musical —

um marco afropopfuturista no Brasil

— e também o amadurecimento ideológico de uma geração que não tem medo, e inclusive se orgulha, de ser negra. O discurso é crítico do pé ao último fio de cabelo crespo e aparece reluzente num cenário de redescoberta do afrobeat no circuito branco classe média, do hip-hop pop e da rearticulação do movimento negro em grande parte do Brasil.

Corpura

é muito mais que um álbum, é um manifesto preto tocado em alto nível e altíssimo astral, apesar (ou por causa) das orelhadas. —

Peu Araújo

4. Boogarins - Manual

Bom, qualquer banda fora do eixo Rio-São Paulo (o

Boogarins

é de Goiânia) que, além de ter a estreia do seu segundo álbum no

New York Times

, ganha

uma puta resenha positiva do The Guardian

deveria chamar a sua atenção. Tirando esses fatores óbvios, Manual vem pra consagrar 2015 como o melhor ano (até agora) pro indie-psicodélico no Brasil por dois motivos: 1) O álbum é internacionalzão. Não são eles “copiando o Tame Impala”, como muita gente insiste em dizer desde

As Plantas Que Curam

(2013). São eles sendo contemporâneos ao Tame Impala, fazendo um trabalho nesse ano tão bom quanto

Currents

— guardadas as devidas proporções; 2) O álbum é brazuca e nostálgico. Afinal de contas, não dá pra negar as referências à nossa saudosa (?) Tropicália no trampo do Boogarins. Além disso, as “brasilidades” vêm nos riffs nebulosos, murmúrios delicados do vocal e groove meio bossa nova. Claro,

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continuamos entendendo porra nenhuma das letras deles

. Mas, nem precisa. O que vale é a vontade de sair pra ver o sol e de se livrar desse “labirinto de tédio” que vem quando ouvimos Manual. —

Beatriz Moura

5. Cidadão Instigado - Fortaleza

Misturar repente e metal parece atividade fácil pro Fernando Catatau. Fortaleza (o disco e a música-tema) tem esse acento que só o Cidadão Instigado consegue imprimir ao rock nacional. Como de costume, este é mais um álbum da banda que curte fazer reverência aos santos do seu altar musical composto por clássicos como Led Zeppelin, Pink Floyd, Neil Young e por aí vai. Dessa vez, Catatau e seus chegados homenagearam o Black Sabbath. O resultado é uma belezinha dark, cheia de riffs, que demorou a sair (foram seis anos desde Uhuuu!), mas que sempre deixam nós, velhos roqueiros hippies criados à beira mar, muito felizes e com saudades de casa. — Carla Castellotti

6. Ceticências - Deus Sabe

Eu encontrei o Sávio na D-Edge na véspera do lançamento do vídeo de "Deus Sabe #2". Eu tava meio bebaço e falei pra ele que pirei no disco, achei o Oneohtrix Point Never brasileiro que queremos. Fiquei com a impressão de que ele não curtiu muito a comparação, mas eu tava bêbado, então não liguei. Agora, sóbrio, digo: realmente é o Oneohtrix Point Never brasileiro que queremos. O supra citado Sávio e o Cadu Tenório fazem em Deus Sabe aquele tipo de música eletrônica espectralmente divina, com os dois pés no legado do YMO e Ryuichi Sakamoto, mas numa versão menos memória perdida da solidão internética (por isso a comparação com o Daniel Lopatin, que, inclusive, me decepcionou esse ano com um disco chatão meio Korn). A dupla consegue colocar um tempero musical de verdade no já datado e sempre preguiçoso vaporwave. Não acho que eles sequer tenham pensado nisso de vaporwave, também não pensaram em colocar gostinho a mais em nada; apenas fizeram o que queriam fazer e essa seriedade despretensiosa que ouço e curto no disco. E Deus Sabe fica ainda mais gostoso se levarmos em consideração o cenário de noise/experimental brasileiro, recheado de arrogância pseudo-artística e falta de talento fingindo ser atitude punk blasé. — Eduardo Roberto

7. Diogo Strausz - Spectrum Vol. 1

O Diogo lançou o disco logo no começo do ano, nas primeiras semanas de janeiro, e eu ouvi à época e tive esperança. Esperança de que 2015 seria um ano musicalmente fértil no Brasil, mas meio que não foi tanto. E muito do que acabou saindo no circuito que podemos chamar de underground acabou rodando nos mesmos eixos do samba rock soul 70 brasileiro, mas tudo meio preguiçoso, sem aquela melodia forte, com o timbre errado, com o suingue meio quadrado (ou roubado). O Strausz fez tudo isso muito bem e logo em janeiro, jogando uma sombra pra cima de todos os roqueiros que acharam que revisitar o lado mais balanço do Roberto Carlos era a nova onda indie do momento. Ou seja, ouça o Spectrum Vol. 1 e meio que ouça TODOS os discos de rock descolado lançados em 2015 no Brasil. E olha que o Diogo tem só 25 anos. Imagina só quando ele crescer. — Eduardo Roberto

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8. Cadu Tenório e Juçara Marçal - Anganga

Falar que a Juçara Marçal tem a voz feminina mais representativa dos dias de hoje é dar, bem de boa, aquela chovidinha no molhado. A parceria da cantora com o Cadu Tenório, porém, mostra ela não é só uma voz fodona. Anganga é um discão. É noise, é macumba, é barulho, é conceito, é Juçara muito longe da zona de conforto. É uma releitura exquisita de Clementina de Jesus, Geraldo Filme e Doca. É visceral. — Peu Araújo

9. Saturndust - Saturndust

A força da psicodelia brasileira não tá só no sonzinho indie leve do Boogarins e do Supercordas, não. Você também pode encontrá-la nas profundezas do metal underground paulistano do Saturndust. Sério, não dá pra ouvir esse disco e permanecer nessa dimensão. Tudo por causa do space doom viajadão da banda, que fez uma mistura louca de stoner meio Mars Red Sky (inclusive, eles já dividiram palco em 2013 em São Paulo) com um metal bem desconfortável, além de conter uma pitada de sludge nos riffs de guitarra. Com temática sci-fi, o som dos caras ainda fazem você se sentir um merdinha insignificante perante a grandiosidade do universo. Niilismo e obscuridade pura, meu chapa. — Beatriz Moura

10. Jupiterian – Aphotic

O rock anda ruim de salvação, mas o nosso metal continua vivo na terra dos mortos. E os melhores feitos do som pesado nacional estão rolando no meio alternativo. Com Aphotic, o Jupiterian foi capaz de alcançar um nível de composição, execução instrumental e qualidade de gravação acima da média, superando seu próprio lançamento anterior (o EP Archaic). Vale grifar o belo trabalho de captação realizado no Katarse Studio, em São Paulo, com mixagem e masterização do Mories, do Gnaw Their Tongues. Indefectível em sua pantanosa receita que conjuga referências death, doom e black metal, a banda levou a sério o conceito de “afótico” (privação de luz) e produziu faixas sorumbáticas como “Drag Me to My Grave”, “Permanent Gray” e “Daylight”, verdadeiras obras-primas do capeta cujas bases marretam forte nos sentidos, tragando o ouvinte para dentro de uma atmosfera ao mesmo tempo catártica e hipnótica. Que mais? Ah, sim. A arte da capa, assinada por Manuel Tinnemans, ficou muito ouro. — Eduardo Ribeiro

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