FYI.

This story is over 5 years old.

Música

Matt Sharp Fala Sobre o Primeiro Álbum do Rentals em 15 Anos

Lost In Alphaville, o terceiro LP do Rentals (o primeiro desde 1999) é a pepita de ouro dos sonhos, ancorada numa equipe incrível de músicos, como Patrick Carney, Ryen Slegr e Lauren Chipman.

Matt Sharp está lapidando o novo álbum do Rentals, Lost In Alphaville, trabalhando nele de Nova York a Nashville a Nova Orleans a Los Angeles. O disco será lançado dia 26 de agosto, via Polyvinyl. Então, no inverno passado, rumei sentido oeste para passar um tempo com o antigo baixista do Weezer em Los Angeles. Fizemos de tudo: jogamos arremesso de milho ao cesto, assistimos ao Super Bowl e escutamos o álbum novo dele.

Publicidade

Lost In Alphaville, o terceiro LP do Rentals (o primeiro desde 1999) é a pepita de ouro dos sonhos, ancorada numa equipe incrível de músicos, como Patrick Carney (The Black Keys), Ryen Slegr (Ozma), Lauren Chipman (Section Quartet) e as vozes luxuosas de Holly Laessig e Jess Wolfe (Lucius). Eu e o Sharp trocamos palavras sobre o álbum do Rentals ao longo de sete meses, em cafés da manhã, shows e telefonemas. Segue nosso diálogo condensado.

Noisey: Como o Lucius se envolveu no projeto?
Matt Sharp: O disco foi gravado de trás pra frente, trabalhei com cada um da equipe diretamente, e fora de ordem, então pude focar na equipe e entender quem são e como poderíamos encaixar tudo. O Lucius foi a última peça do quebra-cabeça. Antes das meninas se envolverem, o álbum já estava pronto, faltava só encontrar as vozes certas para colocar os pontos no final das frases deste romance, ou o que quer que seja. Tive várias ideias de abordagens para isso, e pensei muito nas vocalistas mulheres com quem tenho afinidade. E me aproximei de cada pessoa, e refleti sobre quem eram e como poderiam se encaixar ali. Esse capítulo demorou bastante. Escutei tantas pessoas, que todas começaram a soar iguais. Desci a toca do coelho até as profundezas. Enfim, ouvi o Lucius e apostei todas as minhas fichas em um encontro e uma convera com elas. Quando me dei conta, estávamos trabalhando juntos.

Então elas responderam ao seu interesse na hora?
Elas estavam entre coletivas de imprensa e entrevistas de rádio, por conta do álbum do Lucius. Eu só precisava de um tempinho, e sabia que haveria uma solução, mas tínhamos que estar no mesmo espaço. Sugeriram meios modernos de comunicação, como o Skype, mas não curti a ideia. Então, levei todo meu estúdio a Nova York, num vôo. Pluguei meus computadores às telas do avião e apareci na cidade, nos encontramos pela primeira vez e começamos a escutar a música. A partir daí, tudo se ajeitou. Na hora, elas tiveram várias dúvidas e críticas, e imaginei que logo conseguiríamos resolver tudo, de uma forma ou de outra.

Publicidade

Minha carreira musical consiste muito em colaborações com vocalistas mulheres… Quão importante são os vocais femininos para as músicas que você compõe?
São essenciais para o Rentals, para o conteúdo das letras e um equilíbrio com os elementos mais agressivos da música. Assim como você, vivi uma longa história estudando as colaborações. Eu estava no norte da Califórnia, no escritório da Polyvinyl, e tive memórias intensas sobre começar a entender o que é música e os primeiros passos do que eu queria construir, e não estava seguro para cantar minhas próprias canções. Então, pensei: “A primeira coisa que preciso fazer é encontrar uma vocalista” . Eu sabia que era isso que eu queria fazer, só não sabia como. Lembro da primeira garota com quem me reuni, a primeira coisa que ela disse foi: “Quando estivermos no palco, visualizo um pássaro voando, vindo da direita, pousando no meu ombro.” Achei incrível. Antes de termos alguma ideia sobre como seria a música, sabíamos que esse elemento-chave precisaria acontecer. Então, provavelmente, essa foi a primeira vez que tive que lidar com o sexo oposto no trabalho, e coisas assim.

Acho que algumas das melhores músicas pop foram compostas para vocais masculinos e femininos intercalados. Uma coisa que admiro nesse álbum é o tempo que você levou para encontrar o encaixe exato das vocalistas.
A busca demorou muito. Uma vez, fui parar em Nova York, para trabalhar com o Lucius, e não consegui parar de pensar em quão perfeito era estar ali com elas e tê-las como um pedaço importante do trabalho. Era importante para mim ter duas vocalistas, se possível, porque foi um elemento-chave dos dois primeiros álbuns do Rentals. Elas soam suaves e etéreas, mas também conseguem se soltar e experimentar improvisos bem estranhos, de um jeito que gosto muito. Alguns dos meus momentos favoritos do álbum são quando elas ultrapassam as melodias e harmonias, e simplesmente começam a fazer barulhos esquisitos… ligam os insintos primitivos.

Publicidade

A primeira vez que escutei o disco foi na sua casa, depois do Super Bowl…
[Risos] A trilha perfeita para fins de Super-Bowl.

Não foi minha intenção deixar todos ali desconfortáveis ao fazê-los escutar o disco, mas deixei, fiz todo mundo ouvir.
Tenho a sensação de que o disco ainda é meu, e será pelos próximos meses, até ser oficialmente lançado em formato físico ou digital. Ainda tenho a mesma sensação de quando escutamos o álbum, pessoas entrando na sala enquanto eu tocava e apresentava o disco como um trabalho musical redondinho, e ouvimos de forma cinemática, como assistir a um filme. Se fosse do meu jeito, todos escutariam o álbum pela primeira vez como algo contínuo.

Por falar em sequenciação, nem todo mundo vai escutar o disco do começo ao fim…
É assim que funciona o mundo. Não me importo muito se escutarem fora de ordem. Eu me importo com a maneira como eu escuto as coisas. O que mais me instiga em música são os trabalhos produzidos em sequências lindas e planejadas. Existem milhares de discos assim, que me fazem pensar “Nossa, santo inferno”, como o álbum Bridge Over Troubled Water, do Simon & Garfunkel. O engenheiro fez escolhas tão estranhas e corajosas. Não importa se o disco for consumido de formas diferentes, mas é que é a melhor maneira que eu conheço para chegar aonde quero.

Sharp and Pfenning dividem um café e um molho de pimenta.

Tempo. Talvez eu esteja viajando, mas você tem uma obsessão com o tempo?
O próprio álbum, para mim, é basicamente uma sequência do último álbum do Rentals. O disco anterior era todo sobre um lugar e um período, e foi muito específico para um momento da minha vida, quando passei bastante tempo em Barcelona. O álbum novo é… Voltei a esse lugar, muitos anos depois, dez anos, voltei ao lugar que inspirou todas as músicas do segundo disco do Rentals. Basicamente, as músicas são sobre estar lá, lidar com o retorno para uma cidade onde passei a juventude, e pensar “Céus, quem era eu naquela época?” e “Quem sou eu agora?”, pensar no período entre o passado e o presente. Por isso, essas músicas em particular foram importantes para mim, elas retomam a história a partir daquele ponto.

Publicidade

Não consigo ver o álbum de outra forma que não a continuação de uma história que um diretor de cinema teria feito dez anos atrás. E agora ele diria: “Onde estão os personagens?”

Onde fica Alphaville? Como posso chegar lá?
[Risos] Não sei se é um lugar que você quer visitar. De certo modo, ele está preso numa ideia. Preso no lugar onde tudo começou. Talvez [Alphaville seja] não conseguir passar daquele ponto. Não sei se é bem um lugar onde alguém gostaria de pousar. Acontece que passei bastante tempo lá. O título do álbum, a arte, a sequência de músicas, tudo estava lá antes mesmo de começarmos a gravar. Foi uma grande jornada. No fim das contas, eu só queria levantar a poeira e dar porrada no universo.

Como o Patrick Carney influenciou o álbum?
Simplesmente amo aquele filho da puta. Quando levei o álbum a ele, eu estava pensando em batidas antigas, frias, meio que programadas, estilo ficção científica, Blade Runner, para o disco - mas algumas músicas não funcionaram assim, e eu nunca havia programado nada antes, então estava tentando encontrar minha própria abordagem. Por anos, falamos em fazer algo juntos, e quando telefonei para o Patrick, não sabia se ele estaria interessado em trabalhar junto, mas ele disse “Vem pra cá agora!” Não hesitei. Acho que ele foi bastante responsável pela energia do álbum. Ele dizia: “Aperta o botão, começa a gravar, vamos lá”, e isso mudou a preciosidade do álbum, deixou a música mais suja, mais agressiva.

Publicidade

Adoro quando sonhos musicais se realizam. Parece que trombou com a sua vida.
Sim! Ele arregaçou! Já chegou derrubando tudo. Adoro isso.

O que você anda escutando?
Estou escutando duas coisas agora. Escuto as sonatas de piano do Beethoven. Gosto de colocá-las bem baixinho nos fones de ouvido, a ponto de quase não ouvir, e ficar observando pessoas. Isso e Tupac.

Créditos da foto: Brantley Gutierrez

Ouvi dizer que você joga frisbee profissional uma vez por semana.
[Risos] Não sei se isso é verdade ou não. Você poderia ser assassinado por conta dessa informação. Você conhece uma das primeiras músicas do Rentals, que gravamos mas nunca lançamos. Fazia parte de uma daquelas fitas K7 de quatro canais, da época dos gravadores Tascam, e chamava “Frisbee Days”. Era uma música sobre jogar frisbee no Central Park e comer comida indiana.

Você parece um cara saudável. Se não me engano, acordei uma manhã na sua casa e você disse: “Vou praticar ioga agora”.
Quase nunca pratico ioga. Quando o Weezer estava começando, lembro de ir a Nova York para gravar o Blue, e o Rivers e eu éramos membros de uma academia qualquer, e tínhamos uma competição entre nós para ver quem conseguia deixar um bigode por mais tempo, sem raspar, e isso foi bem antes dos bigodes irônicos hipster-indie - ou algo assim. Enfim, íamos à academia, e ficávamos lá por umas três horas antes de gravar, meditando, acumulando ideias criativas, energia e explosividade.

Última perguna. Quem você escolheria para estar com você perdido em alto mar, preso numa ilha?
Lucius e Novak Djokovic. Duas moças e um jogador profissional de tênis. Djokovic, Holly e Jess. Se eu pudesse compor com a Jess e a Holly e jogar tênis o dia inteiro, acho que não desejaria mais nada.

Aaron Pfenning é músico e membro-fundador do Chairlift. Ele está no Twitter@aaronpfenning